Wicked Love. escrita por Beatriz


Capítulo 2
Capítulo 2: Kaori.




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Kaori viu o sol começar a nascer atrás das montanhas, e o vento frio que insistia em jogar os cabelos dela para trás avisava que seria mais um dia gelado. Mas Kaori já estava acostumada, afinal estava na Transilvânia e lá todos os dias eram frios, até mesmo no verão.

Ela havia passado a noite acorda, mas, assim como ao clima, ela também já estava acostumada a não dormir algumas noites. Kaori havia pedido para ficar nas patrulhas noturnas, pois preferia ficar concentrada em seu trabalho que estar enfiada dentro do quarto com a mente livre para divagar o quanto quisesse. Ela não gostava de ter momentos livres para pensar, pois sua mente sempre a sabotava de algum jeito, fosse lembrando o passando ou tentando prever o futuro. Nunca se concentrando no presente.

Um pouco atrás dela ali no terraço da escola, estava Zero Kiryu, seu parceiro de trabalho e futuro marido. Kaori havia acabado de completar 17 anos, mas Zero fora prometido a ela (e ela a ele) desde que eram bebês. Eles cresceram sabendo dessa condição de noivos entre eles e cresceram muito próximos e, quando decidiram se tornar caçadores, ficaram ainda mais íntimos. Desde então, Zero se tornara uma presença constante em sua vida, porém, apesar de serem noivos, eles dois nunca haviam tido nada além de uma amizade muito grande.

O casamento arranjado já havia saído de moda há muito tempo nos quatro cantos do mundo, mas não entre os Caçadores de Vampiros da Transilvânia. O motivo era simples: há anos a população de caçadores vinha diminuindo, fosse por morte ou fosse por deserção. Então, assim que algum casal de caçadores tinha um filho, eles logo tratavam de arranjar um casamento futuro para a criança, pois os caçadores precisavam aumentar. Por isso, não foi diferente o que os pais de Zero e Kaori fizeram quando os dois nasceram. Os casais já eram amigos, então apenas uniram o útil ao agradável.

Os pais de Kaori e os de Zero morreram quando eles tinham 10 anos em um ataque de um vampiro Puro-Sangue. Com 11 anos eles decidiram que virariam caçadores, como seus pais foram. Era um jeito de honrar a memória deles e também um jeito de se preparar para se vingar do vampiro que havia matado os quatro.

Hoje, enquanto amanhecia mais uma vez, ela estava sentada no parapeito da sacada da Academia de Caçadores, com um braço apoiando no joelho, sentindo o vento frio em seu rosto, quando percebe Zero se aproximando por trás e sente a mão dele em suas costas. Ele acaricia as costas dela gentilmente e ela vira o rosto para encará-lo.

— Nosso turno já vai acabar — ele disse. — Vamos entrar.

— Acho que vou esperar mais um pouco — Kaori deu um sorriso cansado para Zero. — Pode ir na minha frente.

— Tem certeza? — ele olhou para ela com preocupação e Kaori apenas balançou a cabeça, concordando. — Tudo bem, mas não demore muito, você também precisa descansar.

Ela disse que iria logo, que ele não precisava se preocupar, então Zero cedeu e caminhou em direção às escadas. Quase no exato momento em que ele sumiu de vista, Kaori escutou um barulho entre as árvores, um pouco além da escola de caçadores. Imediatamente todos os sentidos dela se apuraram, ela ficou de pé e olhou na direção do barulho.

Ela não viu nada de imediato, mas ela sabia que algo estava errado. Movida por algo que ia além da curiosidade, Kaori pulou do posto de vigia para o chão. Foi nesse momento que ela viu algo que chamou a sua atenção: um movimento entre as árvores. Sorrateiramente, ela seguiu até ali e o que viu poderia muito bem tê-la feito correr em outra direção se ela não tivesse seis anos de treinamentos em seu currículo.

Já bem dentro da floresta, Kaori viu um caçador tendo todo o sangue de seu corpo drenado por um Renegado. Ou o que restava de sangue no corpo dele pelo menos. O caçador estava com um corte profundo na garganta e o vampiro estava inclinado em cima do corpo, bebendo o líquido escuro que saia daquela abertura que mais parecia um sorriso feio e assustador. Uma poça de sangue começava a se formar embaixo do caçador e seu corpo já não demonstrava ter vida nenhuma.

