Capítulo 7: Conspirações

Os passageiros do carro ficaram estupefactos olhando aquela esquisita mulher, que no final não era mais que uma simples conhecida.

- Calipso? – Perguntou Alicia pendurada no assento de Lara, como se fosse um cachopo de 3 anos.

Calipso deu a volta tentando não dar nas vistas mas isso era impossível, já que um aglomerado de pessoas juntava-se à volta do carro.

- Preciso de uma boleia! – Exclamou pelo vidro do passageiro sempre com a sua voz melosa e arrastada. Abriu a porta de trás e mandou Barbossa se encolher.

- Nós vamos levar com uma multa! – Exclamou Alicia.

- Neste momento não é isso que me preocupa. – Lara estava apavorada com a multidão que se ajuntava sempre que algo estranho acontecia. E uma louca colocar-se na frente de um carro era sempre motivo para coscuvilhice.

- Precisa de ajuda? – Perguntou um homem que se aproximou. Olhou para o banco de trás e ficou branco como a neve.

- Obrigado mas não é preciso. Já estamos atrasados para o baile de máscaras! – Lara arrancou depressa e tomou o rumo original, sentindo o carro cada vez mais cheio.

- Pode explicar o que está aqui a fazer? – Perguntou Lara, olhando Calipso pelo retrovisor. – E já agora porque é que nos andou a seguir?

- Primeiro é melhor pararmos em qualquer lugar e depois eu conto tudo. – Calipso falou num tom autoritário.

- O que é que te aconteceu? – Jack olhava para Calipso completamente atónito.

- Digamos que tive que me disfarçar. – Calipso falou secamente.

- Por amor de todos os deuses e deusas será que podemos deixar de falar e parar? – A pergunta veio de um Barbossa completamente esborrachado entre Calipso e Jack. Além do mais, a confusão entre chapéus era muita: o tricórnio de Jack, o chapéu espampanante de Barbossa e o chapéu enorme de Calipso não deixavam Lara ter visão para a retaguarda.

O motel ficava quase no final da localidade e Lara decidiu parar no parque de estacionamento. Estranhou este estar tão vazio.

- Ok, chegamos. Podem sair! – Lara desligou o motor e saiu calmamente, assim como Elizabeth. Alicia abriu a porta e desequilibrou-se, Calipso saiu calmamente sendo depois empurrada por um desesperado Barbossa e um alegre Jack Sparrow.

Lara olhou mas não viu viva alma. "Estranho", pensou. Aquele parque pertencente ao motel estava sempre cheio no Verão. Agora, além do seu carro, só se encontrava estacionado uma carrinha bastante antiga que devia pertencer ao gerente do motel.

- Eu sei o que estás a pensar. – Calipso chegou-se a Lara. – Digamos que dei um jeito de afastar os clientes por um bom tempo!

Lara abriu a boca. Quer dizer que Calipso já sabia dos seus planos? Não foi preciso esperar muito para se saber o porquê de Calipso lá estar.

- Bem, a história é longa e passa-se antes da chegada da Lara e da Alicia ao passado. – Calipso encostou-se ao carro. – Lembram-se de eu dizer que a Fonte da Juventude tinha sido roubada?

- Sim. – Exclamaram em uníssono.

- Pois bem. A Fonte foi roubada há já algum tempo…

- Então foi por isso que nós não a encontramos? – Jack interrompeu a deusa.

- Não. Tu e o Hector não a encontraram porque eu vos impedi. – Calipso começou a limpar as suas unhas.

- O QUÊ? – Perguntaram os dois capitães ao mesmo tempo. – Mas porque fizeste isso?

- Porque a Fonte não é para ser utilizada à balda e muito menos por humanos. – Calipso olhou para os presentes e suspirou. – A Fonte foi feita por deuses. Diz a lenda que quem beber ficará jovem e imortal para sempre.

- Não acredito que perdi essa oportunidade. – Jack lamentou-se.

