When Darkness Shines Brightest escrita por darling violetta


Capítulo 8
Fome, parte IV




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/803186/chapter/8

Ciel observou, entre curioso e enojado, como Sebastian demorou cinco minutos para abotoar sua camisa. Ele sentia os toques sutis em sua pele, cada um deles causando-lhe arrepios. O banho também foi estranho e Ciel teve que mandar o mordomo embora antes que as coisas ficassem complicadas.

Sebastian se ajoelhou para calçar-lhe as meias e fechar os sapatos. Ciel estendeu o pé direito. O mordomo calçou a meia, mantendo mais contato que o habitual. Em seguida pegou o sapato, seus dedos sempre ágeis e gentis, demorando em amarrar os nós.

O rapaz puxou o pé num movimento brusco, tentando ser rápido. Seu outro pé vagou pelo colo do demônio, indo descansar em algo duro. O olhar de Sebastian vagou do ponto entre suas pernas para o rosto de seu mestre, perguntando-se se o rapaz tinha noção do que fazia.

Franziu o cenho. Ele esperava que Sebastian terminasse de arrumá-lo, no entanto, o mordomo permanecia imóvel, apenas o encarando. Sem querer, esfregou seu pé outra vez, tentando entender o que se passava. Em resposta, ganhou um gemido baixo vindo do outro homem.

Ciel ergueu a sobrancelha. Seu rosto ficando vermelho ao se dar conta do que era. Esfregava o pé sobre a ereção do demônio. Por algum motivo, Sebastian tinha se excitado, e ele descaradamente o tocava naquele lugar. Mais que depressa tirou o pé.

"Saia daqui! Eu termino de me arrumar."

Com um aceno, ele saiu. Ciel ficou sozinho no enorme quarto. Ainda precisava se arrumar, mas primeiro precisava afastar a vergonha que sentia. Como Sebastian ousava? Seu mordomo estava estranho demais. Seu comportamento muito diferente do esperado, tanto para um mordomo quanto para um demônio.

Mesmo com dificuldade, conseguiu amarrar o outro sapato. Sua aparência não era nada ruim. Usava sapatos marrons, bem discretos. Sua calça preta estava impecável, assim como a camisa branca. Um colete azul marinho e o paletó da mesma cor completavam sua roupa. A gravata cinza tinha detalhes no mesmo tom de azul. O tapa-olho estava em seu devido lugar. Sua aparência era elegante.

Vestiu o casaco também azul marinho sobre seu terno, guardou a caixa com o anel em seu bolso e desceu as escadas.

Os empregados o esperavam no andar de baixo. A carruagem já o aguardava, assim como Sebastian. Era hora de ir. Seu compromisso com Elizabeth o chamava.

*******************

As carruagens dos nobres chegavam à mansão dos Midford. Elizabeth e seu pai estavam na porta, recebendo os convidados. A menina mal conseguia controlar a emoção. Era seu aniversário de 19 anos, e também a noite de seu noivado com Ciel.

Elizabeth usava um vestido azul claro todo rodado, com detalhes em renda branca no corpete. Luvas brancas cobriam seus braços até os cotovelos. Seus cabelos loiros estavam presos em um coque, adornados por uma tiara com pedrarias azuis escuras. Usava brincos discretos e um grande sorriso no rosto.

"Lord Fernsby!" Alexis estendeu os braços para o homem que se aproximava. "Fico feliz em vê-lo!"

O lord Nathaniel Fernsby era um homem em seus 50 anos, de cabelos grisalhos. Apoiava-se em uma bengala, da qual mancava de uma das pernas. Seus rosto já cansado exibia algumas marcas de expressão, causas da idade. Ao seu lado estava sua esposa, uma mulher de 40 anos, ainda bela mesmo com a idade. Usava um vestido vermelho cheio de pedrarias e um grande colar.

Os dois homens se cumprimentaram. Amigos de longa data, ambos serviram juntos na cavalaria inglesa.

"Bem, não poderia deixar de prestigiar tão bela dama." Elizabeth deu um sorriso tímido ao homem. "À propósito, este é meu sobrinho, Daniel."

