Like a fairytale escrita por Black, Miss Serenity Blue


Capítulo 4
Chapter four - cinderella


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!!
Espero que estejam gostando! Boa leitura, pessoal.
Black ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/801891/chapter/4

Era uma vez uma camponesa.

Scorpius, mais uma vez, se encontrava em outra dimensão. Dessa vez, ele estava dentro de uma biblioteca gigantesca, mas tinha plena vista da entrada do lugar. Estava distraído com algumas obras quando uma garota entrou ali, em um vestido verde muito bonito. O tom escuro contrastava com sua pele; o vestido era simples, de uma camponesa, mas parecia muito melhor apenas por ser ela quem o vestia. O cabelo dela era ruivo, o mais bonito que ele já havia visto.

Todas as cenas do sonho, porém, estavam borradas e adquiriram certa nitidez apenas quando a garota se aproximou depois de cruzar as grandes portas de madeira. Ela atravessou o espaço com alguns livros em mãos e deixou-os no balcão, exceto por outro de capa escura, marrom, guardado em uma sacola de pano. Scorpius, no sonho, não a conhecia, mas soube seu nome no momento em que ela sorriu para ele.

Rose.

Desde o momento em que a viu, estava hipnotizado. Ela lhe cumprimentou, entregou os livros, pediu por outros. Ela caminhava pela livraria enquanto Scorpius subia as escadas para alcançar as obras que ela lhe pedia. A donzela de cabelos ruivos lhe pediu uma obra que não conseguia encontrar, então procuraram juntos até que a encontrassem. Na terceira prateleira da quarta estante do fundo da biblioteca, de cima para baixo, Scorpius finalmente encontrou A Divina Comédia de Dante Alighieri.

— Ah, que ótimo! - exclamou a garota, alcançando o livro quando o loiro lhe estendeu - Achei que não tivesse.

— Em um acervo desse tamanho? Impossível - brincou ele, observando-a. Com o livro em mãos, Rose se sentou em uma das tapeçarias. Já acomodada, ela o olhou com certa expectativa, o livro já aberto em seu colo.

— Quer ler comigo? - convidou ela.

Scorpius sorriu, aceitando o pedido ao sentar-se no chão ao seu lado. Durante algumas horas, Scorpius teve o prazer de manter-se próximo dela enquanto liam juntos os conselhos de Virgílio, que guiava Dante pelos círculos do Inferno. Chegaram ao décimo segundo canto antes de se distraírem com conversas amenas; os dois não se conheciam naquele tal universo, mas era fácil conversar com a garota dos livros. Algo nos olhos dela o intrigava. Scorpius sentiu algo que não conseguia nomear, mas confiava nesse sentimento. Confiava nela.

Entre essas conversas, Scorpius lhe contou sobre os livros que mais gostava e que sua mãe costumava presenteá-lo quando era apenas um infante. Ao questionar Rose, porém, a respeito de quem havia lhe incentivado à leitura, as feições da garota ficaram sérias de repente, e seus olhos adquiriram uma tonalidade mais escura, diferente do azul brilhante de horas antes.

— Eu não deveria estar aqui - disse ela.

— Por que diz isso?

— Já demorei muito. Ainda tenho obrigações.

— Talvez eu possa ajudar - respondeu Scorpius, ansioso por saber mais - Onde vive? Há algo a meu alcance?

— Não é necessário - respondeu ela - Posso cuidar disso sozinha.

— Mas é necessário que faça sozinha? - insistiu ele.

Ela não respondeu. Parecia estar refletindo sobre o que conversaram. Ao ouvir as badaladas do relógio de coluna retumbarem pelo salão, a expressão no rosto de Rose tornou-se triste, com certo pesar. Ela, então, se levantou, apressando-se para guardar o livro que lia há pouco.

— Eu não devia estar aqui - repetiu, afastando-se - Desculpe-me.

Conforme se afastava, a garota apressava-se até deixar a livraria, sendo seguida por Scorpius, que tinha certa pressa apesar de estar desnorteado com a mudança repentina. A biblioteca era localizada em uma vila próxima à uma floresta; quando Scorpius saiu pelas portas de madeira a fim de chamar por Rose mais uma vez, não conseguiu encontrá-la em lugar algum. Durante a correria, porém, a garota deixou para trás um de seus bens mais preciosos: em um dos degraus da escada, seu misterioso livro de capa escura foi deixado para trás.

