When Darkness Shines Brightest escrita por darling violetta


Capítulo 7
Fome, parte III




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A carruagem parou a poucos passos de onde uma multidão se formava. Sebastian estendeu a mão para ajudar seu mestre a descer, contudo Ciel recusou. O rapaz estapeou a mão que lhe foi estendida, ainda desconfiado do pequeno ocorrido mais cedo.

Caminhou em direção à multidão. Homens, mulheres e até mesmo crianças se amontoavam. Vozes baixas e sussurros comentando o ocorrido. Sebastian abriu caminho para Ciel, este o seguiu sem palavras.

Um policial impedia a aproximação dos civis. Ele ergueu a mão para barrar a entrada do rapaz, mas este simplesmente passou por ele. O policial piscou algumas vezes, confuso, então seguiu o conde.

"Ei, apenas a polícia pode entrar aí. Ei!"

Mas Ciel o ignorou. Seguiu em direção à casa. Eles não estavam em um bairro rico, contudo não era um lugar ruim de se viver. Estavam de frente a um sobrado de grandes janelas, com paredes num tom marrom. A porta da frente estava aberta, dando uma visão parcial da sala, assim como a movimentação do lado de dentro.

"Ei!" O policial gritou novamente, agora mais alto.

Sebastian se virou e o deteve, impedindo o pobre homem de se aproximar de seu mestre. Um resmungo veio de dentro, seguido pela figura de um homem na porta. Ele era alto, os cabelos compridos amarrados em um rabo de cavalo. Tinha bigode e usava chapéu. A expressão no rosto endureceu ainda mais com a visão de Ciel.

"Conde Phantomhive." Disse Randall. "Eu não o vejo há algum tempo."

"Bem, vim resolver o caso para a Yard. Sua incompetência incomoda a rainha."

O rosto de Randall queimava de raiva. Suas bochechas vermelhas diante de tanto atrevimento. Aquele garoto insuportável…

"Temos tudo sob controle."

"Não é o que a rainha acha." Ciel tirou a carta do bolso e exibiu o selo real ao homem à sua frente. Randall não tinha escolha a não ser deixá-lo agir.

"Faça o que quiser." Disse, saindo da casa. Sua cabeça latejava apenas com aquela conversa. Se já não bastasse o dia estressante, ainda tinha que lidar com o cão da rainha.

Ciel ignorou o homem e entrou na casa, seguido por Sebastian. A sala simples estava desarrumada, mas não se parecia com a cena de um crime. Policiais transitavam, vozes vinham do cômodo próximo.

O rapaz subiu as escadas, indo ao segundo andar. Caminhou por um corredor mal iluminado, cheio de respingos de sangue. As pegadas ensanguentadas desapareciam diante da movimentação policial.

Seguiu o oposto da trilha, indo parar em um quarto de casal. A grande cama estava coberta de sangue, o corpo havia sido removido. Cobriu nariz e boca para entrar no cômodo, o cheiro forte de morte.

Respingos vermelhos cobriam a parede, um martelo caído ao lado da cama. Pelo que apurou, o criminoso matou a esposa, em seguida chamou a polícia.

Sebastian também entrou no quarto. Ele parou logo atrás de Ciel, mais próximo que de costume. Um arrepio percorreu o corpo de Ciel e ele se afastou do demônio, parando então ao lado da cama.

"O que pensa que está fazendo?"

"Nada demais. Há um cheiro estranho aqui." Respirou fundo.

"O quarto está coberto de sangue, seu imbecil. O que você acha?" Elevou a voz.

Sebastian o ignorou, indo para a janela. Abriu completamente as cortinas. Tinha uma boa visão da rua, a multidão parada na rua. Uma mulher de cabelos negros chamou sua atenção. Usava jóias finas, além de um vestido caro para a região. Tinha uma presença estranha também.

Ouviu um resmungo do seu mestre e acordou do transe. Balançou a cabeça e a mulher havia sumido. Olhou então para Ciel. O rapaz segurava o pulso direito, seu olhar na palma de sua mão. Fez uma careta de dor.

"O que houve, mestre?"

"Não está vendo? Eu me cortei."

