Wicked Love. escrita por Beatriz


Capítulo 8
Capítulo 8: Kaori.




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Mais uma semana se passou desde o encontro que Kaori teve com Kaname, no qual ele lhe contou toda a verdade sobre o que havia acontecido com ela no dia em que ela deveria ter morrido. Sentada em sua cama, pronta para começar mais um dia na academia, Kaori pensou sobre isso e sobre a tal ligação sanguínea que eles compartilhavam. Será que isso já existiu em algum momento da história? Um humano ligado dessa forma a um vampiro. A lembrança sobressaltou Kaori. Houve uma vez, entre uma caçadora e um vampiro. Hoje os dois estavam casados, com uma família provavelmente. Elizabeth e Karlheinz Sakamaki. Ela era caçadora e, por algum motivo, se apaixonou por um vampiro e engravidou dele, tendo sido transformada em vampira antes mesmo de engravidar dele. Kaori estremeceu ao pensar que esse poderia ser o destino dela.

Enquanto ela se debruçava em sua janela, observando os outros caçadores andando para lá e para cá na frente do dormitório, Kaori pensou em conversar com Elizabeth, explicar a situação em que se encontrava e quem sabe pedir algum conselho. Afinal, se havia uma pessoa que poderia entendê-la, essa pessoa era Elizabeth Sakamaki. Mas assim como a ideia surgiu também sumiu de sua mente. Kaori tremia só de imaginar que esse segredo pudesse chegar aos ouvidos de outras pessoas. Elizabeth era uma vampira agora, apesar de ainda trabalhar sob o título de caçadora, então o que a impediria de achar essa situação toda um absurdo? Se ela achasse que a ligação entre Kaori e Kaname era prejudicial, tinha influência suficiente para acabar com Kaori se assim desejasse, afinal ela era a esposa do rei.

Kaori deixou os pensamentos de lado e fez sua higiene matinal, colocando uma roupa comum: calça jeans, suéter e tênis. Hoje não haveria aula ou trabalho para ela, pois, com o evento de dia dos namorados, os alunos estariam ocupados enfeitando a escola. No refeitório, ela tomou um café da manhã rápido, se perguntando onde Zero poderia estar, pois os dois não se falavam direito desde o quase sexo que tiveram dentro de uma das salas abandonadas da escola.

Enquanto tomava o café, pensou em Kaname e no fato de que não estava mais sentindo qualquer coisa vinda dele. Pelo modo como ele a tratou em seu escritório dias atrás, parecia sedento por sangue, mas ela não sentiu nada parecido com isso. O que a perturbou contra sua vontade, pois, em seu íntimo, ela sentia falta da presença dele. O que era ridículo, é claro. Enquanto se levantava, ela deixou o pensamento de lado e saiu do refeitório.

Do lado de fora, foi cumprimentada pela chefe de turma da sua sala que pediu para Kaori ajudar na decoração, colocando uma faixa bonita, porém cafona, na entrada do salão onde aconteceria o evento. Sem ter uma boa desculpa para dizer não, Kaori pegou a faixa e foi atrás da escada para subir até o lugar desejado. Uma vez lá em cima, ela brigava com quem quer que passasse pela escada de alguma forma imprudente que poderia fazê-la cair.

Enquanto dava um jeito de prender a faixa no lugar certo, ela pensou em Kaito e no fato de que sua chegada à academia havia atrasado uma semana desde o dia em que trocou mensagens com Zero. Segundo Kaien, o atraso foi justificado pela ocorrência de problemas com renegados na academia de caçadores do Canadá e ele só conseguiria, provavelmente, voltar hoje, no dia do evento dos namorados. Ainda bem, pensou Kaori, pois Yori estava soltando fogo pelas ventas com o atraso dele e iria ter ataque se tivesse que passar esse evento sozinha.

Quando Kaito chegou, a academia estava mais movimentada que nunca. Kaori nunca tinha visto a escola assim, cheia de corações e enfeites fofos para onde quer que olhasse, fitas e balões vermelhos e rosas. Todos, principalmente as meninas, estavam com os nervos à flor da pele, querendo que tudo fosse perfeito. A única que talvez estivesse mais calma era Kaori. Ela estava bem concentrada na tal faixa, estava se equilibrando na escada na ponta dos pés, quando alguém balançou a escada de propósito, fazendo-a se desequilibrar e cair.

Braços fortes a ampararam antes que ela batesse no chão. Atordoada, Kaori levou um tempo para entender quem estava ali com ela. Os olhos verdes de Kaito a observavam, divertidos. Ela abriu a boca, surpresa, mas logo deu um soco no peito dele, o xingando. Rindo, ele a deixou no chão.

— Qual é o seu problema?! — ela perguntou, franzindo as sobrancelhas. — Eu podia ter me machucado.

— Também estava com saudades, Kaori — ele disse, divertido.

Antes que ela pudesse falar mais alguma coisa, ele a abraçou com força. A raiva de Kaori diminuiu até desaparecer e ela retribuiu o abraço, percebendo agora que realmente sentira saudades dele. Kaori conheceu Kaito e Yori logo que entrou na academia com Zero e logo os quatro se tornaram muito próximos, cada um completando o que faltava no outro. Kaori e Zero sempre foram muito introvertidos ao passo que Kaito e Yori se ocupavam de não deixar os dois sem qualquer tipo de vida social. Desde então, os quatro ficaram inseparáveis até Kaito escolher trabalhar viajando e não ter mais tempo para passar com eles.

Apesar de ter passado um mês fora, Kaito nãp tinha mudado quase nada. Ainda tinha os mesmos cabelos cor de areia que caíam por seu rosto quase escondendo-o, os mesmos olhos verdes e a mesma expressão de menino arteiro. A única coisa que talvez tivesse mudado um pouco era o tom de sua pele, ele estava mais bronzeado, mas não menos bonito. Yori era uma menina de sorte. De acordo com o ranking de meninos mais bonitos feito pelas meninas da escola, Kaito estava ocupando o primeiro lugar, sendo seguido por Zero que só estava em segundo, pois as meninas o consideravam muito grosso com elas. Nada que Kaori já não estivesse acostumada a lidar.