Com o coração apertado, Scorpius a viu escapar por entre seus dedos, sumindo pela mata com tanta pressa que mal pôde segui-la. Encarou o livro caído na escada, torcendo para que fosse um sinal deixado por ela, e abaixou-se para pegá-lo, determinado a encontrá-la a qualquer custo. Porém, foi inútil em sua tentativa: assim que seus dedos tocaram a capa, Scorpius acordou.

Abriu os olhos, relutante, irritado com algumas coisas: estava cedo, era sábado, havia sonhado com Rose de novo, estava esquecendo os detalhes do sonho, Rose não estava no castelo, estava cedo e era sábado. Em vão, tentou dormir outra vez, mas os curtos flashes do sonho que acabara de ter não permitiam que pregasse os olhos por mais do que alguns segundos. Pensar em Rose era quase inevitável.

No dia anterior, ela havia saído de Hogwarts para passar o fim de semana com os pais, já que era aniversário de Hugo no sábado. Scorpius e seus amigos sabiam como Rose funcionava durante essa época: evitava tocar no assunto, quase não escrevia e se afundava mais ainda nos treinos de quadribol e nos estudos. Quando precisava ir para casa, não se despedia; o máximo que fazia era deixar um bilhete para Roxanne, Dominique e Alice Longbottom no dormitório que dividiam na Torre da Grifinória apenas para avisar que já havia saído. Enquanto estava em casa, não respondia nenhuma das cartas de seus amigos, que mesmo assim insistiam em mandá-las.

Scorpius não chegou a conversar com Rose sobre nada mais profundo do que o conteúdo de História da Magia e os treinos de quadribol, e tudo isso o incomodava profundamente. Inquieto em seu quarto, preso às lembranças de Rose, Scorpius não fazia ideia que ela passava pela mesma situação, longe dali.

Rose não sentiu o sono chegando depois de registrar o fim da história, mas dormiu profundamente logo em seguida, deitada no tapete do quarto de Hugo. Quando acordou, suas costas doíam e seus pensamentos não a deixavam em paz. Nas últimas vezes que sonhou com Scorpius, a cena era exatamente igual ao que ela escrevia em seu livro. Daquela vez, porém, era como se tivessem saído do roteiro.

Em seu livro, Rose escreveu que havia fugido para comparecer a um baile em um vestido azul. Na história, ela dançava por horas com Scorpius, o príncipe encantado que ela imaginava quando era criança, e deixava um sapato de cristal cair pelas escadas quando fugia. Não escreveu nada daquilo que sonhou; não registrou aquele cenário, aquelas falas e muito menos aquele final. Seus sonhos estavam ainda mais esquisitos do que antes; Rose não sabia o que pensar, mas tinha certeza que Hugo saberia o que dizer.

— Rose? - chamou Hermione, distante. Rose supôs que ela se aproximava pelo corredor, mas não respondeu. Estava congelada no lugar, olhando para a porta e esperando. Sua mãe finalmente a encontrou, mas não entrou no quarto - Ainda não está pronta?

— Me dê vinte minutos - respondeu Rose, apressando-se em direção ao próprio quarto - Já vou me arrumar.

— Hugo dedicaria mais de vinte minutos - sussurrou Hermione.

Talvez não estivesse ciente de que a filha a escutou antes de fechar a porta do próprio quarto. Aquelas palavras doeram e sua garganta se fechou, mas Rose ainda parecia incapaz de chorar. Estar em casa era difícil. Quando não discutia com a mãe sobre Hugo, era sobre as constantes comparações que Hermione fazia entre a filha e outras pessoas. Em diversas outras ocasiões, Hermione e Ronald se uniam para proibir Rose de seguir qualquer profissão onde corresse o perigo de encontrar o mesmo destino de Hugo; as discussões ficaram piores quando Rose externou seu desejo de ser uma Inominável da Câmara do Tempo.

Tão rápido quanto prometeu, Rose se aprontou: tomou banho, maquiou-se e vestiu-se com calças e uma jaqueta preta, assim como sua camiseta de mangas compridas. As botas em seus pés também eram escuras e a única peça colorida nela era o laço que usava prendendo algumas mechas de cabelo. A fita era de um tom verde claro, um dos preferidos de Hugo.

Antes de sair do quarto, Rose alcançou seu livro em cima da cama e o abraçou, respirando fundo. Encontrou seus pais na sala de sua casa, esperando por ela. Com um pequeno sorriso esboçado quase imperceptivelmente em seu rosto, Rose abraçou seu pai com força.

— Bom te ver, garota - ele disse, afagando seu cabelo.

