Capítulo 14: Desejo de Vingança

A luz da lua iluminava as águas do imenso mar que desaguavam calmamente na Gruta dos Malditos. Um pequeno barco a remos repousava nas areias molhadas e um trilho de pegadas indicava o caminho até à galeria interior. Uma luz alaranjada iluminava o local. Com ar sereno, uma bela mulher de cabelos loiros e pele branca passava a mão pelas chamas provenientes da fogueira. Parecia absorta nas cores que faziam os seus olhos brilharem intensamente.

- O jantar foi assim tão aborrecido? – Perguntou a mulher não tirando os olhos do fogo. Embora passasse a mão pelo meio das chamas e demorasse imenso tempo, esta saía sempre ilesa, na sua pele cor de neve.

- Digamos que as conversas de agora não têm nexo nem bom senso. – a voz proveio do homem que tinha chegado nesse momento e se sentara numa das rochas.

- Não é preciso ser deusa para se perceber que uma empregada saloia não tem propriamente nada de interessante para dizer. – A mulher fixou o homem. – Foi isso que aconteceu, Edward?

- O plano era infiltrar-me na casa e conseguir a confiança da mulher e das jovens. – Edward suspirou. – Mas as raparigas andam desconfiadas. Dei-lhes o caminho para encontrarem o "amor da vida" delas e nem sequer agradecem. – Edward falou em tom irónico.

- Pelo contrário! – A mulher ergueu-se. – Tu é que lhes tens de agradecer. Afinal não fossem elas e não estarias tão perto da tua vingança!

Edward sorriu. – Por falar nisso, hoje jantei com dois deles!

- A sério? – A mulher caminhou até Edward e ajoelhou-se perante ele.

- A rebelde da Elizabeth Swan e o irritante do Barbossa estavam lá. – Edward mandou uma sonora gargalhada. – Ficaram ridículos ao se disfarçarem. Qualquer tolo nota quem eles são!

- A empregada não desconfiou pois não? Então o disfarce pode não ser tão desastrado. – A mulher sorriu.

- As raparigas começam a desconfiar Éris!

- Tolo. Com esse disfarce ninguém te reconhece. – Éris acariciou os ombros deste. – Além do mais o nosso plano é terminar o que começaste!

- Esse é o meu plano. O teu é outro. – Edward fixou Éris. Odiava-a. Apenas a aturava porque sabia que esta era a única que o poderia ajudar e isso devia-se ao facto de Éris querer destrui a sua rival.

- Calipso. – Éris levantou-se e caminhou até à fogueira. Os seus olhos ficaram escuros e o rosto contraiu-se de raiva. – Ela vai pagar. Pagar por me ter aprisionado no submundo. Pagar por ter roubado o meu amor. – Éris falou baixo na última frase.

- A mim chega-me acabar com aqueles piratas e principalmente com ele. – Edward passou a mão pela grande cicatriz que percorria o braço.

- Por isso o nosso plano é tão bom. Trazer Jack Sparrow e companhia para o futuro onde não terão a ajuda de outros piratas. – Éris voltou a sorrir maleficamente. – Além do mais já tratei de os deixar indefesos. – Éris apontou para um canto.

Edward aproximou-se das armas de Will, Jack e Barbossa.

- Creio que isto nos pertence. – Éris mostrou a bússola do tempo fazendo Edward sorrir.

- Sabemos onde eles estão. Porque não vamos lá e resolvemos isto? – Edward perguntou ansioso.

- Calma, tudo no seu tempo. Lembra-te que aquelas raparigas serão as nossas armas, principalmente a tal Lara. – Aconselhou Éris.

- Jack Sparrow apaixonado! Por essa não esperava. – Disse sorrindo com desdém.

- A Calipso deve ter colocado um escudo à volta daquela rapariga. Sinto que existe algo de muito importante mas não consigo ver. – Éris começou a andar às voltas, arrastando o seu longo vestido azul-escuro pela areia.

- Não me digas que continuas com medo da tal profecia? – Edward indagou.

