Wicked Love. escrita por Beatriz


Capítulo 3
Capítulo 3: Maya.




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No dia seguinte a sua chegada no internato e ao seu encontro com Laito, Maya pensava seriamente em fugir desse lugar. Simplesmente ir embora sem dar explicação para ninguém, nem mesmo para o seu pai. Talvez falasse algo para sua mãe e para Luke, mas apenas para eles dois.

Ela não conseguia se imaginar dividindo a mesma escola, as mesmas sala de aula e os mesmos ambientes que Laito, não depois do que aconteceu na sala de música. Depois de ter saído de lá, Maya ainda ficou com as marcas dos dedos dele no pescoço branco. Essas marcas sumiram depois de uns minutos, mas a sensação da mão dele contra a pele dela ainda permaneceu, assim como tudo o que ele lhe dissera.

Ela não foi a nenhuma aula naquela noite, sua mente e seus sentimentos estavam muito agitados para que ela conseguisse se concentrar em qualquer aula, e quando amanheceu, Maya também não dormiu. Sua mente não conseguia se desligar. Ela passou a manhã em claro, pensando no que faria quando a noite caísse. Ela não poderia faltar aula novamente, na tentativa de evitar Laito, pois seu pai com certeza seria chamado pelo diretor e ela não queria acabar discutindo com ele novamente, ainda mais no mesmo ambiente em que seus meio-irmãos estavam. Então, ela teria que engolir a vontade de sumir e deveria ir para a aula como se nada tivesse acontecido. E teria que encarar Laito.

Ela suspirou com esse pensamento, encostando a têmpora não janela e encarando o dia ensolarado por sua janela, ainda que o sol machucasse seus olhos. O dia estava bem ensolarado, mas estava frio como sempre, o que era um consolo, pois se estivesse quente Maya ficaria de mau humor o dia todo.

Quando o sol finalmente resolveu ceder lugar à lua, ela vestiu seu uniforme em uma lentidão digna de estar em um livros de recordes. Ao terminar, se sentou em sua cama e seus dedos tocaram sua espada em cima do colchão. Ela olhou para a arma, pensando em sua mãe e em tudo o que ela tinha lhe falado na noite anterior. Não iria decepciona-la. Com esse pensamento, ela colocou sua espada no cinto em sua cintura e saiu do quarto, trancando a porta atrás de si.

Enquanto a noite caia a escola começava a ganhar vida com os alunos saindo de seus quartos para suas aulas. Todos os tipos de vampiros apareceram andando para lá e para cá, envolvidos em conversas, livros ou namoricos pelos corredores. Maya já teve contato com todo tipo de vampiro, dos mais comuns aos mais exóticos, mas nunca esteve em uma escola como estudante com outros vampiros nessa mesma situação. Ela nem sabia como agir se algum deles a abordasse e começasse a falar coisas de escola, mas em sua mente ela dizia a si mesma que tinha que ser ela mesma e agir como sempre agiu. Quem gostasse dela ótimo, quem não paciência.

Tendo como base o papel que Rido entregou a ela com as suas aulas do dia, ela viu que a primeira era Bioquímica. Ela revirou os olhos, enquanto andava pelos corredores procurando a sala 202 B, nem imaginava como seria essa aula, mas algo dentro dela já lhe dizia que seria insuportável. No meio do caminho, ela parou em frente à uma máquina que fornecia bolsas de sangue humano para o estudantes quando os mesmos não queria ir até a sala dos escravos de sangue. Maya pegou uma das bolsinhas, furou com o canudinho e continuo seu caminho. Ela se deliciou com o sangue, pois, diferentes daquelas pílulas de sangue que o clã de Kaname estava desenvolvendo, aquilo era sangue de verdade.

Ela olhou novamente para folha de papel em sua mão e percebeu que o nome do professor não estava junto da matéria e ela imaginou que fosse algum erro de quem havia feito os horários. Mas logo tirou isso da mente quando enfim encontrou a sala e, quando entrou, deu de cara com Kaname Kuran e seu séquito. Era só o que faltava para completar seu dia: ter a presença deles na mesma aula que ela. Enquanto ela engolia a veneno que já estava pronto para ser destilado em Kaname, procurou um lugar para sentar, sendo seguida pelo olhos castanhos do vampiro.

