Capítulo 15: Seguindo pistas e ídolos

- ONDE É QUE ESTÃO AS MINHAS ARMAS? – O berro de Jack acordou Barbossa.

- Venham seus besouros nojentos. Os canhões destruir-vos-ão como fogo num palheiro! – Berrou o capitão mais velho, não percebendo que já não se encontrava no seu querido navio e deixando Jack de olhos arregalados. Olhou melhor e lembrou-se do berro de Jack. – O que é que te deu? Já não basta aturar-te todos os dias agora não me deixas dormir?

- Você ainda me pergunta o que se passa, seu zombi ingrato? – Jack abanou os braços no ar. – Alguém entrou aqui e roubou as minhas armas!

Barbossa olhou para Jack com cara de parvo e olhou para o sítio onde deviam estar as suas próprias armas.

- Pois, esqueci-me que as tuas também ganharam pernas. – Jack, embora nervoso, sorriu de maneira irónica ao ver a cara de irritação de Barbossa. – É no que dá adormecer em vez de ficar alerta!

- Se não estavas a dormir posso saber onde o senhor andava? – Barbossa levantou-se num salto.

- Fui buscar algo para beber. – Jack lamentou-se. Perder as próprias armas e a bússola por causa de uma bebida era inaceitável. "Se ao menos fosse rum…", pensou.

Barbossa passou como um furacão por Jack e abriu a porta de saída.

- Onde pensas que vais? – Perguntou Jack com ar indignado. Outra das coisas que detestava era ficar a falar sozinho.

- Perguntar ao Capitão Turner se não perdeu as suas armas por pura incompetência. – Barbossa bufou e saiu.

- Incompetência? – Jack exaltou-se e correu atrás. – Que eu saiba quando um capitão está ausente o outro tem de estar de vigia!

- Que eu saiba eu estava a dormir, tu estavas acordado, e isso faz de ti o vigia! – Barbossa exclamou. Bateu com força na porta ao lado.

Jack resmungou sozinho enquanto Barbossa revirava os olhos.

- Eu bem disse que era má ideia voar para este mundo esquisito. – Barbossa disse. Ao mesmo tempo, um ensonado Will abria a porta.

- Passa-se alguma coisa? – Perguntou o mais novo.

- Olha o que fizeste! Acordas-te o jovem "Capitão Turner", do seu sono renovador! – Jack carregou no nome de Will em tom de troça.

- Ok, se é mais uma das vossas brigas peço para que me esqueçam. – Will tentou fechar a porta mas Barbossa travou-o.

- Só queremos saber se as tuas armas estão no sítio. – Perguntou o mais velho.

- Oh depende de que armas estás a falar. Tendo em conta que há fortes suspeitas de que ele seja eun…

- QUERES TE CALAR? – Berrou Barbossa. – Juro que te dou o tiro que tanto me apetece!

- Com o quê? Uma cana de bambu? – Jack sorriu com cara de safado.

- Mas afinal o que é que se passa? – Perguntou Will, bastante confuso.

- Por incompetência deste palerma alguém pegou nas nossas armas. – Explicou Barbossa.

Will pediu para que entrassem e abriu o roupeiro. Ficou surpreso quando não viu vestígios das suas armas.

- Parece que quem o fez, sabia exactamente o que procurar. – Constatou Barbossa.

- Ao menos ainda temos a bússola! – Exclamou Will. O jovem capitão e Barbossa ficaram olhando Jack que tentou sair de fininho.

- A bússola, Jack? – Barbossa perguntou.

- Na verdade, uma desgraça nunca vem só e um descuido muitas vezes transforma-se numa catástrofe e…

- Fala de uma vez homem! – Exclamou Barbossa.

- A bússola estava juntamente com as armas e desapareceu. – Jack sorriu ao de leve, mas logo se desvaneceu.

Jack saiu para o exterior e ficou olhando o ambiente deserto. Antes que Barbossa e Will pudessem dizer algo, Jack desatou a correr com se fosse atrás de alguma coisa. Os outros dois entreolharam-se e seguiram-no. Jack só parou na berma da estrada.

- Não acham estranho? – Perguntou Jack.

- O quê? – Perguntaram os outros dois capitães ao mesmo tempo.

- Esta pequena linha de água corre desde o motel até aqui. – Jack apontou o caminho.

- Não vejo a ligação que isso tenha com o ladrão. – Disse Will.

- Turner, o teu problema é seres lento de mais. A linha de água corre na mesma direcção como se apontasse para algo… - explicou Jack.

- E continua para além da estrada. – Concluiu Barbossa ao se aproximar da guia do asfalto.

- Exacto. É como se indicasse um caminho! – Exclamou Jack.

- Ok, digamos que esteja relacionada. Teremos que esperar pelas raparigas ou pela Calipso. Até lá a água já secou. – Will olhou para o céu. Ainda era noite cerrada.

- Por mim estou na disposição de seguir isto e descobrir quem foi o cão sarnento que roubou os meus pertences. – Comunicou Jack.

