Primeiro amor escrita por Bruninhazinha


Capítulo 4
Primeiro encontro


Notas iniciais do capítulo

Gente, quase quatro da manhã e eu aqui, escrevendo, bem surtada. Achei que esse capítulo nunca fosse sair kkkkkkkkkkkkkk mas deu certo. Espero que gostem!



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O resto da semana passou como um borrão para Mutano. A princípio, sentiu-se animado com a ideia de sair com Ravena, mas as coisas descontrolaram um pouquinho à medida que o tempo avançava. De repente, não havia euforia, coragem ou confiança; só ansiedade e pensamentos negativos. 

No dia do encontro, em uma sexta-feira ensolarada, os nervos estavam à flor da pele, as mãos pingavam suor e a cabeça doía como o inferno. 

Dada as circunstâncias já ruins, não esperava que as coisas pudessem piorar.

Infelizmente, piorou. 

E como piorou. 

— Cara, faz duas horas que você está aí dentro. — Ciborgue bateu na porta. — Eu preciso escovar os dentes. 

— Porque não faz isso no toalete da sala? 

— Esqueci minha escova em cima dessa pia. 

Ô, droga! 

— E eu preciso tomar banho. — escutou a voz de Robin, abafada pelas paredes. — De todos os banheiros, Garfield, você tinha que escolher justamente o único em que o chuveiro está funcionando?  

— Não venha colocar a culpa em mim! — Mutano ralhou, dando descarga pela quinta vez no dia. Estava com dor de barriga desde cedo. — Já avisei umas cinquenta vezes para chamar a droga do encanador! 

— Saia logo! 

— Puta que pariu! — abriu a porta, muito aborrecido, levantando os braços. — Nem no trono consigo ter paz! 

Do lado de fora, escorado na parede do corredor, Ciborgue divertia-se às custas do amigo. Já Robin não parecia contente. Ao menos, o cabelo desgrenhado, as roupas civis e a falta da máscara serviram para deixar a expressão dele um pouco mais agradável.

— Está tudo bem? — o líder arqueou uma sobrancelha escura, reparando como o rosto de Logan parecia cansado. —  Faz uma semana que você está passando mal, Garfield. Isso não é normal. 

— Estou bem. — Robin não pareceu muito convicto da resposta. — É sério, Dick. Francamente, isso aqui virou um interrogatório? 

— Só estamos preocupados, abacate. — Cib replicou, recebendo um olhar azedo do amigo, que estava se esforçando muito para ignorar o apelido. — Você vem agindo de forma suspeita.

— Como assim?

— Todo irritadinho, com cara de bocó, perdido em pensamentos. — pontuou, os olhos faiscando em curiosidade. — Achou mesmo que não íamos perceber? Anda, desembucha. O que tá rolando? 

— A resposta continua sendo a mesma. Nada aconteceu. Fim. 

As palavras até teriam soado convincentes se ele não tivesse desviado os olhos ou esfregado a palma das mãos na calça jeans, sem perceber. Os movimentos foram discretos, quase imperceptíveis, mas Grayson notou. Nem tinha como não notar. Ele foi escolhido para liderar a equipe por vários motivos - a inteligência, a personalidade centrada. Acima de tudo, o talento nato para reconhecer mentiras. Não que fosse um superpoder ou coisa parecida, mas era útil em muitas situações. 

De qualquer forma, não precisava ser muito esperto para notar que Garfield era um péssimo mentiroso. Bastava olhar com atenção. 

— Tem certeza? — o moreno insistiu, cético, cruzando os braços. — Não há nada que queria nos contar?

— E por que eu esconderia algo? 

— Por muitos motivos. Até mesmo as pessoas confiáveis possuem segredos obscuros. 

Ótimo, Mutano pensou. Era só o que faltava. Agora seria refém de joguinhos psicológicos. 

Suspirou pesadamente. Odiava ter que esconder a verdade dos amigos, contudo, nem ele nem Rae estavam prontos para contar sobre o que tinham. Ele não queria conversar sobre o encontro ou sentimentos.

Não ainda.

Por isso não sentiu remorso ao mentir novamente, na cara dura. 

— Eu comi algo que não me caiu bem, só isso. Não precisa ficar paranoico. 

Robin ciciou pesadamente, dando-se por vencido. Se Mutano estava tão desconfortável assim em se abrir, não seria ele a insistir no assunto. 