No instante seguinte, os três já estavam de mãos dadas. Com Ronald no centro, o trio aparatou para um lugar que preferiam não conhecer tão bem e, feita a viagem, lutaram contra o incômodo no estômago ao respirarem o ar gélido do cemitério de Godric’s Hollow. Sem pressa alguma, caminharam pela grama até a lápide que já visitaram tantas outras vezes. Hermione deixou flores, Ronald apertou o distintivo do filho entre os dedos e Rose, como das outras vezes, arrancou uma página de seu livro contendo uma de suas histórias.

— O que diz? - perguntou Hermione ao ver a filha colocar um papel dobrado junto à lápide e selá-lo com um feitiço.

— Não importa - respondeu ela - Hugo ia gostar.

Rose viu sua mãe assentir, mesmo que seu rosto estivesse contorcido em uma careta. Quase sorriu ao repassar em sua mente a história curta que escreveu há muito tempo naquela página, sobre uma princesa presa em uma torre.

Voltaram para casa no instante seguinte. Ronald engolia seco, tentando ignorar algumas lágrimas, enquanto Hermione chorava ruidosamente, sentada no sofá com a cabeça apoiada em suas mãos. Rose apenas observava, segurando seu livro com tanta força que os nós de seus dedos ficaram brancos.

— Ainda não vai dizer nada? - perguntou Hermione - Por quanto tempo vai ficar em silêncio?

— Vou subir - avisou Rose, caminhando até às escadas; não passou de um degrau, porém, ao ouvir sua mãe levantar a voz para ela.

— Por que você não chora? - perguntou ela, levantando-se do sofá - Por que não diz nada?

— Não interessa o que eu tenho para dizer se Hugo não pode me escutar.

— Você escreve para ele todos os anos - apontou Hermione, lutando contra a voz embargada.

— São histórias que ele lia para mim.

— Como consegue aguentar esse dia sem uma expressão no seu rosto?

— Você viveu uma guerra. Deveria saber.

— Já chega, Rose - interrompeu Ronald, colocando-se ao lado da esposa - Pode ir para o seu quarto.

De braços cruzados, Rose assentiu e voltou-se para seu caminho, mas deveria ter suspeitado que Hermione não fosse deixá-la em paz tão facilmente. Então, não pode evitar a expressão furiosa em seu rosto ao ouvir o que sua mãe disse a seu pai.

— É como se ela nem sentisse alguma coisa.

— É isso que a senhora pensa? - explodiu Rose, retornando à sala de estar - Pensa que eu não me importo? Meu irmão está morto!

— Parece ter levado um tempo para perceber - respondeu Hermione, arrependendo-se instantaneamente de sua reação agressiva.

— Eu nunca disse nada porque Hugo me ensinou a não gastar minhas palavras com quem não vai escutar nenhuma delas - explicou Rose, quase gritando - Eu não chorei porque, no dia do velório dele, você me disse para não fazer uma cena.

— Não foi isso que eu quis dizer, Rose.

— Hugo era a minha vida - exclamou ela, sentindo algumas lágrimas se acumulando em seus olhos - Eu chorei por horas, sozinha, trancada no meu quarto depois daquele velório. Eu gritei até ficar sem voz, sozinha. Eu não escrevo sobre ele porque eu não consigo! Eu não preciso reagir do jeito que a senhora quer. Dói de qualquer jeito.

— Hugo faria diferente se estivesse em seu lugar!

— E, então, a morta seria eu - constatou Rose - Eu até entendo. O filho perfeito foi tirado de você e, então, a senhora ficou presa comigo. Sinto muito por isso.

Ao terminar, Rose se afastou para o escritório de Ronald, sendo seguida pelos passos apressados de seus pais. O homem a chamava sem parar, pedindo que se acalmasse, e Hermione ficou ainda mais inquieta ao ver Rose se aproximar da lareira.

— Espera, Rose - pediu ela - Fique em casa hoje. Você pode voltar amanhã.

Mas Rose não lhe deu ouvidos, entrando na lareira sob os protestos de seus pais. Segurando firme em seu livro com uma mão, alcançou um punhado de pó de flu com a outra, ansiosa para sair dali.

— Vejo vocês no Natal - disse ela, soltando a areia com força contra seus pés - Hogwarts!