Instintivamente, Kaori levou a mão até a espada que ficava em uma bainha em seu quadril, mas nem a espada e nem a bainha estavam ali. Xingando baixinho, ela percebeu que sua espada havia ficado no posto de vigia. Como ela podia ter sido tão descuidada? Sem opções, ela puxou as duas adagas que ficavam presas em seu cinto e, talvez movida pela raiva, atacou o vampiro a sua frente. Ela já havia lutado várias vezes contra Renegados, não era como se fossem os mais difíceis de vencer – essa posição ficava para os Puro-Sangue –, então ela sabia o que estava fazendo. No momento em que o vampiro percebeu a presença de Kaori, ele afastou a cabeça da garganta do caçador e, com as presas a mostra e uma quantidade preocupante de sangue em seu rosto, pulou para trás, antes que as adagas de Kaori o acertassem.

Kaori praticamente rosnou em resposta, o atacando novamente. Renegados quase não falavam palavras coerentes, pois, na sua mente destruída, a única coisa na qual podia pensar era em matar e em se alimentar. Mas esse não parecia tão perdido psicologicamente. Quando seus olhos encontraram os da caçadora em sua frente, ele deu uma gargalhada que reverberou pela floresta, sendo arrastada pelo vento. Kaori trincou o maxilar, segurando com força o cabo de suas adagas. Matar um caçador, para um vampiro, sempre parecia uma vitória, então após matar um, na maioria das vezes, eles sentiam como se pudessem matar todos.

A raiva que Kaori sentia talvez tivesse uma definição em algum outro idioma, mas no dela, ela não conseguia colocar em palavras. Era algo intrínseco. Ela sentia a morte de cada caçador como se fossem seus próprios pais morrendo repetidas vezes na frente dela. Ela nunca perdoaria a criatura que fez isso com eles e mataria qualquer uma que entrasse em seu caminho.  O que cada caçador aprendia ao entrar na academia, era que, acontecesse o que acontecesse, eles não podiam deixar um vampiro acertá-los durante uma luta corpo a corpo, pois, dependendo do que eles fizessem, poderia ser fatal para um caçador que era apenas um humano com certas habilidades de batalhas. Então, quando Kaori entrava em confronto com um vampiro, ela nunca parava de atacar até que seu oponente estivesse morto.

Mas, dessa vez, algo aconteceu. O cansaço e a fadiga de passar quatro dias seguidos acordada estavam cobrando seu preço. Seu corpo parecia muito pesado e seus músculos doíam como se ela tivesse feito uma maratona de exercícios, além de que sua concentração estava péssima. Ela mal conseguia acompanhar os movimentos do vampiro com o qual lutava. Suas mãos tremiam segurando as adagas. Ela sabia que se isso se estendesse por mais tempo não sairia vitoriosa, pelo contrário.

Foi então que tudo saiu do controle quando algo capturou a atenção de Kaori pelo canto de seus olhos. Ela sabia que era outro vampiro e que definitivamente seria seu fim se ele se juntasse ao Renegado que já estava lutando com ela. A distração de Kaori de tentar prever o que aconteceria, o cansaço e ansiedade de estar sem a sua espada foram suficientes para que o vampiro na sua frente acertasse um chute no abdômen dela. Como ela sempre soube, um ataque direto de um vampiro pode ser fatal em alguns casos. O chute fora tão forte que uma quantidade grande de sangue escapou da boca de Kaori e ela praticamente voou alguns metros para trás.

Uma dor lancinante tomou conta de seu corpo quando ela parou contra uma árvore. Tremendo da cabeça aos pés, ela olhou para baixo apenas para constatar que ela havia sido praticamente empalada na árvore. A ponta de um galho quebrado despontava para fora de seu abdômen. Não havia pegado a coluna dela, mas sim entrado pela lateral – não que isso fosse melhor de alguma forma. Ela tossiu sangue e uma poça começava a se espalhar pela blusa dela. Não posso morrer aqui, esse foi o primeiro pensamento dela ao perceber que a sua morte estava mais próxima do que achava possível.

