Like a fairytale escrita por Black, Miss Serenity Blue


Capítulo 6
Chapter six - sleeping beauty


Notas iniciais do capítulo

Quase fim, pessoal! Boa leitura!
Black♥



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Não era vez nenhuma porque Rose não havia escrito nada. Não queria, não conseguia. Segurava a pena, molhava a ponta, pressionava-a no papel e não saia nada. Não conseguiu nem ao menos responder à carta de sua mãe e deixou para resolver aquilo no recesso.

A Grifinória ganhou a partida de quadribol do começo da semana; além disso, Rose retomou os estudos para os NIEM’s e não pretendia mudar sua escolha. Decidiu queimar o livro que havia ganhado de Hugo, mas não conseguiu. Preferiu guardá-lo no fundo de seu malão ao invés disso. Com certo esforço, evitou contato com Roxanne e, principalmente, com Scorpius, fugindo de situações em que ficassem sozinhos. Rose precisava pensar e, por isso, pediu que seus pais dissessem que ela não estava em casa quando, eventualmente, seus amigos aparecessem na lareira ou na porta da frente chamando por ela.

Ficou contente quando Ronald e Hermione acataram seu pedido sem fazer perguntas, já que esperava continuar sozinha pelo menos até o Natal. Era véspera da festividade, então sabia que veria todos de uma vez na ceia de seus avós paternos mais tarde. Seus planos, porém, foram frustrados quando Scorpius Malfoy bateu em sua sacada, pulando do telhado da casa vizinha. Luke me paga, pensou Rose.

— Sorte a sua que não posso aparatar aí dentro - disse ele, com a voz abafada por estar do outro lado das portas de vidro - Pode me deixar entrar antes do seu pai me pegar aqui em cima ou eu acabar congelado?

— O que faz aqui? - perguntou ela, conferindo se seus responsáveis realmente não tinham visto Scorpius entrando por ali - Entra de uma vez! Podia ter usado a porta dos fundos - sussurrou em seguida, selando as portas da sacada e a entrada do quarto com um feitiço para abafar o som.

— Seu pai estava lá. E você está me evitando - afirmou Scorpius.

— Não estou.

— Ross - repreendeu ele, encarando-a enquanto se livrava do casaco e do cachecol.

Sem forças para inventar qualquer outra coisa, decidiu contar a verdade, começando com os sonhos. Sentiu seu rosto esquentar quando, a seu pedido, Scorpius descreveu alguns dos sonhos que teve com ela e eram idênticos às imagens que Rose via enquanto dormia. Ao constatar a similaridade, ficou mortificada ao ouvi-lo dizer que preferia manter alguns desses sonhos em segredo, já que não tinham nada a ver com contos de fadas. Explicou, então, o motivo de todas as viagens oníricas que experimentaram, guardando para si o incômodo que sentia quando pensava que Scorpius só a queria por conta disso.

— E o que você não está me contando? - perguntou ele, como se lesse seus pensamentos - Você não ia simplesmente parar de falar comigo por causa de uma brincadeira da Roxanne. Lido com ela depois, inclusive.

— Eu não gosto desses feriados - disse ela, o que não era uma completa mentira - Sinto falta do meu irmão. Ele adorava o Natal, mas fazia de tudo para o Ano Novo ser sempre o melhor de todos.

— Porque era sua data favorita depois do seu aniversário - disse Scorpius, lembrando-se de como Rose costumava adorar essas comemorações.

Ela apenas assentiu, sentando-se na própria cama e deixando espaço para que ele se sentasse à sua frente. Scorpius, então, esticou uma das mãos até encontrar a de Rose no espaço entre eles, por cima dos edredons. Sem querer escrever, ela continuou escorando-se em outra estratégia: as conversas. 

— Eu odeio esses feriados sem a Roxanne - disse ela, observando os dedos de Scorpius brincarem com os seus - Você vem para os meus avós esse ano?

— Sim - confirmou ele - Almoço nos meus pais amanhã? Os pais de Luke vão também.

— Tudo bem - aceitou ela.

