Chances escrita por Miss Johnerfield


Capítulo 2
Two




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“E se eu nunca tivesse esbarrado você?
E se você nunca tivesse sorrido pra mim?”

(Chances - Backstreet Boys)

 

Minha cabeça girava e em meu estômago parecia que havia um borboletário. Controlei a vontade de hiperventilar e senti que minha pressão estava baixando, tudo ao mesmo tempo. Meu Deus do céu! Como isso foi acontecer?

Alex estava tão estático e perplexo quanto eu, pois continuava a me encarar e ainda segurava minha mão. Eu não sei quanto tempo se passou ou o que aconteceu ao nosso redor, mas a impressão que tive era a de que só havia nós dois ali, olhando um para o outro. Como se disséssemos tudo e nada ao mesmo tempo – aliás, eu mal sabia como reagir, muito menos o que diria a ele. Tenho certeza de que um “oi, ainda penso em você mesmo tendo sofrido horrores” não cairia nada bem, então não fiz nem disse absolutamente nada.

— Anna! – ouvi Nick me chamar e me sobressaltei. – Anna, tudo bem por você?

— O que? – murmurei em resposta.

— Eu disse que vou levar Selena para casa. Tudo bem por você?

Eu não queria ficar ali e ter que conversar com Alex, pelo menos não naquele momento em que o silêncio entre nós era quase insuportável. Pensei em rebater dizendo que havíamos combinado de irmos embora juntas e que eu a levaria para casa, mas minha amiga lançou-me um olhar suplicante e eu entendi que os dois precisavam de um espaço.

— Tudo bem – respondi sorrindo para ela. – Me manda mensagem depois – disse e ela concordou. Aquele era o nosso código para quando queríamos fofocar ou simplesmente desabafar uma com a outra.

— Tchau, pessoal! – disse Selena parecendo bem mais leve e calma do que a minutos atrás.

— Pode deixar que eu cuido de tudo – ouvi Alex dizer a Nick antes dele e minha amiga saírem pela calçada rumo ao estacionamento.

Engoli em seco e observei Alex por um instante. Ele parecia apreensivo, até meio sem jeito perto de mim. Deus, o que eu faria agora? Eu não estava pronta para encontrá-lo aqui, e depois de tantos anos separados não tínhamos assunto algum. O que você diz ao seu primeiro namorado que não vê há quinze anos?

— Anna... Meu Deus – disse ele ainda me analisando. Tentei esboçar um sorriso, mas me senti extremamente patética tendo que confrontá-lo. Eu não sabia como agir e tenho certeza que meu nervosismo era praticamente palpável.

— Oi Alex! Há quanto tempo, não é? – indaguei morta de vergonha por agir de maneira tão idiota.

— Pois é! Já faz quantos anos? Uns quinze? – perguntou ele.

— Mais ou menos isso – respondi. – E o que você tem feito durante esses anos?

— Bom, eu trabalhei como promoter durante algum tempo, aí uma coisa foi levando à outra e... Bem, você viu no que deu. – disse ele, sorrindo.

— Sim, inclusive eu adorei! – comentei com sinceridade.

— Fico muito feliz em saber disso. Você trabalha com o Howie Dorough, não é? Nick comentou comigo, mas eu não fazia ideia de que a melhor amiga da namorada dele era você.

— Pois é! Conheci a Sel na faculdade e desde então não nos desgrudamos mais. Consequentemente, fiquei amiga dele também. Quando a oportunidade de fazer o que gosto surgiu, Howard me arrumou um emprego e aqui estou eu.

— É tão bom quando podemos escolher o que fazer! Fico muito feliz em saber que isso aconteceu, porque você merece muito.

Sorri completamente sem jeito da colocação de Alex. Era bom saber que o passado havia ficado onde deveria estar, como Selena havia me dito mais cedo. A saudade que eu nem sabia sentir dele parecia ter vindo com força total, e tive a sensação de que estava mais forte ainda agora que finalmente estávamos frente a frente. Isso faz sentido?

— Muito obrigada. Também fico muito feliz por você – disse a ele sendo sincera.

