Chances escrita por Miss Johnerfield


Capítulo 1
One




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“O que um cara como eu está fazendo em um lugar desses
Se aproximando de você? Mas aqui estamos nós”

(Chances - Backstreet Boys)

 

— Me perdoe Anna! Por favor, me perdoe... Eu fui fraco e covarde, não deveria ter deixado isso ficar entre a gente. Eu amo tanto você – senti sua respiração quente contra meu pescoço e suas lágrimas molharem meus cabelos.

Minha garganta começou a me incomodar e eu sabia que estava prestes a chorar também, então não resisti, apenas deixei as lágrimas rolarem e falei num fio de voz:

— Saranghae, Oppa...

— Saranghae, Anna – respondeu ele beijando minha testa em seguida.

Acordei assustada e com os batimentos cardíacos descompassados. Era a segunda vez em menos de um mês que tive aquele mesmo sonho que me perseguia há anos. Sentei-me na cama e tomei alguns goles d’água do copo que estava ao lado da minha cama, na mesa de cabeceira. Quando olhei as horas no celular percebi que ainda era cedo, mas tive medo de tentar voltar a dormir e o sonho vir à minha mente outra vez.

— - - - - ◈ - - - - -

— Pulou da cama? – indagou nossa governanta quando me viu na cozinha tão cedo.

— Pois é... Quase isso – sorri para ela enquanto me sentava à mesa e me servia de uma xícara de café.

Nari era como uma segunda mãe para mim e era uma velha conhecida da família. Seu pai era jardineiro da família da minha avó materna, e ela e mamãe cresceram juntas. Quando mamãe veio para os Estados Unidos por causa da carreira de modelo, Nari a acompanhou e trabalhou como sua secretária. Após o casamento dos meus pais, ela permaneceu com os dois porque não tinha família aqui e nem na Coreia – seus pais já eram falecidos nessa época. Depois que nasci ela cuidou de mim e eventualmente se tornou nossa governanta. Mesmo depois de se casar continuou trabalhando conosco, porém sem dormir no serviço, claro.

— Aquele sonho de novo? – indagou Nari me olhando com um semblante preocupado.

Olhei-a por cima da xícara, tomando um longo gole antes de responder.

— Pesadelo, você quer dizer. Há tempos não pensava nisso, e agora que voltei para casa essas lembranças idiotas ficam me perseguindo, como se eu estivesse devendo algo, sei lá.

— Anna, não fale assim... – começou ela tentando me consolar. – Nada, absolutamente nada nessa vida acontece por acaso. Talvez vocês tivessem que passar por isso porque não estavam prontos um para o outro naquela época.

— É isso o que não entendo Nari – disse com um suspiro longo. – Como você mesma me ensinou, Deus permite que as coisas aconteçam por um propósito. Mas então, por que ele deixou que nós nos apaixonássemos e depois tudo virasse pó?

Nari sorriu e sentou-se ao meu lado, segurando minhas mãos nas suas.

— Quem sabe naquela época Ele não estava preparando o terreno? Pense bem, querida. De repente vocês ainda não estavam prontos e precisavam passar por isso para viver uma história mais linda ainda hoje.

Sorri e comecei a me sentir mais leve, mais pelo raciocínio doido da Nari do que com a possibilidade de reencontrar a pessoa que mais me fez sofrer.

— Eu amo a sua imaginação, Nari! – apertei sua mão e rimos juntas por um momento.

— Eu faço o que posso para te ver assim, alegre. Esse semblante triste não combina com você.

— Obrigada, de coração.

— Tudo para ver minha menina feliz – disse ela com doçura.

— - - - - ◈ - - - - -

Depois do café com Nari, tomei um longo banho, me arrumei e desci para pegar minhas chaves. Eu trabalhava como figurinista para o irmão da minha melhor amiga, que era cantor. E hoje, com o encerramento da última turnê, a equipe havia fechado uma balada no centro da cidade para comemorar e fazer um after party depois do último evento, que seria uma tarde de autógrafos com direito a meet and greet com os fãs.

Desci as escadas e apanhei as chaves e minha bolsa em cima do piano, recebendo o olhar desaprovador de minha mãe por causa da minha bagunça - ela e meu pai estavam a alguns passos de distância, na sala de jantar.