- Eu concordo. – Acrescentou Barbossa. – Além do mais a Calipso sabe sempre onde estamos e avisará as mulheres.

- Eu não vou. Podemos demorar e até metermo-nos numa encrenca. Não as vou deixar preocupadas. – Will estava firme na sua vontade.

- Óptimo. Nós vamos e tu ficas. – Jack avançou para a estrada mas umas luzes fortes e um buzinão fizeram com que recuasse e quase caísse em cima de Barbossa.

- De certeza que querem avançar com isso? – Will franziu o sobrolho mas nenhum dos dois capitães do Black Pearl estava disposto a desistir.

Tinham passado mais de duas horas desde que Jack e Barbossa tinham ido em busca de uma pista inútil na opinião de Will. Olhou para o céu através da janela. Começava a clarear. Olhou para a estrada. Nem sinal de Jack ou Barbossa. Saiu do quarto e começou a caminhar na direcção da vila. Uma das suas qualidades era ter memória fotográfica. O melhor era ir ter com as raparigas. Barbossa e Jack não apareciam e o mesmo se passava com Calipso. Não queria preocupá-las. Respirou fundo e seguiu em frente.

Lara bebeu o chá de um só gole. Encontrava-se sentada na cama com Alicia e Grace de olhos pregados em si. Alicia sorria amigavelmente tentando acalmá-la, mas o mesmo já não se podia dizer de Grace. Sentada numa cadeira, a empregada batia com o pé no chão e olhava fixamente para Lara.

- Agora que a menina está recomposta será que poderá explicar essa história de filho? – Perguntou com ar sério.

Lara e Alicia entreolharam-se com ar de pânico. Agora estavam mesmo lixadas.

- Grace, a Lara deve ter sonhado e… - Grace colocou a mão no ar e pediu para que Alicia deixasse Lara falar.

- Eu posso ser muito saloia mas a minha ignorância tem limites. Não é de agora que vejo que andam esquisitas. – Grace virou-se para Lara. – É verdade? A menina está mesmo à espera de uma criança?

Lara olhou timidamente para Grace e sentiu as lágrimas saltarem.

- É. – Confirmou num som abafado pelo choro.

Grace arregalou os olhos. Mas o sermão que se esperava não se concretizou. Mais do que a própria Lara, Grace entrou em desespero.

- ONDE É QUE A MENINA ANDA COM A CABEÇA? – Berrou soluçando e pondo as mãos na cabeça. – Como é que os seus pais vão ficar? Como é que a sua vida vai ficar daqui para diante?

- Eu sei disso Grace, mas… - Lara foi interrompida por Grace.

- Mas o quê? Que raio de juventude é esta que anda com a cabeça debaixo de terra? – Grace sentou-se na cadeira. Gostava de Lara como uma filha e desejava um dia poder pegar ao colo nos filhos desta. Mas Lara era bastante jovem, tinha a vida pela frente. Não queria sequer pensar na reacção do casal Stevens.

- O mundo não acaba por a Lara estar grávida, Grace. – Disse Alicia.

- Não o mundo geral, mas o dela complicasse. – Grace limpou a cara. Lara continuava cabisbaixa e com as lágrimas a escorrerem pelo rosto. – Muito bem. Quem é o pai?

Alicia arregalou os olhos e olhou para Lara. Esta não conseguiu dizer nada.

- Já sei. Só pode ser o Thomas! – Exclamou Grace. – Bem que vocês andavam muito estranhos.

- Não é o Thomas. – Comunicou Lara.

- Não? – Grace arregalou os olhos.

- É muito complicado, Grace. Prefiro que saibas… - Lara foi interrompida por Alicia.

- É o Jack Sparrow. Capitão Jack Sparrow. – Confirmou a amiga.

Grace ficou estática mas depois irrompeu num choro.

- Oh Meu Deus! As minhas meninas estão desgraçadas. – A reacção de Grace deixou as raparigas sem perceberem nada. – Uma está grávida, outra está louca!

- Ninguém está louco, Grace. É a verdade. – Lara limpou as lágrimas e tentou acalmar-se. – Nós tivemos uma experiência, uma aventura por assim dizer.

- Recuamos no tempo através de uma bússola mágica e acabamos no século XVIII, rodeadas de piratas. – Explicou Alicia.

- E conhecemos o Capitão Jack Sparrow e companhia, que nos ajudaram a voltar para cá. – Rematou Lara.

- E a Lara acabou apaixonada pelo Jack e eu encontrei finalmente o amor da minha vida, Will Turner! – Alicia sorriu mas o sorriso desvaneceu-se ao olhar para Grace. Esta olhava para as duas como se estivesse diante de dois serial killers.

- Só que houve uma confusão e eles acabaram cá, no nosso mundo. – Disse Lara.

- Cá? Um bando de piratas fictícios? – Grace começou a rir que nem uma maluca e a chorar ao mesmo tempo. Alicia enervou-se e pegou nos dvd's.

- Esta aqui é a Elizabeth Swann. Aqui é a actriz que a interpreta. Nós conhecemos a verdadeira. – Explicou Alicia enquanto apontava para a personagem.

