Like a fairytale escrita por Black, Miss Serenity Blue


Capítulo 5
Chapter five - rapunzel


Notas iniciais do capítulo

Segue mais um!!
Black ♥



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Era uma vez uma garota presa no alto de uma torre.

Era uma vez uma garota presa no alto de uma torre.

Era uma vez uma garota presa no alto de uma torre.

— Era uma vez uma garota presa na droga de uma frase - exclamou Rose, arrancando a folha rabiscada do caderno e atirando-a amassada do outro lado do quarto.

Já tentava escrever há algum tempo quando ouviu as risadas de suas primas, que finalmente haviam chegado. Com pressa, guardou o livro de volta na mesa de cabeceira e levantou-se, disposta a trocar de roupa para que pudesse, ao menos, tentar dormir.

— Ross, você está bem? - perguntou Roxanne ao entrar no dormitório - Scorpius disse que você precisava sair.

— Scorpius! - exclamou Rose, só então se dando conta do que havia feito. Resmungou alguns palavrões, anotando mentalmente que deveria se desculpar depois. Aquilo não era jeito de tratar um amigo - ou o que quer que Scorpius fosse no momento.

— Sim, o Scorpius - disse Dominique, preparando-se para dormir - Ele foi embora logo depois, só avisou a gente antes.

— Ele parecia bem animado para quem estava indo embora - informou Roxanne, encarando a prima com um olhar curioso. Como, no momento, Rose não conseguia escrever, decidiu fazer o que ela e seus amigos mais gostavam: fofocar.

— A gente se beijou - contou ela, deixando o corpo cair na própria cama outra vez. Imediatamente, as outras duas Weasley’s no recinto a acompanharam, deitando-se uma de cada lado de Rose.

— Quando?

— Onde?

— Foi ele?

O embaralhado de perguntas quase impediu Rose de identificar qual das duas estava falando. Esperou que terminassem antes de continuar, sentindo-se mais leve conforme contava sobre o ocorrido e refletia sobre o assunto.

— Ele disse que eu estava bonita e depois eu perguntei o porquê de ele não ter um par - começou Rose.

— Porque ele só queria ir com você e você não ia - interrompeu Dominique, recebendo um pedido de silêncio da parte de Roxanne.

— Agora eu sei disso. Ele não me disse - explicou ela, rapidamente, ao perceber o olhar surpreso das outras duas - Eu supus. Ele me perguntou o motivo de eu ter voltado mais cedo esse ano e eu falei algumas coisas.

— Certo - disse Roxanne, cuidadosa - Você vai repetir?

— Não.

— Tudo bem - aceitou, acenando a cabeça - Prossiga.

— Ele disse que estava feliz que eu fui ao baile e eu concordei - continuou Rose - E depois a gente se beijou.

— Espera - pediu Dominique - Quem beijou quem?

— Tem diferença?

— Você sabe que tem - endossou Roxanne.

— Ele me beijou - mentiu ela - De novo.

— E o que mais? - insistiu Dominique - Por que vocês foram embora separados?

— Foi estranho depois - Rose disse, refletindo sobre os acontecimentos seguintes - Era parecido com uma vez que sonhei com ele.

— Finalmente um proibido para menores - dramatizou Roxanne, estendendo os braços para cima.

— Menos, Rox, não foi assim - pediu a ruiva, ocultando de propósito o que Scorpius havia lhe dito - Eu sonhei que dançamos juntos em um palácio e eu usava um vestido azul, como hoje.

— Acho que vocês deviam ficar juntos logo - disse Roxanne, parecendo nervosa - Todo mundo acha isso.

— Não vou ficar com alguém só para agradar as pessoas, Roxanne - reclamou Rose, cruzando os braços - E, além do mais, foi só um sonho.

— E? - incentivou Dominique - Que sonho foi?

— Como eu disse, foi esquisito. Não entendo o que isso pode significar - completou Rose, suspirando, cansada das últimas ocorrências de sua vida.

— Bom, nem tudo tem uma explicação - disse Roxanne, atropelando as palavras com a velocidade que as dizia. Em seguida, levantou-se da cama e se livrou do vestido em tempo recorde, colocando o pijama quente antes de se deitar - Estou cansada. Boa noite, gente.

— Boa noite, Rox - respondeu Dominique, dando de ombros ao seguir para a própria cama.