— Finalmente você voltou para casa — Kaori disse, finalizando o abraço e olhando para o rosto do amigo. — Se você demorasse mais um pouco nessa viagem, Yori iria buscá-lo a peso de tapas.

— Posso te contar um segredo? — Kaito se aproximou dela, diminuindo o tom de voz.

Kaori deu uma olhada na faixa que havia coloca e, estando satisfeita com o resultado, fechou a escada e olhou para o amigo.

— Não — ela disse, pedindo para ele pegar a outra ponta da escada e ajudá-la a guardar o objeto. — Sempre que você me conta um “segredo”, você me mete em alguma encrenca.

Mas ele contou mesmo assim e Kaori não pôde fazer nada a não ser ouvi-lo.

— Estou evitando falar com Yori — ele disse, se certificando de que ninguém escutava.

— E você veio falar comigo primeiro para eu servir de cúmplice caso ela pergunte por que você não foi falar com ela logo e você poder responder “a Kaori me prendeu aqui” com a maior cara de pau — ela concluiu.

— Bingo! — ele disse, rindo. — Como sempre, você é muito esperta.

— Por que diabos você está a evitando? — Kaori perguntou, sentindo um pouco de irritação.

Yori realmente estava preocupada com ele e agora ele chegava sem avisar e não havia nem mesmo ido procurá-la. Que tipo de homem ele era, afinal? Yori deveria ter deixado milhões de mensagens e ligações no celular dele que, com certeza, não foram respondidas e nem atendidas.

— Estou com um pouco de medo da reação dela — ele admitiu. — Em todos os recados que deixou para mim, ela parecia prestes a me matar.

— E com razão. Você sumiu, só ficou falando com Zero… Ela ficou bem chateada.

Kaito abriu a boca para responder, porém foi interrompido por uma Yori parecendo puta da vida. Ela nem mesmo o cumprimentou, apenas parou na frente dele e começou a falar tudo o que deveria estar entalado durante todo o mês em que ele passou fora. Mais que depressa, Kaori saiu sorrateiramente do local antes que a discussão acabasse envolvendo ela também. Ultimamente, Kaori não estava lidando nem mesmo com os próprios problemas que dirá com os dos outros.

Ela deixou o casal se resolvendo sozinho e voltou até a chefe de turma, que estava parada em pé no jardim (ou tentativa de jardim) da escola, onde outros alunos estavam arrumando uma mesa, na qual provavelmente ficaria comida. Então, a festa vai acontecer do lado de fora também, pensou Kaori. Ela disse à menina que já havia terminado seu trabalho e perguntou se ela precisava de mais alguma coisa. A chefe de turma perguntou gentilmente se ela poderia ir até a cidade comprar flores.

— Claro — Kaori respondeu, feliz em poder continuar ajudando.

A outra menina entregou o dinheiro a ela e Kaori se dirigiu para o portão de saída da escola. Iria sozinha pela floresta, mas não tinha medo algum, pois havia crescido entre aquelas árvores e conhecia cada canto, cada esconderijo, cada curva que existia ali. Assim que estava saindo, ela acabou esbarrando em Zero. Ele estava do lado de fora da escola, fazendo algo que Kaori não soube dizer o que era, mas provavelmente estava ajudando na segurança. Muitos alunos caçadores estavam patrulhando ainda que não fosse obrigatório, pois não dava para adivinhar quando um renegado poderia tentar atacar a academia.

— Aonde você vai? — Zero quis saber, observando Kaori em sua calça jeans justa e suéter cor creme.

— À cidade — ela respondeu, juntando as mãos nas costas. — Me acompanha?

Com um olhar inocente e um sorriso nos lábios, Kaori fitou Zero, esperando que ele dissesse sim. Ele hesitou um pouco antes de responder, pensando se seria uma boa idéia sair assim do seu posto, sem avisar ninguém, mas no fim ele acabou cedendo. Com a espada embainhada em sua cintura, ele seguiu andando ao lado de Kaori. A menina explicou que a chefe de turma havia pedido a ela para comprar flores para a festa e era por isso que ela estava saindo. Zero não falou nada, apenas balançou a cabeça, demonstrando que havia entendido.

Ele nunca fora de falar muito e isso não incomodava Kaori. Pelo contrário, o silêncio de Zero sempre a deixou muito confortável, pois ela também não era tão fã assim de interaçãoos dois eram muito parecidos e talvez por isso fossem um dos poucos casais da Academia de Caçadores que conseguia se dar bem um com o outro, sem qualquer drama, chororô ou coisas do tipo.

Em silêncio, eles continuaram caminhando lado a lado. Não haviam falado sobre o que acontecera na sala desativada da escola dias atrás e Kaori não sabia bem como abordar o assunto, pois era sempre ela quem fazia isso quando algo “tenso” se colocava entre eles. Zero guardava tudo para si, mas Kaori gostava de conversar sobre essas situações. Porém, especificamente dessa vez, era difícil para ela tanto quanto era para ele.

Em algum momento da caminhada, ela decidiu que não traria o assunto a tona, não queria deixar as coisas piores do que já estavam. Tudo se resolveria sem a sua interferência, ela esperava. Olhando para baixo, Kaori observou a mão de Zero balançando sutilmente ao lado de seu corpo. Ela olhou para o rosto dele, estava sério, prestando atenção no caminho, e depois olhou para a mão de novo.  O que ela faria a seguir surpreenderia os dois por ser algo novo, mas também os faria feliz pelo mesmo motivo.

Kaori deslizou sua mão pela mão de Zero, entrelaçando seus dedos. Ela nunca havia feito isso com ele, andar na rua como um casal, de mãos dadas, então quando ele olhou para, surpreso com o gesto, ela não devolveu o olhar, apenas continuou segurando sua mão, sentindo as bochechas esquentarem.

— O que você está fazendo? — ele perguntou, realmente curioso.

— Ah... — ela abaixou os olhos, tentando não demonstrar sua timidez. — Você disse naquele dia sobre estarmos noivos e não nos tocarmos e... — ela corou violentamente, lembrando todas as outras coisas que Zero havia dito naquele sofá. — Bom... Ah, sei lá, se você não gostou, desculpa.