- Coitadinha! – Lamentava-se Grace enquanto olhava para Alicia e abanava a cabeça.

- RAIOS GRACE! – Berrou Alicia. – A Elizabeth que te apresentamos e que está no quarto ao lado é a Elizabeth Swann! Olha as parecenças.

Grace olhou melhor. Realmente a menina Elizabeth era um clone da outra. Mas os sósias existem. Alicia viu que não estava a resultar e foi mais drástica.

- Lembras-te do tio da Lizzie? – Perguntou.

Grace abanou a cabeça em sinal afirmativo e Alicia apontou para a personagem de Barbossa.

- Parece-te alguém? – Perguntou Alicia. Grace olhou melhor. Vestido daquela maneira não se parecia nada mas em alguns detalhes…

- Não. Não pode ser. – Grace afastou-se. – Vocês devem estar a brincar comigo. E acreditem não tem piada!

- Desisto. – Alicia voltou para junto de Lara.

- Eu nunca mentira sobre isto, Grace. – Afirmou Lara.

- Vou lá baixo tomar um copo de água. Preciso de respirar e assimilar isto tudo. – Grace saiu com cara de doente.

- Ela não ficou convencida. – Constatou Lara.

- Arghh, porque é que ninguém acredita? – Perguntou Alicia. – Já com o Thomas foi o mesmo.

- Eu não os censuro. Quem vai acreditar no inacreditável?

- Eu vou acordar a Elizabeth. – Alicia levantou-se.

- Admira-me se ela não tiver acordado com esta gritaria. – Lara voltou a se enrolar nos lençóis.

Passados cinco minutos, Alicia apareceu aos berros.

- A Elizabeth desapareceu! – Exclamou Alicia.

- Como desapareceu? – Perguntou Lara.

- Não está em nenhum lugar da casa. Tinha a janela aberta, mas não podia ter saltado. É alto demais. – Alicia comunicou. Mas antes que pudessem pensar em mais alguma coisa, um grito fez com que saltassem e descessem as escadas a correr.

Grace estava com cara de pânico e olhava para o homem que tinha entrado esgazeado.

- Ele… ele… - Grace gaguejava e apontava para o homem.

- Desculpa se o meu namorado te assustou! – Exclamou Alicia agarrando-se a um atónito Will.

- Agora já acreditas? – Lara ajudou Grace a se recompôr.

- Mas como é que ele… - Grace estava meio baralhada.

- Anda para a cozinha. Eu conto tudo por tudo. – Lara encaminhou Grace e fez sinal para que Alicia ficasse com Will.

- Ela está bem? – Perguntou Will apontando com a cabeça na direcção de Grace.

- Aquilo passa-lhe. Ficou em choque porque contamos a verdade e soube que a Lara está grávida. – Afirmou Alicia com naturalidade.

- Ah. – Will assentiu mas depois arregalou os olhos. – A Lara está o quê?

- Grávida. Pois ainda não sabias! – Alicia sorriu. – Não é o máximo?

- O pai é o… - Will teve medo de dizer o óbvio.

- Quem mas havia de ser?

- E ele sabe?

- Digamos que ele é o único que neste momento não sabe! – Alicia sorriu.

- Por Zeus! – Will levou a mão à testa.

- Mas afinal o que vieste cá fazer… sem o Jack e o Barbossa? – Alicia estranhou.

- Pois é amor. Alguém roubou as nossas armas enquanto dormíamos e o Jack e o Barbossa pensam que acharam uma pista, foram atrás e até agora não voltaram. – Esclareceu.

- Estranho. – Alicia colocou um dedo no ar. – A Elizabeth também desapareceu.

- A sério? Temos de encontrá-la! – Will ficou sério de repente.

- Estás assim tão preocupado? – Alicia ficou séria e com ciúmes arrancando um sorriso do seu capitão.

- O caso começa a ficar sério. A bem da verdade, a Calipso também não dá de si. Começo a pensar que quem está por detrás disto foi quem roubou a Fonte e está a começar a entrar em acção.

- Achas que é assim tão poderoso? – Alicia mordeu o lábio.

- Só sei que se for, a luta vai ser difícil sem armas e sem navios. – Will suspirou e abraçou Alicia.

Alicia sentiu-se reconfortada não fosse o barulho ensurdecedor de vozes e gritos no exterior da casa.

- O que é que se passa? – Alicia franziu o sobrolho.

- Esqueci-me de dizer uma coisa. – Will ficou meio sem jeito. – Tentei despistá-las mas foram bastante persistentes e… - Will não acabou a frase porque Alicia já se dirigia para a janela.

Afastou a cortina e ficou branca como a cal. Um dezena de raparigas gritavam que nem loucas "Orli" e seguravam cartazes com "Orlando Bloom i love you".

- Diz-me que não tiveste a triste ideia de vir pela marginal da praia? – Alicia sentiu uma onda de fúria.

- Era o caminho mais curto! – Will não imaginou o tamanho da confusão.

Continua…