Chances escrita por Miss Johnerfield
“Não quero perder para a solidão
Garota, eu sei que podemos reviver isso”(Don't Wanna Lose You Now - Backstreet Boys)
— Bom dia! – exclamei ao entrar na sala de jantar. Por sorte meu pai já havia saído para o trabalho e minha mãe para seus compromissos – que se resumiam à tarde de compras com as amigas ou trabalhos de consultoria em agências de modelos. Fiquei aliviada, pois não me sentia à vontade para falar sobre o que aconteceu ontem na frente dos dois. Além de Selena, Nari era a pessoa em quem eu mais confiava no mundo – e a única pessoa que apoiou meu relacionamento com Alex na adolescência.
— Uau! Que bom humor todo é esse? – indagou Nari já retirando a mesa de café da manhã. – Eu já ia começar a preparar o almoço. Você acordou tarde hoje.
— Estou aproveitando as férias para descansar. Ontem não consegui dormir direito – comentei enquanto me sentava à mesa e me servia de ovos fritos e um copo de suco que Nari ainda não tinha retirado. — Adivinha o que aconteceu comigo ontem? – indaguei após comer um pouco.
— Pela sua carinha alegre, algo muito, muito bom deve ter acontecido ontem. Conheceu alguém especial? – perguntou ela sentando-se ao meu lado.
— Melhor do que isso. Reencontrei uma pessoa.
Nari arregalou os olhos pequenos e levou suas mãos à boca em sinal de surpresa.
— Não vai me dizer que... – começou ela.
— Sim! Eu reencontrei o Alex! – exclamei, rindo.
— Anna! Meu Deus, isso é maravilhoso! – disse ela parecendo ainda mais empolgada do que eu. – E como foi? Vocês conversaram? Como você se sentiu? Como ele está?
— Calma delegada! – disse fingindo estar me rendendo. – Uma coisa de cada vez. Primeiro, foi esquisito. Segundo, sim, nós conversamos, mas foi tudo muito rápido. Terceiro, me senti estranha e me comportei feito uma adolescente na frente dele. E por último... Ah Nari, ele continua lindo! – exclamei a última parte sem conseguir conter minha empolgação.
Expliquei com mais detalhes como havia sido nossa conversa, dizendo como ele me convidara para sair em um encontro hipotético até a mensagem no correio de voz hoje de manhã. Nari ouviu tudo com a maior paciência do mundo, os olhos brilhando de empolgação e felicidade. Se minha vida fosse uma das novelas que costumávamos assistir juntas, eu tinha certeza de que ela seria a maior shipper de nós dois.
— Eu estou muito feliz por você, meu amor! Aliás, pelos dois. Eu lembro como o Alex ficou arrasado quando vocês terminaram naquela época.
— Nem me lembre disso, Nari. Quem mais sofreu com essa história fui eu – disse meio amarga. Só eu sabia o quanto aquilo ainda me machucava.
— Bom, eu não vou me intrometer porque isso é assunto entre vocês dois. Mas eu posso te pedir uma coisa?
— Claro – disse um tanto desconfiada, mas morrendo de curiosidade para saber o que Nari queria propor.
— Anna, independente de tudo, isso ficou no passado. Mas se vocês resolverem tocar nesse assunto outra vez, tente entender o lado dele, meu bem. Vocês eram muito meninos, talvez não fosse o momento. Só tente ser razoável, tudo bem?
— Isso já é mais de uma coisa, Nari. Mas eu prometo que vou pensar no que você me disse.
— Você não sabe como eu fico feliz em saber disso. – disse ela sorrindo. – Aliás, falando em felicidade... Um passarinho verde deve ter visitado Selena, porque ela ligou aqui atrás de você e parecia estar nas nuvens.
— Não foi passarinho verde nenhum não, Nari. Foi um belo de um papagaio loiro mesmo. Falando nisso, eu vou me trocar para ir até a casa dela e saber mais dessa história aí.
— - - - - ◈ - - - - -
Quando cheguei à casa de Selena, fui recebida por ela em seu quarto. Seu irmão havia saído para uma entrevista em uma rádio local e seus pais estavam visitando alguns familiares em Porto Rico, país de origem da senhora Dorough.
— Oi amiga! – exclamei quando entrei no quarto. Selena estava deitada em sua cama, lendo um livro de romance que eu conhecia muito bem.
— Oi amiga! – cumprimentou-me Selena deixando o livro de lado. Ajudei minha amiga a se levantar e nos sentamos em sua cama. Ela parecia alegre, mas eu senti que havia alguma coisa errada.
— Eu vi a mensagem que você me mandou, e a Nari disse que você estava bem feliz ao telefone hoje cedo... – comecei.
Selena sorriu de canto e soltou um longo suspiro, e foi aí que minhas suspeitas se confirmaram.
— O que houve? – indaguei.
— Pois é, eu estava mesmo. Mas fiquei pensando em algumas coisas e minhas paranoias não param de me perturbar.
— O Nick te fez alguma coisa? – perguntei, temendo o pior.
— Não! Imagina, ele é tão perfeito que às vezes eu fico pensando o que ele viu em mim.
— Amiga, para com isso! Você é incrível, eu odeio quando você se coloca pra baixo desse jeito.
— É esse o meu medo, entendeu? Eu sei que um dia ele vai se cansar de mim, mas não vai ter coragem de terminar comigo por causa da minha situação.
Respirei fundo e contei até dez mentalmente. Eu sei que a situação de Selena era delicada e eu jamais entenderia como é estar em seu lugar, mas mesmo compreendendo o porquê disso, percebia que ela se autossabotava demais, e isso me deixava muito triste.
— O que aconteceu ontem? – indaguei.
— Bom, depois que saímos da boate, Nick me levou para um lugar incrível. Você tinha que ver! Olhar o céu de cima daquela colina, ver aquelas estrelas lindas ao lado dele foi um sonho – contou ela toda sonhadora.
— Mas? – encorajei-a a continuar.
— Bom... – começou Selena, e percebi que seu rosto começou a corar. Levei uma das mãos à boca e encarei minha amiga com surpresa e incredulidade.
— Vai me dizer que vocês... – perguntei sem conter a curiosidade.
— O que? Não! – minha amiga apressou-se em dizer. – Quer dizer, mais ou menos.
— Meu Deus! Como assim mais ou menos, Selena? Não existe meio-termo, é como estar meio grávida! – exclamei um pouco empolgada demais.
— Fala baixo! O meu irmão pode já ter chegado em casa.
— Me desculpe, mas é que eu estou sem entender essa história. Rolou ou não rolou?
— Não. – concluiu Selena.
— Se não foi por falta de oportunidade, foi por que então?
Selena ficou ainda mais vermelha do que antes e engoliu em seco algumas vezes antes de continuar.
— Você sabe por quê. Ele é o meu primeiro namorado, mesmo eu estando com quase trinta anos completos. Eu não queria que a minha primeira vez fosse em um carro. – terminou ela meio envergonhada.
— Ok, eu super entendo e concordo com você. Mas qual é a paranoia da história? Não estou te entendendo.
— O Nick é lindo, simpático, maduro, mais velho que eu e pode ter a mulher que quiser... Eu não quero ser um fardo pra ele. E é por isso que estou pensando em romper nosso namoro. – disse Selena com lágrimas nos olhos.
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