NO GOD: But vampires yés escrita por Diego Farias


Capítulo 5
Capítulo 5: Aula Prática


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer a todas as visualizações que fizeram até agora e os comentários. Esse capítulo é um dos meus favoritos e é o prelúdio da ação. Eu trabalho mais dois personagens clássicos.

Espero que gostem.



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  “Naquele dia, os mortos... estarão em todo lugar, de um lado ao outro da terra”. Jeremias 25:33

 

  Eu alternava o meu olhar entre meu mapa da Hollydale High e o oceano de adolescentes no corredor, porque não queria que mais nenhum veterano me lançasse olhares ameaçadores. E percebendo a minha sorte durante a minha primeira aula, tomar cuidado não era uma péssima ideia.

  O laboratório ficava no primeiro andar mesmo, próximo ao auditório e em frente ao banheiro feminino. Eu entrei sem bater e a uma monitora me disse para vestir um dos jalecos brancos que estavam pendurados nos suportes de madeira, colados à parede.

  O que me chamou a atenção de cara foi a temperatura. Eu não sabia se o ar estava escangalhado ou se estávamos dentro de um estufa. Olhei em um termômetro na parede e estava marcando 33ºC.

   ― Noite Sinistra, turma! ― nos cumprimentou uma jovem de baixa estatura, físico magricela, pele branca, olhos castanhos e cabelos lisos, castanhos, mas com luzes loiras. Ela trajava uma camisa cinza com a logo do colégio por debaixo do jaleco branco, calças jeans e botas pretas. ― Meu nome é Mary Simpson e sou a responsável pelo laboratório. Por mais que essa seja uma matéria eletiva, ela é de suma importância para aqueles que querem seguir o ramo de caçadores.

   Na hora, eu lembrei da proposta do professor pederasta.

   ― Quem quer ser caçadora, Srta Simpson? ― um garoto, possivelmente veterano, puxou a provocação que arrancou risadas de oitenta por cento da turma. Pelo visto, quem não sabia o motivo da graça, era calouro como eu. ― Talvez, só os suicidas dos Arias que gostariam de ser caçadores. Cambada de emos.

  ― Eu não o culpo por pensar dessa forma, porém eu não acho ético, proferir tal declaração. Se hoje temos um ambiente seguro para estudar e temos um mínimo de liberdade, devemos isso aos caçadores. Homens e mulheres que perderam suas vidas para reconquistar o mundo para nós.

   O aluno se calou e um climão se formou. A srta Mary revolveu continuar nos guiando pelo laboratório e nos dividiu em pequenos grupos para observarmos partes de monstros clássicos conservadas em vidros: Mandíbulas de Lobisomen, escamas de Ghoul, presas de vampiros, etc... Tinha todo tipo de resto mortal de criatura da noite. 

  ― Peguem seus cadernos e tomem nota de tudo que eu for descrevendo e não! Vocês não podem tocar em nada.

   Eu ouvi o som da porta do laboratório se abrindo e despretensiosamente, eu olhei para ver quem era. Eu reconheci aquela pele branca, aqueles cabelos negros como a noite, encaracolados como molas. Seus olhos eram pequenos e semicerrados, ele parecia procurar por mim, pois seu nariz protuberante estava mirado para o meu rosto.

  Voltei a encarar a professora. Não sabia que alunos veteranos eram tão rancorosos.

   ― Voilá! ― recitou ela, enquanto retirava o lençol de cima de um corpo sobre uma maca. ― Vocês devem estar estranhando o porque da temperatura elevada, então vou contar-lhes o porquê: A alta temperatura impede que as células vampíricas se regenerem em alta velocidade.

  ― Então, isso é...

   E mais uma vez, os calouros se revelavam. A cara de espanto que eu e mais meia dúzia exibia, era em virtude de um corpo putrefato e seco como uma tora de árvore velha. O defunto vampiresco ou um ser humano que havia sido infectado por um vampiro e só precisava de um pouco de sangue para se tornar um monstro, tinha uma espécie de buraco pequeno no peito, em meio à várias rachaduras em todo o tórax, fazendo o peito daquele cara parecer um solo desértico. A cor da pele era acinzentada e não permitia a dedução sobre qual etnia aquele ser se enquadrou em vida.

   ― Sr Dilan! ― a professora me arrancou do meu torpor. ― Como acha que conseguimos manter esse corpo neófito sob controle e ao mesmo tempo manter as funções vampirescas?

  ― É... então... ― eu não acreditava que ia pagar o segundo mico do dia.

  ― Sangue de morto... ― eu ouvi alguém soprar.