No próximo segundo, Rose estava dentro da sala da diretora. Por sorte, estava vazia; Minerva deveria estar cuidando dos últimos detalhes do baile de Halloween que aconteceria mais tarde, até a virada para 31 de outubro, então a Weasley pôde sair dali sem ser descoberta tão cedo. Uma sensação esquisita tomou seu corpo: sentia um aperto no peito e sua garganta fechada a impedia de respirar com facilidade. Caminhando em direção à Torre da Grifinória, torceu para que não encontrasse ninguém no percurso ao sentir sua cabeça latejar. Nunca esteve tão contente por todos os seus amigos estarem em Hogsmeade.

Já estava confortável sob os cobertores de sua cama no dormitório quando soube que não podia segurar mais nada. Com as mãos tremendo e os olhos ardendo, Rose chorou.

Sentado em uma das mesas do Três Vassouras, Scorpius estava inquieto, com sono e mal podia descrever o quanto gostaria de voltar para o castelo e dormir mais um pouco, mas seus amigos acharam que seria bom que saíssem por um tempo, apesar de sentirem falta de Rose. Mesmo com as rodadas de cerveja amanteigada, não podiam evitar se preocuparem com a amiga.

— Eu odeio esse dia - reclamou Dominique - Queria ir com a Rose.

— Tia Hermione não ia gostar, você sabe - considerou Roxanne, suspirando - Espero que tenha sido menos ruim esse ano.

— Acho difícil - disse Albus - Meu pai disse que as coisas não foram muito bem nas férias.

— Por isso a Rose não saía lá de casa - disse Luke, que era vizinho da amiga - Lembra, Roxy?

— É verdade - confirmou Roxanne - Talvez seja por isso que o Scorpius aparecia lá o tempo inteiro também.

— Não, eu queria ver o Luke - corrigiu Scorpius, cruzando os braços e fazendo careta quando Ronan caçoou dele:

— Continua dizendo isso para si mesmo - disse ele - Talvez você acredite.

A discussão continuou até que finalmente decidissem voltar para o castelo; o grupo separou-se em divisões menores a caminho dos próprios dormitórios, combinando de encontrarem-se mais tarde para o jantar; enquanto Roxanne e Dominique seguiam para a ala da Grifinória, Ronan lhes fez companhia antes de seguir até o dormitório lufano. Acompanhado de Albus e Luke, Scorpius agradecia mentalmente por estar cada vez mais perto de poder tirar um cochilo. A caminhada até as masmorras, porém, foi interrompida quando Roxanne apareceu nas escadas acima deles, correndo degraus abaixo.

— A Rose já voltou - informou ela, ofegante - Parece que as coisas não foram nada bem.

Ela não precisou dizer mais nada; os quatro já corriam de volta para a Torre da Grifinória, preocupados com a amiga. Ao entrarem na sala comunal da casa dos leões, Ronan já os esperava e não havia sinal de Dominique. Roxanne permitiu que os garotos subissem as escadas que levavam aos dormitórios dos alunos setimanistas, guiando-os pelo corredor até que chegassem em seu quarto.

Scorpius sabia que algo estava errado desde o momento em que acordou, e teve sua confirmação ao ver os olhos azuis de Rose inchados e vermelhos. Ela estava sentada na cama, apoiando a cabeça em uma das mãos enquanto Dominique afagava seu ombro. Malfoy não se conteve ao caminhar até o outro lado antes que algum de seus amigos o fizesse, sentando-se ao lado dela e surpreendendo-se quando a ruiva deitou a cabeça em seu ombro.

— O Natal vai ser ótimo - ironizou ela, deixando escapar um riso tão amargo que seus amigos ficaram quase desconfortáveis. Eles sabiam bem que Rose não queria conversar sobre o que quer que tivesse acontecido, então dedicaram-se a contar sobre os últimos acontecimentos desde o dia anterior. Ronan disse que havia comprado penas novas para Rose mais cedo, quando esteve em Hogsmeade, e viu a prima dela, Lily Luna, sumindo pelas estantes com o irmão mais novo de Luke, Anthony Zabini. Dominique contou que havia aceitado o convite de Lysander e que sairiam juntas no fim de semana seguinte, enquanto Luke deixou escapar o quanto estava feliz pois, finalmente, levaria Roxanne a um baile. Rose, que já não chorava mais, se divertia com os comentários dos amigos.

— Eu quero ir esse ano - disse Rose de repente, afastando-se de Scorpius ao endireitar a coluna - Quero ir ao baile de Halloween.

Os gritos animados de Roxanne e Dominique foram ensurdecedores, especialmente para Rose, que foi abraçada pelas duas ao mesmo tempo, caindo com elas na cama. Empolgadas, as duas primeiras retomaram com a prima como havia sido os bailes anteriores, aproveitando alguns comentários do restante dos amigos. O tema daquele ano seria um baile de máscaras.