Já emburrada e com a paciência quase extinta, ela se perguntou quanto tempo o professor demoraria para entrar. O ligar que escolheu para sentar era no meio da sala, não muito atrás e não muito na frente, mas, infelizmente, perto o suficiente para que Kaname pudesse vê-la. E ela sentiu os olhos do vampiro em suas costas. Ela se surpreendeu com o fato de que Kaname sentava mais atrás, pois, na mente de Maya, ele, como o senhor certinho, sentava sempre na frente e era um aluno exemplar. Será que ela finalmente estaria errada sobre ele em alguma coisa?

— Com licença, esse lugar é meu.

Ao ouvir a voz, Maya virou o rosto na direção do desconhecido, ainda chupando o sangue por seu canudinho. Para sua surpresa — ou não — era Ruka Souen, uma das vampiras que seguia Kaname como um cachorrinho e era pateticamente apaixonada por ele. Claro que ela nunca havia confidenciado isso a Maya, mas era tão óbvio para qualquer um de fora que chegava a ser humilhante. Ruka ficou encarando Maya, esperando que ela de fato se levantasse e fosse procurar outro lugar. Mas ela não foi, apenas colocou os pés no banco da frente e sorriu para Ruka.

— Sério? — Maya fez um biquinho. — Que pena. Agora é meu — ela se ajeitou no banco, virando de frente para Ruka. — Mas ali atrás está o seu cafetão — ela apontou para Kaname com o polegar. — Você devia ir sentar com ele do mesmo jeito que eu acredito que já está acostumada a fazer fora dessa sala.

Os alunos que estavam próximos a elas e que escutaram as palavras de Maya começaram a sussurrar entre si, rindo ou chocados com o que ela havia falando. Como se fossem todos puritanos, ela pensou, revirando os olhos mentalmente. À sua frente, Ruka retesou todo o corpo e deu um passo para frente. Se ela se agachasse ficaria nariz com nariz com Maya.

— O que foi que você disse? — a vampira perguntou, baixa e ameaçadoramente.

— Eu sempre achei que vampiros tivessem boa audição — Maya se virou novamente de frente para o quadro. — Talvez você tenha vindo com defeito.

— Quem você pensa que é para… — ela foi interrompida antes de terminar a frase.

— Ruka — a voz de Kaname, como sempre muito imponente, fez a menina se calar rapidinho. Maya revirou os olhos, ela estava gostando de provocar Ruka, mas como sempre ele tinha que estragar a sua diversão. — Isso que você está fazendo não vale a pena. Procure outro lugar.

— Sim, senhor — foi a última coisa que ela disse antes de sair de perto de Maya, como um cachorrinho obediente.

Maya levou um dedo à boca e fingiu vomitar. Os outros alunos voltaram sua atenção para outras coisas e Maya terminou sua bolsa de sangue, jogando-a perfeitamente dentro da lixeira. Ela já estava mais que entediada e se perguntava porque diabos o professor estava demorando tanto. Até que algo aconteceu: a porta da sala de aula foi aberta mais uma vez e por ela entraram cinco pessoas que Maya não esperava ver tão cedo: seus meio-irmãos. Apenas Laito não estava com eles, mas isso não melhorou em nada o que ela estava sentindo.

Reiji entrou primeiro e atrás dele vieram Subaru, Ayato, Kanato e Shu. Todos estavam com expressões sérias, como se estivessem com raiva, apenas Kanato parecia envolvido em algum tipo de conversa com seu urso que ele trazia agarrado contra seu peito. Ainda é o mesmo desde que éramos crianças, ela pensou sobre o irmão. Na verdade, todos eles haviam apenas criado feições de homens, deixando para trás as feições de crianças, mas, para Maya, eles ainda pareciam os mesmos. Seu coração apertou em seu peito e, subitamente, dez anos parecia muita coisa. Coisa demais.

De seus meio-irmãos, o único que não foi procurar um lugar para sentar fora Reiji, pois ele ocupou a cadeira de professor, colocando pastas e papéis em cima da mesa, para então se sentar. Maya demorou apenas um segundo para entender o que via e isso quase a fez cuspir o sangue que já estava dentro de seu estômago.

— Você é o professor? — ela perguntou, um pouco alto demais, ficando de pé e chamando a atenção não apenas de Reiji, mas de alguns alunos também.

O homem de cabelos lilás ergueu a cabeça, desviando os olhos dos papéis à sua frente e olhando diretamente na direção de Maya por cima de seus óculos. O rosto severo dele não demonstrava emoção nenhuma.

— Sim — ele respondeu. Sua voz grave reverberou por toda a sala de aula. — Algum problema, Maya Sakamaki?