— Certo. — pausou, contemplando o amigo suspirar em alívio. — Se quiser, podemos chamar um médico para te examinar. 

— Não precisa. — coçou a nuca, sem jeito. — Logo devo melhorar.

— No armário da cozinha tem alguns medicamentos, você devia dar uma olhada. Talvez ajude.  

— Valeu. Eu vou lá buscar.

Enquanto Mutano se afastava com passos largos e sumia na escada, Ciborgue e Richard trocaram olhares cheios de significado. 

— O que você acha? — o rapaz-robô questionou, quebrando o silêncio compartilhado. 

— Francamente, — coçou o queixo, pensativo. — não deve ser nada sério. Mas ele está escondendo algo, disso eu sei.

— E o que vamos fazer?

— Nada, por enquanto. Vamos só esperar. — deu dois tapinhas amigáveis no ombro do outro. — Em algum momento ele vai nos contar. 

 Quando se viu livre da dupla, Mutano finalmente pôde respirar, pensando que, realmente, não tinha um segundo de paz naquela casa. Já estava tão preocupado com o encontro, e agora tinha que lidar Robin dando uma de mexeriqueiro - não que isso fosse novidade. No fundo, sempre soube que era questão de tempo para ser alvejado com perguntas. Suspirou pesadamente, tentando não pensar muito no assunto. Eram muitas coisas para sua pobre cabeça lidar. Foi por isso que optou por descer as escadas ao invés de pegar o elevador; seria bom tomar um ar e colocar a mente em ordem, só para variar. 

Não demorou para alcançar a cozinha. O cômodo era amplo e arejado, cheio de balcões, eletrodomésticos de última geração e janelas imensas com vista para o mar. A luz do sol mantinha o cômodo parcialmente iluminado e, mesmo que estivesse muitos andares acima, conseguia escutar o barulho das ondas batendo nos pedregulhos da praia. 

Garfield estava tão perdido em pensamentos que por pouco não reparou na presença silenciosa. 

— Oi. 

— Oi. 

Ravena estava escorada no balcão, segurando uma maçã suculenta, enquanto um livro levitava na altura de seu rosto. As páginas viravam sozinhas, comandadas pelos poderes demoníacos. Imersa na leitura, ela abocanhou a fruta com vontade, não antes de lançar um olhar desconfiado na direção do rapaz, que vasculhava os armários desajeitadamente.

— Está tudo bem? — decidiu quebrar o silêncio estranho. Garfield a encarou por cima do ombro, com uma expressão emburrada.  

— Por que todo mundo resolveu me perguntar isso hoje? 

— Simples. Você está com cara de quem vai desmaiar. Ou surtar. Ou as duas coisas.

— Acordei passando mal. — respondeu simploriamente, resolvendo não revelar os detalhes sórdidos. Sentia-se patético, afinal, era só um encontro, não devia estar tão desesperado. Acontece que esse tipo de sensação não se controla com facilidade. Felizmente, Ravena sabia respeitar o espaço alheio, então não fez qualquer pergunta, apenas o observou voltar a remexer nas bugigangas. — Onde Robin escondeu a porcaria dos remédios? Não estou encontrando.  

Ela meneou a cabeça em reprovação. 

— Esqueça os remédios. Por que não se senta um pouco? Vou preparar algo para você, vai se sentir melhor.

Ele não pareceu muito convicto disso, contudo, deu de ombros e sentou-se à mesa de um jeito desajeitado, observando a empata descansar o livro e a maçã no balcão para zanzar pela cozinha. 

Em poucos minutos, estavam sentados frente a frente. Ela lhe estendeu uma xícara fumegante. 

— O que é isso?

— Apenas tome. Vai ajudar. 

— Como pode saber? — arqueou uma sobrancelha verde, aceitando a xícara mesmo assim, bebericando do líquido quente. — Isso é... camomila?

Ela deu de ombros, levando a própria xícara até a boca, desviando o olhar.

— Sim. Infusão de camomila com algumas das ervas mágicas do meu estoque. Ajudam a controlar a ansiedade, nervosismo e afins. 

Ele piscou sequencialmente, meio abobalhado. 

— Como...? 