— Muito original - ironizou Albus, revirando os olhos.

— Ainda é uma festa - constatou Luke, dando de ombros.

Seus amigos já estavam indo embora para se aprontarem para o baile quando Rose se deu conta de outro problema. Ainda precisa acertar alguns detalhes se quisesse aparecer no baile daquele ano.

— Quem não tem par? - perguntou Rose - E não tenho um vestido aqui. Nem máscara.

— Você pode usar um dos meus - respondeu Dominique - E a Lysander tem outras máscaras. Vou ver ela agora e já volto.

— E, bom - continuou Roxanne - Não consigo me lembrar de alguém sem um par…

— Tem o Scorpius - disse Ronan, divertindo-se com os olhos arregalados do amigo em sua direção.

— É - confirmou ele, apoiado na cabeceira da cama ao lado de Rose - Não tenho.

Rose achou estranho, mas preferiu não comentar. Encarou Scorpius por alguns segundos para reunir coragem e surpreendeu até a si mesma com as palavras que saíram de sua boca.

— Vamos comigo?

— Esse vestido é lindo, Nick - disse Rose, encarando a própria imagem refletida no espelho enquanto tentava prender os laços da treliça na base de sua coluna - Não me lembro de ter visto antes.

— É porque não é meu - disse Dominique, calçando os sapatos - É da Lysander.

— Como é? - Rose virou-se, franzindo o cenho com a informação que acabara de escutar.

— Eu disse que você precisava de um vestido e ela emprestou - explicou a loira - Ela gosta de você, sabia? A máscara branca também é dela.

Rose assentiu, sem saber o que responder. Sabia que precisava agradecer, mas era Lysander quem deveria escutar aquilo. E, talvez, um pedido de desculpas também.

— O importante é o quão gostosas nós estamos - disse Roxanne, ajudando Rose com o laço do vestido - E é muito. Todas prontas?

As outras duas confirmaram, alcançando as máscaras antes de saírem do dormitório. Como as masmorras sonserinas e o porão da Lufa-Lufa eram próximos ao Salão Comunal, o grupo concordou que o melhor seria que se encontrassem em frente ao salão. Antes, porém, as três Weasley’s encontraram Lysander saindo da Torre da Corvinal para encontrar-se com Dominique. Rose sorriu ao ver a prima feliz e com as bochechas rosadas após receber um beijo em sua bochecha, mas não perdeu a oportunidade de caçoar das duas junto com Roxanne. Em certo momento, Domi e Roxy se afastaram enquanto conversavam; Rose julgou que aquela era a oportunidade perfeita para agradecer Lysander pelo vestido.

— Então, Scamander - começou ela - Obrigada. Pelo vestido e pela máscara.

— Sem problemas - respondeu a corvina, sorrindo para a colega - Que bom que gostou.

— Acho que te devo desculpas - continuou Rose - Não te tratei bem nos últimos tempos e você não merece isso. E estou feliz por você e Domi.

— Obrigada, Rose! - exclamou Lysander - Eu e Scorpius não teríamos dado certo, de qualquer forma. Ele é um ótimo amigo, na verdade.

— Ele é - concordou Rose, apesar de não entender o motivo de Lysander ter tocado naquele assunto. Como se pudesse ler seus pensamentos, a loira continuou - Além do mais, eu gosto da sua prima e o Scorpius só quer saber de uma pessoa.

— O que quer dizer?

— O vestido ficou mais bonito em você, se quer saber - disse a Scamander, mudando de assunto de repente ao se aproximarem do salão.

— Obrigada. Você também está muito bonita - disse Rose, observando o vestido de gala que Lysander usava - Verde é a minha-

— Cor preferida, eu sei - interrompeu Lysander, piscando para Rose ao segurar o riso - Scorpius me disse.

Rose não teve tempo de respondê-la; na entrada do Salão Principal, Scorpius a esperava junto com o restante de seus amigos. Ele estava sério, mas seus olhos a olhavam com um sentimento que ela não soube identificar, mesmo que suspeitasse que seus olhos mostrassem o mesmo. Prendeu a máscara branca com facilidade em seu rosto, aproximando-se de Scorpius sob o som das conversas animadas de seus amigos. Ele sorriu ao colocar a própria máscara, preta como o terno que ele usava; em tom de brincadeira, Malfoy curvou-se em uma reverência exagerada e esperou que Rose aceitasse o convite para dançar.

