Diário de Rosalya escrita por TiaManda


Capítulo 8
Muros emburacados




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Imediatamente direcionamos os olhares para a escola.

— Merda! - exclamou Castiel - Por que não nos avisou antes?

— Eu tentei, mas vocês são difíceis... - Lysandre suspirou.

— O que tem de tão ruim nisso? - perguntei confusa.

— Não podemos entrar agora - disse Lysandre.

Como assim não podemos entrar? Que tipo de colégio é esse?

— Que maravilha... - disse Castiel, irritado.

— Isso tudo é culpa de quem? - o encarei.

— Você decidiu dar piti! - me encarou de volta, cruzando os braços.

— Você me provocou! - respondi.

— Os dois... Não comecem de novo, por favor... - Lysandre colocou a mão na têmpora, visivelmente irritado.

— Agora não adianta discutir quem tem a culpa, temos que dar um jeito de entrar -  parou de falar abruptamente, e sorriu como se pensasse em algo genial. Olhou para o Lysandre, o mesmo negou com a cabeça. O sorriso dele se desmanchou rápido - É a melhor ideia, cara.

— Castiel, não é correto... - disse Lysandre, parecendo impaciente.

— Tem certeza? Três anotações... - eles começaram a falar coisas que eu não entendia.

Lysandre suspirou antes de responder.

— Tudo bem, eu aceito. Mas isso não significa que eu concorde com o que vamos fazer.

— Vou fingir que acredito! - sorriu com sarcasmo e saiu andando.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? - perguntei confusa - Para onde vocês vão?

— Castiel sabe um jeito de entrarmos sem sermos pegos - disse Lysandre enquanto contornávamos o muro da escola.

— Mas qual é o problema de chegarmos atrasados? - paramos em um local cheio de árvores.

— Menos perguntas, mocinha... E mais ação - Castiel disse antes de sumir no verde.

— Você vem? - Lysandre disse, me encarando. Apenas assenti, ainda muito perdida.

Passamos por entre as árvores e ficamos cara a cara com o muro. Havia um buraco imenso nele.

— É aqui! - Castiel sorria orgulhoso.

— Como assim é aqui? - indaguei. Ele bufou antes de passar pelo buraco.

Aquilo estava realmente acontecendo? Como era possível a direção acadêmica nunca ter visto uma abertura daquelas?

Curiosa para saber por em que parte exatamente entraríamos, abaixei para adentrar o colégio.

— Acho que não é uma boa ideia... - Lysandre recuou.

— Ah, vamos! Você me trouxe até aqui! - eu disse, mas ele negou com a cabeça - Então você não me dá outra alternativa.

O puxei pelo braço contra sua vontade, ele não teve tempo de pensar. Mas sem que eu percebesse, fiz com que ele batesse a cabeça no muro, pois não estava abaixado.

— Ai! - exclamou colocando a mão na testa.

— Me desculpa, me desculpa, me desculpa! - o olhei preocupada - Foi sem querer, juro!

— Silêncio os dois! - Castiel sussurrou - Vocês fazem muito barulho!

Estávamos no pátio, em uma área mais isolada, também repleta de árvores que escondiam o buraco.

— Essas plantas todas... É preguiça de reformarem o muro? - sussurrei também. Castiel apenas riu. - Por que falamos baixo? - disse observando ao redor.

— A velha, está ali! - pegou meu rosto e virou em direção a senhorinha endemoniada do outro dia. Ela estava andando de um lado para o outro no pátio, mexendo em uns papéis.

— E agora? O que faremos? - Lysandre finalmente se pronunciou depois da batida.

— Bom, vocês eu não sei, mas eu tô caindo fora - disse Castiel.

— Não acredito que vai nos abandonar assim! - cruzei os braços, inevitavelmente, aumentando o tom de voz.

— Quer que eu faça o quê? Eu tentei! Não dá pra passar com ela lá! - falou mais alto também.

— Pessoal... - Lysandre tentou dizer, mas foi interrompido.

— Quem está aí? - ouvimos o som daquela voz aguda irritante se aproximando.

— Rápido Lys, vamos embora! - o puxei pela mão novamente e saímos rapidamente depois de Castiel.

Com medo de sermos pegos, corremos muito. Não queria saber o que aconteceria se a diretora descobrisse nosso método alternativo de entrada. Acredito que os dois meninos pensavam assim também. E por precaução, só paramos quando alcançamos uma distância considerável da escola. Cinco quadras para ser mais específica.

— Perdemos o idiota! - eu falei ofegante, apoiando as mãos na coxa para me recuperar.

— Acho que ele foi para casa - falou Lysandre, também ofegante.

Castiel não estava conosco, tornando automaticamente o ambiente mais agradável.

Olhei para Lysandre, sua cabeça estava sangrando.

— Ai meu Deus, me desculpa por isso! - desesperada, procurei por um lenço em minha mochila, encontrei um pequeno, branco. Ele me olhou confuso - Não se mexe... - apertei o paninho na ferida.

— Ai, Rosalya! - reclamou, apertando as pálpebras uma contra a outra. Possivelmente por reflexo ou dor.

— Segura aqui! - coloquei sua mão no lencinho - Não tira, tá bom? Só quando parar de sangrar.

— E como eu vou saber se parou?

— Não me pergunte coisas difíceis! - peguei outro lenço e usei para limpar o sangue em seus cabelos e testa.

— Obrigado.

— Depois de ter batido sua cabeça na parede, é o mínimo né.

Ele riu antes de perguntar.

— Então, o que faremos agora?

Meu estômago roncou muito alto. Ainda não havia comido hoje.

— O que acha de irmos a lanchonete? - sugeri - Já não podemos ir a aula mesmo.

Ele concordou.

(...)

— Então quer dizer que você canta? - coloquei uma porção de batata frita na boca.

— Sim... - me encarou, estranhando algo. Seu machucado havia parado de sangrar, mas ainda sim, ele continuava pressionando o paninho na ferida - Faz mal comer assim de manhã.

— Eu sei! - respondi pegando mais batatas. Engoli tudo antes de me pronunciar novamente - Você não é de falar muito né.

— Me desculpe, estou pensativo... 

— Pensando? - o incentivei a continuar.

— Como é possível? - olhou para meu prato, depois para mim.

— O que está insinuando? - peguei meu hambúrguer.

— Não, nada... - aparentemente havia desistido de falar.

— E quando terei a oportunidade de te ver cantando? - perguntei bebericando um incrível suco de laranja.

— Não é nada discreta - sorriu - Você chegou esta semana?

— Uhum.

— E como está sendo a experiência?

— Ótima! - ironizei com a boca cheia. Ele percebeu.

— É questão de tempo até você se acostumar - falou, sua voz sempre soava tranquilizadora.

— Se você soubesse tudo o que aconteceu nesses dias, não diria isso - ri.

— Temos tempo - apoiou os braços na mesa, atento.

Ouvimos um bip de celular. Ele tateou os bolsos antes de ler a algo na tela.

— É meu irmão... - Lysandre disse ainda sem tirar os olhos do aparelho.

— Você tem um irmão?

— Sim... Ele está precisando de ajuda na loja! - me olhou.

— Mas era pra você estar estudando agora, ele não pode te chamar assim.

— Eu o avisei que não havia ido... Me desculpe mesmo, preciso ir.

— Tudo bem. Nos vemos amanhã?

— Sim, amanhã. - sorriu antes de sair.

Suspirei conformando-me com a solidão repentina antes de beliscar mais uma das batatas.


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