Pelos próximos minutos, Rose aproveitou da presença de Scorpius em seu quarto e permaneceu ocultando dele qualquer dúvida que pudesse ter enquanto se beijavam. Durante os poucos momentos em que conversavam entre os beijos, ela evitava olhá-lo nos olhos. A ruiva tinha plena consciência de que, de alguma forma, Scorpius saberia que ela ainda escondia algo, então seguiu mudando de assunto até que não tivessem mais tempo ali. Ao ouvir seus pais chamando-a para o andar de baixo, expulsou Scorpius de dentro do lugar em questão de segundos, divertindo-se ao vê-lo descer de sua sacada e praguejar em voz baixa.

Sem a mínima vontade de lidar com os pais, desceu até a cozinha mesmo assim. Surpreendeu-se ao notar que ambos estavam sentados no sofá, lado a lado, esperando-a com canecas de chocolate quente em mãos. Mesmo estranhando a situação, ela aceitou a oferta e sentou-se na poltrona próxima à televisão.

— Precisa de mais marshmallows— brincou ela, experimentando o creme branco no topo da caneca com a ponta do dedo.

— Nós precisamos conversar, Rose - disse Hermione. 

— Sua mãe… - começou Ronald, sendo interrompido por um pigarro da esposa - Nós achamos que a nossa família precisa de mais diálogo.

— Isso mesmo - afirmou Hermione - E não há a mínima possibilidade de resolvermos tudo de uma vez.

— Eu não entendo o porquê - reclamou Ronald, apontando para a esposa e para a filha na respectiva sequência que as abordava - Você precisa entender que nem todo mundo mostra o que sente do mesmo jeito. E você, mocinha, precisa aprender que ninguém vai adivinhar o que você pensa se você não disser. E eu odeio falar de sentimentos.

— Ronald! - exclamou Hermione, estapeando o marido ao ouvi-lo bufar. O som do riso contido de Rose a fez sorrir, sentindo falta das gargalhadas e do barulho que a filha costumava fazer pela casa.

— Certo, certo - disse o homem, acenando com uma mão - Por conta de tudo isso, vamos nos encontrar ao menos uma vez por mês em Hogsmeade até você se formar.

— Como é? - questionou Rose, surpresa com o rumo que aquela conversa havia tomado.

— Nós não nos conhecemos mais nessa casa - exclamou Hermione, insistindo em sua proposta - Eu não sei o que você anda fazendo, o que anda pensando, não sei porque quer trabalhar na Câmara do Tempo. Eu preciso participar, Rose! No outro dia você disse que estava indo encontrar com Scorpius, ele é um bom menino mas sempre pensei que-

— Espera - interrompeu Ronald, causando risos em Rose ao notar as orelhas vermelhas de seu pai - Iria se encontrar com quem?

— Ron, por favor, pare de me interromper - pediu Hermione, dando início a uma discussão acalorada com o marido. Rose, que se divertia com a situação, sentiu seus olhos arderem ao notar que seu pai estava apenas provocando sua mãe, como costumava fazer em várias outras ocasiões. Distraída com a cena, não percebeu o momento em que sua mãe passou a encará-la com uma expressão surpresa.

— Rose? - chamou a matriarca, preocupada - Você está chorando?

Rapidamente, a mais nova secou as lágrimas. Tudo aquilo era uma novidade: seus pais preocupados com ela outra vez, discutindo por besteiras, ela mesma rindo e chorando. Parecia uma outra realidade. Rose, então, conferiu o relógio na parede e percebeu que deveria se arrumar logo para a ceia de Natal. Levantou-se, deixou a caneca vazia no porta-copos na mesa de centro e respirou fundo, ignorando as lágrimas que nem ao menos faziam sentido.

— Tudo bem, eu encontro vocês em Hogsmeade - disse ela, afastando-se para as escadas - E aí, talvez, eu conte sobre Scorpius. E sobre os NIEM’s que vou prestar para ser uma inominável no Ministério da Magia.

— Tem certeza, Rose? - perguntou Hermione, sobressaindo-se aos protestos do marido quanto às companhias da filha - Luna me disse que Lysander quer ser medibruxa, você bem que podia-

— Mãe, sério? - interrompeu ela, irritando-se outra vez. Sua mãe, então, levantou as mãos em rendição, percebendo o que havia feito.

— Certo, tudo bem - ela disse - Assunto para o mês que vem. Pode ir se arrumar.