Ele falou com ela como se não existisse nenhum tipo de parentesco entre eles, como se nem a conhecesse fora de uma sala de aula. Porém, Maya não ficou ofendida ou magoada com isso, apenas ficou surpresa ao ver que Reiji já havia se formado e já era até mesmo professor. O tempo realmente havia passado e ela não havia se dado conta disso.

— Não — Maya respondeu, em um fiapo de voz. — Nenhum problema.

— Então, sente-se. A aula vai começar.

Ela fez o que ele mandou. Uma agulha poderia ser ouvida se caísse no chão de tão quieta que a sala estava, nem parecia que minutos atrás o som de conversas poderia ser ouvido do corredor. Aparentemente, Reiji era um professor muito rígido e não tolerava nem mesmo uma conversa paralela em suas aulas.

Os outros Sakamaki nem mesmo olharam na direção de Maya depois que entraram, apenas se sentaram em seus respectivos lugares, tão silenciosos quanto a morte, e ficaram encarando Reiji enquanto ele andava para lá e para cá escrevendo algo no quadro atrás de si. Alguns cochichos podiam ser ouvidos aqui e ali sobre os irmãos Sakamaki, sobre o quanto eram bonitos, ou que menina (ou menino) estavam apaixonadas por eles. Porém, quando Reiji virou de frente para os alunos, todos se calaram imediatamente.

— Bem, todos vocês já me conhecem, mas, como há uma aluna nova, me apresentarei novamente — ele pousou o piloto que usou para escrever no quadro em cima de sua mesa. — Me chamo Reiji Sakamaki, sou professor de bioquímica — ele olhou diretamente para Maya ao dizer isso. Ela sustentou o olhar e sustentaria por mais tempo se ele não tivesse desviado, apontando para o quadro com a sua mão enluvada. — Hoje vamos falar sobre A Química por Trás da Carimbagem — ele apontou para o tema escrito no quadro. — Lembro que na última aula eu havia dito para vocês lerem os textos das páginas 240 a 245 do livro. Quem leu?

Mãos foram levantadas e Maya, sem entender sobre o que ele estava falando, pois ainda nem havia recebido seus materiais escolares, ficou bem quieta, tentando não chamar atenção para si, na esperança de evitar que Reiji lembrasse de sua presença e pedisse para ela responder algo.

Mas é claro que não deu certo. Apesar de muitos alunos terem levantado a mão e confirmado que leram, os olhos de Reiji caíram exatamente em Maya e o coração dela deu um pulo em seu peito.

— Maya — ele chamou. Ele teve que se conter para não revirar os olhos. — O que você pode nos dizer sobre a carimbagem? Ou ligação como alguns chamam.

Alguns alunos viraram na direção de Maya, encarando-a, e atrás de si ela sentia mais olhos em suas costas. O que ela poderia falar sobre isso? Ela nunca havia sido carimbada/ligada com ninguém através do sangue. Nunca sentira necessidade disso ou gostara de alguém o suficiente ao ponto de se ligar a pessoa. Por um momento ela odiou Reiji por fazê-la responder uma pergunta dessas e esperava que isso transparecesse em seus olhos. Sem pensar muito, ela respondeu a primeira coisa que veio à sua mente, algo que ela havia lido em algum lugar ou alguém havia lhe falado.

— A base da carimbagem é a sexualidade — foi o que ela conseguiu responder.

— Você quer dizer que a carimbagem e o sexo andam lado a lado? — Reiji insistiu. Ele não abriria mão dela tão fácil, Maya percebeu.

— Sim. Se há carimbagem entre duas pessoas, há desejo, e, consequentemente, há sexo — ela deu de ombros. — O que eu acho bem engraçado, pois, se você se carimbar, por qualquer que seja o motivo, com alguém que odeia, nem poderá rever seus conceitos sobre essa pessoa antes de querê-la em sua cama.

À frente dela, Reiji sorriu minimamente, um sorriso que quase não poderia ser visto nem mesmo por Maya se ela já não tivesse o visto muitas vezes quando eram crianças. O comentário dela tirou risadinhas de outros alunos também, alguns concordando com ela, outros rindo de nervoso mesmo. Ela sorriu internamente, gostando bastante da aprovação dos colegas.

— Não acredito que a carimbagem tenha como base o desejo sexual.