- No entanto, ela tem efeitos contrários. Só aquele que é merecedor de a tomar é que terá esses privilégios. Aqueles que por ganância e vaidade a procurarem e a provarem, serão transformados em pedra como castigo eterno. – Calipso possuía um ar aborrecido. Afinal passou toda a sua vida contando histórias. – Mas para aqueles que forem feridos mortalmente, a Fonte pode-lhes salvar a vida.

- A história é óptima, mas ficamos sem saber o porquê de esta ter sido roubada. – Afirmou Lara.

- Exacto. Quem a bebeu deveria ter deixado a Fonte vazia não é? – Perguntou Jack inocentemente.

- A Fonte está presente num cálice que se renova sempre. Como o cálice não está no sítio onde deve estar é porque foi roubado. – Concluiu Calipso.

- Mas vocês são deuses. Automaticamente porque é que não perseguem o ladrão? – Perguntou Will.

- É essa a questão que está a dar dor de cabeça a todo o Olimpo! – Calipso abriu os braços. – Os deuses acreditam que a Fonte já não se encontra mais no século XVIII.

Os seis ficaram a olhar para Calipso com cara de parvos e sem perceber a última frase, o que desesperou a deusa.

- Seus imbecis! Se a Fonte já não está mais no tempo correcto é porque viajou no tempo. – Calipso falou num tom mais alto e os piratas e as raparigas abriram a boca num grande "Ah".

- Mas isso é fácil! Percorram todos os séculos e tentem achá-la. – Alicia cruzou os braços como se tivesse encontrado a solução.

- Isso era bom. Vocês vivem no século XXI, mas o tempo dos deuses é o século XVIII. E estamos proibidos de viajar para o futuro. Como já passamos o passado a pente fino, tudo indica que quem a levou viajou para o futuro. – Calipso olhou de soslaio na esperança que a tivessem compreendido finalmente.

- Espere aí! – Exclamou Lara. – Não me diga que os deuses pensam que ela veio parar ao século XXI, mais concretamente ao ano 2009?

Calipso olhou para o céu com um ar radiante por alguém a ter compreendido.

- É o mais provável e agora eu tenho quase a certeza absoluta. – Calipso envergava o seu sorriso típico.

- Pelas minhas contas… - Jack começou a divagar. - … o futuro até aqui ainda tem o século XIX e XX. Não podia ter ido parar aí?

- Não. E eu digo-vos porquê. – Calipso começou a andar. – Quem a roubou teve de ter ajuda divina. Acredito que seja alguém desesperado e que teve o apoio de um deus menor muito mal intencionado, para roubar a Fonte. A seguir viajou no tempo e isso só seria possível se tivesse consigo…

- A Bússola do Tempo! – Exclamou Lara.

- Exacto! – Calipso sorriu. – Ora se as jovens têm consigo a bússola é porque quem a deu está neste século e provavelmente roubou a Fonte.

Lara e Alicia olharam-se. Aquele homem idoso era estranho, mas daí a roubar a Fonte era demais.

- Não acredito que tenha sido o velhinho. – Disse Lara. – Ele é meio esquisito mas é bastante idoso. Se tivesse roubado a Fonte não estaria jovem?

- Certamente. Mas podia ter conseguido a bússola de quem a roubou.

- Ele disse que a bússola pertencia ao avô. – Disse Alicia.

Calipso ficou pensando. Aquilo que parecia fácil estava a tornar-se difícil. Mas a voz de Barbossa cortou-lhe os pensamentos.

- Se mal lhe pergunte, grande deusa. - Barbossa estava com uma pulga atrás da orelha, o que não seria novidade. – Mas se os deuses estão proibidos de viajar para o futuro o que está aqui a fazer?

A pergunta de Barbossa deixou Calipso sem palavras. Mas o olhar suspeito de todos fê-la falar.

- Bem, eu decidi investigar por conta própria… - Calipso falava às pausas. - … e também ajudar-vos em qualquer eventualidade!