Rose agradeceu, fazendo uma reverência exagerada antes de subir escadas acima. Enquanto escolhia as vestes daquela noite, suspirou, sem conseguir se livrar de pensamentos incessantes sobre Scorpius e, principalmente, Roxanne.

Aquele seria um longo feriado.

Já era véspera de Ano Novo e Rose aproveitava a música alta e o álcool na festa de Lysander Scamander enquanto tentava, sem sucesso, apagar de sua mente o fiasco que havia sido o Natal daquele ano. Quase não suportava ver os porta-retratos de vovó Molly, considerando que Hugo estava em vários deles abraçando os avós, brincando com os primos, fazendo caretas com Rose. Tinha fotos dele em sua própria casa, mas ver aqueles registros ainda era doloroso.

Pior ainda foi a discussão que teve com Roxanne no dia seguinte, depois do almoço na casa dos Malfoy; o impasse tomou proporções maiores quando Luke a defendeu, e então Scorpius tomou as dores de Rose. Albus interveio, reclamando que os amigos estavam exagerando e o comentário incomodou Dominique. Assim que Ronan se dispôs a preservar o bem estar de seu namorado, Lysander passou a fazer parte do conflito, disposta a proteger Domi a todo custo.

Por sorte, havia resolvido as coisas antes daquela festa, então pôde comparecer sem grandes incômodos. Acontece que ainda não estava falando com Roxanne, e por isso bebia. Sentia uma sensação engraçada com a bebida e uma coragem diferente da que estava acostumada. No momento da virada, fez questão de beijar Scorpius dentro de um dos banheiros da casa, mas se afastou e voltou a beber perto dos jardins na companhia de colegas de turma que ela mal conversava.

Rose gostava do sabor daquelas bebidas, mas não havia identificado o tipo de cada uma; depois de quantidades mais que suficientes, parou de se importar com o que colocava no próprio copo. Mesmo com os pensamentos embaralhados, Rose encarou o recipiente de plástico com uma dose de algo forte que não sabia o que era, percebendo que ainda estava consciente do que lhe incomodava.

Lidar com os pais havia se tornado extremamente complicado depois da morte de Hugo.

Sentia falta de Hugo.

Estava consumida pela saudade de Hugo e queria conversar com Scorpius, mas não sabia o que era real entre eles e o que era fantasia.

Não fazia ideia se Scorpius gostava dela para além dos sentimentos que ela mesma havia criado em seus contos, mas Roxanne saberia o que dizer.

Não podia conversar com Roxanne.

— Mais um para a conta - deu de ombros, virando mais uma dose em sua garganta e fazendo uma careta - Odeio firewhisky.

— Rose, já chega - disse Scorpius, materializando-se ao seu lado. Não notou o momento em que ele se aproximou, mas ficou irritada quando ele afastou o copo de sua mão e a segurou pela cintura.

— O que está fazendo? - perguntou Rose, sem notar sua fala confusa - Eu falei pra ser segredo.

— Ainda somos amigos e eu ia te levar para casa de qualquer jeito. Vem, vamos embora.

— Não - disse ela, levantando a voz, alheia aos seus amigos que aproximavam-se deles - Eu não quero ir com você.

— Ross, vamos - pediu Dominique, segurando o rosto da prima entre as mãos - Scorpius vai te ajudar e você pode-

— Eu não quero ir com ele porque ele não gosta de mim! - exclamou Rose, sem perceber o tom alto da própria voz ao apontar para Roxanne - Ele só comigo por causa dela.

E, de repente, o assunto da discussão do Natal pairava sobre eles outra vez. Roxanne não havia ficado ofendida; sabia do incômodo de Rose pois foi justamente aquilo que as fez brigarem no Natal, mas Scorpius não havia escutado aquela parte antes do presente momento. A cacheada, então, aproximou-se do amigo, deixando que Dominique cuidasse de Rose por alguns segundos com Lysander e Ronan lhe apoiando.

— A gente sabe que o Ano Novo é difícil para ela, mas ela já foi longe demais e vai se arrepender disso amanhã. Ela gosta de você e todo mundo sabe, então fica calmo - disse Roxanne, continuando quando Luke e Albus se aproximaram - Ela não pode ir para casa dela desse jeito, a mãe dela vai surtar.