Rose repetiu a despedida, mas estranhou a reação de sua prima. Ainda assim, a última coisa que precisava era mais um problema, então decidiu deixar aquilo de lado para que pudesse se concentrar nas coisas mais urgentes. Alcançou o envelope com a carta que escrevera mais cedo e, com a varinha em punho, trancou-se no banheiro. Mesmo enquanto conversava com as primas, havia pensado no que escrevera ali e decidiu que não valia a pena enviar o registro. Então, deixou o envelope dentro da pia, apontando a varinha logo em seguida.

Incendio.

Já era domingo e Rose caminhava em direção às masmorras quando foi interrompida. Esperava encontrar Scorpius e chamá-lo para, talvez, tomarem café juntos acompanhados de um pedaço generoso de bolo de limão quando viu-se de frente com a figura que menos gostaria de ver naquele momento.

— Mãe? - chamou ela, vendo Hermione conversando com McGonagall do outro lado do corredor, em frente ao gabinete da diretora; arrependida de ter denunciado a própria presença, decidiu que seria melhor se aproximar - O que faz aqui? Bom dia, diretora McGonagall.

— Bom dia, senhorita Granger-Weasley - cumprimentou a mulher.

— Você esqueceu suas coisas - disse Hermione, em voz baixa, mostrando a bolsa de pano que segurava. Rose estranhou; sua mãe estava calma, mas parecia cansada. Os olhos dela pareciam levemente inchados.

— Obrigada - respondeu Rose, alcançando a bolsa e conferindo os pertences acumulados ali dentro com um feitiço de extensão.

— Podemos conversar por um instante? - pediu Hermione.

Minerva prontamente ofereceu a própria sala para que tivessem privacidade, informando que precisava resolver algumas pendências em Hogsmeade. Ao subir os degraus para o gabinete, Rose viu a diretora se afastar rapidamente até que sumisse. Por longos minutos, mãe e filha ficaram em silêncio; Rose estava sentada em uma das poltronas, com os cotovelos apoiados nos joelhos, enquanto Hermione caminhava pelo espaço, lidando com as próprias lembranças.

— Minerva comentou sobre os NIEM’s - disse a mais velha - Parecia bastante empolgada em dizer que você se daria muito bem na Câmara do Tempo.

— Pode ser - comentou Rose, suspirando - Ainda tenho bastante tempo para pensar nos NIEM’s.

— Talvez possa mudar de ideia.

— Improvável - disse a ruiva, cruzando os braços ao encostar-se na poltrona - Olha, mãe, eu sei que ficou preocupada. Me desculpe por ter saído de casa daquele jeito ontem.

— Ao menos eu sabia onde você estava - constatou Hermione, fazendo uma careta em seguida - Mas que isso não se repita, por favor.

— Sim, senhora. Posso ir agora? - pediu Rose, levantando-se - Preciso falar com Scorpius.

— Sinto muito, Rose - disse sua mãe, surpreendendo-a - Eu sei o que a… Sei que o que aconteceu te afetou muito também. Queria que tivesse me contado aquelas coisas.

— A gente não conversa, mãe - disse a mais nova, esfregando a mão contra a testa - E quando acontece, a gente grita. E nem ao menos grita sobre tudo.

— Não éramos assim antes de...

— Antes da morte de Hugo - completou Rose - A senhora parou de escutar, então eu parei de falar. Eu nem ao menos saberia o que dizer agora.

O silêncio tomou conta do ambiente outra vez, ainda mais desconfortável. Rose passou as mãos pelos cabelos, respirando fundo, tentando segurar o ar por alguns segundos. Não soube apontar o momento exato, mas ela e a mãe viraram estranhas depois do que aconteceu com Hugo. Ronald tentava mediar a situação, mas doía nele também. Hermione, então, mexeu na própria bolsa até tirar um envelope dali, aproximando-se da filha para entregá-lo.

— Você parou de escutar também - disse ela, deixando a carta nas mãos da ruiva - Pode ir, Rosie.

Rose assentiu, dobrando o envelope para que coubesse no bolso interno de sua jaqueta. Acenou para a mãe, movendo-se para a saída da sala, mas mudou de ideia no meio do caminho.

— Te vejo no Natal, mãe - disse ela, abraçando Hermione com força antes de retomar seu destino anterior: as masmorras.