Ela tentou soltar a mão dele, mas Zero segurou a dela com força, mantendo seus dedos entrelaçados aos de Kaori. Ela ergueu o rosto para ele e seus olhares se encontraram.

— Eu não disse que não gostei — ele disse.

Ela sorriu e eles continuam o caminho em silêncio pela floresta.  Quando chegaram à cidade, o tênis e a barra da calça de Kaori estavam úmidos por causa da friagem, mas ela nem se importava. Como uma criança, ela apontava para os presentes de dia dos namorados nas vitrines das lojas, para os enfeites, para qualquer coisa supérflua que ela achasse em seu caminho. A Academia dos Caçadores era bem dentro da floresta, longe o suficiente da cidade para que eles colocarem os pés lá apenas quando era necessário. Já faziam alguns meses que Kaori não via a civilização e ela estava deslumbrada com tudo. Até que os dois pararam na frente de uma sex shop, atraídos por Kaori que apontava para um urso que se revelou um vibrador quando ela chegou mais perto. Ao lado dela, Zero arregalou os olhos imperceptivelmente, constrangido. Kaori sentiu o rosto arder de vergonha.

— Querem dar uma olhada, casal? — a dona da loja, uma mulher alta, com seios fartos, usando uma roupa que não cobria quase nada de seu corpo, perguntou.

— N-não — Kaori gaguejou.

Mau humorado, Zero puxou Kaori bruscamente para longe da loja, perguntando se eles finalmente podiam ir atrás das malditas flores. Sem saber mais o que fazer, ela disse que sim e eles foram até a floricultura mais próxima. Andando na frente dela, Kaori não podia ver o rosto de Zero e, consequentemente, não  viu que ele também estava corado, mas por ter imaginado Kaori em uma daquelas fantasias sexy que estavam nos manequins da vitrina da loja.

Na floricultura, Kaori gentilmente pediu a dona que entregasse 200 flores na academia e, no canto da loja, Zero ficou observando a menina ser simpática com a vendedora que logo gostou muito dela. Sem ela perceber, ele prestou atenção em todos os movimentos dela, o jeito como andava, como falava, como sorria e se inclinava para cheirar as flores. O cabelo de Kaori estava preso em um rabo de cavalo e balançava para lá e para cá enquanto ela andava e Zero pensou que gostaria de vê-lo soltou, espalhado pela cama enquanto ela estivesse nua debaixo dele.

— Zero? Zero!

A voz de Kaori o tirou de seus pensamentos com um sobressalto. Ela estava parada na frente dele, observando com curiosidade, completamente alheia aos pensamentos que ele estava tendo. Emburrado, ele virou o rosto para o lado e ela disse que eles já podiam voltar. Os dois refizeram o caminho de volta, enquanto Kaori explicava que as flores seriam entregues dali alguns minutos. Ele sentiu falta de segurar a mão dela.

Na academia, ele a acompanhou para dentro. Ficou ao lado dela enquanto ela falava com a representante de turma, explicando sobre a entrega das flores, e acabou a acompanhando enquanto ela seguia para o dormitório feminino para tomar um banho. Kaori não achou estranho, apenas seguia ao lado de Zero falando sobre o momento que teve com Kaito e a possível briga que ele e Yori tiveram. Zero não estava de fato prestando atenção na tagarelice da garota, mas olhava para os lábios dela como se estivesse.

Quando ela se despediu e entrou no dormitório feminino, Zero ficou alguns segundos parado do lado de fora. Seu coração estava acelerado em seu peito. Ele tentava decidir se entrava ou não no dormitório e ia atrás dela. Desde o momento em que quase transaram naquele sofá, Zero não conseguia pensar em outra coisa. Parecia um adolescente que não tinha controle de seus hormônios.

De decisão tomada, ele entrou no dormitório feminino, ignorando os olhares de algumas meninas que estavam por ali. Ele sabia o caminho para o quarto de Kaori de cor, já havia feito esse percurso diversas vezes. Uma vez na frente da porta, ele girou a maçaneta e, quando a porta abriu, ele não perdeu tempo, já havia perdido demais. Entrou no cômodo, fechando e trancando a porta atrás de si.

Do lado de dentro, Kaori estava apenas com uma toalha, prendendo os cabelos, pronta para entrar em seu banheiro. Ela travou quando viu Zero ali e demorou um pouco para conseguir falar algo, mas quando abriu a boca, Zero não deixou que nenhuma palavra saísse. Ele cruzou a distância que os separavam e a surpreendeu com um beijo. Kaori ficou paralisada em um primeiro momento, tentando assimilar o que estava acontecendo. Ela acabou soltando a toalha com o susto, que caiu aos seus pés. Ela pensou em afastar Zero para se cobrir novamente, mas quando ele deslizou a mão pelas suas costas, ela pensou “por que não?” e retribuiu o beijo dele.

Ele deslizou as mãos para as pernas dela, abaixando um pouco, e a ergueu com facilidade, fazendo-a prender as pernas no quadril dele. Enquanto ele sentava na cama de Kaori com ela em seu colo, ela não pensou em Kaname ou amizade ou que aconteceria quando isso acabasse. Ela estava cansada de pensar e depois ficar com remorso. Quando Zero sentou e ela a empurrou gentilmente para trás, fazendo-o deitar no colchão, sua mente estava limpa de qualquer pensamento. Quando ela se debruçou em cima dele e o beijou novamente, sentindo a mão dele em sua coxa, subindo para o meio de suas pernas, ela apenas sentiu o arrepio que percorreu seu corpo e nada mais.

— Podemos continuar o que paramos naquela sala? — ele perguntou ofegante, afastando um pouco os lábios dos dela.

— Eu estou nua em cima de você — ela sussurrou em resposta, levando a mão até o botão da calça dele e o abrindo. — Acho que isso é resposta suficiente.

Ela abriu a calça dele, mas ele se sentou, fazendo-a sentar em cima dele. Ele a segurou pela cintura enquanto puxava uma camisinha do bolso. Ela viu o pacotinho brilhante pelo canto dos olhos e pensou que ele realmente andava por aí como se pudesse transar a qualquer momento. Ela sorriu contra os lábios dele.