- Não sei muito bem a que se refere. Os deuses do mar não nutrem muita simpatia em relação a mim. Mas é algo que atormenta a Calipso. – Éris parou subitamente. – E quando algo atormenta aquela vadia é porque é importante.

- É preciso tanto ódio entre mulheres por causa de alguém que já nem cá anda? – Edward abanou a cabeça.

- Morreu por culpa dela! – Éris irritou-se de novo. – Ela roubou o meu amor e depois traiu-o como se fosse lixo. Se ele morreu foi por culpa dela.

- Diz antes por culpa de Jack Sparrow! – Exclamou o homem.

- Também. Mas esse eu deixo para ti. – Éris acalmou-se. – Precisamos de pôr em prática a segunda parte do plano.

- Espero que incluía o regresso ao meu verdadeiro aspecto. – Edward sorriu ironicamente e Éris riu alto.

Lara acordou com os raios do sol entrando pelas janelas da cabine. Espreguiçou-se e passou a mão pelos lençóis. Abriu melhor os olhos. Jack já tinha saído. Levou as mãos à cara. "Porque é que o sol, os galos e os despertadores têm sempre de aparecer quando o sono é bom?"

Levantou-se demoradamente. A barriga enorme estava cada vez mais pesada e Lara já não aguentava as dores de costas. Antes de sair, sentiu uma pequena pontada. Sorriu. O momento estava próximo. Sentiu um misto de alegria e de medo.

Saiu e estranhou o silêncio. Olhou em volta. Não viu ninguém. Algo a seus pés chamou a atenção. Uma espada ensanguentada. Tremeu e percebeu melhor. Toda a tripulação estava… morta! Lara desesperou. Abanou Gibbs mas este não respondeu. Fez o mesmo com Pintel, Raguetti, Marti e Cotton. Nenhum respondeu. Correu aos berros até ao timão. Barbossa encontrava-se caído com uma espada no peito. Lara encostou-se ao parapeito. "Isto não está a acontecer!" chamou por Jack mas não o viu. Em completo pânico ouviu uma voz atrás de si. Uma voz conhecida.

- O horizonte acorda sempre mais limpo depois do desaparecimento de alguns vermes. – o homem disse. Lara abanou a cabeça em negação. Não era verdade. Será que nunca os deixaria em paz?

- Onde está o Jack? – Perguntou Lara, temendo a resposta.

- Digamos que Mr. Sparrow se considera um grande pirata. E por isso terá um julgamento à sua altura!

- Não. NÃOOOOO! – Lara gritou e tentou fugir. "Fugir para onde?" Sentiu que a agarravam e esperneou. Levaram-na aos prantos para um navio muito maior que o Pearl. Colocaram-na num quarto e trancaram a porta e as janelas. Lara deu murros na porta, atirou com uma jarra ao chão, mas simplesmente a ignoravam. Não percebia o que estava a acontecer. Ia tudo tão bem e de repente… queria Jack, onde quer que ele estivesse.

Sentiu uma dor lancinante no ventre. Ao apoiar-se na cómoda ergueu a mão e viu que sangrava. "Não, agora não!" Começou a chorar compulsivamente enquanto as dores aumentavam.

- Ahhhhhhh! – O berro de Lara acordou Alicia e passados minutos Grace entrava de rompante.

- Alguém assaltou a casa? – Perguntou, estancando quando viu Alicia tentando acalmar Lara que chorava compulsivamente.

- Ela teve um pesadelo e não para de chorar! – Alicia começava a ficar aflita.

- Lara o que é que se passou? – Grace colocou as mãos no rosto desta.

- Ele vai fazer-nos mal. – Lara tremia e continuava aos prantos.

- Ele quem Lara? – Perguntou Alicia.

- Foi só um sonho! – Grace tentou acalmar.

- Ele vai voltar e vai matar o Jack. Vai fazer mal ao meu filho… - Lara começou de novo num pranto.

- Do que é que ela está a falar? – Grace arqueou a sobrancelha surpresa, deixando Alicia num beco sem saída.

Continua…