Diário de Rosalya escrita por TiaManda


Capítulo 11
Convite para O Inferno




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Sexta feira a tarde. Cheguei mortíssima em casa. A manhã havia sido monótona como de costume. Nada de extraordinário, somente as aulas cansativas de sempre. Mesmo assim eu aparentava ter enfrentado uma guerra, me sentia totalmente acabada.

Sem pensar muito, joguei a mochila no chão, retirei os sapatos e corri para a cozinha. Abri os armários e peguei tudo o que era atrativo para um bom almoço: chocolates e salgadinhos. Minha ótima alimentação podia ser resumida desta forma quando pretendia passar o restante do dia assistindo filmes.

Joguei tudo no sofá e fui para quarto pegar o notebook. Nós tínhamos uma televisão encaixotada na sala, mas ninguém teve coragem de instalar ela, talvez por falta de tempo ou porque simplesmente não assistimos muito.

Já com o aparelho em mãos, escolhi uma comédia. Enquanto carregava, aproveitei para fechar as cortinas. Não queria nem um mísero feiche de luz atrapalhando minha tarde de descanso.

Meus pais estavam no trabalho e demorariam a chegar, então eu não teria de me preocupar com absolutamente nenhuma tarefa.

Deitei no sofá, apoiando o notebook em minha barriga, disposta a ignorar a realidade.

(...)

Na metade do terceiro filme, o celular tocou.

Por pressa, bati a mão com farelo de salgadinho na roupa para tirar o excesso e me arrependi no instante que fiz isso.

Estranhei o nome da chamada. Atendi imediatamente, surpresa.

— A que devo a honra dessa ligação tão repentina? - brinquei.

 Rosa... - riu do outro lado da linha - Você está ocupada? Te atrapalhei?

— Não , claro que não. Aconteceu algo?

— Na verdade sim... - fez uma pausa antes de continuar - Fui convidado para cantar em um show...

— Não acredito! Que incrível! - o interrompi, animada.

— Gostaria de saber se você me acompan...

— Óbvio! - interrompi novamente, sem conseguir evitar dar pulos no sofá - Quando vai ser?

 Hoje a noite. Daqui a algumas horas, na verdade.

— Lysandre Chevalier! - parei de pular - Está dizendo que você vai cantar daqui a pouco e não me falou nada antes? A quanto tempo sabe disso? Por que me contou só agora?

— Eu pensei...

— Temos quantas horas antes de começar?

— Três...

— Três horas, Lysandre, três! Tenho que correr para me arrumar! - eu disse subindo as escadas - Onde fica o lugar?

— É em uma boateÉ melhor me passar o endereço da sua casa, eu te busco e nós vamos juntos. Tudo bem para você?

— Combinado.

Assim que a chamada foi encerrada, disparei para o banho.

(...)

A campainha tocou. Ótimo. Ele havia chegado e eu nem tinha calçado os sapatos.

— JÁ VAI! - gritei colocando os brincos.

Apressei-me em abrir a porta. Eu sorria de orelha a orelha com a certeza de finalmente poder ver Lysandre cantar.

— Você está encantadora - ele disse.

Meu sorriso aumentou.

— Obrigada. Você também está lin... - reparei em suas roupas. Ele usava um sobretudo azul marinho, que não, definitivamente não combinava com a ocasião. - Você vai vestido assim? 

— Oh... - olhou para o sobretudo, possivelmente checando se havia manchas ou algum rasgo - Não compreendo, não está bom?

— Lysandre, você é um vitoriano lindo, mas não - toquei em seu traje, decepcionada - está péssimo.

— No momento tenho apenas esta roupa, não há tempo para voltar e me trocar agora.

Evidentemente eu não poderia deixá-lo naquele estado.

— Vem, vamos dar um jeito nisso - o puxei para dentro de casa e fechei a porta.

O semblante de Lysandre foi de branco a vermelho durante os dez segundos que o avaliei. Ele parecia meio chateado, mas certamente melhoraria seu ânimo quando visse a super transformação que eu faria. 

— Rosa, o que tem de errado?

— Você vai se apresentar na frente de muitas pessoas. É algo grandioso. Não está vestido adequadamente! - eu disse. Ele abriu a boca para falar no mesmo instante em que mil ideias diferentes surgiram em minha mente  - Já sei! - falei entusiasmada - Tira o casaco. O que tem por baixo?

Lysandre franziu o cenho.

— Não acha que está exagerado? - perguntou.

— Não. Confia em mim - eu disse, convicta - Agora me mostre o que tem por baixo - assumi um tom autoritário, mas tentei suavizá-lo - Por favor?