Ela saiu de cima dele e deitou na cama, esperando enquanto ele tirava a roupa e colocava o preservativo. Kaori o observou enquanto isso, olhando o corpo de Zero que realmente havia mudado desde a última vez em que ela o viu. Quando ele voltou para cama, ela não queria saber de preliminares, mas ele tinha outros planos. Afastou as pernas de Kaori e abaixou o rosto entre elas. Quando a língua dele encostou nela, Kaori ergueu o corpo, tapando a boca com uma mão para não gemer alto. Eles não eram os únicos no dormitório afinal.

Quando ela conseguiu olhar para baixo, sentindo Zero segurar suas pernas com um pouco de força para que ela não se mexesse muito e mantivesse as pernas suficientemente abertas, ela se assustou com o que viu quando seus olhares se encontraram. Não era o rosto de Zero que estava ali, era o de Kaname. Os olhos castanhos do vampiro a encaravam com um ar divertido. Assustada, ela se sobressaltou e era Zero mais uma vez na sua frente.

— Tudo bem? — ele perguntou, limpando a boca com a costa da mão.

— Sim... — ela disse, desviando o olhar do dele.

Ela sentiu vontade de parar, como se estivesse se sentindo culpada por estar transando com Zero e não com Kaname, mas isso a irritou. Aquele vampiro puro sangue já havia se metido o suficiente em sua vida e ela não deixaria mais que isso acontecesse, independente de ligação ou não. Kaori se ajoelhou na cama e engatinhou até Zero, fazendo-o deitar mais uma vez na cama. Sem perder tempo e determinada a não deixar mais Kaname aparecer em seus pensamentos, ela sentou em cima de seu noivo e deixou que seu quadril trabalhasse no tempo que se seguiu.

Quando o pênis dele deslizou para dentro dela, Zero gemeu, apertando as coxas de Kaori. Ela começou a se movimentar, sentindo suas bochechas corarem. Nunca havia feito isso com Zero ou com qualquer outro homem e não sabia dizer o que diabos estava acontecendo com ela, mas ela não pararia. Eles passaram tempo suficiente nessa posição para que Zero desse sinais de que já estava chegando ao orgasmo. Antes que isso acontecesse, Kaori se debruçou em cima dele. Zero segurou a bunda dela e apoiou os pés no colchão, movendo o próprio quadril rapidamente. Kaori mordeu o dedo indicador, abafando seus gemidos enquanto Zero trabalhava embaixo dela.

Ela não saberia dizer em que momento Zero gozou, pois Kaname novamente apareceu em seus pensamentos. Ela fechou os olhos, sentindo seu corpo estremecer enquanto chegava ao orgasmo. Pela primeira vez, ela gozou com Zero pensando em outro homem.

 —x—

Já estava anoitecendo quando Kaori, Zero e Kaito foram convocados até a sala do diretor. Quando tudo acabou entre os dois no quarto dela, Zero se livrou da camisinha e eles passaram um tempo deitados na cama, olhando para o teto e controlando suas respirações sem falar nada. Depois de alguns minutos, Zero foi o primeiro a quebrar o silêncio, pedindo desculpas por ter invadido o quarto e por ter começado tudo. Kaori deu um sorriso mínimo e disse que se ele não tivesse tomado essa atitude provavelmente nada mais teria acontecido entre eles, pois ela estava com vergonha demais para tomar a iniciativa. Eles passaram um tempo juntos, deitados ali, até que a convocação do diretor chegou até eles através da representante de turma que deu o aviso do outro lado da porta, sem saber que Zero estava ali dentro.

 Kaori e Zero chegaram juntos, durante o caminho não conversaram sobre assuntos pessoais, apenas sobre a conversa que teriam com Kaien. Dentro da sala, encontraram com o diretor e com Kaito. Os dois estavam bem à vontade, conversando e bebendo chá. Kaori e Zero pediram licença ao entrar e fecharam a porta silenciosamente atrás de si.

— Então — Kaori disse, interrompendo o momento de lazer dos dois. —, acredito que fomos chamados aqui para conversar sobre o que está acontecendo ultimamente entre os vampiros e os caçadores

— Ah, é claro — Kaien disse, deixando sua xícara na mesa de centro e indo se sentar à sua mesa. — Então vocês já sabem sobre a situação que anda acontecendo em outros países — ele olhou de Zero para Kaori e vice-versa.

— Sim — Zero respondeu, dando um passo a frente. — Kaito me contou e eu contei para Kaori.

— Em algumas partes do mundo, os caçadores estão encontrando desafios maiores do que deveriam ter, considerando que existe um tratado de paz — Kaien disse. — Um número muito grande de renegados está sendo detectado, o que nos faz presumir que novos renegados estão sendo criados. Os vampiros estão matando e transformado humanos aleatoriamente e em uma velocidade preocupante.

— Isso é o suficiente para declararmos uma guerra — Zero interrompeu. — O tratado de paz é entre caçadores e vampiros, mas somos humanos também. Ao atingir os humanos, eles nos atingem também. Deveríamos ir até os países onde a situação está mais crítica.

— No Canadá, eles não passam um dia sem que renegados tentem invadir a Academia de Caçadores — Kaito disse. — Eles estão tendo desentendimentos com a Academia de Vampiros canadense também.

— Entendo a preocupação de vocês, mas, por enquanto, não há porque falar em guerra — Kaien disse, juntando as mãos em cima de sua mesa.

— Como não? — Zero interviu, se aproximando do diretor. — Eles vão nos matar, diretor! Vampiros e renegados. O senhor não está vendo o que está acontecendo? É como se os vampiros estivessem criando um exército, exatamente como fizeram anos atrás. E os que não estão sendo transformados estão morrendo porque eles querem diminuir o número de humanos.

— Eu entendo a sua inquietação, Zero, mas não sabemos se são todos os vampiros que estão agindo assim ou se é apenas um grupo isolado — o diretor olhou diretamente para o menino de cabelos brancos. — Não são em todos os países que isso está acontecendo. Aqui, por exemplo, não estamos tendo que lidar com esse tipo de situação. Então, só podemos imaginar que é um grupo isolado agindo dessa forma, querendo incitar uma nova guerra.