— Ela pode ir lá para casa - ofereceu Albus -, mas meu pai com certeza vai acabar deixando escapar pro tio Rony.

— Minha mãe deve fazer a mesma coisa se trombar com a tia Hermione no Ministério - disse Scorpius.

— Leva ela para minha casa - sugeriu Luke, dando de ombros - Vocês vão pela lareira do porão, meus pais não vão saber.

— E depois, gênio? - implicou Roxanne.

— Entrem na casa da Rose pela porta dos fundos, oras - continuou o Zabini, apontando para Albus e Roxy - Vocês dois nasceram naquela casa. A gente não saía de lá no verão do ano passado.

— Certo - concordou Albus, orientando Scorpius - Então lareira do Luke, porta dos fundos, escadas da dispensa, quarto da Rose. Consegue não ser pego?

— Fácil - respondeu Malfoy - Saio pela sacada depois.

— Como assim “fácil”? - suspeitou Albus, franzindo a testa. Por sorte, Luke veio em seu auxílio.

— Plano construído, hora de ir.

O grupo informou o restante e Dominique acompanhou Rose até a lareira, sendo seguida de perto por Roxanne e Scorpius. Outra vez, Rose sentiu a pressão dos dedos de Scorpius em sua cintura, mas não conseguiu forças o suficiente para reclamar - especialmente porque não queria. Antes que desaparecessem com a poeira, Roxanne prometeu que se veriam no dia seguinte.

Tal como havia combinado com os amigos, Scorpius viajou pela lareira até o porão dos Zabini, sustentando Rose quando as pernas dela pareceram falhar ao chegarem do outro lado. Esforçando-se para manter o silêncio, saiu através das portas que levavam até a área externa da casa do amigo, subindo as escadas com certa dificuldade enquanto ajudava a Weasley ao seu lado. Abriu a porta dos fundos da residência de Rose na casa vizinha com as chaves que Dominique havia pego de dentro do bolso dos jeans da prima e tentou, mais do que nunca, mantê-la quieta.

Subir as escadas da dispensa até o andar de cima deve ter sido a parte mais fácil. Como Rose mal conseguia caminhar sem tropeçar, Scorpius achou melhor carregá-la, tomando o cuidado de não esbarrar em nada pelo caminho. Feliz ao ver a porta do quarto dela já aberta, entrou sem grandes empecilhos. Depois de deitá-la no colchão, fechou a passagem.

— Scar? - chamou ela ao ser colocada na cama - Você queria ser um príncipe?

— Você não vai lembrar de nada disso - disse ele, cobrindo-a com os edredons - Mas não. Até amanhã, Ross.

Ela protestou por alguns instantes, mas Scorpius já estava do lado de fora da sacada, fechando as portas transparentes. Com as cortinas abertas, Rose pôde ver o momento em que ele, sorrindo, acenou para ela antes de aparatar.

Sentindo a cabeça dolorida, Rose lutou contra a visão embaçada e se arrastou até o malão revirado do outro lado do quarto, alcançando seu tão querido livro. Esforçou-se para chegar até a escrivaninha sem derrubar nada, deixando o corpo cair na cadeira e, determinada, molhou uma de suas penas, disposta a escrever o que conseguisse. Com a ponta pairando sobre o papel, Rose não pôde evitar os pensamentos turvos que tomavam conta de sua mente entorpecida. Pressionando a mão contra o papel, decidiu que escreveria exatamente sobre aquilo.

Mais algumas linhas e fim.

Mais uma vez, Rose estava presa no mundo onírico, caminhando por um espaço vazio e sem nenhuma iluminação. Teve a impressão de que já estava andando por horas quando algo se iluminou do outro lado da sala. Rose percebeu que estava em um velório ao notar o caixão de vidro fosco enfeitado com flores e, receosa, se aproximou. Tentou gritar ao ver o próprio corpo ali dentro, inerte, mas não produziu som algum.

O restante do espaço se iluminou e, para cada espaço que olhava, Rose via as próprias lembranças. Viu uma de suas festas de aniversário, os momentos em que conheceu Scorpius e Luke dentro do Expresso, as incontáveis histórias que Hugo lia para ela e, por fim, o momento em que se despediu dele pela última vez. Ela via a cena fora do próprio corpo, observando a si mesma sentada no sofá enquanto o irmão se aproximava da lareira na sala. Assim que ele despejou o pó de flú nos pés, a imagem desapareceu e ela estava, outra vez, sozinha no escuro, acompanhada apenas do caixão que carregava seu corpo.