— Bom dia – cumprimentei-os.

— Bom dia, amor – respondeu-me meu pai.

— Já vai sair? Você chegou ontem à noite e já tem tanto trabalho assim que não pode sentar-se e tomar um café da manhã decente com sua família? – indagou minha mãe. Os dois eram tão diferentes que às vezes eu me perguntava como podiam estar casados há tantos anos. Talvez fosse por serem tão diferentes que aquela união dava tão certo.

Inspirei e expirei duas vezes antes de responder. Com seu jeito nada sutil, minha mãe queria começar a mesma discussão de sempre: por que eu não ia trabalhar com meu pai na empresa da família. Éramos donos de uma construtora bastante famosa na cidade, principalmente por conta dos prédios empresariais e condomínios luxuosos. Mesmo tendo cursado Engenharia Civil, isso nunca foi o que gostei de fazer, então minha mãe fazia de tudo para me arranjar um casamento com alguém que tinha interesse no negócio da família. E já que a única herdeira do grupo Yoon não tinha vontade nem vocação para trabalhar lá, talvez um genro podre de rico que atuasse na área de construção civil fosse a salvação para que a empresa da família continuasse quando meu pai resolvesse se aposentar.

— Sim, mãe. Hoje é o último dia de trabalho para fecharmos o ciclo dessa turnê. Só vou organizar o figurino de uma sessão de fotos e dar uma mão à Selena com os últimos detalhes dos eventos de hoje.

— Eu só perguntei por que acho que essa gente te faz trabalhar demais e...

— Essa gente, como a senhora diz, são meus patrões e acima de tudo, meus amigos. Se me der licença, o dever me chama – saí de lá contando até dez mentalmente. Essa era a parte ruim de voltar para casa depois de meses fora: ter de lidar com as neuras da minha mãe.

— - - - - ◈ - - - - -

— Anna! – exclamou Selena assim que me viu no jardim de sua casa. Antes da tarde de autógrafos, seu irmão faria uma sessão de fotos na mansão da família.

Me aproximei de minha melhor amiga e a abracei, cumprimentando-a.

— Oi Sel! Você está radiante hoje. Que bicho te mordeu? Você detesta acordar cedo! – comentei.

— Amiga, eu mal consegui dormir de tanto nervosismo! Estou tão ansiosa com hoje à noite que só consegui dormir quatro horas.

— Mas se você não descansar, como vai aproveitar a noite com o gato?

— Nem me lembre. E agora com esse dia cheio é que não vou poder mesmo. Nem minhas unhas eu tive tempo de pintar! – exclamou Selena me mostrando as unhas perfeitamente polidas. Comecei a rir da situação e ela me encarou sem entender nada.

— Amiga, acredite em mim. Quando ele te vir toda arrumada só para ele, suas unhas vão ser a última coisa em que ele vai reparar.

Minha amiga corou na mesma hora e riu sem jeito da minha colocação.

— Tudo bem, depois a gente conversa e eu te ajudo a se arrumar para hoje à noite, ok? – ofereci e o rosto de Selena se iluminou com a ideia.

— Perfeito! – exclamou ela empolgada. – Agora vamos logo com essa sessão de fotos porque o dia promete.

— - - - - ◈ - - - - -

Depois de finalizar os compromissos daquele dia, Selena e eu combinamos de nos encontrarmos às sete da noite em sua casa para nos arrumarmos juntas. Passei em casa apenas para pegar minhas coisas e voltei para sua casa. Jantamos, papeamos e rimos juntas de diversas situações pelas quais passamos na turnê de seu irmão mais velho.

O que eu mais amava nela era o jeito positivo como sempre tentava enxergar tudo ao seu redor. Mesmo passando por muita coisa, ela nunca se deixou se abalar e tinha uma força gigante dentro de si.

Quando nos conhecemos, há muitos anos, Selena quase não tinha amigos. Encontramo-nos pela primeira vez na faculdade, e mesmo não cursando a mesma coisa, sempre nos encontrávamos nas aulas que tínhamos em comum. Ela sempre estava sozinha, assim como eu, e acho que nossas solidões nos aproximaram.

