I - Herdeira da Noite: Êxodo escrita por Elizabeth Charpentier


Capítulo 4
Capítulo Três




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— Você tem certeza de que quer isso? — Sam perguntou pela milésima vez do outro lado da linha.

— Sim, eu tenho certeza. Sei o quão estranho isso deve soar, mas eu preciso disso.

— Consegue nos encontrar na Avenida 475, quilômetro 115? É um ferro velho.

— Fica do outro lado da rodovia, não? É uma boa caminhada, mas dou um jeito.

Desligou o telefone e encarou as árvores na parte de trás da casa. Isso realmente está acontecendo, pensou animada. Haviam se passado seis dias em que havia se encontrado com os irmãos Winchester — estava explicado porque ela nunca conseguiu qualquer informação sobre os dois — e a única coisa que ela conseguia pensar era quando eles entrariam em contato com ela. Depois de passarem mais de trinta minutos conversando em sua casa, ela conseguiu convencê-los de apenas pensarem sobre o assunto. Os irmãos apenas falaram que conversariam com Bobby e depois retornariam.

Olhou no relógio preso na parede da cozinha e viu que ainda era apenas dez horas da manhã. Ainda tinha oito horas livres antes de precisar trabalhar na lanchonete. Correu para o banheiro e tomou um banho rápido, lavando os cabelos da forma mais rápida que já tinha feito na vida. Vestiu uma roupa confortável, já que a caminhada até a rodovia seria longa, e colocou na mochila tudo o que precisaria para a noite. Às 10h40 já havia saído de casa e andava em direção ao norte e cerca de vinte minutos depois já havia atravessado a rodovia, passando por um pequeno bairro antes de começar a passar pelas vastas plantações.

O sol estava quase a pino e poucas nuvens cobriam o sol, fazendo com o clima ficasse quente. Para não suar mais do que o necessário, lutou contra sua ansiedade e andou calmamente pelo acostamento, aproveitando a brisa fresca que aparecia de vez em quando. Seu cabelo esvoaçava e ia em direção ao seu rosto, trazendo algumas folhas para o asfalto também.

Andou por mais quinze minutos e pode ver alguns carros empilhados mais a frente entre as árvores. Suspirou, já há muito tempo cansada por andar tanto. Pegou um atalho em direção ao terreno aberto, vendo que não haviam cercas protegendo o local. Chegando mais perto conseguiu ver as inúmeras pilhas de carros e uma pequena casa de madeira escondida entre elas.

Deu mais alguns passos quando começou a ouvir algumas vozes ao longe. Curiosa, aproximou-se e se escondeu atrás de uma pilha de carros, vendo Dean conversando com um homem que estava de costas para ela.

— Vocês precisam manter a garota por perto, Dean. Quanto mais demorarmos, será mais fácil para ela fugir ou ser pega, e sabe que isso não será uma boa coisa.

Dean assentiu para ele, balançando a cabeça e passando a mão em seus cabelos. Ele sussurrou algo e deus as costas, indo em direção a casa. Depois de alguns segundos parado, o homem desapareceu. Nyssa piscou algumas vezes e olhou ao redor, mas não havia sinal algum dele.

Assim que se virou, deu de cara com o homem desconhecido. Sentiu o coração perder uma batida e abriu a boca, mas nada saiu. Ele a olhou com o rosto confuso, deitando um pouco a cabeça para o lado, curioso.

— Desculpe, eu... — tentou formular uma desculpa por ter sido pega espionando, mas nada vinha a sua cabeça.

— Quem é você? — perguntou, voltando a posição ereta.

— Sou Nyssa.

Ele ficou encarando a garota durante alguns segundos com seus olhos verdes curiosos e quando foi falar algo, uma voz o interrompeu.

— Castiel! — alguém gritou atrás da pilha de carros. Então é esse o seu nome... Bonito, pensou.

Se virou em direção a voz, mas antes Castiel a empurrou ainda mais para trás da pilha de carros e foi em direção a voz. Nyssa o olhou revoltada pelo modo bruto como praticamente a jogou para trás de qualquer jeito, mas antes de reclamar algo, começou a prestar atenção na conversa.

— Quem é essa maldita mulher Castiel? — vociferou a voz estranha. — O que tem de errado com ela?

— Isso não é do seu interesse.

— Você pode estar mandando os garotos para algo perigoso, então sim, é o do meu interesse. — gritou novamente.

— Apenas façam o que eu pedi e irei explicar depois que a trouxerem.