Ao aproximar-se outra vez do esquife, a ruiva surpreendeu-se quando não conseguiu tocá-lo; suas mãos atravessaram o vidro e ficou claro, então, que Rose era um espectro em seu próprio sonho. Permaneceu ali, absorvendo o que podia daquela experiência extracorpórea quando sentiu alguém tocar seu ombro. A surpresa maior não foi o sucesso no toque, mas quem estava ao seu lado.

— Eu sinto sua falta também, Rosie - disse Hugo, segurando-a pelos ombros - Mas está na hora de acordar.

E, então, Rose acordou.

Com os sentidos difusos e a cabeça dolorida, a Weasley abriu os olhos e analisou o ambiente, sem entender como havia chegado em casa na noite anterior. Algumas imagens dançavam em sua mente, mas nada que a permitisse discernir o que havia acontecido. A luz que entrava através das cortinas incomodavam seus olhos, mas Rose se levantou mesmo assim, notando seu livro aberto e rabiscado, abandonado sobre a escrivaninha. Tinha a vaga memória de ter escrito alguma coisa, mas não recordava como ou quando havia voltado para a própria cama. Alcançou o caderno e leu as palavras confusas que registrou ali, sabendo que, se ela havia sonhado com aquilo, Scorpius também tinha visto o mesmo.

— Isso explica aquele sonho - refletiu ela, em voz alta - É nisso que dá escrever bêbada.

Ouviu algumas batidas na porta de seu quarto, então atirou o livro de volta no malão e se apressou para ajeitar o cabelo, prendendo-o no alto da cabeça em um coque e se envolvendo em um roupão, tentando esconder que ainda usava as mesmas roupas do dia anterior.

— Bom dia, mãe - cumprimentou ela ao abrir a porta - E feliz ano novo.

Boa tarde e feliz ano novo - respondeu a mulher, estendendo uma caneca de café na direção da filha, encarando-a com as sobrancelhas franzidas - Scorpius esteve aqui mais cedo. Eu quero ouvir a explicação para você estar desse jeito?

— Eu acho que você prefere me ajudar a arrumar o meu malão - respondeu Rose, abrindo espaço para que Hermione entrasse no quarto.

Se sua mãe estava disposta a tentar, então ela também estava. Além do mais, por mais confuso que tivesse sido seu último sonho, conseguiu compreender algumas coisas. O torpor havia passado, afinal. Durante a tarde, Rose dedicou-se a organizar seus pertences com a ajuda de sua mãe, parando por alguns momentos a fim de tomar banho e se aquecer. Já anoitecia quando seu pai chegou em casa, juntando-se a elas com um saco de tortinhas de limão.

— Sua avó mandou para você - disse ele, sentando-se na cadeira perto da escrivaninha e apontando para o outro lado do cômodo - Consertei sua poltrona, já pode usá-la outra vez.

— Obrigada, pai - respondeu ela.

— Scorpius esteve aqui hoje - contou Hermione enquanto dobrava algumas roupas - Disse que voltaria. E seus primos também.

— Ótimo - resmungou Rose; achou que o melhor seria explicar de uma vez o que havia acontecido na noite anterior - Acho que foi bem ruim ontem a noite.

— Não te vi chegar - comentou Hermione.

— Fico contente. Nem me lembro de tudo.

— Eu não sei se quero ouvir isso - constatou Ronald, levantando-se para sair do cômodo - Boa sorte para vocês duas.

— Eles só devem estar preocupados - contou Rose, torcendo para que a mãe não se irritasse demais - Resolvo isso amanhã.

— Não sei como me sinto com você bebendo por aí - repreendeu Hermione - Te ensinamos melhor do que isso, Rose.

— Eu sei.