Lembro-me de ficar chocada com a maneira como ela era tratada pelos demais, com desprezo total, o que me deixava fervendo de ódio e triste ao mesmo tempo. Selena era paraplégica, e desde a adolescência havia passado por inúmeras cirurgias para tentar reverter o quadro. Quando tinha oito anos e brincava na frente de casa com suas amigas, um carro conduzido por um motorista embriagado invadiu a calçada e a atropelou. Até alguns anos, ela não conseguia mover nada da cintura para baixo, mas depois de diversos tipos de tratamento, finalmente conseguiu voltar a dar seus primeiros passos.

Esse quadro podia ter sido parcialmente revertido ainda na infância, mas sua família não tinha condições de pagar o tratamento. Quando seu irmão finalmente estourou com a carreira de cantor e os cachês começaram a aumentar, a família investiu em todas as formas de tratamento que o dinheiro podia pagar. Mesmo tendo todos os motivos do mundo para ser revoltada ou até mesmo metida e soberba, ela sempre carregava consigo um sorriso no rosto e uma alegria contagiante.

Durante o dia todo, a conversa girava em torno do seu reencontro com o namorado. Selena deixara a ocasião de hoje à noite para nos apresentar ao rapaz justamente para fugir da formalidade.

— Deus me livre marcar um jantar aqui em casa! – dizia ela. – É capaz do meu pai e do Howie fazer com que ele desista de me namorar. Os dois são superprotetores demais e me sufocam de tanto cuidado. Pelo menos lá ele não terá tempo nem de pensar em mim.

— Com certeza – afirmei. – Mesmo assim, penso que seria legal ter um irmão mais velho. Acho que se tivesse um, parte da minha situação com o dito-cujo teria sido evitada antigamente.

— Amiga, não pensa nisso agora. A gente tem que sempre olhar para frente, deixa o que aconteceu no passado e aproveite o agora. E por falar nisso, Nick tem um amigo gatíssimo e eu acho que hoje seria a oportunidade perfeita pra você esquecer essas coisas.

Suspirei ao pensar na possibilidade. Há tempos não me aproximava de alguém. Quem sabe hoje não seria meu dia de sorte?

Voltei a me maquiar enquanto minha amiga arrumava seus cabelos e comecei a pensar no passado novamente, algo que vinha acontecendo com cada vez mais frequência desde que tive aquele sonho idiota de novo.

— Nari! – exclamei quando entrei na cozinha. – Minha mãe pediu para que você me acompanhasse na... – parei de falar quando vi que ela conversava com um rapaz que estava na porta. Os dois interromperam o diálogo e senti o olhar dele em mim. Minhas bochechas esquentaram feito brasa na mesma hora.

— Anna, esse é o Alexander – me apresentou ela ao menino.

— Só Alex – corrigiu ele.

— Oi, Alex – respondi enquanto o analisava rapidamente. Ele tinha um estilo meio bad boy, meio excêntrico, mas que estranhamente ficava bem nele. Tentei imaginar algum dos almofadinhas metidos a malandros do colégio onde estudava usando algo parecido com aquilo, mas seria no mínimo hilário. – O que aconteceu com o Robert? – questionei à Nari me referindo ao antigo entregador da loja de conveniência coreana que havia perto de casa e, não coincidentemente, seu namorado.

— Ele arrumou outro emprego – disse ela num tom sonhador que não compreendi. – Aqui, querido – disse Nari ao rapaz em tom maternal entregando-lhe o pagamento da compra – pode ficar com o troco.

— Muito obrigado – agradeceu ele sorrindo de canto e guardando as notas no bolso do avental. – Quando precisar de alguma coisa, me avise por esse número – completou entregando um folheto à Nari.  

— Obrigada, Alex – agradeceu ela. – Tchau!

— Até mais! Tchau, Anna – ele disse enquanto montava em sua bicicleta e saía pela rua. Abri a boca para responder, mas não consegui emitir nenhum som, então apenas acenei.

— Sinto cheiro de romance – cantarolou Nari enquanto carregava a sacola de compras até a ilha da cozinha.

Revirei os olhos e apanhei uma maçã da fruteira. Nari tinha essa mania de tentar me juntar com cada menino com quem interagia. No começo eu achava fofo, mas agora estava ficando patético.