— E, se as coisas continuarem do jeito que estão, eles vão conseguir! Se a Sede dos Caçadores ficar sabendo sobre isso, o senhor acha que eles vão sentar e esperar os vampiros baterem na porta deles? O presidente vai rasgar o tratado de paz — Zero insistiu. — Seja um grupo isolado ou não, eles estão brincando com fogo e todos nós vamos nos queimar caso não comecemos a nos preparar para o pior.

Ao lado de Zero, Kaori sentiu um frio dentro de si. Ela pensou em Kaname e na ligação de sangue que os dois estavam compartilhando agora um com o outro. O que Zero e os outros homens nessa sala achariam se soubesse que ela estava ligada de uma forma tão íntima a um dos seus maiores inimigos? E pior, a um puro sangue. Ela estremeceu só de imaginar a reação de Zero ao saber disso, ele provavelmente tentaria matar Kaname e, se conseguisse, isso levaria a uma guerra. De qualquer forma, não existia saída para eles. Pela primeira vez, Kaori percebeu que todas as direções levavam a uma possível guerra e ela sentiu um medo que nunca havia sentido em seus dezoito anos.

— Todos os caçadores que estão tendo que lidar com isso, devem estar com os nervos à flor da pele — Kaori disse, chamando a atenção dos outros. — Estão começando a agir baseados em emoção e não na razão. Eles não vão querer apenas encontrar a raiz do problema e resolver, vão querer destruir os vampiros por qualquer meio disponível porque é mais fácil. Então, assim como os vampiros estão fazendo, nós mesmos podemos acabar incitando uma guerra — ela deu um passo à frente, parando bem na frente de Kaien. — Diretor, talvez fosse importante algum caçador daqui da nossa escola ser mandado para esses lugares antes de reportar à Sede toda essa situação. Para tentarmos colocar um pouco de ordem e racionalidade nas ações deles. Nós somos a primeira academia fundada pelos caçadores, eles sempre nos escutam.

— Eu concordo — Kaien disse, levantando-se. — Eu já havia pensado nisso e estou cogitando ir eu mesmo, mas, antes disso, preciso deixar as coisas tranquilas por aqui, entre nós e os vampiros.

— Como o senhor pretende fazer isso? — Kaito perguntou, interessado.

— Estou tendo algumas ideias, mas nada definitivo — Kaien observou a janela atrás de si, pensativo. — Quando eu chegar a uma conclusão, vocês ficaram sabendo — ele olhou de novo para os três. — Agora vão se arrumar para a festa. Se divirtam um pouco.

Os três fizeram uma reverência e começaram a sair, mas antes que Kaori passasse pela porta junto com os meninos, Kaien a chamou e disse que queria fazer um pedido a ela. Curiosa, Kaori voltou para dentro da sala e fechou a porta atrás de si.

— Vou ir até a Academia dos Vampiros — ele anunciou. — Gostaria que você fosse comigo. Eu ia chamar o Zero, mas, pela reação que ele teve aqui dentro, não acho que seja uma boa ideia colocá-lo no mesmo ambiente em que muitos vampiros. Você pode me acompanhar?

O coração de Kaori deu um pulo em seu peito. Ir para a escola dos vampiros significava ficar perto de Kaname e ficar perto de Kaname significava que ela corria o risco de encontrá-lo por lá, o que ela queria evitar a todo custa. O vampiro provavelmente sentiria a sua agitação e saberia no momento em que ela colocasse os pés na escola. Kaori não conhecia bem Kaname, mas, dentro de si, ela sentia que ele daria um jeito de se encontrar com ela em algum momento enquanto ela estivesse no território dele.

O estômago de Kaori revirou. Ela não poderia recusar um pedido do diretor sem levantar suspeitas, pois o diretor a conhecia bem o suficiente para saber que ela não estava tão ansiosa assim para a festa para preferir ir se arrumar. Porém, se ela se encontrasse com Kaname, não saberia o que poderia acontecer. E ela não estava preparada para revelar para mais ninguém sobre essa ligação deles dois.

— Claro — Kaori respondeu. — Só preciso vestir o uniforme e pegar minha espada.

— Eu vou esperá-la no estacionamento.

Kaori balançou a cabeça, concordando, e saiu da sala, andando rapidamente até o dormitório. Já em seu quarto, ela se vestiu em tempo recorde. Não queria admitir nem para si mesma, mas estava ansiosa para estar no mesmo lugar que Kaname. Apesar de tentar negar para si, ela sentiu uma vontade quase irresistível de vê-lo de novo e de senti-lo contra si de novo. Ela estremeceu na frente do espelho ao se lembrar da língua dele em seu pescoço. Se ele fizesse isso de novo, ela conseguiria resistir?

Kaori passou os dedos pelo pescoço, imaginando as presas de Kaname afundando ali. Por um momento esqueceu tudo o que havia acontecido entre ela e Zero horas atrás. Nunca havia sido mordida por um vampiro e nem podia imaginar como deveria ser, mas ela sabia sobre a existência dos escravos de sangue. Humanos que se viciavam nas mordidas de vampiros e, sem elas, ficavam como qualquer usuário de drogas. Ela preferia a morte a isso. Não, definitivamente não deixaria Kaname mordê-la, não importava o quanto quisesse ou quanto ele insistisse.

Irritada com seus próprios pensamentos, ela saiu do quarto e se dirigiu para o estacionamento. Uma vez dentro do carro do diretor, pensou, enquanto olhava o caminho pela janela, no quanto ela estava louca de pensar algo como um vampiro mordendo seu pescoço como se fosse a coisa mais normal do mundo. Como se fosse normal estar ligada através do sangue com um demônio! Ela não estava mais se reconhecendo e se Zero pudesse ler seus pensamentos, ele seria nojo dela.

O caminho até a Academia dos Vampiros era bem mais rápido se feito pela floresta, mas Kaien nunca gostou de ir por ela, preferindo sempre dar a volta com o carro. Apesar do frio, o trânsito estava sem qualquer congestionamento, o que mudaria assim que começasse a nevar. Ainda que estivessem no início do ano, Kaori pensou no natal e no fato de que passaria essa data comemorativa dentro da escola junto de Zero e Kaien assim como havia passado em todos os anos anteriores enquanto os outros alunos voltariam para suas casas e suas famílias.