Ambos ficaram em silêncio e Nyssa ouviu o outro homem resmungar e chutar uma pedra para longe, que por azar veio bem em direção à sua perna, a atingindo fortemente. Massageou o local, tentando não gemer de dor. Virou para frente e percebeu que ambos continuavam conversando e decidiu voltar o caminho e entrar pela porta da frente como se nada tivesse acontecido.

Passou pelo arco do ferro velho e andou em direção à casa de madeira. Subiu alguns degraus e parou na varanda, reparando que algumas madeiras estavam se soltando e que as janelas não viam uma limpeza há um bom tempo. Bateu levemente na porta e conseguiu ouvir passos fortes em sua direção. Ela foi aberta em um estalo e Sam apareceu.

— Hey, você chegou. Vem, entra.

Nyssa entrou no pequeno corredor, estupefata pela quantidade de livros que estavam espalhados pela casa, empilhados em vários montes pelos corredores, em cima de mesas nos cantos, alguns até mesmo maiores do que ela. Conseguiu ver que a maioria estava com a capa velha e desgastada, com algumas inscritas em línguas que não reconhecia, outras em latim ou em inglês.

Sam a guiou até uma espécie de escritório — também abarrotado de livros — e encontrou Dean lá. Sentou em uma poltrona próxima indicada por Sam e esperou ansiosamente que algum dos dois falassem alguma coisa.

— Desculpe pela demora em voltar e conversar com você, mas tivemos um caso em uma cidade próxima e voltamos apenas agora. — Sam explicou depois de alguns instantes.

— Sem problemas. Então... Vocês já têm uma resposta sobre a minha proposta? — perguntou não aguentando a ansiedade e nervosismo.

— Eu ainda não sei como você quer isso. Tem certeza? — Nyssa assentiu sobre sua pergunta. — Conversamos com Bobby e decidimos que você pode ficar conosco, ajudando nas pesquisas. Podemos treinar você, te ensinar a lutar e a usar armas. O que acha?

— Acho maravilhoso. — sorriu. — Quando começamos?

Um barulho de porta batendo chamou a atenção dos três e os passos pesados soaram, andando em direção onde estavam. O mesmo homem que havia visto antes passou pelo batente da porta, parando quando percebeu a garota ruiva sentada ali.

— Esta é Nyssa, a garota que falamos para você. Nyssa, este é o Bobby. — Sam os apresentou.

Nyssa se levantou rapidamente e foi em sua direção, estendendo a mão.

— É um prazer conhecê-lo, Bobby.

— Finalmente alguém educado para conviver aqui. — disse olhando zombeteiro para os meninos, mas logo se voltou sorrindo para a garota. Ele realmente não parecia aquele homem zangado que ela havia visto anteriormente. — Os garotos me disseram que você deseja trabalhar com a gente, não é? — perguntou.

— Sim, senhor.

— Por favor, sei que já sou um homem velho, mas não precisa me chamar de senhor. — pediu dando as costas e sentando atrás de uma das mesas.

— Tão velho que deve ter visto quando o homem foi à lua. — zombou Dean, levando um livro em seu rosto que fora jogado por Bobby.

Nyssa apenas ria da briga dos dois juntamente com Sam, que estava sentado no pequeno sofá embaixo da janela. Passou a mão em seus cabelos, tentando ajeitá-los. Se sentiu um pouco como uma intrusa entre os três. Colocou as mãos nos bolsos de sua calça e continuou olhando para eles.

— Você realmente tem certeza de que quer nos ajudar, garota? Sem ofensa, mas apenas um doido poderia querer trabalhar com algo do tipo.

Nyssa revirou os olhos. Já estava perdendo a conta de quantas vezes já haviam perguntado isso a ela.

— Sim, eu tenho, não apenas por agradecimento, mas eu quero fazer parte disto por inteiro. Caçar, é isso que eu quero fazer. — explicou.

— Espero que saiba que é uma viagem sem volta, se começar a entrar no mundo sobrenatural, nunca mais conseguirá sair dele, não poderá se relacionar com as pessoas por muito tempo, não terá uma casa fixa...

— Isso não será problema. — interrompeu Bobby. — Eu atualmente não tenho uma casa fixa, não tenho pessoas tão próximas a mim que possam correr perigo, família ou amigos... Sou perfeita para isso. — deu um sorriso amarelo para ele, balançando seus ombros.