— Antes de isso acontecer, o inferno congela – respondi mordendo um pedaço da maçã.

— Que bobagem! Só porque ele trabalha na lojinha? – perguntou ela.

— Você sabe que eu não dou a mínima pra esse tipo de coisa, mas se depender da minha mãe eu casava hoje com um herdeiro coreano podre de rico.

Nari pareceu pensar por um instante, me analisando e sorrindo em seguida.

— Não sei Anna, mas tive um bom pressentimento sobre esse rapaz.

Comecei a rir daquela ideia enquanto ela apenas me olhava com aquele semblante de quem sabia que estava certa sobre o que acabara de afirmar.

— No dia em que minha mãe permitir que eu namore, isso será um progresso. No dia em que eu puder escolher meu namorado, você pode ficar com toda a minha mesada.

— Anna, querida, aprenda uma coisa: o amor é uma questão de escolha, mas Deus sempre prepara a pessoa certa para que o amor aconteça. Quem sabe não é esse rapaz?

— Eu acho que você devia parar de ver tantas novelas – sorri tentando disfarçar, mas minha mente girava com a possibilidade de poder amar quem eu quisesse. Como eu queria que as coisas fossem simples assim, como nas novelas que Nari e eu assistíamos juntas.

— Pronta para conhecer o amor da minha vida? – voltei ao presente com a pergunta da minha melhor amiga. Sorri para ela e acenei afirmativamente, me levantando para acompanhá-la até a porta.

— Espero que você conheça alguém especial hoje e se divirta também. E por falar nisso, meu irmão ainda está solteiro – comentou Selena enquanto eu a ajudava a entrar no carro.

— Você é minha melhor amiga, mas não estrague nossa linda amizade tentando virar minha cunhada – comentei.

— Meu Deus, amiga! Sua ex-cunhada era tão bruxona assim? – perguntou Selena parecendo verdadeiramente espantada.

— Bruxona é elogio para aquela mulher – respondi me lembrando das raivas que aquela idiota me fez passar. – Eu pensei que meu amor pelo Kevin seria à prova de tudo, mas o problema é que quando escolhemos ter um relacionamento com alguém, a família vem no pacote. Mas fico feliz porque pude guardar boas lembranças dessa época. Menos com ela, claro.

Minha amiga ria no banco do carona da história lamentável, e eu sabia que era para disfarçar o nervosismo – principalmente porque já ouvira aquela história inúmeras vezes antes. Selena não tinha uma irmã mais velha com quem contar, apenas o irmão, que apesar de muito amado por ela, não era alguém com quem podia desabafar sobre tudo. E eu, como filha única, também não tinha essa figura em minha vida para cumprir com esse papel, então nós éramos as irmãs uma da outra.

Quando paramos em um cruzamento, olhei para ela e vi que Selena não parava de mexer nas pontas dos cabelos, algo que ela fazia sempre que estava nervosa com alguma coisa.

— Amiga, relaxa! – disse a ela tentando animá-la. – Nós já estamos chegando, e eu aposto que ele está tão ansioso quanto você. Não se preocupe com o que seu irmão ou com o que qualquer outra pessoa vai achar dele. Se vocês se gostam e ele a trata como a rainha que você é, isso o que importa.

— Você está certa. Vou contar até vinte e tentar abstrair – respondeu-me ela fechando os olhos e respirando fundo.

Quando chegamos ao tal clube, observei que a fila estava imensa. Estacionei junto ao meio-fio e esperei que o manobrista apanhasse as minhas chaves para colocar o carro no estacionamento. Ajudei Selena a sentar-se em sua cadeira motorizada e fomos até a entrada VIP do lugar. Assim que recebemos nossas pulseiras e entramos, percebi que minha amiga revezava suas mãos entre as orelhas e o controle de sua cadeira. Selena tinha fonofobia, e o barulho do lugar a incomodava em proporções enormes.

— Amiga – disse junto ao seu ouvido para que ela me escutasse – eu vou te levar até ele, pode deixar.

— Obrigada! - exclamou ela e se deixou ser conduzida por mim enquanto tapava as orelhas.