Ela sentiu um vazio em seu peito ao lembrar que não tinha mais família para a qual voltar, mas talvez as coisas mudassem quando ela casasse com Zero. Eles nunca haviam conversado sobre o casamento e nem mesmo sobre filhos, mas o objetivo desses casamentos arranjados era a procriação, então eles seriam obrigados a ter pelo menos um filho. Sendo assim, Kaori teria uma família, certo?! Ela não teria que passar mais o natal ou qualquer outra data comemorativa na escola. Teria sua própria casa, cozinharia sua própria comida e convidaria Kaien para festejar com eles.

Ela sorriu diante das imagens que se formaram em sua cabeça. Ela e Zero casados, um ou dois filhos, e Kaien reunidos na sala de uma casa enfeitada para o natal. Ela sempre gostou muito do natal apesar de não ser religiosa e sempre gostou de comemorá-lo. Pensando assim, não parecia difícil viver ligada a um vampiro puro-sangue.

Quando o carro estacionou na frente da entrada da escola dos vampiros, Kaori foi puxada de volta a realidade. Ela saiu do carro, sendo seguida por Kaien e ergueu a cabeça para observar a grandiosidade da escola durante a noite. Assim como na Academia dos Caçadores, a Academia dos Vampiros estava enfeitada também para o dia dos namorados. Ela não sabia que eles comemoravam a data também, mas por que não? Não existiam namoros apenas entre humanos.

Ela e Kaien foram recebidos por dois vampiros que os escoltariam até a sala da diretora, Cordelia. O prédio da escola estava vazio apesar de estar enfeitado, o que levou Kaori a supor que a festa aconteceria em outro lugar, talvez em um salão assim como aconteceria na escola dos caçadores. Ela imaginou que, no fim das costas, não veria Kaname por causa disso e não soube se o sentimento que surgiu dentro de si era de felicidade ou frustração. Ela esperava que fosse o primeiro.

Na sala da vampira, Kaien pediu para que Kaori esperasse do lado de fora, na frente da porta, pois ele queria ter uma conversa particular com Cordelia. Sem questionar, Kaori fez o que ele mandou e se sentiu um pouco desconfortável com o olhar da vampira em cima de si. Ela sorria de um jeito estranho, um jeito que parecia falso, e seus olhos verdes causavam calafrios em Kaori. Ela ficou mais que feliz em não ter que participar da conversa. Ela fechou a porta e as vozes foram abafadas lá dentro.

Do lado de fora, Kaori ficou imersa em um silêncio entediante. Nenhuma alma viva (ou morta) passou por ali então ela resolveu explorar um pouco enquanto a conversa parecia que ia demorar. Sempre se sentiu curiosa em relação a escola dos vampiros. Parecia tão chique e cara que Kaori gostaria de poder olhar cada cômodo só para atestar o óbvio.

Ela andou pelo corredor, parando para olhar dentro de algumas salas. No terceiro andar não havia quase nada e ela imaginou que tudo o que havia de interessante no prédio das aulas estavam no primeiro e segundo andar. Ela dobrou em um corredor, procurando uma escada que a levasse aos andares inferiores, e quase imediatamente se arrependeu de ter feito isso. Assim que ela dobrou, se deparou com um grupo de vampiros conversando perto de uma das milhares de janelas que existia na construção. Eram alunos, ela reconheceu pelo uniforme que usavam. Kaori travou, prendendo a respiração e se decidindo entre ficar parada e tentar parecer invisível ou sair correndo de voltar para o lugar da onde não deveria ter saído. A hesitação dela foi suficiente para que os vampiros notassem sua presença.

Há alguns metros de distância, a conversa entre o grupo foi morrendo aos poucos. Um deles, o mais alto, Kaori notou, fez um movimento com a cabeça, apontando na direção dela. Seu uniforme branco era como um letreiro neon, dizendo “estou aqui, olhem para mim”. É claro que ela não passaria despercebida. Outras cabeças viraram na direção de Kaori, mas apenas uma chamou atenção.

Quando o rosto de Kaname virou em sua direção e os olhos castanhos dele encontraram com os dela, Kaori sentiu um frio na barriga tão intenso que a deixou tonta. Ele a observou por alguns segundos que pareceram horas, sem esboçar qualquer reação em seu rosto. O fato dela estar ali podia parecer para ele que ela havia ido atrás dele, como ele queria. Ela sentiu raiva de si mesma por ter saído da frente daquela maldita porta.

Ela se sobressaltou quando Kaname se desencostou da janela e começou a caminhar em sua direção, sendo seguido pelos outros vampiros que estavam conversando com ele. Haviam três meninas no grupo, os outros eram todos homens, cinco no total. E agora? O que ela deveria fazer? Sair correndo como um ratinho assustado ou encarar as consequências de suas ações? Ela não teve tempo para decidir, pois em um segundo Kaname e os outros vampiros estavam diante dela. Tão perto que o aroma de vários perfumes diferentes chegou até ela sem dificuldades.

— É tão inesperado uma caçadora estar parada no corredor da nossa escola que, se eu não visse com meus próprios olhos, eu não acreditaria — um vampiro loiro de olhos azuis disse, sorrindo para ela.

Kaori não o conhecia e não gostou do tom de voz dele. Franzindo cenho, ela segurou o cabo de sua espada, pronta para puxá-la caso a coisas começassem a ficar sérias. Mas Kaname ergueu uma mão, silenciando o menino loiro. Kaori não entendia como as coisas funcionavam entre eles, mas Kaname parecia ser o líder ali.

— O que você está fazendo aqui? — Kaname perguntou, olhando nos olhos dela.

 Ele estava tão sério que ela temeu pela própria vida. Se os outros vampiros a atacasse, ele não parecia inclinado a impedir.  Antes que pudesse responder, ela lembrou que ele podia sentir tudo o que ela sentia por causa da ligação. Provavelmente sentiu enquanto ela transava com Zero.