A voz de Kaname cortou todo o clima descontraído da aula. Como sempre, ele era um estraga prazeres. Maya virou um pouco o corpo, olhando o vampiro pelo canto dos olhos. Ele olhava diretamente para o professor, como se o que ele dissesse não tivesse nada haver com Maya, porém ela sabia que ele só estava discordando dela pelo prazer de contrariá-la. Sempre foi assim entre os dois.

— Prossiga, Kaname — Reiji incentivou. — O que o faz achar isso?

— Há mais na ligação através do sangue que apenas sexo.

— Como o que por exemplo? — Reiji deu alguns passos para frente, interessado na discussão.

Maya percebeu que Kaname hesitou por um momento antes de responder.

— Outros tipos de sentimentos além do desejo carnal. Por exemplo, se um vampiro se carimba com um humano... — ele foi interrompido.

— Com um humano? — Reiji cruzou os braços, visivelmente incomodado com a direção para a qual Kaname estava levando seus pensamentos.

— Vamos usar apenas como um exemplo — Kaname insistiu e Reiji deixou que ele prosseguisse. — Se um vampiro se carimba com um humano, a sede pelo sangue humano será muito maior que a vontade de transar com ele. A base da carimbagem é a sede de sangue e não a sexualidade — ele finalmente olhou para Maya, se sentindo superior como sempre.

— Até onde eu sei, Kuran — Maya falou logo em seguida. — No exato momento em que você pensa em tomar o sangue da pessoa com quem você está ligado, a primeira reação do seu corpo é a excitação. Seu pau automaticamente vai ficar duro antes mesmo que seus dentes perfurem o corpo, então como você pode afirmar que não há a base sexual na carimbagem? — ele mexeu na cadeira, mudando de posição. — Além disso, tendo como base o seu exemplo de ligação entre humanos e vampiros, para isso acontecer entre os dois, eles teriam que ter no mínimo algum tipo de atração mútua. A mais provável seria a sexual.

Maya percebeu quando Kaname trincou a mandíbula, incomodado com a fala dela. Olhando nos olhos do vampiro, ela sorriu abertamente, saboreando a vitória. Ao lado do puro-sangue, Aidou fechou os punhos em cima de sua mesa, mostrando as presas para ela. Maya apenas piscou para ele antes de se voltar novamente para Reiji.

Por mais interessante que estivesse a discussão entre Maya e Kaname, Reiji resolveu dar a oportunidade para outros alunos falarem também, pois sentiu a tensão entre os dois primeiros e não queria ter que apartar nenhuma briga ou reportar alguma possível morte dentro de sua sala. A aula transcorreu sem mais nenhum atrito e, talvez fosse o assunto da aula (ou o jeito como Reiji ensinava), mas Maya achou tudo muito interessante e divertido até. Por um momento ela até mesmo esqueceu que Subaru, Shu, Ayato e Kanato também estavam na sala. Os quatro não se envolveram em nenhum momento na aula e Reiji não fez questão de incentivá-los com perguntas, simplesmente se esqueceu da existência deles ali. Reiji pontuou o lado bom e ruim da carimbagem, explicou o porquê de ser proibido ter a ligação entre vampiros e humanos e todo o drama que se seguia quando a carimbagem entre dois vampiros era quebrada, além dos prazeres que essa ligação trazia às duas partes.

Ao fim da aula, quando o sinal tocou, avisando que eles deveriam mudar de sala, todos os alunos se levantaram e recolheram suas coisas, saindo sem tumulto pela porta. Do lado de fora, o corredor ganhava vida e Maya estava louca para sair correndo e se juntar ao mar de vampiros, mas foi parada quando passou pela mesa de Reiji.

— Preciso falar com você, Maya — a voz de Reiji a fez parar quase imediatamente. Ela segurou no cabo de sua espada enquanto se virava de frente para o meio-irmão.

A última pessoa a sair foi Subaru e, quando ele passou pelos dois próximos da mesa do professor, parou atrás de Maya. Ela nem precisava se virar para ver quem era, sabia que era o menino de cabelos brancos. Sentindo a presença do outro menino, Reiji levantou os olhos de seus papeis e encarou o outro vampiro por cima dos ombros de Maya.

— A conversa é com ela — Reiji disse, sério. — Saia.

Maya sentiu a tensão no ar, a hesitação de Subaru atrás si, mas no fim ele cedeu e saiu da sala, bufando, e bateu a porta com força atrás de si. À frente de Maya, Reiji revirou os olhos, claramente incomodado com a atitude do irmão.