O sorriso no rosto de Elizabeth murchou ao reconhecer o rapaz com quem esbarrara na rua. Apesar de bonito, ele foi inconveniente com ela. Daniel, como era seu nome, usava um terno de corte reto, preto e simples. Sua aparência era elegante, contudo muito simples para um nobre.

Daniel sorriu e segurou a mão de Elizabeth, depositando um beijo sobre a luva.

"Eu disse que o destino nos traria juntos novamente." Sussurrou. E mais alto. "É um prazer conhecê-la, milady."

"Daniel veio para Londres terminar os estudos. Em breve, ele se tornará um médico." Seu tio disse. "Como ele é novo na cidade, gostaria de pedir que Edward o apresentasse à cidade, se não for incômodo."

"Não será incômodo algum, conversaremos depois." Alexis retrucou.

Elizabeth e Daniel trocaram olhares antes do rapaz se perder entre os convidados. A menina desviou o olhar, cumprimentando os próximos convidados a chegar.

Seu rosto se iluminou quando, mais tarde, ela viu a carruagem de Ciel. Sebastian estava tão impecável como sempre, e este ajudou seu noivo a descer. O jovem conde Phantomhive parecia incrível, maravilhoso e elegante. A menina saiu de seu posto ao lado do pai e correu para abraçar o noivo.

"Ciel!" Ela gritou.

"Lizzie! Você está me esmagando!"

Elizabeth ainda era bem mais forte que ele, e seus abraços sempre o deixavam sem ar. Sebastian rosnou, incapaz de controlar o sentimento diante da interação do casal. A menina o soltou, mas pegou sua mão e o puxou para dentro. Sebastian os seguiu.

"Sebastian está estranho."

"Não se preocupe, Lizzie. Se ele continuar assim, vou demiti-lo."

"Meu garoto!" Alexis dá um abraço apertado em seu futuro genro. Ele sempre gostou de Ciel, e acreditava que o rapaz seria um bom marido para sua filha. Com dificuldade, Ciel consegue se soltar.

"Marquês… tio Alexis. Não nos vemos há algum tempo…"

"Meu garoto…" Abraçou Ciel e Elizabeth. "Estou tão feliz com o casamento de vocês!"

"Este ainda não é o casamento, pai." Edward e Francis Midford se juntaram ao grupo.

Francis era a mãe de Elizabeth, sempre imponente, com aparência e postura rígidas. Edward, seu filho mais velho, herdara a personalidade da mãe, enquanto Elizabeth se saíra ao pai. Eles eram uma família interessante.

"Tia Francis, Edward." Ciel cumprimentou. Francis deu-lhe um aperto de mão rígido, já Edward o esnobou, como sempre.

"Ainda não o considero meu cunhado." Disse e saiu.

"Deixe de ser ranzinza, Edward!"

Elizabeth pegou outra vez a mão de seu noivo e o arrastou pelo salão. Seu desejo era exibi-lo aos presentes. Sebastian os seguia, silencioso. Era como uma sombra atrás de seu mestre. A menina olhou para trás, para o mordomo. Bufou.

"Eu quero ficar a sós com você, Ciel." Reclamou. Ciel entendeu e ordenou a Sebastian para se afastar. Com uma expressão ruim, o mordomo saiu.

Elizabeth puxou-o para dançar. A orquestra tocava uma melodia suave, e o rapaz envolveu seus braços ao redor dela. Embora ainda não soubesse dançar muito bem, havia melhorado com o passar dos anos. O casal girava pelo salão, valsando junto a outros casais.

Ciel girou a menina. Deu um sorriso discreto a Daniel. O rapaz ao longe a observava. Ainda observando o rapaz, deu um passo em falso. O conde acabou pisando em seus pés. Pararam.

"Sinto muito, Lizzie."

"Tudo bem." Sorriu. "Por que não vamos nos sentar?"

O rapaz assentiu e os dois foram ocupar algumas cadeiras. A menina observou o salão, assim como seus convidados. Havia muitos nobres, amigos de seus pais e suas esposas. Jovens de sua idade conversavam entre si, aproveitando para, talvez, encontrar uma pretendente.

Sebastian se mantinha afastado, como foi ordenado. Estava rodeado por um grupo de mulheres, todas admiradas com sua beleza. Apesar de manter-se educado, sua atenção era toda voltada a Ciel. Vez ou outra encarava seu mestre. Este, por sua vez, quando sentia os olhos do demônio sobre si, o encarava de volta. Então Sebastian sorria e voltava a conversar com as mulheres.

