NO GOD: But vampires yés escrita por Diego Farias


Capítulo 11
Capítulo 11: Mama




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"Haverá mãe que possa esquecer seu bebê que ainda mama e não ter compaixão do filho que gerou? Isaías 49:15A

 

  Eu acordei com alguns tímidos raios de sol bem na minha cara. Infelizmente, além de um garoto repudiado por Deus, eu também sou vítima de sono leve.

  No visor do celular marcavam 13h:37 da tarde e eu sabia que não teria mais sono para fugir da minha realidade fúnebre. Eu também tinha prometido a mim mesmo que não ficaria mais no meu quarto com meus cds e precisava respirar um pouco de ar fresco.

  Meu pai, como de costume, estava criando seus balaços na fábrica e eu estava sozinho. Na geladeira estavam meus ovos mexidos, um pouco de cereal submerso numa bacia com leite e uma jarra de suco. Preferi pegar uma maçã na fruteira e mirei a porta da frente, enquanto arrancava um pedaço do fruto com uma dentada odiosa.

  A defesa rúnica da porta ativou-se como sempre, mas dessa vez, ela acionou muito mais que uma defesa. Ela acionou os meus vários gatilhos sem resposta dos últimos dias.

 

  ― Vamos passear. ― fazia quase uma semana que eu não saía de casa.

 

  A rua washmor estava morta como sempre. Eu lembro que antes do chefe voltar, as crianças costumavam brincar nos seus quintais, os vizinhos fofocavam no portão e nas janelas, e havia uma movimentação intensa de automóveis por aqui.

  Lembro que a rua sempre estava decorada em feriados especiais como o Natal ou Páscoa e em eventos como a Copa do Mundo. Hoje, a decoração natural são latas de lixos reviradas, carros de cabeça pra baixo, vidraçarias quebradas e umas poças de sangue aqui e acolá.

  Enfiei minhas mãos nos bolsos, desci os degraus da porta e comecei a andar rua acima, assoviando, como se estivesse fazendo uma caminhada matinal. O sol negro estava agradável como sempre, iluminando, mas frio, mas ainda trazia alguma sensação de segurança para nós. Já que por esse horário, é o horário de maior pico de energia dele.

  Acho que já comentei que o sol negro não tem o poder de pulverizar um vampiro, mas a sua fraca luz queima suas pupilas e trás um formigamento absurdo a pele. Em seu horário de pico, ele é capaz de tostar a pele, criando queimaduras de segundo e terceiro grau, desacelerando o processo de cura vampírica.

  Por isso, esse é o melhor horário para passear por uma cidade devastada.

 

  ― AHHHH!!!

 

  O grito, em si, nem me assustou. Na verdade, era o cheiro de carne podre chamuscada que me chamou a atenção. Já que estamos no horário de pico, os vampiros vão dormir ou se esconder em casas abandonadas ou que foram mal seladas pelos clérigos. Então, conforme eu andava na rua, não era absurdo que alguns deles me gritassem de uma janela e proferirem ameaças e insultos gratuitos.

  Mas dessa vez, era só um vampiro que estava preso com metade do seu corpo queimando para fora, debaixo de um carro virado. Ele estendia a mão pra mim, implorando por ajuda, enquanto a carne do seu rosto derretia.

  Eu não sei qual foi o rolê que esse amigo aí se meteu, mas deve ter sido muito louco.

  Quando passei pelo centro de Hollydale, eu lembrei de como a minha mãe gostava de bater perna por aqui. Ela sempre foi gordinha, mas entrava em todas as lojas para tentar achar roupas que ela sabia que não tinham para o seu tamanho. Você pode se perguntar, porque isso era legal, e eu te respondo que para calar a minha boca, ela sempre passava num Mc donalds depois. Hoje, meu point favorito era um covil de vampiros como todos os pontos fechados da cidade.

  Até que finalmentte cheguei ao meu destino. A praça woodsborow era um misto de nostalgia e tristeza. Eu vinha aqui todo domingo para brincar na maioria dos brinquedos que agora estão vandalizados por aqueles demônios. Mas mesmo assim, aqui, nunca deixava de ser uma area ótima para pensar.

  Eu adorava sentar no balanço que ficava de frente para um banco de madeira colorida que era geralmente onde minha mãe sentava para me observar.

  Uma lágrima ou outra, descia pelo meu rosto, porque minha mente conseguia reproduzir exatamente um holograma dela ali sentada, falando no celular com alguma irmã da igreja e reclamando da administração de lá. Meu pai é ótimo, mas eu sinto tanta falta dela, que as vezes, nem tenho vontade de continuar vivendo. Vivo por meu pai e não por mim.

 

  ― É melhor eu ir... ― vi o relógio e faltavam uns vinte minutos para as 16h.

 

  O sol negro desajustou completamente o ciclo de dia e noite no mundo inteiro. O dia amanhece por volta das 8h A.M, porém o anoitecer começa antes das 17h. É perigoso ficar por aqui por mais tempo. Se a noite vier, os demônios saem da toca e bye, bye sr Dilan.

  Eu me levantei para ir, mas meus olhos pousaram no banco novamente. Dessa vez, não lembrei apenas da minha mãe, mas de todo esse mistério que tem me assombrado nessa primeira semana de aula. Aquele vampiro na aula de laboratório e os olhos queimados do reverendo Maxwell alfinetavam o meu cérebro, me obrigando a descobrir a verdade. Uma verdade invisível, fragmentada e confusa que ninguém queria me dizer.

  Por isso, não posso ceder aos meus pensamentos. Não posso ceder aos meus extintos. Eu preciso descobrir a verdade por detrás do arrebamento da minha mãe.

 

  ― Nem adianta, crianças! ― eu cocei a cicatriz de gilete no meu pulso. ― Eu preciso viver mais um pouco.

 

  Abri um sorriso amarelo e comecei a andar de volta a rua principal, quando senti algo atingindo a minha nuca. Imediatamente, o mundo começou a girar e parecia que eu o observava através de um prisma. Eu cocei a minha nuca e me desesperei ao ver a minha mão vermelha, besuntada com o meu próprio sangue. Automaticamente meus joelhos fraquejaram, o corpo bambeou, a gravidade fez o seu trabalho e eu caí de lado contra o chão arenoso da praça.

  Lá longe, eu podia ouvir algumas gargalhadas e alguns insultos. Provavelmente, algum daqueles malditos se aproveitou do fim do horário de pico para me acertar com alguma coisa. Bem! Agora tudo está perdido. Eu vou morrer de qualquer jeito. Talvez, parte de mim sabia que isso aconteceria um dia. Pelo menos não sentirei dor, já que meus sentidos estão se esvaindo rapidamente.

  Desculpa pai, Sany e Eddy, mas o melancólico Daynian não voltará para casa. Talvez, seja melhor assim, o peso que eu colocava nos ombros de vocês vai deixar de existir. Eu sinto muito, mãe! Não vou me encontrar com a senhora, porque não acredito no que você acredita, e infelizmente, não vou solucionar esse mistério que nos ronda.

  Por fim, me despeço de cada um de vocês que leram até aqui.

  Vejo vocês no inferno.

  Até logo.

  Desmaiei.


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