Rose sempre se imaginara uma pessoa direta, que não perdia tempo com enrolações e tinha o controle de suas atitudes. Por isso, mordeu a língua em frustração quando precisou de um minuto a mais do lado de fora do dormitório sonserino enquanto enxugava as mãos suadas na calça jeans e respirava fundo outra vez.

— Ei, Ross! - foi surpreendida pela voz de Albus, que a tirou de seus devaneios enquanto saía de seu dormitório.

— Al! Bom dia! - respondeu ela, utilizando uma entonação um pouco acima do que pretendia.

— Tá tudo bem? - perguntou ele, verdadeiramente preocupado.

— Sim, sim… Sabe se o Scorpius já acordou?

Albus lançou um olhar de compreensão seguido pelo sorriso malicioso mais descarado que Rose já vira, o que a fez rir. Colocando um braço nos ombros da garota, o sonserino começou a caminhar, guiando-a pelo corredor, enquanto respondia:

— Minha cara ruiva, acho tão divertido esse esconde-esconde entre você e o nosso loiro preferido. Confesso que fico deslumbrado com o fato de que vocês dois conseguem dissimular tão bem essa relação de amor e ódio quando, na verdade, são como duas metades de um mesmo coração, vazios e incompletos se não estiverem juntos.

— Já eu acho incrível como você consegue dizer tanta abobrinha antes mesmo do café da manhã, Albus Potter! - respondeu a garota, rindo enquanto dava uma cotovelada leve na costela do primo.

— E você fica muito rabugenta quando fica sem comer, eu hein! E, para a sua informação, Scorpius foi te procurar no Salão Comunal. Eu vou encontrar com o Ronan lá também, vamos logo antes que você me quebre as costelas!

Encontrar com Albus havia sido uma boa distração. O bom humor do primo a fez deixar de lado os sentimentos despertos com o encontro com a mãe naquela manhã e a ansiedade que havia tomado conta ao se aproximar das masmorras. Por isso, quando chegaram ao Salão Comunal, Rose estava bem - não extraordinária, não livre de todos os sentimentos anteriores, mas bem e isso já era um grande avanço.

O Salão Comunal estava vazio, pois boa parte dos alunos levantavam apenas para o almoço e o restante partia para Hogsmeade. Albus seguiu para a mesa da Lufa-Lufa, onde Ronan esperava com um prato repleto de cupcakes com os dizeres “Feliz um ano e onze meses!”, enquanto Rose apenas acenou para o amigo e seguiu até a ponta mais extrema da mesa da Grifinória, onde Scorpius estava sentado em frente a um pequeno pedaço de bolo de chocolate, encarando o prato com a cabeça apoiada nas mãos.

— Sempre achei que você combinava mais com os leões do que com as cobras, Scar - brincou a garota, chamando a atenção do loiro que, assim que a viu, lançou seu melhor sorriso. Ele vestia um casaco preto sobre um cardigã vinho, que parecia ter sido feito para ele.

— Quase não consigo disfarçar - respondeu ele, piscando e indicando o lugar à sua frente.

Rose sentou-se ao lado dele e respirou fundo, preparando as falas que vinham rondando seus pensamentos desde aquele beijo na cozinha dos Potter e despejando-as de uma vez só:

— Desculpe por ontem, Scar. Você me acompanhou no baile e eu simplesmente te deixei lá… Eu me assustei, ok? E 30 de outubro é um dia difícil para mim, você sabe. Feliz Halloween, aliás - disse ela, levando uma garfada de bolo até a boca antes de continuar - E nós tivemos sonhos parecidos, e tem esses sonhos que começaram a surgir do nada… E…

— Rose, tudo bem.

Scorpius esticou o braço por baixo da mesa, alcançando a mão da garota e despertando-a de seu discurso complexo e confuso.

— Mas…

— Tá tudo bem, Ross - cortou ele, olhando-a nos olhos, compreensivo - Eu entendo. E você está desculpada.

— E as coisas estão bem esquisitas ultimamente - continuou ela, apoiando o pescoço com uma das mãos - Eu e meu pai não falamos sobre coisas profundas como fazíamos antes, eu acabei de enfrentar mais um aniversário de Hugo e, bom, ainda tem a minha mãe e agora você…

— Rose, espera - pediu Scorpius, segurando os pulsos da ruiva quando ela começou a gesticular - Você quer falar sobre tudo isso?