Já dentro do salão, Rose aproveitou um de seus últimos bailes em Hogwarts. Logo estaria formada e gostaria de guardar consigo mais momentos como aquele. Queria se lembrar da cerveja amanteigada daquela festa e de como dançou a noite inteira com seus amigos. Queria sonhar com aquelas memórias, com o momento em que a música agitada foi substituída pela lentidão de uma melodia clássica e ela e Scorpius dançaram abraçados. Nenhum dos dois usava máscaras; assim como havia acontecido com os colegas, o calor do ambiente tornou impossível que mantivessem a peça presa ao rosto.

— Você está linda, Ross - ele disse, aproveitando a sensação do rosto de Rose apoiado em seus ombros. Pôde, inclusive, sentí-la sorrir; pelo menos gostava de pensar que ela estava sorrindo.

— Roxanne disse que essa cor destaca meus olhos - brincou Rose, levantando o rosto e piscando para ele.

— Ela está certa.

— Por que não tinha um par? - perguntou ela depois de um tempo em silêncio, curiosa com a situação - Acho difícil acreditar que ninguém aceitou.

— Eu não chamei ninguém - explicou ele - E só viria por insistência do Albus e da Roxy. Você sabe como eles são.

— Por que aceitou vir comigo?

— Você merece um baile de Halloween, Rose - disse Scorpius, dando de ombros - Por que voltou ontem?

— As coisas ficaram complicadas - respondeu Rose. De repente, se viu despejando para o amigo boa parte do que havia escutado de sua mãe no dia anterior.

— Sinto muito, Ross - ele disse quando ela terminou - Mas fico feliz que esteja aqui.

— É, eu também.

As melodias que ecoavam pelo salão ainda eram lentas quando a atmosfera ao redor deles parecia ter mudado. Rose, sem reconhecer seus próprios atos, aproximou-se ainda mais de Scorpius tão devagar que ele pensou que pudesse ser um engano. Talvez fosse a música, as luzes ou a sensação quase nostálgica que a ocasião lhe causava, mas Rose foi incapaz de resistir. Naquele momento, tudo o que queria era beijar Scorpius outra vez e, para a felicidade dele, ela o fez.

Depois de dois meses, Scorpius finalmente sentiu os lábios rosados da Weasley contra os seus novamente. Ao sentir os braços do loiro ao redor de sua cintura, Rose deixou que suas mãos tocassem o rosto dele, como se fosse possível que se aproximassem ainda mais. O beijo foi lento, calmo, e eles se separaram quando foi preciso respirar outra vez. Ao se afastarem, Rose ainda tinha seus olhos fechados.

— Eu sonhei com alguma coisa parecida uma vez - disse Scorpius, tirando-a daquele torpor - A gente estava em um castelo e você usava um vestido azul também. Eu disse que você estava bonita e nós dançamos.

Rose não teve tempo de absorver o fato de que Scorpius havia sonhado com ela; o conteúdo do sonho a perturbou muito mais. Teve, então, consciência de que não estavam sozinhos ali e sentiu-se sufocada. Tentando entender o que havia acontecido, afastou-se de Scorpius, sendo também tomada pela culpa de ter praticamente fugido de casa.

— Eu não devia estar aqui - ela disse, desvencilhando-se do aperto do Malfoy - Me desculpa.

Antes que Scorpius pudesse impedir, Rose já estava longe.

Sentindo-se presa, a ruiva deixou o baile para trás a fim de lidar com seus pensamentos da única forma que sabia: escrevendo. Tinha sua pena, seu livro e sua agonia. Primeiro, escreveu uma carta em uma folha de pergaminho, dobrando-a com pressa para que coubesse em um envelope. Não a enviou imediatamente; sabia que precisava pensar melhor. Em seguida, dedicou-se à próxima história. Não entendia o que havia acontecido e tentou encontrar no papel as respostas para todas as perguntas que atormentavam sua mente. Como Scorpius teve um sonho tão parecido com o dela? Por que havia beijado Malfoy na frente de todos? Por que não conseguia se livrar do que todos esperavam dela - e, mais ainda, do que cobrava de si mesma? Escrever tudo aquilo era tão difícil que nem ao menos havia saído da primeira frase.

Era uma vez uma garota presa no alto de uma torre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quem amou quem odiou???????
Gostaram da dose de Scorose??? Prometo que tem mais, gente, juro!!
Beijos, Black ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Like a fairytale" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.