Acordei com o som escandaloso dos passarinhos claramente perturbados. Estavam fazendo uma festa na janela.

A paisagem da janela do meu quarto é totalmente ocupada por uma árvore gigante. A única vista que tenho direito se resume a folhas e galhos, e às vezes passarinhos embriagados.

— Bom dia para vocês também! Já entendi, tenho que levantar! - falei para eles antes de mostrar a língua.

Que estranho, o despertador não tocou.

Peguei o celular, conferindo as horas.

Droga. Ele tocou. E tocou muitas vezes.

Droga. Droga. Droga.

Estou super atrasada.

No meu segundo dia de aula.

Maldito fuso horário!

Corri para me arrumar.

Tomei um banho rápido. Conferi a hora novamente enquanto passava rímel. Okay. Vinte minutos para começar a aula. Dez são só de caminhada. Rápido Rosalya, colocar os sapatos.

Peguei a mochila jogada ao lado da cama.

— Muito obrigada - mandei beijinhos para os passarinhos, agradecendo-os por exercer a função que o despertador não pôde fazer, antes de sair do quarto.

Chamei minha mãe no corredor, mas não obtive resposta. Provavelmente devia ter ido para o trabalho. Mas ela não tentou me acordar?

Ah, sem tempo para pensar nisso.

Meu estômago roncou como sinal de manifesto a aquela pressa toda.

— Agora não! Não dá para comer agora, você se aquieta! - briguei com a minha barriga.

(...)

Percorri mais rápido que pude o trajeto até a escola, porém me distraí no caminho com um casal se agarrando. No entanto, o que me chamou a atenção, na verdade foi a calça terrivelmente justa da garota de cabelos castanhos.

Balancei a cabeça na tentativa de desviar a atenção daquilo. Foco, Rosalya, foco.

Faltam apenas duas quadras! Quatro minutos. Dá tempo!

Acelerei o passo, estava praticamente correndo, só parei quando avistei os muros da Sweet Amoris.

Ainda sem entrar na escola e morrendo de cansaço, apoiei um dos braços em uma parede qualquer e tentei recuperar o fôlego.

Respirei freneticamente praguejando o fato de não praticar exercícios físicos e cogitando seriamente essa possibilidade. 

Já recuperada para adentrar os portões, quis soltar a parede, porém, de repente, algo passou bruscamente, me derrubando. 

Após o que eu acho ter sido cinco segundos, desnorteada e caída no chão, tentei ver o meu agressor.

— Ah, me desculpe, senhorita! - Lysandre disse, corado.

— Se não gosta de mim, era só falar - brinquei. Ele sorriu constrangido e me ajudou a levantar.

— Já está no chão de novo, cabeça de vento? - o moreno do dia anterior apareceu.

— Você adora brincar com fogo né?! - cruzei os braços, sentindo o bom humor esvair diante daquela adorável criatura.

— Castiel, por favor, não a provoque.

— Castiel - repeti irritada - não sabe com quem está lidando.

Ele não sabia mesmo. Se há uma coisa no mundo na qual eu não sou é covarde.

— E o que você vai fazer? - perguntou-me com os braços cruzados também.

— Ah, não queira saber! - por instinto, andei em sua direção, determinada.

— Vocês dois, por favor, estamos atrasados... - Lysandre tentou dizer mas foi interrompido.

— Cuidado para não quebrar uma unha - disse Castiel.

Aquilo foi a gota d'água. Quem ele pensava que era? Quem ele pensava que EU era? Ah, mas ele ia ver só.

Quis me aproximar mais dele, porém Lysandre se colocou em minha frente.

— Sai, Lysandre! Ou vou ser obrigada a bater nos dois! - falei.

— Escute-me, é sério, nós...

Castiel me provocava por trás dele.

— Ora, seu... - Empurrei Lysandre e pulei em cima do Castiel, com ódio no coração. Mal tive tempo de encostar nele antes de sentir alguém me puxando pela cintura - Eu te avisei, me larga! - falei, batendo freneticamente no Lysandre. Parecia não fazer efeito nenhum. Não conseguia usar a força com ele, ele não merecia apanhar.

— Rosalya, me ouça, por favor... - segurou meus pulsos.

— Me larga! - não desisti - ME SOLTA! Eu quero fazer esse cara azeda engolir esse cabelo horroroso dele! - Castiel riu - EU VOU TE MATAR! - finalmente me soltei.

Sem pensar duas vezes pulei de novo nele.

— Você me paga! - o soquei na barriga sem parar. Ele ria embaixo de mim, me deixando mais irritada.

— Ai! Ai! Ai! - reclamou entre risos.

— Repete o que você disse agora! - tentei bater mais forte.

— Os dois... - Escutei Lysandre dizer. Parecia que ele havia desistido de completar a frase - Isso não é nada vitoriano... - falou antes de novamente me retirar de cima de Castiel.

— Eu ainda não terminei! - reclamei.

— Senhorita, acho que ele já aprendeu a lição! - ajudou a peste a levantar do chão.

— Você é durona, hein! - sorriu, com sarcasmo, limpando a roupa.

— Você não viu nada, ainda! - o lancei um olhar ameaçador, o mais ameaçador que consegui fazer.

— Parem de agir como crianças! - se posicionou entre nós - Estou tentando dizer algo sério! - eu e Castiel nos encarávamos com ódio enquanto Lysandre dizia - O portão da escola fechou.