Não vou morrer aqui. Não vou. Fazendo uma força enorme, ela apoiou uma mão na árvore atrás dela e se impulsionou para frente. Ela se separou do galho, sentindo que ele a rasgava por dentro, porém, de alguma forma, ela ainda encontrou forças para se manter de pé. E atacar. O mesmo vampiro de antes estava bem próximo dela, provavelmente se preparando para mais uma refeição, mas ela o atacou mais uma vez, esquecendo-se por um momento do possível outro vampiro que havia se aproximado. Cheia de raiva – e de dor –, foi a vez dela de chutar o outro vampiro, apenas para que ele se distanciasse, mas o homem acabou se desequilibrando e caindo no chão. Patético, mas Kaori não perdeu tempo se vangloriando, apenas subiu em cima dele, com as duas pernas em cima das mãos com unhas extremamente afiadas. O vampiro chiou, tentando alcançá-la com a boca, e Kaori usou suas duas adagas para separar a cabeça do vampiro de seu corpo. Não foi fácil e ela teve que fazer uma força monstruosa, considerando o quão fraca estava. Após isso, ela pegou uma pequena estaca que sempre andava com ela e cravou no coração dele. O vampiro secou embaixo dela, como uma uva exposta ao sol, e finalmente morreu.

Ofegante e sentindo uma dor imensa na lateral do corpo, Kaori se jogou para o lado, caindo deitada na grama, e ficou de lado, quase em posição fetal, fazendo pressão na ferida em seu abdômen para tentar estancar um sangramento que não estancaria nem com toda a sorte do mundo. Ela sabia que morreria, já havia pedido uma quantidade considerável de sangue e estava tão fraca que não conseguia formular nenhum pensamento coerente. Kaori sentiu uma lágrima escorrendo de seus olhos e pingando da ponta de seu nariz na grama. Que droga! Ela havia lutado tanto para chegar aonde chegou e agora morreria da forma mais estúpida possível. Com as adagas caídas ao seu lado e com a visão ficando turva, ela se encolheu mais e tentou não pensar em tudo o que perderia morrendo agora. Tentou não pensar em Zero e no possível futuro que teriam juntos ou em seus pais ou na vingança que ela tanto queria. Tentou não pensar em nada, não valeria a pena.

Antes que ela perdesse completamente os sentidos, viu alguém se aproximando. Ela não reconheceu a pessoa, mas viu que era um homem. Poderia ser o vampiro que ela sentira outrora. Mais patético que morrer do jeito que ela morreria agora, seria ser encontrada com um vampiro atracado em sua jugular. De todas as formas que existem para morrer, por que a minha tinha que ser justamente essa?, ela pensou. O homem se aproximou, se agachou na frente dela e Kaori tentou erguer o rosto para olhá-lo. Ela não conseguiu distinguir seu rosto, pois quase não enxergava mais nada, sua visão estava escura e turva. Mas ela sentiu quando ele passou uma mão por sua nuca e ergueu a cabeça dela na sua direção. Os olhos dele brilhavam vermelhos como um rubi quando ela o sentiu cobrindo sua boca com o pulso dele. Então ela perdeu a consciência.

— x —

Kaori teve um sono conturbado. Ela sonhou com coisas estranhas, com sangue, vampiros, presas e mais sangue, muito sangue. Quando ela acordou, sua visão estava avermelhada e, através de todo esse vermelho, percebeu que estava na enfermaria da Academia de Caçadores. Ela esfregou os olhos com as mãos trêmulas e sua visão acabou voltando ao normal de alguma forma. Kaori percebeu que uma agulha com soro estava enfiada em seu braço e que haviam trocado sua roupa. Ela não sentiu vergonha disso, pois a nudez não era algo que intimidava caçadores, mas ela bem que gostaria de saber quem havia removido todas as suas roupas.

Kaori experimentou o silêncio do quarto por um tempo, tentando se lembrar de tudo o que havia acontecido antes que ela viesse parar na enfermaria. Havia encontrado um caçador morto, um Renegado em cima dele e havia se ferido fatalmente durante a luta, mas ela havia conseguido matar o vampiro. E teria morrido se não fosse por... Ela não conseguia se lembrar de mais nada. Talvez Zero a tivesse encontrado e a levou as pressas para a enfermaria, mas aquele machucado... Ela levou uma mão até o abdômen, por baixo da roupa do hospital, e se assustou como se tivesse visto um fantasma, sentindo um frio percorrer toda a sua espinha, quando percebeu que não havia mais ferimento nenhum ali. Ela se sentou bruscamente na cama, parecendo uma louca, com os olhos arregalados, procurando por qualquer coisa que parecesse minimamente um buraco em sua barriga.