- E foi por isso que apareceste lá aos berros e com ar de quem andava a ser seguida, pedindo insistentemente para viajarmos para cá? – Perguntou Will.

- Digamos que um grande castigo me espera, mas achei que eram os indicados para ajudar a resolver isto. – Calipso olhou para os presentes. – E também pelo facto de se terem enganado nas bússolas. Como é que elas iriam voltar?

Os presentes ficaram sem saber o que responder. Mas Lara estava distante. Não acreditava que aquele homem fosse capaz de roubar algo assim tão grandioso. O mais certo era ter comprado aquela bússola e inventado aquela história de família. Calipso chamou-a e Lara olhou distraída.

- Temos de os disfarçar enquanto não achamos o ladrão e enquanto a sua empregada bonacheirona não descobrir! – Calipso olhava para si. – Mas é claro que será por pouco tempo. Afinal existem coisas que não se pode esconder!

Lara sentiu o seu coração cair ao chão. A deixa de Calipso não estava relacionada directamente com os piratas mas sim consigo própria.

- O vosso plano é bom. Apresentar a Elizabeth e escondê-los por um tempo… - Calipso foi interrompida por Will.

- Eu não quero ficar escondido como um rato! – Disse amuado. Alicia abraçou-o e pôs o plano em prática.

- Se quiseres amanhã tornas-te meu namorado oficial. Não és nada difícil de mudar. Basta vestires umas roupas normais!

As quatro mulheres e Will olharam para Jack e Barbossa. Estes olharam a medo e arregalaram os olhos.

- Mas é que nem pensem! – Exclamou Jack.

- Quem me tocar leva um tiro! – Ameaçou Barbossa.

- Vocês não podem sair assim, senão têm um bando de fãs malucas atrás de vocês! – Exclamou Alicia.

- Se forem mulheres não há problema! – Jack exclamou com sorriso sedutor, mas perdeu-o ao levar um estalo de Lara.

- Mulherengo cafageste! – Lara bufou.

- Raios, love. Tens de moderar essa disposição. – Jack agarrou-a pela cintura. – Sabes que só tenho olhos para ti. – Sussurrou ao ouvido.

Lara afastou-se e não olhou para Jack. Sentia-se confusa e sabia que vinha a caminho mais uma crise de choro.

- Vão para casa, arranjem novas roupas e passem depois por cá. – Calipso encaminhou-se para a entrada do motel. – Eu cuido de tudo aqui. Não se preocupem. Eles ficam bem entregues!

Calipso pediu para que os três homens esperassem cá fora. Iria ser ela própria a fazer a reserva. Não queria que o gerente tivesse um ataque. Entrou dentro da pequena sala. Ao balcão um homem de meia-idade lia um jornal com a cara mais enfadonha do mundo.

- Boa Tarde. Queria alugar quatro quartos se for possível. – Calipso tentou falar docemente, mas o homem nem olhou para a sua cara.

- Só temos três disponíveis. Os outros estão em desinfestação por causa da praga de ratos. Espero que não se importe. – O homem continuou lendo o jornal.

- Oh não há problema. Três está bom. – Calipso sorriu ao verificar que a sua pequena praga tinha dado resultado.

Saiu passado uns minutos com três chaves na mão.

- Um quarto para mim. – Calipso guardou uma das chaves. – Um quarto para ti. – Deu outra a Will. – E uma para vocês! – A última chave foi parar às mãos de Barbossa.

- E para mim? – Jack fez uns gestos com os dedos esperando algo.

- Só havia três quartos. Por isso tu e o Barbossa ficam juntos! – Calipso virou costas e foi ter com as raparigas.

- Eu não vou ficar contigo! – Jack fez uma careta ao olhar para Barbossa.

- Também não tenho nenhum prazer ao vislumbrar esta hipótese, Jack. – Resmungou Barbossa.

- Bem, vou falar com a Alicia. – Will saiu em direcção à jovem, temendo que ainda sobrasse para si a guerra de quartos protagonizada por Jack e Barbossa.