— Eu acho que sim - respondeu depois de pensar por alguns segundos, lembrando-se de como foi bom conversar com as primas na noite anterior.

No instante seguinte, Scorpius já havia se levantado e a puxava pela mão, acenando para os amigos antes de sair do Salão Comunal. Rose percebeu que ele buscava por um lugar mais reservado e sorriu, agradecida, quando entraram na biblioteca. Por ser um domingo, o lugar estava quase vazio, a não ser por dois ou três alunos do sétimo ano que estudavam para os NIEM’s que seria dali a alguns meses.

Juntos, atravessaram alguns corredores antes de chegarem às estantes ao fundo da biblioteca. Scorpius sentou-se em cima de uma das mesas de madeira, observando a expressão preocupada de Rose ao encostar-se nas prateleiras logo a sua frente.

— Certo - disse a ruiva, pressionando os dedos das mãos enquanto pensava por onde começar - Eu não estava conversando com meus pais durante as férias. Quer dizer, mais ou menos.

— Por isso não parava em casa - comentou Malfoy, deixando-a continuar em seguida.

— Isso. E por isso não queria que vocês ficassem por lá.

Scorpius - e o restante dos amigos - já imaginavam que pudesse ser algo parecido, então não se incomodavam quando Rose passava dias em suas casas. Por um bom tempo, escutou Rose contar sobre como aquelas últimas férias haviam sido difíceis. Ela explicou o quanto a incomodava quando Ronald parecia pisar em ovos ao conversar com ela e como já estava acostumada com a frieza que descrevia sua relação com a mãe. Além disso, a proximidade da formatura obrigava Rose a pensar em uma profissão; ela sabia que correria riscos se trabalhasse na Câmara do Tempo e estava ciente disso mas, para Hermione, parecia impossível compreender o que levou sua filha a tomar uma decisão como aquela. Quando a Weasley lhe confidenciou que o melhor dia das férias havia sido aquele último, Scorpius disse a si mesmo que era por conta do beijo que trocaram na cozinha da casa de Albus - e talvez fosse, mas aquele beijo representava o surgimento de um novo problema para Rose.

— E também tem isso - disse Rose, alcançando o envelope guardado dentro da jaqueta e entregando-o para Scorpius - Ela escreveu uma carta. Não sei o que diz.

— Por que não tenta, sei lá - brincou Scorpius, observando o envelope -, talvez ler a carta?

— Não havia pensado nisso, muito obrigada - ironizou ela - Não sei se quero ler.

— Eu acho que você deveria - disse, dando de ombros e devolvendo a carta para a Weasley - Deve ser importante. E, se quiser, posso ler com você. Todos nós, na verdade.

— Não precisa. Eu posso fazer isso sozinha.

— Mas precisa?

— Tanto faz - retrucou Rose, assustando-se com a sensação de déjà-vu que aquele diálogo havia lhe causado - E também tem o quadribol. Precisamos correr com os treinos, o primeiro jogo dos torneios é semana que vem e… E eu não devia estar falando sobre isso com você.

— Não faz diferença, a Sonserina vai dar uma surra em vocês - provocou Scorpius, sabendo o quanto Rose era competitiva.

Rose decidiu, então, deixar aquilo de lado. Seus pais, sua escrita e sua profissão eram problemas dela. Sua relação com Scorpius era problema dos dois. Assim, aproximou-se dele devagar, ainda nervosa com os próprios pensamentos. Scorpius a observava, quieto, como se tivesse medo de se mover e assustá-la, até sentir as mãos frias de Rose contra seu rosto.

— E tem mais - ela disse, sussurrando, com os lábios a centímetros de distância dos dele - Eu vou fazer uma coisa agora e eu preciso que você não surte.

— Por que eu surtaria? - perguntou o loiro, sorrindo ao reconhecer a cena.

— Você vai ver.

Quando finalmente se beijaram, Rose sorriu ao sentir seu peito aquecer. Scorpius afastou os joelhos, puxando-a para mais perto; não pretendia deixá-la se afastar tão cedo. Em resposta, a Weasley abraçou-o, aproveitando a sensação gostosa de ter os braços fortes de Scorpius apertando sua cintura. Rose não tinha ideia do que estava fazendo, mas surpreendeu-se ao perceber que queria muito mais.