As bochechas de Kaori queimaram, não porque Kaname era muito intimidante, mas por vergonha, como se ela fosse uma criança que havia sido pega fazendo algo de errado. Ela desviou o olhar do vampiro e acabou fazendo contato visual com outro. Dessa vez era um ruivo que ela também não conhecia, nunca tinha o visto. Os olhos azuis dele a encaravam com curiosidade quase como se ela fosse uma espécie em extinção e tão rara que o vampiro precisava capturar todos os detalhes dela para não acabar se esquecendo depois.

— Você a conhece? — quem perguntou foi uma das meninas. A de cabelos longos e de uma cor estranha, quase rosé.

— Quando eu fui com Cordelia na Academia dos Caçadores, foi ela quem nos escoltou lá dentro — Kaname explicou, sem qualquer emoção na voz. Ele estava com raiva por ela estar ali ou com raiva dela, Kaori não sabia dizer.

Ela voltou a olhar para ele, desviando os olhos do vampiro ruivo que já a estava deixando desconfortável. Então, os outros vampiros não sabiam sobre a ligação. Não sabiam que ela havia estado ali uma semana antes e tudo o que ele havia feito com ela – ou tentado. Saber disso deixou tudo ainda pior, pois parecia que os dois compartilhavam um segredo sujo que seria um escândalo caso viesse a tona. O que seria mesmo, ela sabia.

Na sua frente, Kaname ainda não havia desviado o olhar dela. De alguma forma, ela sabia que ele estava revivendo tudo o que aconteceu naquele escritório há alguns dias. Ela sabia, pois estava acontecendo a mesma coisa com ela. Kaori agradeceu por essa ligação não tornar possível um vampiro falar em sua mente, pois ela sentia um pouco de medo do que quer que Kaname pudesse falar para ela nesse momento. Ela sabia que ele estava se segurando apenas por causa dos outros vampiros. Se eles não estivesse ali, vai saber o que Kaname faria com ela.

A tensão do ambiente foi quebrada quando um dos meninos, um loiro com olhos verdes mais claros que os de Kaito, tomou a frente. Com um sorriso no rosto, ele fez uma reverência na frente de Kaori que a assustou e a fez dar um passo para trás, achando aquilo muito estranho.

— Seja bem-vinda a nossa escola. Eu me chamo Ichijou Takuma. É um prazer conhecê-la… — ele olhou nos olhos dela, esperando que se apresenta-se.

— Kaori Ozu — ela murmurou.

— Kaori Ozu — ele disse e lançou um olhar para Kaname, que o vampiro não retribuiu. — É um nome diferente, mas de uma família de caçadores muito respeitada. Talvez você tenha se perdido aqui em cima, certo? — ele caminhou até ela, passando um braço pelos ombros da menina. — Vou mostrar a saída para você.

Ele começou a caminhar, praticamente a puxando junto consigo. Kaori ficou confusa por alguns segundos, mas depois que voltou a si empurrou o vampiro, fazendo o mesmo soltá-la. Ela estava irritada. Quem ele pensava que era para segurá-la desse jeito?

— Não vou a lugar algum com você! — ela disse, com raiva. — Estou aqui com o diretor da minha escola, que está conversando com a diretora de vocês. Vou esperar por ele.

— Seria bom se você saísse desse corredor — Kaname disse, encarando-a.

Ele a estava expulsando e fez isso com tanta classe que poderia ser confundido com preocupação. Ela trincou o maxilar, olhando nos olhos dela. Kaori não sabia o que ele estava pensando, talvez a estivesse xingando em pensando, talvez estivesse pensando em como matá-la, ela não fazia a menor ideia. Mas essa recepção fria a pegou desprevenida e ela se odiou por ter pensando nele enquanto estava com Zero.

— Vai ser um prazer — ela disse, dando as costas para o vampiro e seu grupo.

Atrás dela, Ruka achou isso uma afronta, deu um passo a frente na tentativa de confrontar a caçadora, mas foi parada por Kaname. Se Kaori tivesse prestado mais atenção, teria percebido que o vampiro ruivo, Senri, parecia mais interessado que o normal nela e que, junto com Kaname, a acompanhou com o olhar até ela sumir de vista. Ele levou um palitinho doce até a boca e ficou pensando que aquela menina era intrigante e tinha um cheiro familiar. Senri deu uma olhada em Kaname, era óbvio o incômodo que aquela humana causou em seu líder. Ele pensou que seria interessante descobrir o porquê.

Soltando fogo pelas ventas, Kaori voltou para a sala de Cordelia, onde ela já estava do lado de fora com Kaien, se despedindo do mesmo. O diretor fingiu não notar que Kaori havia largado seu posto e seguiu contente com sua aluna para fora da academia, dizendo a Kaori que aconteceria um baile entre vampiros e caçadores antes que ele fosse até o Canadá. Kaori estava com tanta raiva que nem deu importância, só pensava no quanto Kaname era irritante e no quanto ela queria se ver livre dele. A menina seguiu o caminho de volta inteiro em um silêncio mortal.

Uma vez dentro da própria escola, ela foi se arrumar para o baile. Era a única no dormitório e não gostou disso, pois ficava sozinha com seus pensamentos e eles estavam todos voltados para Kaname. Ela se sentia uma idiota e o odiava por fazê-la de idiota. Quem ele pensava que era? Enquanto praguejava no silêncio do quarto, ela trocou o uniforme pelo vestido que Yori havia lhe emprestado. Ela pensou que o vestido era um pouco vulgar demais, mostrando mais pele do que ela achava necessário, mas não podia reclamar, era o único que tinha. Kaori penteou os cabelos e fez um penteado simples e rápido. Para sua sorte, Yori havia deixado até mesmo um par de sapatos bonitos para ela. Kaori agradeceu mentalmente por ter uma amiga como aquela em sua vida.

Ela saiu do quarto já muito atrasada e deu de cara com Zero a esperando do lado de fora. Ele estava usando calça social e blusa de botão com as mangas dobradas até os cotovelos. Estava diferente do usual e tão bonito que um “o” formou nos lábios de Kaori.