— Odeio essa atitude dele, parece um cachorro que não quer largar o osso — ele comentou, mais para si que para Maya. Ele a encarou. — É bom te ver de novo.

A última frase desarmou Maya completamente que esperava a mesma recepção que recebeu de Laito quando eles se encontraram ou, pelo menos, algo parecido, mas Reiji não parecia disposto a jogá-la contra parede e enforcá-la, proferindo ameaças. Reiji deu a volta na mesa e se aproximou de Maya, que se afastou automaticamente, ainda temendo que ela tivesse entendido tudo errado e Reiji fosse mostrar as garras a qualquer momento. Ele não pareceu incomodado com a distância que ela colocou entre eles.

— Não entendo porque Karlheinz mandou você para cá — ele cruzou os braços, adotando uma pose característica dele. — Não acho que você esteja pronta para lidar com... Tudo isso ainda.

Maya cruzou os braços também, erguendo uma sobrancelha.

— Acho que você não me conhece, Reiji. Não sou mais um bebê.

— Eu percebi isso — ele disse, dando uma olhada nela de cima a baixo. A intensidade do olhar dele a deixou um pouco desconfortável, mas ela não recuou. Não o deixaria saber que ele tinha o poder de intimidá-la em alguns momentos. — Mas, ainda assim. Cordelia continua a mesma megera de sempre e Shu, Subaru e eu temos que ficar fingindo que acreditamos nas mentiras que ela conta porque, infelizmente, mesmo depois de tantos anos, ela ainda tem o poder de transformar nossas vidas em um inferno.

— Quero só ver ela tentar fazer algo contra mim — Maya disse, franzindo as sobrancelhas. — Acabo com a raça dela em um piscar de olhos.

Um sorriso de canto brincou nos lábios de Reiji.

— Como eu imaginei, você ainda é muito inconsequente, apesar de ser muito forte. Isso não é uma boa combinação, Maya.

Ele se aproximou novamente de Maya, se movendo mais rápido dessa vez, e quando ela percebeu a ponta de seus sapatos estavam quase encostado nos dele. Ela não recuou mais e levantou o rasto para olhá-lo nos olhos.

— Eu não preciso de sermão seu, nosso pai já faz esse trabalho muito bem. Não vou abaixar a cabeça para Cordelia e muito menos para vocês seis — ele ainda sorria para ela. — Se acham que vão me intimidar, vocês não me conhecem realmente. Se me conhecessem mesmo, nem se atreveriam a se aproximar de mim.

— Você deveria relaxar um pouco — ele tocou a barra da saia do uniforme dela. — Eu não mordo. A menos que você peça.

— Para com isso! — ela disse, firme, empurrando-o para trás, mas ele segurou seu pulso, não dando nem mesmo um passo para longe dela. — Me solta, Reiji. Já cansei do seu papinho.

Antes que ela pudesse protestar ou falar qualquer outra coisa, ele a puxou para si e fez algo que a chocou ainda mais que a recepção que recebeu de Laito: ele a abraçou. E Maya se sentiu tão aliviada com a demonstração de afeto que poderia chorar. Ela acabou retribuindo o abraço rapidamente, pensando que não queria sair dali.

— Estou brincando com você — ele disse baixinho, contra os cabelos dela. — Mas, sério, não vai ser fácil viver aqui. Cordelia e os trigêmeos vão ser seu maior empecilho, os seguidores dela vão infernizar a sua vida. Mas eu vou estar aqui, se você precisar. Pode contar comigo para qualquer coisa — ele a afastou um pouco e depositou um beijo na testa dela. — Entendeu?

Ela balançou a cabeça, concordando, tentando não deixar lágrimas encherem seus olhos.

— Mas não conta para ninguém. Tenho uma reputação a zelar.

Ela sorriu, dando um soquinho nele, e ele sorriu também, o que a fez pensar que sua vida não seria exatamente péssima naquela escola.

— Pode deixar, eu prometo — ela respondeu.

Eles sorriram mais uma vez um para o outro antes que ela saísse da sala. Do lado de fora, Maya se assustou quando, ao fechar a porta, deu de cara com Subaru encostado à parede, ao lado. Ele estava com uma cara de poucos amigos, encarando os próprios pés. Ele apenas levantou os olhos para ela quando sentiu o olhar dela em cima de si.

— Vamos dar uma volta — ele disse, simplesmente, começando a andar na frente de Maya.