Quando terminaram, a mais nova pediu que Hermione, apenas mais uma vez, dissesse que Rose não estava disposta a receber visitas; não era uma mentira, pelo menos. Depois de tomar banho e se livrar do peso que tomava seu corpo, enfiou-se em pijamas confortáveis e deleitou-se de suas últimas horas em casa antes que precisasse voltar para a escola no dia seguinte. Em outro pergaminho qualquer, logo antes de dormir, Rose sabia muito bem sobre o que precisava escrever daquela vez. Sentindo-se em paz depois de muito tempo, deixou a ponta da pena deslizar pelo papel, animada ao começar uma nova história.

Diferente dos outros anos, Rose estava incrivelmente atrasada para subir no Expresso Hogwarts. Felizmente já podia aparatar sozinha, por isso despediu-se dos pais em casa e prometeu que os veria em algumas semanas, quando se encontrassem em Hogsmeade. Já dentro do trem, respirou fundo ao cruzar os corredores, disposta a encontrar a cabine dos amigos.

— Oi, gente - disse ela, parando ao lado da porta quando os encontrou. Todos lhe responderam, exceto por Roxanne, que parecia acuada ao se encostar na janela; por isso, segurando seu caderno de contos de fadas, Rose continuou - Alguém sabe tirar feitiços da mente de objetos inanimados?

No mesmo instante, Roxanne saltou do lugar e alcançou a prima, segurando-a pelo braço para que procurassem uma cabine vazia. A três cabines de distância dos amigos, as duas se encararam por alguns segundos antes que Roxanne começasse a falar.

— Primeiro, isso - disse ela, abraçando Rose com força e se afastando logo depois - E agora, passa isso para cá.

Segurando a risada, Rose entregou o objeto para a prima e esperou, pacientemente, enquanto ela desfazia qualquer que fosse aquele feitiço. As duas sentaram-se no chão a pedido da cacheada, que não aguentava mais um segundo sequer longe da amiga.

— Certo, você e o Scorpius - começou Roxanne - Quando pretendia me contar?

— Como soube?

— Por favor, Rose - disse ela, abanando o ar com as mãos - Todos nós sabemos, só não dissemos nada. Scorpius anda para todos os lados com um sorriso gigantesco no rosto, o que já era suspeito o suficiente, até que na véspera de Natal ele passou um tempão na sua casa.

— Luke e aquela boca grande - resmungou Rose, cruzando os braços.

— Eu estava lá também, burra. No almoço dos Malfoy, você ficou dizendo que Scorpius não era honesto porque você tinha criado aquelas coisas. Ainda fez o favor de repetir essa baboseira na frente dele na festa da Lysander.

— Eu fiz isso, né?

— E foi horrível - afirmou Roxanne - Mas, tudo bem. O que foi tudo isso, afinal?

Rose suspirou, esfregando as mãos no rosto enquanto pensava sobre o que iria dizer. Como uma torneira aberta, passou a despejar na prima tudo aquilo que a incomodava. Chegou a mencionar que, mesmo que não escrevesse sobre Hugo, ele acabava aparecendo naqueles sonhos encantados e a fez perceber que precisava escrever a respeito do irmão ainda que não quisesse. Contou que pretendia melhorar seu relacionamento com os pais e que pareciam alcançar algum progresso nos últimos dias. Roxanne compreendia as dificuldades de Rose, sua melhor amiga, mas fez caretas quando a ruiva dividiu com ela as preocupações sobre o pseudo-relacionamento com Scorpius.

— Então é isso? - questionou Roxanne - Você acha que ele está com você porque você criou isso nas histórias?

— É a explicação mais lógica, já que-

— Você ficou doida - interrompeu a apanhadora, elencando as explicações com os dedos - Scorpius gosta de você desde os quinze anos, se não antes. O feitiço só fez vocês sonharem com o que você quer que você escrevesse.

— Mas você disse que nossas mentes se conectaram ou coisa parecida - lembrou Rose - Ele sonhou com as mesmas coisas que eu, especificamente.

— Isso é porque os dois sentem a mesma coisa, Rose - Roxy explicou, retomando o que havia compreendido com o feitiço - Suas mentes se ligaram por conta disso.

Rose assentiu, dando-se conta do quanto precisava conversar com Scorpius. As duas, então, voltaram para a cabine onde se apertaram entre os amigos durante toda a viagem. A escuridão noturna tomou conta do céu quando chegaram nos terrenos de Hogwarts, separando-se nas carruagens que os levariam até o castelo e, assim que desceram, a ruiva deixou seus amigos seguirem caminho enquanto ela e Scorpius ficavam para trás, andando pelos corredores sem pressa alguma.