   Quando eu entoei aquela resposta, a srta Mary ergueu uma sobrancelha, desconfiada, mas em seguida, puxou uma salva de palmas e garantiu que eu havia acabado de ganhar um ponto direto na média.

  Eu me virei e encontrei a figura de uma garota de pele parda, do meu tamanho com um rosto fino que combinava com o corpo bem magricela. Ela tinha um cabelão crespo que molhado, vinha até o início dos ombros.

   ― De nada! ― ela estendeu a mão. ― Vina Waleska.

  ― Prazer! ― a cumprimentei de volta.

   Enquanto eu voltava a explicação da Srta Simpson, eu vi que aquele veterano ainda não tirava os olhos de mim.

   ― Como o Sr Dilan sabiamente respondeu, o sangue de morto é um veneno poderosíssimo que paralisa temporariamente as células vampíricas. Basta que injetemos alguns mililitros de sangue de um cadáver com mais de setenta e duas horas de morto e os conservemos resfriado. Em compensação... ― mais uma vez, os calouros se assustaram quando a srta Símpson sacou um pequeno punhal e talhou o próprio dedo. Ela pressionou o membro e algumas gotículas de sangue caíram sobre o corpo do vampiro seco. ― Observem.

   As gotículas correram para dentro do buraco no tórax e imediatamente os pulmões se ativaram, fazendo com que o peito se levantasse e os novatos recuassem assustados, arrancando um coral de gargalhada dos veteranos.

   ― Acalme-se! ― disse Vina segurando o meu pulso. ― Ela é uma professora! Não faria nada perigoso!

   A srta Simpson enrolou seu dedo num pano e nos mostrou um quadro que relatava todo sistema interno de um vampiro. A tarefa era copiar todos aqueles nomes, já que, realmente o corpo humano mudava estruturalmente após a transformação em criatura da noite.

  O coração vampírico era menor e mais deformado. Cheio de válvulas que encaminhavam o sangue venoso... Não, espera. Os vampiros só possuíam sangue venoso, por isso quando injeta-se sangue de morto, possivelmente ainda arterial, as partículas de oxigênio drogam eles.

   ― Vamos tirar uma selfie com o vampirão? ― disse aquele mesmo aluno que zoou os caçadores no início da aula. ― Quem vêm?

   Alguns alunos resolveram aproveitar que a Srta Mary estava no banheiro, provavelmente fazendo um curativo para o seu dedo, para tirar selfies com o corpo inanimado.

   ― Vem, Petter! ― disse ele, virando-se para o veterano que estava me stalkeando.

  ― Você quer tirar uma foto com um monstro, Scrith? ― ele manteve o olhar sério para aquele jovem. ― Que tal, eu reanimar o monstro pra você?

  ― Ei, cara, não precisava ficar chateado só porque eu fiz uma piada inofensiva sobre caçadores.

  ― Não estou chateado! ― disse o menino cabeludo tirando o seu brinco e furando sua mão com a tarraxa. ― Eu só acho que você... ― de repente, seu olhar voltou-se diretamente para mim. ― E mais alguns, precisam aprender a respeitar os caçadores.

   Uma grande gritaria começou, quando o tal Petter começou a gotejar seu sangue sobre o peito do neófito. O corpo do monstro não era mais inanimado e debatia-se, produzindo um som metálico ao chacoalhar a maca sobre a qual estava preso por segurança.

   ― Por que não tira a sua selfie agora, Scrith?

  ― Vai se ferrar!

   Scrith passou pelo outro veterano, mas surpreendeu-se por alguém segurar o seu pulso. Ele virou-se e notou que o neófito estava de olhos abertos, por mais que seus globos oculares estivessem brancos e sua boca escancarada com suas presas a mostra.

  Petter abriu um sorriso orgulhoso, mas fechou-o ao notar que vampiro havia conseguido se liberar das correias de curo e investido sobre o adolescente o qual havia segurado. A turma se afastou e ficamos imóveis vendo o monstro cravar suas presas no pescoço de Scrith.

  A srta Mary correu por conta dos gritos e viu a cena de Petter tentando puxar o neófito pelos ombros, mas a tudo que acontecia era sua pele podre desprender-se do corpo e vir para as mãos do caçador.

   ― AFASTEM-SE! ― gritou Mary acionando o botão de emergência que liberou uma grande sirene de evacuação e em seguida, ela muniu-se de um machado. ― MORRA!

   O neófito terminou a sua refeição e transformou-se bem diante dos nossos olhos. Sua pele hidratou-se com o sangue recém tomado e voltou a sua coloração natural. Um tom retinto, enquanto os olhos foram recuperando a íris que se revelou vermelha como o sangue e o cabelo crespo voltou a crescer até tornar-se um black power.