— Se você tem tanta certeza disso... Temos um novo caso ótimo para você começar. — anunciou Bobby depois de alguns segundos de silêncio. — Há vários casos de assassinatos em que as pessoas têm todo seu sangue drenado de seus corpos por cortes pequenos em seus pulsos. — Dean abriu a boca para falar algo, mas Bobby rapidamente tratou de continuar a contar sobre o caso. — Uma das coisas mais estranhas é que, quando os corpos foram encontrados, já haviam se passado dias, mas testemunhas oculares dizem que viram as vítimas no dia anterior sem qualquer indício "morte". Também perceberam que parte de suas peles foram arrancadas, ou melhor dizendo, foram comidas depois da morte.

— Espera, comidas? — perguntou Dean fazendo uma careta. — Argh! Odeio esse tipo de coisa.

— O caso fica em Naperville, em Illinois. Será um belo começo para a garota aqui. — disse sorrindo para ela.

— Três estados... Será uma longa viagem. — Dean bufou, indo em direção ao que Nyssa imaginava ser a cozinha.

— Assim que chegarmos a Naperville, ligaremos para vocês. — disse Sam enquanto subia as escadas para o primeiro andar.

— Já vamos começar a pesquisar? — Nyssa perguntou ao Bobby.

— Sim, qualquer informação a mais será útil.

(...)

Sam e Dean haviam chegado à cidade depois de um dia de viagem. Bobby e Nyssa procuravam em todos os livros sobre a criatura, mas ainda havia poucas pistas para poderem pesquisar sobre algo mais específico. Apesar de Nyssa ter passado os últimos três anos pesquisando e aprendendo sobre as mais diversas criaturas, depois de uma pequena vistoria pelos livros de Bobby ela percebeu que não havia visto nem um quarto do que poderia existir pelo mundo.

Aquilo estava deixando-a ainda mais curiosa e intrigada, mas o que mais a surpreendeu foi quando Bobby contou sobre o seu amigo Castiel e o que ele era. Pensar que ela havia interagido com um anjo de verdade, visto com seus próprios olhos, a deixava extasiada.

O barulho do telefone a despertou. Bobby foi em um dos telefones fixos que os garotos utilizavam em suas caçadas e confirmou o envolvimento do FBI no caso e logo desligou o telefone, voltando para a pilha de livros que estava em cima de sua mesa. Tomou mais um gole de café misturado com whisky e se apoiou no encosto da cadeira.

— O que acha de treinar um pouco com as armas?

Sorriu, já se levantando do sofá e se espreguiçando. Já fazia horas que estava na mesma posição. Havia apenas acordado bem cedo, tomado um banho e corrido para lá, mas desta vez com um carro emprestado por Bobby. Deu graças por não precisar mais andar todos aqueles quilômetros a pé.

— Acho ótimo. — respondeu animada. — Estou precisando de um pouco de animação por aqui.

Passaram o resto da tarde atirando em latinhas e garrafas de cerveja no meio das pilhas de carros. Bobby se surpreendeu com a mira da ruiva, muito melhor do que imaginava para alguém que nunca havia tocado em uma arma antes. Nyssa estava orgulhosa de si mesma; estava se saindo muito bem enquanto disparava a arma várias vezes, acertando quase todos os alvos.

Travou a arma e se virou para Bobby, jogando-a em sua direção. Decidiram voltar para dentro da casa e retomar as pesquisas antes que desse o horário dela ir trabalhar. Além do mais, quanto antes descobrissem sobre qual criatura se tratava, menos pessoas morreriam.

Pegou uma lata de refrigerante na geladeira e o livro que estava lendo antes, se sentando sobre as suas pernas no sofá. Depois de algumas páginas, encontrou algo interessante.

— Bobby. — o chamou. — Tem uma criatura de origem árabe chamada Ghouls, que se alimentam da carne de pessoas mortas e podem se transformar na aparência de sua última refeição, mas eles também tem o costume de beber o sangue de suas vítimas.

— Então se eles podem se transformar na sua última refeição está explicado por que dos vizinhos verem as vítimas mesmo depois de elas estarem mortas. — murmurou. — Quer dizer que pode ser qualquer um, provavelmente mais alguém está morto. — suspirou. — Aí diz a frequência de sua alimentação? — Nyssa negou, olhando novamente para a imagem sinistra do Ghoul.

— Mas aqui diz que eles são mortos com um tiro na cabeça ou múltiplos golpes nela. — informei a ele.

— Vou ligar para os garotos.

Enquanto ele falava no telefone, Nyssa encarou os símbolos que estavam no teto, reconhecendo alguns. Uns eram para manter demônios longe, algumas armadilhas para mantê-los presos, outros afastavam fantasmas e espectros, contra bruxas e mais alguns outros que não conhecia. Uma sensação estranha de comodidade se apoderou dela, fazendo com que um pequeno sorriso escapasse de seus lábios.

 


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