Numa dessas troca de olhares, suas companhias cochichavam sobre um casal que acabava de chegar.

"A esposa do senhor Relish está acamada, e ele desfila por aí com sua nova amante."

"É deselegante da parte dele…"

O mordomo encarou o casal mencionado. O senhor Relish era um homem de uns 60 anos, sem um título de nobreza, fez seu nome e fortuna através do comércio. Ao conseguir tal posição, era visto exibindo mulheres mais jovens.

A acompanhante da vez não teria mais que 20 anos. Seus longos cabelos negros estavam soltos, indo até a altura de sua cintura. Usava um vestido também negro, cheio de pedrarias brilhantes. Um grande decote moldava seu busto, suas costas nuas, exibidas através do tule.

Como se soubesse que falavam dela, voltou-se para as mulheres e sorriu, exibindo seus dentes brancos. Sebastian piscou algumas vezes, uma presença estranha envolvendo seu ser. A mulher ergueu-lhe a taça, num brinde nada discreto e voltou a atenção ao acompanhante.

"Que indecente!" Uma das mulheres com Sebastian comentou.

"Peço sua licença, senhorita." Mais que depressa, o mordomo foi procurar seu mestre. Apesar da ordem, sentiu a necessidade de vê-lo. Procurou no lugar onde ele e Elizabeth estavam há poucos minutos, contudo não os encontrou.

*********************

Elizabeth arrastou Ciel para um corredor isolado. Apesar do rapaz conversar com ela normalmente, percebia a troca de olhares entre ele e Sebastian. O mordomo vez ou outra os fitava e Ciel o correspondia. Talvez não fosse nada, mas sua intuição gritava.

"O que há entre você e Sebastian?" Indagou.

"Não há nada, ele é meu mordomo."

Mas a menina não acreditava. Cruzou os braços.

"O Sebastian sabe tudo sobre você, ele te conhece muito melhor do que eu."

"Lizzie! A obrigação do Sebastian é me conhecer por completo e atender minhas ordens. Ele apenas cumpre sua função."

"Eu percebi a troca de olhares. Vocês estão estranhos um com o outro." Fez uma pausa. "Quando nos casarmos, quero que o demita."

"Não posso faze-lo." Ciel balançou a cabeça. "Escolhi pessoalmente meus empregados, suas habilidades são úteis a mim, como cão de guarda da rainha."

Abraçada a si mesma, Elizabeth deu-lhe as costas, afastando-se um pouco.

"Você esconde coisas de mim, ignora meus conselhos, mantém-se longe. Eu acho que você nem me ama…"

"Lizzie!" Elevou a voz. Aquela conversa o irritava. "Casamento é apenas um contrato, não tem nada a ver com amor. Nossos pais selaram o acordo quando éramos pequenos, eu apenas faço minha parte!"

Um silêncio desconfortável caiu entre os dois. A menina continuava de costas. Seus ombros tremiam, começou a fungar. Ciel então percebeu que foi muito duro com ela. Sabia o quanto a noiva era sensível. Tentou se aproximar.

"Lizzie, eu não queria…"

Mas ela o cortou.

"Sabe, eu sonho com um casamento por amor, mas desde que voltou, você não sente nada por mim…"

"Esqueci há muito tempo o significado de sentir…" Sussurrou, mais para si que Elizabeth. Ela continuou.

"O jeito que vocês interagem… os olhares e tudo mais… Eu sempre achei que você fosse apaixonado pelo Sebastian."

O rapaz riu, nervoso. A conversa tomava um rumo inesperado, e era absurdo o que a garota pensava.

"Essa conversa não nos levará a lugar algum. Vamos voltar para a festa antes que dêem por nossa falta."

Ciel já ia sair. Ele não queria se irritar ainda mais com Elizabeth, não na noite do aniversário dela, e seu noivado.

"Você não me respondeu."

Abriu a boca para falar, mas decidiu se calar. Era melhor o assunto morrer ali. Que Elizabeth pensasse o que quiser.