— Kaori? — a voz do diretor Kaien Cross chamou sua atenção para porta do quarto e, quando os olhos dos dois se encontraram, ele deve ter pensado que seu estado se devia ao fato dela não saber por que estava na enfermaria. — Ah, que bom que você acordou! — ele entrou no quarto, sendo seguido por uma enfermeira, e sorriu gentilmente para Kaori, como sempre fazia. — Estávamos preocupados, você ficou desacordada por dois dias.

Dois dias? Kaori olhou para o diretor como se ele estivesse falando a coisa mais absurda do mundo. Como ela poderia ter ficado desacorda por dois dias? Por um momento, ela se esqueceu do fato de que o ferimento que quase a matara havia sumido magicamente e pensou apenas em seu trabalho. O trabalho sempre vinha em primeiro lugar para ela e passar dois dias sem poder fazer nada parecia o fim do mundo. Ela teve que fazer um esforço muito grande para não sair da cama e ir treinar ou ir para algum posto de vigia enquanto a enfermeira checava seus sinais vitais.

— Ela parece bem — a enfermeira disse, trazendo Kaori de volta a realidade. — Poderá receber alta hoje se você se sentir bem, Kaori-san — a mulher disse diretamente para ela.

Kaori era tratada por muitas pessoas na academia pelo sufixo “san” que demonstrava certo respeito. Porém, pelos caçadores mais novos, como Luke que ainda era uma criança, ela sempre era tratada pelo conectivo “sama”.

— O que aconteceu comigo? — ela perguntou ao diretor enquanto a enfermeira retirava a agulha de seu braço.

— Você foi encontrada desmaiada na floresta após matar um Renegado — ele respondeu. — Zero a encontrou. Ele percebeu que você estava demorando a deixar o posto de vigia e, quando foi até lá, viu que você havia sumido e que sua espada havia sido deixada lá.

— Eu estava apenas desacordada? Não estava com nenhum... Ferimento?

— Estava apenas desacordada — o diretor confirmou.

Como isso podia ser possível? A lembrança de quase ser empalada viva em uma árvore era tão viva em sua mente que ela ainda podia sentir o galho enfiado em sua barriga, latejando ali como um membro fantasma. O que aconteceu com ela? Como poderia um ferimento daquela gravidade ter sumido assim?

Enquanto a enfermeira checava Kaori uma última vez, limpava e colocava um curativo onde havia estado a agulha em seu braço, o diretor a explicava que ela voltaria ao trabalho aos poucos, que começaria devagar, nada de ficar pegando uma patrulha atrás da outra e se cansando sem necessidade. Ela até tentou protestar, mas Kaien não quis saber e a cortou antes que ela completasse uma frase inteira. Kaori não teve escolha a não ser aceitar, mesmo que não quisesse, ela sabia que precisava de algum descanso.

 Depois que acertaram tudo, Kaori pôde ir se trocar. Uma muda de roupa nova havia sido deixada para ela, mas ela não deixou de reparar na que havia usado quando tudo aconteceu. Um buraco ensanguentado ainda estava em sua blusa, única prova de que aquele ferimento fora real e não apenas fruto de sua imaginação. Será que ninguém havia percebido isso? Um calafrio percorreu seu corpo enquanto ela enfiava a roupa antiga em um saco e anotava um bilhete mental para se livrar dela.

Kaori encontrou com Zero quando já estava saindo de seu quarto para a primeira ocupação do dia: dar aulas de esgrima para os alunos mais novos. Kaori ainda era uma aluna também, mas, por ser muito boa no que fazia, ela, às vezes, ficava no lugar de algum professor quando ele tinha um imprevisto e não poderia dar aula. Estranhamente, quando saiu do quarto, ela percebeu que se sentia estranhamente bem, como se nada tivesse acontecido. Sentia como se pudesse passar mais quatro dias acordada. Ela nunca havia se sentido tão bem, na verdade. No corredor do dormitório feminino, ela praticamente deu de contra com Zero.

— Zero — ela deixou escapar o nome dele quando ele a abraçou.