Avistei Nick junto ao bar com o que parecia ser um milkshake em uma das mãos e sorri na mesma hora. Selena tinha encontrado sua metade, com toda a certeza.

Ele se aproximou de nós duas e se abaixou para ficar na mesma altura de minha amiga.

— Como eu sei que você não bebe, pedi para que os meninos preparassem um open-bar de milkshakes e outros tipos de bebidas que você gosta. Esse é de morango – disse ele, todo sorridente.

Selena tirou as mãos das orelhas e aceitou o presente na mesma hora com um sorriso largo no rosto.

— Você não existe, Nickolas! – exclamou ela e beijou seu namorado em seguida.

Sorri diante da cena fofa. Tudo o que eu queria para minha amiga era uma pessoa que a entendesse e a amasse apesar e acima de todas as dificuldades, e fiquei muito feliz de ver aquilo projetado naquele rapaz.

Depois de alguns segundos em seu mundinho particular, Nick se levantou e me cumprimentou, apertando minha mão e se apresentando adequadamente.

— Você deve ser a Anna. Selena não para de falar em você. Muito prazer, sou Nickolas.

Apertei sua mão e sorri para ele, me apresentando também.

— Finalmente eu pude conhecer o tão famoso Nickolas que sequestrou o coração da minha amiga! Prazer, sou Anna.

— Pode me chamar de Nick – respondeu ele.

— Tudo bem, Nick. Bom, eu vou deixá-los aproveitando esse open bar exclusivo e vou procurar o Howard. Até mais!

Selena acenou para mim enquanto aproveitava sua bebida e a companhia de seu amor. Pelo menos alguém estava feliz, e eu fiquei radiante em saber que era ela.

Subi as escadas do lugar até a área VIP, onde Howard disse que estaria. O encontrei sentado em um sofá de veludo, digitando ao telefone e bebendo uma taça de champanhe. Quando me viu, tirou os olhos do celular e sorriu para mim, me convidando a sentar junto a ele. Aceitei o convite de bom grado, apanhei uma taça na mesa e ele a encheu.

— Como vai minha figurinista preferida? – perguntou ele sorrindo. Sorri de volta e bebi um gole da bebida antes de responder.

— Cansada, porém satisfeita com nosso trabalho. A turnê foi um sucesso e eu acho ótima essa sua ideia de tirar umas férias. Você merece, trabalhou demais no último ano.

— Eu não consigo descansar. Estou aqui, desfrutando de uma ótima taça de champanhe e de uma companhia maravilhosa, mas minha cabeça está a mil com algumas ideias que tive. Não vejo a hora de voltar ao estúdio.

— Companhia maravilhosa? A minha? – indaguei.

— Sempre – respondeu ele todo galanteador.

Ri da situação e continuei a beber. Howard era um homem incrível, mas eu não enxergava nele a possibilidade de um relacionamento. Mesmo sendo lindo, educado e um perfeito cavalheiro, era casado com sua música, e eu não seria doida a ser o pivô desse divórcio.

— Você não perde a oportunidade – alfinetei.

— Não pode culpar um homem por tentar – rebateu ele. — Você conheceu o sócio do Nickolas? – indagou.

— Não. Achei que a boate fosse só dele – respondi surpresa.

— Não, é uma sociedade com um amigo. Os dois possuem mais algumas casas noturnas espalhadas pela cidade e estão fazendo fama. Achei um negócio interessante – comentou ele servindo-se de mais uma taça.

— E o que você achou dele? – perguntei.

— Se minha irmã está feliz, é isso o que importa. Mas já deixei avisado que estou sempre de olho, ainda mais agora que estarei em casa.

— Acho justo. Só não assuste o rapaz, me pareceu bem gente boa.

— Muita gente parece ser legal, mas as aparências podem enganar – concluiu ele um tanto sério.

— Eu entendo sua preocupação mais que ninguém. Só não exagere, ok? – sugeri.

— Prometo que vou tentar – respondeu ele levantando as duas mãos em rendição.

Conversamos por mais alguns instantes até que ele se levantou e disse que ia procurar o sócio de Nickolas para nos apresentar. Ri quando ele me disse que não sabia o nome do rapaz, pois ele se apresentava apenas como AJ.

— E como você faz negócio com alguém sem ao menos saber o nome da pessoa? – indaguei.