Por alguns segundos ela não se moveu, surpresa com o pedido (ou comando) de Subaru, e ele não parou para esperá-la. Sem ter muitas opções disponíveis, Maya o seguiu pelos corredores, alinhando seus passos ao do vampiro. Subaru caminhava mais rápido do que ela esperava, mas Maya não teve dificuldade de caminhar ao seu lado. Os dois andaram em silêncio por um momento e ela se perguntou no que ele poderia estar pensando. Subaru não havia falado e nem mesmo olhado para ela durante toda a aula de Reiji e ela não sabia o que esperar agora.

Ela se lembrou que Reiji havia falado que ele, Shu e Subaru apenas fingiam que acreditavam nas coisas que Cordelia falava para eles, então ela pensava que não teria que ficar pisando em ovos com Subaru. O menino a levou para o jardim do internato, onde alguns alunos andavam, esperando suas próximas aulas. Eles ainda tinham alguns minutos livres antes de terem que voltar para as salas de aula. Ali, entre as rosas brancas, Subaru diminuiu o passo e os dois começaram a andar calmamente sob a luz da lua.  

— Quando fiquei sabendo que você estava aqui, quase não acreditei — ele disse por fim, quebrando o silêncio.

— É, eu me tornei um evento e tanto — ela disse, olhando para as rosas.

— Maya — ele parou, o que a fez parar também. Os dois viraram de frente um para o outro e se encararam. O rosto de Subaru sempre parecia estar cheio de raiva, mas ela sabia que não era isso o que ele estava sentindo naquele momento. — Acredito que te devo um pedido de desculpas.

Um vento frio envolveu os dois, jogando os cabelos de Maya para o lado. Ela ficou apenas encarando Subaru por um momento, sem saber o que dizer. Apesar de ter passado anos longe do meio-irmão, ela sabia que não era muito do feitio dele sair pedindo desculpas por aí.

— Pelo o que? — ela perguntou, desviando o olhar do dele, e sentando-se em um banquinho de pedra que estava bastante frio.

— Quando fui mandado para cá, anos atrás, eu odiei você com tudo o que havia dentro de mim. Te culpei por muito tempo — ele admitiu e sentou-se ao lado dela. Erguendo a cabeça para o céu, ele ficou observando a lua acima deles. — Mas nada do que aconteceu foi culpa sua.  Então, desculpa.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos até Maya deslizar sua mão para a coxa de Subaru e pegar a mão dele, segurando-a na sua. O menino ficou encarando a mão dos dois juntas, mas não disse nada e nem tentou soltar a própria mão.

— Tudo bem — ela disse, por fim. — Não se preocupe com isso.

— Tem sido um inferno aqui, com a Cordelia e tudo mais — ele disse, desabafando. — Então, vamos nos dar bem, ok?! — ela balançou a cabeça, concordando. — E mais uma coisa, Maya — ele virou o rosto para ela, vendo que a mesma já o estava encarando. — Tenha cuidado — ela ia abrir a boca para protestar, dizendo que sabia se cuidar, mas ele não a deixou falar. — Por causa de seu sangue. Seu sangue é... — ele deu uma pausa, procurando as palavras certas. — Diferente. Atrai nós seis de uma forma assustadora. Acredito que atraia nós seis mais que qualquer outro vampiro, mas não acho que vai demorar muito para outros perceberem e não vai ser fácil. Pega leve se você se envolver em alguma briga e até mesmo durante as nossas aulas que envolvam luta.

Maya sorriu diante da demonstração de afeto de Subaru. Dentro de seu peito, seu coração havia ficado bem aquecido com tudo o que o vampiro dissera. Ela soltou a mão dele e se aproximou mais do meio-irmão, encostando a testa na testa dele. Ela fechou os olhos, aproveitando o momento. O jardim estava silencioso, não haviam mais muitos alunos por ali, e ela lembrou de quando eles eram crianças e, sempre que Maya se sentia mal por algum motivo, Subaru encostava sua testa na dela e dizia que tudo ia ficar bem.

— Não precisa se preocupar comigo — ela disse, baixinho. Assim que abriu os olhos, suas testas se afastaram. Os olhos vermelhos de Subaru, tão parecidos com o dela, a encaravam intensamente. — Mas eu prometo que vou tomar cuidado.