Zero nunca fora de demonstrar emoções, mas com ela as coisas eram diferentes. Ele se preocupava com Kaori de uma forma que ela achava até um pouco exagerada, talvez fosse pelo fato deles terem crescido juntos, terem perdido os pais muito novos e, desde então, serem a única família um para o outro. Ou talvez fosse pelo fato de que ela logo se tornaria esposa dele. Não importava o motivo, só importava que com ela ele era diferente.

— Desculpe se preocupei você — ela disse, se afastando um pouco dele. Zero balançou a cabeça.

— Não se desculpe, você estava fazendo o seu trabalho. E você está bem, é isso o que importa. O que você está indo fazer? — ele a observou de uniforme, pronta para mais um dia de trabalho. — Pensei que você ia ficar de repouso por mais uns dias.

— Não consigo ficar sem trabalhar, você sabe — ela sorriu para ele, culpada.

Zero franziu o cenho para ela.

— Você precisa pegar mais leve.

— Eu estou bem — ela pegou a mão dele, já se afastando mais. — Vejo você mais tarde?

Zero balançou a cabeça, concordando, e ela soltou a mão dele, se afastando pelo corredor. Já estava um pouco atrasada para a aula do dia. Kaori não gostava muito de ser professora, ela preferia ficar na patrulha, onde só teria que lidar com algum vampiro caso aparecesse. Ela havia ficado com a turma de Luke, um menino de 12 anos que havia começado o treinamento há pouco mais de um ano e já era excepcionalmente bom em tudo o que fazia, e ficou até um pouco feliz com isso, pois o menino sempre era muito educado e doce com ela. Hoje não havia sido diferente, ele a cumprimentou quando ela deu bom dia, chamando-a de “Kaori-sama” e ela deu um sorriso gentil na direção dele.

Kaori começou a aula do exato momento onde o último professor havia parado: o treinamento em duplas. Luke havia ficado com uma menina da mesma idade dele e, mesmo ganhando dela em todas as investidas, ele ainda era paciente e gentil com a menina. Uma qualidade que Kaori admirava muito nele, pois não adiantava de nada você ser um excelente caçador e desprezar seus próprios colegas de trabalho por eles não serem tão bons quanto você. A aula toda durou duas horas e no fim aconteceu algo que deixou Kaori desnorteada.

Ela estava se despedindo dos alunos quando algo a fez parar um momento e a deixou trêmula. Foi apenas uma sensação, mas o corpo inteiro de Kaori esquentou de uma só vez, como se ela, subitamente, tivesse ficado com febre. A pulsação de seu coração acelerou algumas batidas e ela pensou se estaria tento um princípio de infarto ou algo parecido. Não fazia ideia do que poderia estar acontecendo consigo e teve que se apoiar na mesa do professor para não acabar caindo no chão. Ela levou uma mão à testa, tentando sentir a sua temperatura, mas não estava com febre apesar de seu corpo estar quente como o inferno. Ela nem se sentia doente.

— Tudo bem, Kaori-sama? — a voz de Luke a fez olhar para o lado, na direção do menino. Ele a encarava preocupado.

— Tudo bem, Luke — ela fez um esforço para não gaguejar. — Não se preocupe, acho que a minha pressão caiu um pouco — mentiu.

— Você quer que eu chame alguém? — ele não parecia convencido.

— Não precisa — Kaori deu um sorrisinho. — Eu não tomei café da manhã, deve ser isso. Vou até o refeitório.

— Tem certeza? — ele ainda olhava desconfiado para ela.

— Tenho sim — ela continuou sorrindo. — Vá para sua próxima aula antes que você se atrase. Nos vemos depois.

Mesmo sem acreditar muito nela, Luke acabou cedendo e se afastou, caminhando em direção à próxima sala, onde teria alguma aula mais teórica que a de Kaori. Assim que o menino sumiu de vista, ela levou uma mão até o pescoço, sentindo sua pulsação ali que estava estranhamente rápida. Ela cambaleou para fora da sala, caminhando em direção ao banheiro feminino. Por sorte, os corredores estavam vazios e as únicas vozes que se podia ouvir vinham de dentro das salas de aula. Dentro do banheiro, ela abriu o registro da torneira e lavou o rosto com água gelada repetidas vezes. Quando ela se olhou no espelho, seu rosto estava corado e subitamente ela sentiu o meio de suas pernas esquentar como se... Ela arregalou um pouco os olhos enquanto a fixa caia. Como se ela estivesse ficando excitada.