Após mais alguns segundos de um silêncio constrangedor, Alex disse que teria que voltar ao trabalho e se despediu. Quando eu estava prestes a entrar no carro, ele voltou-se para mim um tanto sem jeito e perguntou:

— Será que... Será que gente podia combinar de fazer alguma coisa?

— Claro! – exclamei parecendo feliz até demais, o que não passou despercebido por ele, que sorriu de canto. – Quando?

— Eu vou ver e te aviso, ok? – indagou.

Meu coração parou com os pulinhos empolgados na mesma hora. Dei um sorriso meio amarelo e apenas concordei com um aceno de cabeça.

— Até mais, então – disse Alex.

— Até! – respondi e entrei no carro.

Confesso que fiquei decepcionada com aquele reencontro. Eu esperei quinze anos por isso, e não foi nada como eu imaginei. Minha vontade era de voltar lá e dizer a ele: “olha só, vamos recomeçar porque você não seguiu o script que estava na minha cabeça”. E o filho da mãe nem pediu meu número de telefone! Ele iria me encontrar por sinal de fumaça? Quando Nari soubesse disso riria muito de mim, eu tinha certeza.

— - - - - ◈ - - - - -

Após chegar em casa, percebi que todos estavam dormindo, ainda que não fosse nem onze da noite. Subi as escadas em direção ao meu quarto, grata por não trombar com minha mãe e ter que ouvir o interrogatório: o que eu fiz, com quem andei, o que comi, se bebi demais, etc. Não me entenda mal, eu amo a minha mãe, mas às vezes ela me trata como uma criança que não sabe se comportar e faz vista grossa comigo, mesmo eu já tendo trinta e um anos. Mães sendo mães. Mandei mensagem para Selena, mas ela não me respondeu. Bom, alguém tinha que se dar bem hoje, não?

Não consegui dormir direito naquela noite. Revivia a cena do reencontro com Alex diversas vezes, e em todas elas eu parecia patética diante dele. Deve ter sido por isso que ele me chamou para sair, se é que isso aconteceria. Depois de tantos devaneios, finalmente peguei no sono. Não sei que horas eram quando acordei, e fiquei um tempo olhando para o teto, criando coragem para levantar.

Após fazer minha higiene matinal, peguei meu celular na mesa de cabeceira e vi que tinham dois correios de voz e algumas mensagens de Selena. Resolvi lê-las primeiro antes de qualquer coisa. No geral, ela dizia o seguinte:

“Amiga, PELO AMOR DE DEUS, como terminou a noite de ontem? Estou morrendo de curiosidade para saber de todos os detalhes, e preciso te contar algumas coisas também. Te liguei mas acho que você já havia dormido. Enfim, mais tarde passa aqui em casa pra gente conversar. Beijos!”.

Ri do entusiasmo da minha amiga, mas seria decepcionante para ela saber o que realmente rolou. Ouvi os correios de voz em seguida. O primeiro era de Howie, perguntando se estava tudo bem com Selena, já que ela não havia atendido o celular. Imaginei que a essa altura ele já soubesse que não fomos embora juntas, então não respondi. O último era de um número desconhecido, mas resolvi ouvir mesmo assim. Com o fim da turnê e o período sabático eu teria tempo de sobra para atender clientes novos, e esse poderia ser um deles. Meu coração palpitou ao ouvir aquela voz rouca do outro lado da linha, e eu juro que tentei me controlar ao máximo para não me empolgar, mas foi muito difícil.

— Anna? Oi, aqui é o Alex. Você chegou bem em casa? Espero que sim. Depois que você foi embora percebi que não tinha pedido seu número de telefone, então pedi ao Nick, que pediu à sua amiga, enfim... Posso te ligar mais tarde para a gente combinar aquela saída? Obrigado, fico esperando sua resposta.

Sorri aliviada e fiquei me sentindo uma boba por ter me precipitado em relação a ele. Eu estava tão feliz naquele momento, mas disse a mim mesma que não devia criar altas expectativas. Era só um reencontro entre amigos... Não é? Eu odiava admitir, mas talvez, apenas talvez, Nari estivesse certa esse tempo todo sobre nós dois, e mesmo sendo uma possibilidade muito pequena, pensar nisso acendeu a luz no fim do túnel que há muito tempo eu não via sequer piscar.


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