Subaru não parecia muito convencido, mas não falou mais nada, aceitando a promessa dela. O sinal anunciando o início da próxima aula tocou e os dois foram obrigados a se separarem. Maya teria aula de História Vampírica e Subaru teria aula de Vampirologia, ou seja, iriam para salas diferentes. Eles caminharam juntos para dentro da escola novamente e seguiram por corredores diferentes. Apesar de tudo, Maya estava feliz, pelo menos dois de seus meio-irmãos não tentaria fazer da vida dela o próprio inferno.

A sala 301 A ficava no terceiro andar e Maya chegou lá um pouco atrasada, mas, por sorte, a professora não reparou em seu atraso, pois estava ocupada demais entregando alguns papeis para os outros alunos. Provavelmente algum dever de casa que foi corrigido e agora estava sendo entregue. Maya se sentou um pouco mais na frente nessa aula e esperou até que a professora se organizasse. Porém, a chegada de outro aluno — também atrasado — tirou toda a concentração dela tanto no momento em que ele entrou na sala quanto no resto da aula.

Era Laito. Ele entrou na sala usando seu chapéu fedora e parecendo o dono do mundo, o queixo erguido e uma expressão arrogante no rosto. Ele parou primeiro na mesa da professora, falando alguma coisa para ela que foi inaudível para Maya, pois ela estava escutando apenas sua pulsação em seus tímpanos. A professora ergueu os olhos de seu notebook da Apple e olhou para Laito com uma expressão de poucos amigos. Mesmo Laito estando de costas para Maya, ela conseguiu ver um sorriso no canto de seus lábios. Um sorriso cheio de segundas intenções que ele estava lançando para a professora. Como a professora estava de frente para Maya, ela conseguia ver bem seu rosto e suas expressões. A cada palavra de Laito, o rosto dela fechava mais até o momento em que ela ficou de pé e praticamente o obrigou a sentar.

— Como quiser, Mikami-sensei­ — Laito falou o nome da professora e o sufixo de uma forma meio sedutora, mas não surtiu efeito nenhum na professora.

Assim que Laito se virou para procurar seu lugar, seus olhos pararam em Maya. Aqueles olhos verdes pareceram arder como um fogo grego quando a vampira retribuiu o olhar dele. Com um sorriso de canto, ele começou a andar por entre as carteiras e quando chegou próximo de Maya, parou ali como se tivesse empacado. A respiração de Maya acelerou como se ela estivesse tendo uma crise de pânico. Mentalmente, ela estava torcendo para que ele apenas seguisse seu caminho, mas ela não tinha tanta sorte assim. Laito se curvou, abaixando o rosto até próximo da orelha dela. O tempo pareceu parar quando, com um movimento rápido, ele segurou o pulso dela entre o polegar e o dedo médio e o indicador. O ar da risada baixinha dele atingiu a orelha da garota.

— Se a sua pulsação aumentar mais um pouco — ele começou, em um sussurro. — seu coração pode não aguentar — ele deslizou os dedos do pulso dela para o pescoço, parando em cima de sua veia jugular, onde ele pôde sentir a pulsação dela também. — E eu não permito que você morra — ele envolveu o pescoço dela com a mão. Os dedos frios do vampiro fizeram Maya estremecer. — Não antes que eu te destrua.

— Laito! — a professora o repreendeu. — Sente-se agora antes que a próxima carta que você receba em seu quarto seja a de expulsão.

 Ele riu baixinho, se afastando de Maya e ajeitando a postura. O vampiro segurou a aba de seu chapéu e ergueu a cabeça apenas o suficiente para que a professora visse seus olhos. Era como se ele a estivesse saudando, mas, vindo de Laito, era apenas mais uma de suas provocações.

— Não precisa sentir ciúmes, professora — ele disse. — O que eu fizer com essas garotas, posso fazer com você. É só pedir.

O rosto da professora ficou vermelho como sangue, mas não por estar corando e sim de raiva. Ela bateu o punho com força na mesa, sobressaltando Maya.

— Já chega! Se você falar mais uma palavra vai ser expulso dessa sala de aula!

Ainda com a expressão arrogante no rosto, Laito deu de ombros e se sentou algumas cadeiras atrás de Maya. Ele estava próximo demais e, ainda que tivessem umas três cadeiras entre eles, Maya o sentia mais próximo que nunca. Ele já estava passando dos limites. Como ousava fazer qualquer coisa com ela na frente de uma sala inteira? Quem ele pensava que era para intimidá-la desse jeito? Para ameaçá-la? Maya tinha plena consciência da respiração de Laito atrás de si e ela não precisava se virar ara saber que os olhos dele estavam em cima dela.