— Você está bem lerdo hoje. — mordiscou o lábio inferior, segurando o sorriso ao vê-lo franzir as sobrancelhas, desgostoso com a provocação. — Sou empata, Garfield. Sinto suas emoções, mesmo que eu não queria, e elas estão descontroladasVocê parece a beira de um colapso.

Certo, ele pensou. Foi uma pergunta estúpida. De fato, ela tinha o direito de debochar dele.  

Desviou os olhos oliva, apertando a xícara com as mãos. 

— Já você parece muito tranquila. — não conseguiu conter a nota acusatória na voz. — Está mesmo lembrando que temos um encontro hoje? 

Ravena apertou os lábios. Como poderia esquecer? Passou a semana inteira trancada no quarto meditando para manter a paz de espírito - acredite: foi bem mais difícil do que imaginou. No fim das contas, meditar foi inútil, já que nos momentos críticos acabou explodindo a janela do quarto, o lustre da sala e um vaso caríssimo que enfeitava a entrada da Torre. Robin e os outros só não reclamaram porque sabiam como os poderes de Ravena eram instáveis. O que não sabiam é que ela passou noites em claro e até chegou a chorar no banho, sentindo-se estúpida por não ter a mínima ideia de como agir em um encontro. 

Ao menos, não estava sendo patética e emotiva sozinha. 

— Está assim por causa do encontro? 

Ele deu de ombros, fazendo-se de desentendido. 

— Nunca disse isso. 

— Nem precisa. Sua cara de idiota já te denunciou.

Ele ficou em silêncio por um segundo, perguntando-se de que adiantaria esconder dela. 

Quando deu por si, as palavras escaparam, baixinhas, quase que em um sussurro. 

— Só estou nervoso. — confidenciou.

Ravena o fitou longamente, apoiando o queixo na mão e o cotovelo na mesa, surpresa com a revelação, afinal, ao contrário dela, Garfield era um homem experiente. Já tinha saído com incontáveis mulheres.

— Por quê? Você já foi a tantos encontros... 

— Sei disso. Mas agora é diferente. — ela franziu as sobrancelhas, sem entender. Ele, por outro lado, agradeceu por ser completamente verde, assim Ravena não veria como suas bochechas estavam quentes por falar algo assim, tão íntimo, em voz alta.

— E o que é diferente?

— Nós. — encarou a xícara fumegante, só para evitar os olhos dela. — As mulheres com quem saí... bom, foram lances casuais. Não duravam uma semana...

Ravena sabia disso e, sinceramente, não o julgava. As pessoas lidam com a dor de diversas formas. Depois do que ocorreu com Terra, viver casos de uma noite e namoros relâmpagos foi a forma que Mutano encontrou de superar tudo. 

— Nunca sai com alguém que realmente gosto. Você é a primeira. A primeira que me faz sentir essas coisas, por isso estou tão nervoso, com medo de estragar tudo. Eu só quero que seja perfeito.

A sombra de compreensão se passou pelo rosto dela.

Com o coração batendo forte, Ravena esticou a mão desocupada para agarrar a dele. Os dedos entrelaçaram. Ela deixou um suspiro escapar.  

Só de saber como ele se importava, como estava levando tudo isso a sério...

Não pôde conter o sorriso.

— Gar, não precisa ficar tão preocupado. Vai ser perfeito. — a voz rouca saiu gentil e suave. Ele apertou os lábios, encarando os dedos pálidos entrelaçados aos seus. 

— Como pode ter tanta certeza?

— Porque você vai estar comigo.

Ele piscou sequencialmente, atordoado com as palavras. Ravena dificilmente se abria, mas lá estava ela, sorridente, brilhando como uma manhã de verão. Ele sorriu de volta, sem saber o que dizer. Ficaram em silêncio, tomando chá, sorrindo bobamente para o outro.

Mais tarde nesse mesmo dia, às oito horas da noite, saíram em turnos diferentes para não levantar suspeitas. Garfield a levou em um restaurante pequeno na cidade, onde ninguém os reconheceria. Andaram de mãos dadas no calçadão da praia, comeram doces, riram de qualquer besteira e admiraram a vista das estrelas. Quando voltaram a Torre, todos dormiam. Ele se despediu com um beijo longo, na porta do quarto dela. 

Tudo muito simples e, ainda sim, perfeito. Mutano finalmente entendeu o que Ravena quis dizer.

Foi perfeito porque estavam juntos.

Não precisavam de mais do que isso. 


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