Sebastian ficou parado, observando o sangue vermelho contrastando com a pele branca de Ciel. O rapaz, vendo a demora de uma resposta de Sebastian, começou a se irritar.

"Não fique aí parado, faça alguma coisa!"

Sebastian puxou a mão de seu mestre num gesto não muito gentil. Olhou do rapaz para o sangue, então novamente para o rapaz. Abaixou o rosto, ainda sem tirar os olhos de Ciel. Sua língua tocou o sangue, lambendo cada gota.

Ciel tremeu. Tentou soltar sua mão, contudo o demônio o segurava com força. Seus olhos piscaram num vermelho intenso, a fome aumentando ao ter provado de seu mestre.

Finalmente o soltou. Lambeu os lábios, aproveitando o sabor doce em sua língua. O rapaz ainda tremia.

"Mais que droga, Sebastian!"

"Parou o sangramento."

Ciel olhou para sua mão, o que era verdade. Mas isso não o impediu de estapear com força o rosto do demônio.

"Não se atreva a tocar em mim, demônio."

Sebastian fez uma reverência, incapaz de falar. O sabor persistia em sua boca. Não se lembrava de estar tão faminto. Algo dentro dele insistia para tocar seu mestre.

Ciel se virou e saiu do quarto. Não queria ficar sozinho com o demônio, não depois do que aconteceu.

Desceu as escadas. Ainda ouvia vozes na casa. Deu alguns passos e se deparou com a cozinha. Abberline e outro policial escoltavam um terceiro homem.

As mãos cobriam seu rosto, mas ele parecia ter seus 40 anos. Seus cabelos rareavam no alto da cabeça, os cabelos grisalhos aparecendo aqui e ali. Suas mãos tinham manchas vermelhas, assim como suas roupas. Sua voz firme e calma enquanto falava.

"Eu amava minha esposa. Ela esteve ao meu lado nos últimos 10 anos. Enfrentou todas as dificuldades comigo." Uma pausa. "Mas eu não estava apaixonado por ela…"

"Senhor Weston, o senhor já contou essa história. Eu quero entender porque…"

"Gostaria de ouvi-lo." Ciel interrompeu. Todos se voltaram ao conde.

"Conde Phantomhive." Ao contrário de Randall, Abberline gostava do rapaz, apesar de suas atitudes. Ele assentiu, como Ciel se aproximou mais. O homem continuou.

"Eu amei minha esposa por 10 anos, mas não estava apaixonado por ela…"

Era uma noite de quinta-feira. Weston voltava depois de um dia de trabalho. Ele tinha um pequeno negócio local, apenas o suficiente para sobreviver. Estava cansado, o dia foi difícil. Sem perceber, entrou em uma rua diferente. Quando se deu conta, estava na frente de uma enorme casa, contudo não era a sua.

Luzes coloridas piscavam, e uma música tocava do lado de dentro. Duas mulheres abraçadas passaram por ele, rindo, e entraram na tal casa. Decidiu segui-las, por curiosidade.

Já do lado de dentro, descobriu se tratar de um antro. Mulheres seminuas, o cheiro de sexo e bebida no ar. Algumas dançavam, outras serviam aos clientes.

Weston se virou para ir embora, contudo uma beldade veio até ele. Era uma mulher bem jovem, de longos cabelos negros. Pele branca e sorriso divino. Uma deusa vestida em trajes negros. Muitos a chamaram, contudo ela foi direto a ele.

Há anos uma mulher tão bela se interessava por ele. Weston pensou que uma bebida não faria mal. Uma bebida levou a outra e, já embriagado, a mulher o convenceu a subir para o quarto...

"Nós fizemos amor algumas vezes, nos encontramos por vários dias. Então ela pediu, como prova de amor, que tirasse a vida da minha esposa."

Sebastian chegou a ponto de ouvir a história. Ele e Ciel se entreolharam. A história era vaga demais, pareceu faltar detalhes.

"Qual o nome desta mulher?"

"Lenora."

"Há mais detalhes que possa dar?"

"Eu a amava… mas Lenora era perfeita..."

Abberline o cortou. Puxou Ciel para fora.