— Quem essa garota pensa que é? — Maya ouviu alguma aluna cochichando com outra sobre ela. — Ficar próximo do Laito desse jeito!

— Esquece isso — outra menina disse à primeira. — O importante é que ele voltou! — ela deu um gritinho, feliz.

— Ouvi dizer que ele ia ser expulso — outra menina disse.

— A mão dele é a diretora e o pai é o dono dessa escola, o que você esperava? É claro que ele não ia ser expulso — era a voz de um garoto agora.

— Mas ele foi um pervertido com a professora Mikami — a menina que disse da expulsão rebateu, em um sussurro. — e ainda por cima foi pego fazendo sexo com uma escrava de sangue.

— Eca! — a primeira menina que havia falado sobre Laito se fez ouvir de novo. — Ele teria aproveitado mais comigo que com uma humana.

Duas meninas riram e Maya achou que fosse vomitar. A professora agora estava mexendo em algo em seu notebook, provavelmente ajeitando algum slide, e ainda não havia começado a aula. Olhando melhor para ela, Maya viu que era muito bonita: tinha a pele um pouco mais bronzeada que a dos vampiros que Maya havia visto até agora, olhos azuis claros e cabelos curtos e loiro acobreados. Era muito bonita mesmo, não era a toa que chamava a atenção de Laito. Ao pensar no nome dele, Maya sentiu uma raiva crescendo em seu peito. Ela não tinha medo das ameaças dele e muito menos do que ele pensava que poderia fazer com ela, mas precisava dar um jeito de tirar aquele sorriso cínico de seu rosto. Precisava colocá-lo em seu devido lugar. E rápido. Ela levou uma mão ao pescoço, no mesmo lugar onde a mão do vampiro havia estado e sentiu um calafrio percorrendo sua espinha.

— Hoje vamos estudar sobre Lilith, a primeira vampira — Mikami disse, chamando a atenção de todos. Ela foi para a frente de sua mesa e juntou as mãos na frente de seu corpo. —Mas antes, quero me apresentar à aluna nova — ela olhou na direção de Maya. — Maya, seja bem-vinda. Eu me chamo Mikami Saito e dou aula de História Vampírica. Espero que você nos dê menos problemas que seus irmãos.

Maya não levou isso como uma critica, pois ela já imaginava o que a escola passava na mão dos Sakamaki. Em resposta à professora, ela balançou a cabeça, mostrando que havia entendido o que ela falara, e a aula finalmente começou. Mikami ligou o projetor e no quadro apareceu o slide da aula. Ela desligou as luzes e começou a explicar a matéria. Ficar na mesma sala que Laito com as luzes desligadas não ajudou em absolutamente nada. Ela preferia morrer a ficar em uma sala escura com o vampiro.

No meio da aula, a porta da sala foi aberta e Mikami foi chamada para fora. Ela deu uma pausa na explicação, pediu licença e saiu para o corredor. O barulho de conversas começou imediatamente até que a professora entrou de novo, acompanhada de Karlheinz. A principio, Maya pensou que estivesse louca, vendo coisas, mas quando Mikami acendeu a luz da sala e seu pai ficou mais visível, ela viu que de fato ele era real.

— Laito, venha comigo. Precisamos conversar — ele disse, ignorando os outros alunos e até mesmo Maya.

— Papai! — Maya ouviu a voz de Laito atrás de si. — A que devo a honra da visita? Saudades?

— Venha comigo — Karlheinz disse, firme. — Agora, por favor.

Um minuto se passou até que Maya ouviu Laito arrastar a cadeira para trás e, quando ele passou por ela, a garota teve um vislumbre da expressão fechada que havia tomado o lugar daquele sorriso irritante. Lado a lado agora, ela não pôde deixar de nota a semelhança entre Laito e o pai: a mesma cor de cabelo, os mesmos traços no rosto, o mesmo olhar intenso. Antes de sair, Karlheinz lançou um olhar na direção de Maya e se virou para porta, saindo da sala, seguido por Laito.  Quando a presença imponente do pai sumiu de vista, os cochichos sobre como ele era lindo encheu a sala de aula. Mikami teve um pouco de dificuldade em fazer os alunos ficarem em silêncio, mas logo a aula já estava sendo retomada como se nada tivesse acontecido. Maya tentou se concentrar nos minutos seguintes, mas tudo o que conseguia pensar era no que seu pai teria de tão urgente para falar com Laito ao ponto de interromper uma aula para chamá-lo.


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