- Alicia. – Will chamou a atenção desta. – Quanto às armas…

- Nós depois trazemos. Agora vamos ao shopping comprar algo para vocês. – Alicia colocou as mãos no pescoço deste.

- Vão ao quê? – Will não percebeu e Alicia sorriu. Era lógico que este pensava que elas arranjariam roupa no alfaiate.

- Isso agora não interessa. – A jovem acariciou o rosto de Will. – O que interessa é que estás aqui ao pé de mim e nada nos vai separar.

- Mesmo que venhas comigo, a minha condição é temporária. Quando lá chegar volto ao que era. – Will baixou os olhos. – Um capitão sem rumo.

- E eu já disse que não me importo. Além do mais há sempre um jeito para tudo. – Alicia sorriu carinhosamente e beijou Will que retribuiu.

- Tu e o teu pensamento positivo! – Exclamou este.

- Mas fica o aviso. Enquanto estiveres aí, nada de ver TV. – Alicia colocou o dedo à frente como se estivesse dando uma ordem.

- Isso não vai ser necessário. Nem sei como se põe aquilo a trabalhar. – Will sorriu mas Alicia continuava com cara séria.

- Mas na eventualidade de conseguires, não mudes para certos canais. Não são de confiar nos motéis! – Alicia terminou e sorriu de novo deixando Will ainda mais baralhado.

Lara olhava para Alicia e Will. Tudo era tão fácil para eles, mesmo este sendo um capitão amaldiçoado. Para ela, as coisas corriam de mal a pior. Só tratava Jack abaixo de cão mesmo que não quisesse. Mas tudo a irritava. Queria ter as certezas como Alicia. Certeza que Jack a amava como ela o amava. Certeza que tudo ficaria bem e que Jack não sairia disparado assim que descobrisse que…

- Carregas uma criança. – A frase de Calipso completou o pensamento de Lara deixando esta assustada. Raios, aquela mulher acertava em tudo.

- Como é que tem tanta certeza? – Lara desafiou.

- Porque ainda nem sonhavas estar grávida e eu já sabia disso. – Calipso sorriu de maneira afectuosa e colocou a mão na barriga de Lara. – Soube mal olhei para ti. E essa criança vai ser muito especial. Quando o Jack souber…

- Mas não vai saber! – Lara exclamou bastante determinada.

- Isso não está certo. – Disse Calipso.

- Pode não estar, mas enquanto eu tiver dúvidas, ninguém irá saber. Muito menos o Jack. – Lara virou costas.

- Mas vai acabar por se descobrir. A Alicia já sabe e eu também. Mais tarde ou mais cedo… - Calipso voltou a ser interrompida por Lara.

- A vida é minha e eu é que decido. – Lara caminhou até ao carro. – Alicia, Elizabeth vocês vêm ou vão ficar aí especadas?

- Não te despedes do Jack? – Perguntou Elizabeth.

- Não. – Lara entrou no carro e ligou o motor.

No caminho…

As raparigas tinham tomado a estrada em direcção ao shopping. Era pequeno e não tinha nada de especial, mas para o que tinham em mente servia. Alicia tinha ligado o rádio e cantava alegremente sendo acompanhada por Elizabeth que tentava apanhar a letra. Já Lara conduzia com a maior cara de enterro do mundo.

- Anima-te! – Alicia exclamou. – Agora o Jack não foge mais!

- Sei lá! – Elizabeth exclamou. – Se lhe passar um rabo de saia à frente… - calou-se subitamente quando viu o olhar de morte estampado no retrovisor.

- Isso não vai fazer bem para… - Alicia não completou a frase porque Lara lhe deu uma cotovelada. – Não faz mal porque a Lizzie já sabe.

- ALICIA! – Lara gritou. – Eu disse que não era para dizer nada a ninguém!

- Eu sou mulher, Lara. Pensas que não notei quando enjoaste hoje? – Elizabeth perguntou.

Lara nada disse. Virou em direcção ao parque subterrâneo e entraram finalmente no shopping.

Continua…