— Não fui eu quem cuidou disso, e sim minha irmã. Nickolas ofereceu a noite de hoje como um presente, acho que na tentativa de me agradar.

— E pelo visto funcionou – me atrevi a dizer.

— É, nada mau. Acho que fico devendo isso a ele – comentou. – Eu já volto.

— Tudo bem – respondi enquanto assistia ele se afastar. Passado alguns minutos, vi um clarão perto do bar e percebi que algumas pessoas tentavam soltar fogos iguais aos que usávamos no palco quando Howard se apresentava. Fiquei apreensiva por causa de Selena, ela odiaria aquilo e poderia ter uma crise de choro ou algo assim.

Na mesma hora vi que o número dela apareceu na tela do meu celular e atendi.

— Alô? Selena, onde você está?

— Anna? Aqui é o Nick. Selena e eu estamos aqui na porta e ela está chorando demais, eu não sei o que fazer – respondeu ele num tom apreensivo.

— Tudo bem, eu já estou descendo. – respondi e desliguei o telefone. Desci as escadas e me espremi em meio à multidão para chegar até a porta. Quando os avistei, vi que minha amiga chorava e tapava as orelhas. Nick estava agachado em frente a ela, tentando acalmá-la de todas as formas.

— Selena? Selena olha pra mim! – pedi enquanto me agachava ao seu lado e tentava segurar suas mãos. – Já acabou, tente se acalmar agora. Está tudo bem.

Nick segurou o rosto dela em suas mãos e enxugou suas lágrimas. Percebi que aos poucos ela se acalmou, até que parou de chorar.

— Quem fez aquilo? – perguntei a ele.

— Eu não sei – respondeu ele ainda agachado junto a ela. – Estávamos conversando perto do bar quando começaram a estourar os fogos.  Eu não vi quem foi.

— Tudo bem – disse Selena ainda um pouco assustada.

— Eu vou ligar para o seu irmão – disse eu apanhando o celular na bolsa e teclando o número de Howard. Antes que pudesse terminar o vi saindo pela porta da boate acompanhado de um homem.

— O que aconteceu? – indagou ele quando se aproximou da gente.

— Algum idiota começou a soltar aqueles fogos lá dentro a troco de nada – respondeu Nick.

— Está tudo bem? – perguntou o rapaz que estava com Howard. Não tinha prestado atenção nele até aquele momento. Reparei que mesmo à noite, usava óculos aviadores escuros e um chapéu fedora de aba larga. Vestia uma camisa com as mangas arregaçadas até o antebraço, jeans escuros e tênis. Os braços, mãos e pescoço estavam cobertos por diversas tatuagens e ele também tinha um piercing de argola no nariz e alargadores pequenos nas orelhas.

Engraçado. Eu tive a estranha sensação de que já o havia visto em algum lugar, mas não me lembrava de onde.

— Agora está tudo bem – respondeu Selena enquanto enxugava os olhos.

— Eu vou te levar para casa – respondeu Howard.

— Não precisa – disse ela. – A festa é sua, seria muito estranho sair assim.

— Eu te acompanho até em casa, amiga – me ofereci.

Selena concordou e se despediu de Nick. Seu irmão se despediu da gente e voltou para dentro da boate meio a contragosto.

— Com essa confusão toda nem apresentei meu amigo a vocês – disse Nick. – Sel, Anna, esse é meu amigo e sócio, Alexander.

— Só Alex – rebateu o rapaz enquanto cumprimentava minha amiga. Senti um frio na espinha quando ouvi aquilo. Será que... Não, seria coincidência demais.

— Prazer, Alex! Essa é minha melhor amiga, Anna Yoon – respondeu Selena.

Alex me encarou por longos segundos, apertando minha mão na sua. Em seguida tirou os óculos escuros e me olhou nos olhos. Sua expressão foi de choque a incredulidade em uma fração de segundos. Não podia ser. Aquilo só podia ser piada, não tinha a menor chance de ser verdade. Já teve a sensação de que sua vida toda passa como um filme por sua mente em um curto período de tempo? Era assim que me sentia naquele momento, segurando a mão daquele homem e olhando em seus olhos. Era ele... Meu Oppa.


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