Atravessou a porta, voltando para a festa. Elizabeth o seguiu, enxugando uma lágrima solitária na luva. Um lenço foi erguido até seu rosto. Ela olhou para cima, era Daniel. O rapaz estava visivelmente preocupado.

"Tudo bem, senhorita? O cavalheiro lhe fez mal?"

Aceitou o lenço, dando um sorriso triste.

"Está tudo bem. Meu noivo e eu tivemos uma discussão boba, nada demais…"

Daniel pegou duas taças do garçom que passava.

"Pois se eu fosse seu noivo, jamais te faria chorar."

Por um instante Elizabeth se esqueceu de Ciel. O rapaz a sua frente era agradável, muito inteligente e sonhador. E, principalmente, não tinha olhos para ninguém mais.

********************!

Elizabeth teve um tempo agradável com Daniel. Ela sorria, despreocupada, enquanto tinham uma dança. De repente Alexis interrompeu a orquestra, com Ciel ao lado. O casal parou de dançar.

"Bem, é uma grande honra ter todos vocês reunidos aqui hoje, comemorando com Francis e comigo o aniversário de nossa filha." Uma pausa, como ganharam uma chuva de aplausos. Alexis continuou. "É também um grande dia, pois ganharei outro filho. Este jovem aqui a meu lado tem algo a dizer."

Murmúrios correram pela multidão. Ciel chamou Elizabeth. Ela teve que abandonar a companhia para se juntar aos pais e Ciel. O rapaz continuou.

"Elizabeth, minha prima e também minha noiva..."

Fez uma pausa, buscando as palavras certas. Sebastian atravessou a multidão. Ficou na frente, ouvindo o discurso de seu mestre. Ele o procurou em todos os lugares, apenas para encontra-lo fazendo o pedido. Seus olhos se encontraram. Elizabeth encarou Ciel, Sebastian e Daniel, voltando a fitar seu noivo. Ciel olhou de Sebastian para Elizabeth. Engoliu em seco.

"Nosso noivado estava acordado desde que éramos pequenos, e, nesta noite tão especial, nada mais justo que pedir sua mão oficialmente, na frente de seus convidados como testemunha." Ajoelhou-se, buscando o anel do bolso do casaco. "Elizabeth Ethel Cordelia Midford, aceita se casar comigo?"

A menina deu um sorriso triste. Aquele momento com que tanto sonhou, não era tão especial quanto imaginou. Ainda assim, abriu a boca para falar.

"Você destruiu minha vida!" Gritos vieram da porta de entrada. Todos se voltaram para a cena.

O velho Relish e a tão comentada amante discutiam com um terceiro homem. O velho se colocou na frente da mulher, protegendo sua acompanhante.

"Ora, Charles. Você não tinha muito a oferecer, eu apenas segui em frente." Ela riu.

O homem chamado Charles, visivelmente bêbado, usava roupas esfarrapadas e pés descalços. Tinha enormes olheiras e um suor fétido.

"Eu dei tudo que tinha a você, cachorra! Se não pode ser minha, não será de mais ninguém!"

Das roupas rasgadas, sacou uma pistola. As pessoas correram para se proteger do homem atormentado.

"Sebastian!" Ciel gritou. "Detenha-o!"

"Sim, mestre."

O mordomo demônio correu, porém a arma foi mais rápida. Um tiro foi disparado. Gritos de mulheres. O velho homem foi atingido. Segurou a ferida no peito, mas suas pernas fraquejaram. Escorregou para o chão, sua vida se esvaindo.

Sebastian segurou o homem, impedindo que atirasse novamente. A mulher desfaleceu, sendo amparada por Edward.

O mordomo jogou o homem no chão, tomando sua arma. Rasgou o paletó e improvisou amarras, prendendo seus pés e mãos. Seria o suficiente para mantê-lo até a Yard chegar.

Como esperado, a festa chegou ao fim. Daniel foi até Elizabeth.

"Você está bem?"

A menina assentiu. Ele a guiou para um lugar afastado, longe da cena bizarra. Ciel checou o corpo, tendo a certeza de encontra-lo sem vida. Olhou ao redor e viu a noiva se afastando com outro rapaz. Enquanto Sebastian e Alexis mantinha o criminoso amarrado, Ciel foi ver a mulher desmaiada. Talvez ela soubesse de algo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "When Darkness Shines Brightest" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.