Ele respirou fundo antes de retirar a peça. Vestia uma camisa social preta.

— Ah, assim é mais fácil de trabalhar - eu disse me aproximando dele.

— Rosa, o que... - não completou sua frase.

Dobrei as mangas de sua camisa até acima dos cotovelos.

— Está melhorando, mas falta algo ainda... - Pensei um pouco, relembrando todas as peças que havia no guarda-roupa  - Espere aqui, já volto.

Fui ao meu quarto e baguncei todas as gavetas a procura de alguns itens específicos.  Lysandre ficaria magnífico!

— Lys fofoo - cantarolei descendo a escada.

Lysandre estava em pé, observando um dos portas-retratos em cima da cômoda.

— São seus pais? - apontou. Assenti com a cabeça - Avisou a eles sobre sua saída?

Eu sabia que estava esquecendo de algo!

— Ligarei para minha mãe  quando resolvermos este assunto primeiro. - falei erguendo a mão com os acessórios.

— É difícil te contrariar - ele disse.

Entreguei o colete verde escuro com arabescos esverdeados cintilantes. Ele o vestiu e em seguida, com relutância, colocou as luvas sem dedo - pretas - também.

— Está perfeito! - sorri. Tive a impressão de que meus olhos brilhavam.

— Gostaria de ver como ficou, tem um espelho? - perguntou colocando uma das mechas brancas de seu cabelo atrás da orelha.

— Sim, claro - o levei para o banheiro. Ele sorriu ao ver seu reflexo.

— Confesso ter pensado que não ficaria tão bom - virou para mim. Novamente tentou conter a mecha rebelde atrás da orelha.

— Lys, não acha que seu cabelo solto vai te atrapalhar?

— Não me incomodo com ele assim - ele respondeu. O encarei, insistente, na esperança de que lesse meus pensamentos - Quer propôr mais alguma mudança?

— Prender, em um rabo de cavalo.

Ele aparentou examinar a sugestão por alguns segundos.

— Não é má ideia - ele disse, finalmente.

Procurei por uma fita na gaveta e felizmente encontrei uma verde.

— Sabe, você podia cortar um pouco o ele - falei enquanto decidia entre um amarrado alto ou baixo. Lysandre fez um careta - É sério, daqui a pouco vai estar maior que o meu - Esperei que dissesse alguma coisa, porém continuou em silêncio, parecia pensativo - Se quiser, eu mesma posso dar um jeito nele. Vai ficar lindo!

— Depois discutimos a respeito disso, ok?

— Tudo bem. - sorri - Prontinho - eu disse quando terminei de amarrar.

— Obrigado! Podemos ir agora?

— Ah espera! - eu disse depressa, correndo para a sala. Em cima do raque onde supostamente era para estar a televisão, tinha uma câmera. Logicamente eu registraria cada segundo daquela noite. O Lysandre cantaria, seria especial - Agora podemos!

(...)

— Tá ansioso? - perguntei antes de entrarmos. Estávamos frente a boate. Respirei fundo para conter a animação.

— Não. Por que estaria? - questionou impassível.

— Tá brincando?! Essa noite é uma das mais importantes da sua vida e você tá tranquilo? - perguntei, indignada.

— Rosa, não exagere... - sorriu.

— Que espécie de ser humano é você?! - falei forçando o dedo indicador em seu peito.

— Acho que está mais empolgada que eu - continuou sorrindo - Vamos entrar?

Notei o letreiro da boate. Curiosamente o nome dela era "O Inferno". Aquilo de alguma forma melhorou meu humor.

O lugar era como o previsto: muvuca e e música alta. Duas coisas que eu gostava.

Lysandre me guiou até perto do palco. Só fui capaz de enxergá-lo devido as luzes piscantes e coloridas. 

Quando conseguimos um espaço sem tanta gente, um menino apareceu e cochichou algo no ouvido do Lys.

— Desculpe-me, Rosa - Lysandre agachou para me dizer - Preciso ir. A banda irá tocar em breve.

— Vai logo, Lys! - o empurrei para o garoto.

— Queria te mostrar os bastidores, mas preciso mesmo ir. Você ficará bem sozinha?

— Claro, não se preocupe! - praticamente gritei. O som alto não nos permitia ouvir com clareza - Agora vai lá e arrasa!

Ele sorriu antes de partir.

Percorri rapidamente a vista ao redor, buscando um bar ou coisa parecida. Queria um refrigerante ou qualquer bebida doce. Um pouco de açúcar para me agitar mais. Entretanto, encontrei Castiel e Debrah, não muito longe, dançando.


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