— Está tudo bem? - perguntou ele - Que bom que você e a Roxy se resolveram. Já estava ficando preocupado.

— Você não chegou a ficar irritado com ela? - perguntou Rose, caminhando devagar ao lado dele - Quer dizer, começou a sonhar comigo do nada. Isso não te incomodou?

— Não foi do nada, eu te disse - contou o loiro, surpreendendo Rose com a facilidade com que contava algo tão pessoal quanto aquilo - Eu já sonhei com você antes.

— Você é muito seguro, sabia disso?

— Faz parte do meu charme - respondeu ele, dando de ombros - Você disse ontem que eu gosto de você por causa da Roxy. Pretende me explicar o que isso significa?

Rose respirou fundo, sabendo que aquele momento chegaria. Scorpius parecia levar tudo aquilo com bom humor, divertindo-se até mesmo com o nervosismo e preocupação da garota, que movia as mãos inquietas, pressionando os próprios dedos.

— Roxy disse que nossas mentes se ligaram por conta do feitiço ou coisa parecida - começou Rose, evitando o olhar do Malfoy - Então eu estive pensando se essa… Coisa entre a gente não aconteceu só por causa do que eu escrevi. Do sentimento que eu inventei para os personagens.

Scorpius estava surpreso. Aquela possibilidade não havia passado por sua mente em momento algum, e dedicou-se a provar isso ao parar no meio do corredor vazio, segurando Rose pelo braço para que parasse também. Sério, o loiro tocou o rosto dela, mantendo-o entre suas mãos e obrigando-a a olhá-lo. Sem dar tempo para que Rose o impedisse, Scorpius a beijou com ainda mais paixão do que das outras vezes.

— Eu gosto de você há um tempo, Rose Weasley - disse ele, ofegante - Muito antes de qualquer “era uma vez”.

Rose sorria, mas ainda estava hesitante quanto à sinceridade de Scorpius. Ele notou a preocupação dela na pequena ruga formada na testa da ruiva quando ela franziu as sobrancelhas levemente, tentando disfarçar, então soube que precisava resolver aquilo de uma vez por todas.

— Namora comigo - ele disse, ainda segurando o rosto dela.

— O quê? - perguntou Rose, exasperada.

— Você me ouviu. Namora comigo. Eu te apresento pros meus pais.

— Scorpius, eu conheço seus pais quase a minha vida inteira.

— Tudo bem, então agora você conhece eles de novo como minha namorada. Vai ficar tudo bem, eles gostam muito de você. Minha mãe não para de me perguntar de você.

— Não é isso, é que-

— Você pode me apresentar de novo para os seus pais.

— Scar-

— Está com medo do seu pai? Ele me adora.

— Isso foi antes dele saber sobre a gente - explicou Rose, tentando se afastar do aperto de Scorpius - Minha mãe disse que eu estava indo te ver outro dia e eu meio que confirmei.

— Certo, então agora ele tem mais um motivo para gostar de mim.

— Isso é muito improvável.

— Então sua mãe vai me defender.

— Plausível - concordou ela, ponderando sobre a situação - Acho que ela sabe que você quer ser um medibruxo.

— Então está decidido.

— O quê?

— Vamos, Rose, tente acompanhar. Estamos namorando - disse ele, beijando-a rapidamente antes de se afastar. Parada no corredor, Rose observou Scorpius acenar para ela antes de sumir de sua vista, despedindo-se.

— Te vejo no jantar! - exclamou ele antes de finalmente desaparecer.

Rose ainda precisou de alguns minutos para absorver o que havia acontecido ali. Suspirou e, sem se conter, deixou um riso escapar de sua garganta. Minha mãe vai adorar ouvir isso, pensou ela, lembrando-se de que logo, logo, se encontraria com os pais para um café. Ainda que sentisse que algo lhe faltava, Rose se pôs a escrever um novo conto mais tarde, naquela mesma noite, aliviada por saber que não sonharia com nada daquilo.

Era uma vez um final feliz.


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Notas finais do capítulo

Comentem bastante, gente! E até o próximo.
Beijos, Black♥



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