Diferente da primeira vez, aquele beijo era mais apressado; Scorpius a beijava com força, chegando a morder os lábios de Rose que, por sua vez, sorria com o formigamento que sentia em suas pernas sempre que ele a tocava por baixo da camiseta. Mal pôde evitar o suspiro baixo que escapou de sua garganta quando Malfoy se afastou apenas o suficiente para mordiscar a pele de seu pescoço, dedicando-se novamente aos lábios inchados de Rose ao recuperar o fôlego.

— Então? - perguntou Scorpius, ofegante, separando-se de Rose apenas para respirar - E agora?

— Eu posso me acostumar com isso - respondeu ela, sem desvencilhar-se do aperto em seu corpo - Mas a gente podia…

— O quê? - incentivou ele ao perceber a hesitação dela.

— Manter isso entre nós - explicou, com medo de que Scorpius discordasse - Sabe, só por enquanto. Talvez.

— Tudo bem.

Rose evitou olhá-lo nos olhos pois sabia que, muito provavelmente, ele estaria chateado com o pedido, apesar de ter concordado. Mas a ruiva surpreendeu-se quando o garoto levou a mão em seu queixo, levantando-o levemente, o suficiente para que ela visse um sorriso fraco brincando em seus lábios enquanto ele dizia:

— Mas tenho uma condição.

— Qual?

— Você precisa ler a carta da sua mãe.

— Mas, Scar…

Ele a cortou:

— É isso ou eu conto para o Pirraça que eu beijei a garota mais bonita de toda a Hogwarts e, até o final do dia, o Ministro da Magia vai estar sabendo - brincou, fazendo-a rir também.

— Eu não te suporto, Malfoy!

— Eu duvido muito disso - respondeu ele, beijando-a outra vez.

Com os livros, as janelas, as estantes e as mesas como testemunhas, Scorpius não pretendia deixar Rose Granger-Weasley se afastar por muito tempo.

De volta a seu dormitório, Rose segurava a carta de Hermione em suas mãos, reunindo toda a sua coragem para ler o que sua mãe havia lhe dito. Com as cortinas da cama de dossel fechadas, Rose acionou um feitiço de iluminação para que pudesse enxergar o papel, respirando fundo antes de começar a ler.

Durante a carta, Hermione disse algo que Rose não se lembrava de ter escutado: sua mãe lhe pediu desculpas. Pediu desculpas por se afastar de Rose sob o pretexto de que ela era “muito parecida com Hugo”; disse que se arrependia das coisas que havia dito no dia anterior, mas que ainda doía ver sua filha e todas as outras pessoas seguindo em frente enquanto ela mesma não conseguia. Sua mãe também lhe contou que Hugo havia lhe pedido que tivesse paciência com a caçula e, em seguida, se lamentou por ter falhado no que havia prometido ao filho.

Na metade do texto, Rose já estava chorando outra vez, mesmo sem compreender o porquê. Havia esperado por aquilo há muito tempo, mas não teve o impacto que imaginava que teria; talvez por estar lendo tudo aquilo, mas sabia que Hermione tinha algumas dificuldades de expressar o que sentia para Rose, especialmente por serem tão parecidas. Revirou os olhos quando leu os dizeres de sua mãe a respeito dos estudos e do quadribol, dizendo que Rose deveria repensar suas prioridades, sua profissão e tomar cuidado em como agia e o que dizia. Ao fim da carta, quase sorriu ao ver que, nas observações, Hermione prometia que faria as comidas preferidas dos filhos para o Natal.

De alguma forma, Rose ainda se sentia presa. Irritada, pensava em como era difícil viver sob às expectativas de seus pais; era quase impossível dar um passo sem que reclamassem de como agia e reagia, o que escolhia e pensava, mesmo que dissessem que jamais a obrigariam a fazer algo que não quisesse. Sentiu seus dedos formigarem com a lembrança de que até mesmo Hugo tinha planos diferentes dos dela, já que acreditava que a irmã seria uma jornalista e ponto final. Pensar em Scorpius foi incômodo, já que lembrou-se das palavras de Roxanne ao afirmar que “todos esperavam aquilo”.

Rose, então, escreveu sobre como era bom se livrar daquela torre, sentindo certa paz tomar conta de seus poros ao registrar a cena onde descia pela construção até que seus pés tocassem a grama. Ao finalizar, inclusive, torceu para que sonhasse com aquilo quando fosse dormir.