  Tudo isso ocorreu em questão de segundos, pois foi o tempo necessário para o neófito recuperar a sua força, agarrar o machado da Srta Simpson pela lâmina e tomá-la pelo pescoço.

   ― Ora, seu! ― disse Petter voando na direção do vampiro.

  ― Venha logo! ― disse Vina puxando-me pelo braço.

  ― Mas ele...

  ― Foi por causa dele que aquele garoto morreu, ele não é problema seu.

   Eu alternava o meu olhar entre o garoto que começou uma espécie de cena de artes marciais contra aquele monstro recém revivido e a jovem garota que misteriosamente demonstrava um grande interesse em mim.

   ― Eu sei que é idiotice minha e provavelmente eu vou morrer, mas eu não posso deixar que esse monstro saia daqui! ― Petter havia acabado de levar um golpe com as costas das mãos e voava em cima de algumas prateleiras. ― Sai logo daqui. Eu prometo que não vou deixar esse maldito sair.

   A garota endureceu o cenho, me largou e saiu sem olhar para trás. Provavelmente, eu havia perdido a minha primeira chance de beijar uma garota e ainda morreria. Ainda bem que o tal Petter resolveu levantar-se, mesmo que sua cabeça estivesse sangrando muito.

   ― Essa marra... Esse olhar... Você deve ser um caçador, não é? ― o garoto surpreendeu-se. ― Mesmo naquela forma, eu pude ouvir tudo e aprender sobre esse mundo que vocês construíram.

  ― Petter! Fuja!

   A Srta Simpson foi desacordada ao ser lançada contra a parede e cair no chão de qualquer jeito. O vampirão foi andando na direção de Petter e começou a socá-lo como se fosse um joão-teimoso. O garoto, apesar de magrelo, resistia em pé e tentava armar sua guarda para contra-atacar.

   ― Pensa Daynian, pensa... ― eu comecei a olhar ao meu redor para tentar achar algo que fosse útil.

  ― A madeira precisa ser de cedro e virgem. Não pode ter sido envernizada ou tocada por qualquer produto. ― a explicação do professor pederasta voltou a minha cabeça.

   Imediatamente, tirei a mochila das costas, virei o restante do material em seu interior no chão, até que encontrei o que eu queria: Uma estaca de madeira. Eu estava nervosíssimo. Meu coração parecia que ia sair pela boca e pelo visto, aquele monstro podia ouví-lo, porque ele segurou Petter pelo pescoço e me encarou com um sorriso orgulhoso.

   ― Seu coração está me chamando. Ele está bombeando, incrivelmente rápido. ― ele voltou-se a Petter que já estava com vários hematomas pelo corpo. ― Veja só como eu me alimento de mais um dos seus...

   Ele arregalou os olhos e Petter não entendeu porquê. Ele virou-se para mim com um rosto incrédulo e tentou alcançar a estaca que estava presa em suas costas, na direção do coração. Ele sentia o corpo vampiresco ser invadido por uma dor excruciante que converteu-se em ódio mortal.

  Ele largou Petter e começou a marchar na minha direção. Eu fui me afastando, certo da minha morte eminente, me perguntando: Por que não ouvi a Vina?

   ― Você vai me pagar seu merdinha pela dor que eu estou sentindo! Você... ― de repente, ele parou.

   O vampiro pareceu esquecer-se da dor que estava sentindo e focou no meu rosto. Ele parecia estar me reconhecendo, pois os seus olhos vermelhos se arregalaram num misto de surpresa e pavor.

   ― Crenyr! ― ele exclamou. ― AH!

   O vampiro dissolveu-se em pó. Atrás dele, estava Petter com sua perna esticada, pois chutou a estaca afundando-a no coração do vampiro.

   ― Eu não... precisava da sua ajuda...

   Petter desmaiou ao lado do corpo do jovem Scrith. Eu corri para socorrê-lo, mas logo alguns agentes da escola adentraram o laboratório, junto com auxiliares de enfermagem. Eles socorreram Petter e a Srta Simpson rapidamente, enquanto eu era acompanhado para fora do laboratório.

  Eu mal podia acreditar que havia acabado de lutar contra um vampiro de verdade e senão fosse por Petter, eu estaria morto, agora. Mas enquanto eu era conduzido a enfermaria, uma outra questão me era muito mais perturbadora que tudo isso.

  Por que aquele vampiro olhou para mim e entoou o nome da minha mãe ?


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Notas finais do capítulo

A coisa só vai ficando cada vez mais esquisita para o nosso Daynian, não é?