— Ah, uau — ela disse, estremecendo com o vento. Já estava odiando a ideia de usar um vestido curto daquele jeito. — Você está muito bonito.

— Acho que você ganha de mim nesse quesito — ele disse, conferindo-a de cima a baixo.

— Isso é tudo da Yori — ela disse, quase como se estivesse se justificando.

Ele aproximou o rosto dela e a beijou, segurando-a pela cintura. Kaori ficou um pouco surpresa, mas aproveitou o beijo.

— Ficou melhor em você — ele disse, se afastando. — Mas vai ficar mais bonito no chão do meu quarto quando eu tirar.

Kaori sentiu uma fisgada entre suas pernas e corou um pouco, entendendo a insinuação daquela frase. Ele segurou a mão dela, entrelaçando seus dedos, e os dois caminharam juntos para a festa.

Alguns alunos estavam dentro do salão de festas, outros estavam no jardim improvisado. As flores encomendadas por Kaori estavam muito bonitas, brilhando à luz da lua. Eles foram para o segundo andar do salão e logo avistaram Kaito e Yori, engatando uma conversa com o casal. Zero estava sempre com uma mão na cintura dela e Kaori percebeu que era porque estava atraindo muitos olhares com aquele vestidinho minúsculo. Ela depositou um beijinho no pescoço dele, o que surpreendeu Yori, querendo dizer que ele não tinha com o que se preocupar.

Algum momento depois, Zero se afastou com os outros dois amigos para buscar algo para eles comerem e beberem. Kaori ficou sozinha ali. Apoiada me uma janela, ela ficou observando o movimento no jardim até que uma sensação estranha tomou conta dela. Algo que a intimidou e fez seu coração acelerar ao mesmo tempo. Kaname estava ali e ela nem precisava vê-lo para saber disso.

Kaname tinha aquele tipo de presença que, ao entrar em qualquer lugar, tomava conta, como qualquer vampiro puro-sangue. Por causa da ligação, essa presença ficava ainda mais forte. Ela o sentia ali como se ele estivesse bem atrás dela, respirando em seu pescoço. Kaori tremeu da cabeça aos pés. Por que diabos ele estava ali, na academia dos caçadores? Ela deu uma olhada atrás de si. Zero estava conversando com outros caçadores junto de Kaito, ele parecia estar realmente se divertindo, estava até mesmo rindo.

Kaori aproveitou a distração dele para sair sem ser notada. Ela iria até Kaname, o mandaria embora e voltaria como se nada tivesse acontecido. Se desse sua falta, ela diria que havia ido ao banheiro ou ao seu quarto. Do lado de fora do salão, a noite parecia ter se tornado mais fria, mas ela ignorou isso e seguiu em frente, atravessando o jardim com um pouco de dificuldade por causa do salto alto. Quando finalmente encontrou o vampiro, ela se encontrava próxima de um coreto do século XVIII/XIX que havia na academia e que Kaori nem lembrava mais da existência, pois era escondido o suficiente para ela não vê-lo no dia a dia.

Como um sinal de mau agouro, Kaname estava encostado em uma das colunas do coreto, de braços cruzados e cabeça baixa. Ele estava vestido todo de preto como se tivesse acabado de vim de um velório. Ou talvez o velório seja meu, Kaori pensou. Se ele tentasse matá-la não haveria ninguém para impedir, só encontrariam seu corpo no outro dia.

Hesitante e tremendo um pouco, Kaori se aproximou e,quando subiu o primeiro degrau, o vampiro levantou os olhos e a encarou. Os olhos dele estavam vermelhos e brilhavam ali no escuro. Ela travou, ficando parada no mesmo lugar.

— Está com medo? — ele perguntou, provocador. Seu rosto estava sem expressão nenhuma.

— O que você está fazendo aqui?! — ela perguntou, ríspida, ignorando o medo que estava sentindo.

Kaname não respondeu logo, apenas ficou a observando com as sobrancelhas franzidas. Ela gostaria de poder ler pensamentos para saber o que estava se passando na mente do vampiro. Como sempre, ele era uma incógnita, enquanto ele devia conseguir ler todas as emoções dela com facilidade.

— Você não devia estar aqui — Kaori disse, cerrando os punhos. — Vai embora.

— Chama o seu namoradinho para me tirar daqui.

A palavra “namoradinho” saiu da boca de Kaname com tanto desprezo que Kaori teve a certeza de que ele havia sentido se não tudo então pelo menos 90% do que havia acontecido entre ela e Zero em seu quarto. Ela lutou violentamente contra a vontade de começar a se explicar, criando justificativas para o que aconteceu. A ligação fazia isso também? A fazia se sentir culpada quando ela transava com outros caras que não eram Kaname?

— O que você quer, Kaname? — ela tentou mudar de assunto e acabou entrando mais no coreto sem perceber.

Como em um passe de mágicas, ele apareceu bem próximo a ela, tão próximo que ela quase se desequilibrou. Mas Kaname foi mais rápido, como sempre era. Ele a segurou pela cintura, mantendo-a em pé. Os olhos dele ainda brilhavam em um vermelho intenso e Kaori se sentiu sufocada com o medo que estava sentindo. Ainda sem esboçar qualquer expressão, ele proferiu as palavras que definiram o que aconteceu nos dias seguintes.

— Eu não gosto quando o que é meu acaba nas mãos de outro — ele disse, olhando nos olhos dele. Ele a segurou com mais força, quase a machucando. — E eu não gosto principalmente quando o que é meu fica por aí fingindo que é de outro — ele levou uma mão para trás da cabeça dela, puxando para o lado o cabelo de Kaori que estava cobrindo seu pescoço. Ela sabia o que iria acontecer e tentou se afastar dele, mas Kaname não deu brecha alguma. Ele aproximou o rosto do ouvido dela. — Eu devia ter avisado você, Kaori. Sou egoísta nesse nível. Eu não gosto de dividir.

Com os olhos arregalados e com uma expressão de pura surpresa em seu rosto, Kaori sentiu as presas de Kaname afundarem na pele outrora macia de seu pescoço.  Kaori não gritou, ela ficou paralizada em terror mudo. Em uma mistura de sangue e dor, Kaname selou o destino dos dois.


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