"Isso é tudo que o senhor Weston nos diz. Estamos tentando interrogá-lo há horas…"

"Não acho que conseguiremos mais informações aqui. Vamos, Sebastian."

O conde saiu, com Sebastian o seguindo. Estavam próximos da carruagem e sozinhos, apenas eles.

"Eu, ansioso pelo sol, buscava/ Sacar daqueles livros que estudava/ Repouso (em vão!) à dor esmagadora/  Destas saudades imortais/ Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora,/ E que ninguém chamará mais…" Sebastian recitou. Ciel o encarou.

"Não é hora para poemas"

"Desculpe, mestre. Lembrei-me do poema do senhor Poe quando ouvi aquele nome: Lenora."

"Você é estranho…"

Ciel disse e entrou na carruagem. Sebastian ocupou seu posto e saíram. Ouviu a voz de seu mestre dizer:

"Vamos para a Yard…"

Sebastian disse um "sim, mestre'' e seguiram viagem. Ainda tinham algumas horas até o baile de Elizabeth.

********************

Invadir a sede da Scotland Yard era algo impensável a muitos, porém Ciel o fazia sempre que necessário. Como Randall não dividia muitas de suas informações com ele, sua saída era aquela. E também, gostava de irritá-lo.

Eles estavam em uma grande sala, cheia de prateleiras e arquivos. Sebastian iluminava o caminho como Ciel procurava por informações. Mexeu em alguns arquivos, pegando uma pasta grossa. Abriu-a.

Dentro havia fotos da cena do crime, muito parecida com a que acabou de estar. Leu as informações do caso. Homem em seus 40 anos, muito bem casado, trabalhador. Envolveu-se com outra mulher, acabou tirando a vida da esposa.

Ciel olhou mais algumas informações e guardou a pasta. Procurou um pouco mais e pegou outra. A história se repetia: uma cena de crime, marido até então fiel, mas conheceu outra mulher e cometeu um crime.

Encontrou outro caso parecido, desta vez, um rapaz que tirou a vida da mãe e das irmãs mais jovens. O que tinham em comum? Todos eles teriam conhecido a "mulher perfeita".

Ciel guardou a pasta e esfregou a têmpora. Ver tanto sangue o deixava desgostoso, porém era seu trabalho.

"Vamos embora, Sebastian. Já vi o que precisava."

Sebastian assentiu e apagou a vela. Pegou Ciel em seus braços, descendo com o jovem conde. Pulou da grande altura como se fosse nada. Para ele, não era nada.

Ciel tentou se soltar, contudo Sebastian apertou a coxa de Ciel.

"Seu cheiro é tão bom. Eu nunca percebi antes."

"Deixe de agir estranho e me coloque no chão!" Exigiu.

O mordomo inspirou profundamente, o cheiro maravilhoso de seu mestre entrando em suas narinas. Eles estavam em um beco atrás da Yard e, embora não fosse movimentado, Ciel não queria ser visto naquela situação.

"Mas que droga, Sebastian! É uma ordem, me coloque no chão!"

A contragosto, teve que obedecer. Era uma ordem direta de seu mestre, então o pôs no chão. Ciel ajeitou as roupas, olhando estranho para o mordomo, que não tirava os olhos dele.

"O que há hoje com você?"

"Nem eu sei ao certo, mestre. Eu apenas quero… não importa. Vou tentar me controlar."

Sebastian preferiu não dizer em voz alta suas reais vontades. Tudo que queria era jogar o rapaz contra a parede e fode-lo sem sentido. Também queria beber de seu sangue e provar o gosto de sua alma. Ele estava enlouquecendo apenas com o cheiro do garoto.

Respirou o ar mais uma vez. Ciel já se afastava, ansioso para se manter longe do demônio. Tentou ignorar as batidas aceleradas do coração. Seu mordomo estava estranho, e ele não tinha certeza se odiava em tudo.

Balançou a cabeça. O céu já escurecia, e ele ainda precisava ir no baile de Elizabeth. Não gostava da idéia de pedi-la em casamento, mas este era o acordo. A missão da rainha ficaria para o outro dia. Agora, precisava se arrumar.


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