A próxima partida dos torneios de quadribol começaria em uma hora e Rose, apesar de ansiosa, estava feliz. Durante o mês inteiro, quase foi pega várias vezes se esgueirando pelos corredores do castelo na companhia de Scorpius. Em toda e qualquer oportunidade, via-se presa em um armário de vassouras, salas de aula ou alguma travessia secreta pressionando o próprio corpo contra o do Malfoy como se não houvesse amanhã.

Para manter as aparências, se falavam apenas quando necessário na presença de terceiros, até mesmo seus amigos. Aquele dia não foi diferente; enquanto Rose desfrutava de seu café da manhã junto com Roxanne na mesa da Grifinória, Scorpius, sentado à mesa de sua casa, conversava com Jade Fitz, uma das batedoras da Sonserina. Rose não se importou com aquilo nem por um segundo, evitando sorrir com a lembrança do que haviam feito naquela manhã, mas sua prima não parecia estar convencida.

— Certo, então você tem certeza que não se incomoda? - perguntou a apanhadora grifinória pelo que parecia a milésima vez - Mas vocês se beijaram no baile de Halloween!

— E é quase Natal, Roxanne - retrucou Rose, dando de ombros - Scorpius faz o que quiser.

Roxanne a importunou por mais alguns minutos, parecendo realmente incomodada com a situação. Estranhamente, Rose tinha a impressão de que Roxanne lhe escondia alguma coisa; a confirmação, porém, veio logo em seguida.

— Tudo bem, já chega - exclamou Roxanne, nervosa enquanto gesticulava - Isso não faz o mínimo sentido! Era para você estar sonhando com ele e…

— O que você disse? - perguntou Rose quando a prima ficou em silêncio, parecendo arrependida do que havia dito - Rox, o que quis dizer?

— Pode ser que, talvez, em uma realidade remota, eu tenha encantado seu livro de histórias com uma variação do Legilimência para você sonhar com o que você escrevia quando fosse sobre o Scorpius como pegadinha de sétimo ano - explicou Roxanne, em uma velocidade que quase impediu que a prima compreendesse o que dizia - E então? Te peguei?

Rose não sabia o que responder. Havia escrito coisas demais naquele caderno; era como sua própria mente. De repente, os sonhos esquisitos que teve nos últimos meses, as variações daquilo que escrevia, passaram a fazer mais sentido.

— Você ficou maluca? - explodiu Rose, levantando-se - Então é por isso que ele sonhou com quase as mesmas coisas que escrevi? Você enfeitiçou meu caderno, Roxanne? Eu escrevi coisas sobre mim e Hugo naquela merda!

— Espera, não era para ele estar sonhando também - disse Roxanne, colocando-se de pé - Era para você sonhar só quando você escrevesse sobre ele. E, bom…

— O quê?

— Se ele também sonhou, então você escreveu com sentimento e…

— E o quê, Roxanne?

— Os sonhos de vocês se conectaram - exclamou, torcendo para que a capitã da Grifinória não lhe arrancasse a cabeça.

Rose não queria escutar mais nada, nem por um segundo. Se antes quase sentia o gosto da liberdade, agora parecia tão aprisionada quanto temia. Estava ainda mais acuada, impelida a fazer o que os outros queriam. A mera possibilidade de estar com Scorpius por conta de um feitiço lhe dava vontade de gritar; como não podia, apenas se afastou, sendo seguida de perto pela prima.

— Espera, Ross - chamou Roxanne, segurando-a pelo braço - Eu posso tirar o feitiço. É como o Oclumência, só preciso-

— Não precisa, Roxanne - interrompeu Rose, livrando-se do aperto em sua pele - Você já fez o bastante.

Não seria realmente necessário que o feitiço fosse retirado. Com as mãos apertadas em punho ao caminhar, Rose tomou uma importante decisão: não precisava mais daquele livro. Não escreveria nele nunca mais. Quase sentiu um gosto amargo em sua boca quando seu próximo pensamento foi uma frase contrária a tudo que havia escrito aqui.

Não era vez nenhuma.

 


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Notas finais do capítulo

achei esse tenso, mas fica a critério de vocês. até a próxima, amores!! atualizamos logo, logo.

Beijos, Black ♥



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