O reflexo de Kaori olhava para ela de olhos arregalados e ofegante. Como ela poderia estar ficando excitada assim, completamente do nada? Ela havia feito sexo uma vez, alguns meses atrás, com Zero. Os dois haviam decidido experimentar e já que eles eram noivos que problema poderia haver? Eles transaram e depois desse dia eles não mais fizeram nada, não porque havia sido ruim, mas porque não sabiam como chegar realmente um no outro com intenções sexuais. Kaori pensou que estava ficando louca, era a única explicação plausível para o que estava acontecendo com ela.

Ela fechou os olhos com força, tentando de algum jeito se livrar dessa sensação. Em sua mente ela viu coisas desconexas: tudo vermelho, um vampiro mordendo um pescoço... Logo, ficar de olhos fechados se tornou um martírio. Por que ela estava pensando tanto em vampiros, sangue e mordida era um mistério, um que ela não estava gostando nem um pouco. 

— x —

Assim que Kaori acordou na manhã seguinte ao episódio estranho que aconteceu com ela, recebeu de Zero a notícia de que Cordelia Sakamaki, a diretora da Academia de Vampiros, estava vindo até a Academia de Caçadores para conversar com Kaien. Isso não interferiria em nada na vida de Kaori se não fosse pelo pequeno favor que Kaien pediu: ele queria que tanto Zero quanto Kaori ficassem na sala com ele durante a toda a reunião com a vampira. Kaien não confiava nela e, apesar de ser um caçador excepcional, ele preferia que mais caçadores estivessem junto com ele.

Kaori tinha planos para o momento em que Cordelia chegaria: ela ia patrulhar todo o caminho da Academia de Caçadores até o Internato dos Vampiros, mas, sem ter como dizer não a Kaien, confirmou com Zero que estaria lá junto dele. Cordelia viria até a Academia Cross para conversar sobre o que havia acontecido com entre Kaori e o vampiro Renegado. Ela não entendi como isso interferia na vida de Cordelia e dos vampiros “normais” e admitia que estava um pouco curiosa para saber.

Às oito horas da noite, depois do jantar, Cordelia chegou em um SUV preto, corro que parecia ser característico dos vampiros. Kaori e Zero foram incumbidos de recebê-la e Kaori se admirou com a beleza de Cordelia. Não era como se a menina nunca tivesse visto a vampira, mas nunca tinha visto tão de perto. Cordelia estava deslumbrante (como sempre), sua pele parecia mármore branco, reluzindo à luz das lâmpadas; seus lábios estavam pintados de um vermelho brilhante, o que deixava suas presas incrivelmente brancas mais brancas ainda; seus longos cabelos roxo estavam penteado a impecavelmente às suas costas, caindo em ondas que dançavam contra suas costas como uma cachoeira. Ela estava usando um vestido preto longo e bem colado ao corpo, o que realçava todas as suas curvas nos lugares certos.

Como se não bastasse tudo isso, haviam seus olhos, de um verde esmeralda que. Eles davam a ela um ar sexy e, quando esses olhos encontraram os de Zero, Kaori percebeu que ele corou um pouco. Ela deu uma risadinha quase imperceptível, pensando no quanto era fofo quando Zero agia como um menino normal de 18 anos. O momento logo passou quando ele percebeu que Kaori o encarava e a expressão séria voltou. Às vezes nem parecia que eles dois eram noivos, parecia que eles eram irmãos.

— Boa noite, senhora — Kaori disse. Cordelia olhou para ela como se estivesse reparando pela primeira vez em sua presença e sorriu amigável. — O diretor Cross já está a sua espera. Queira me acompanhar, por favor.

— Pois não — Cordelia respondeu e Kaori saiu andando na direção da sala de Kaien com Cordelia e Zero em seu encalço. — Como vocês são bem educados aqui! Talvez alguns vampiros que eu conheço devessem aprender uma coisa ou outra com vocês caçadores.

Cordelia falava diretamente sobre Maya Sakamaki, mas Kaori nunca poderia saber disso. Atrás de Kaori, Cordelia sorriu com o pensamento de estar alfinetando a filha de Karlheinz.

Eles andaram por subiram uma escada e andaram alguns corredores até chegarem a sala de Kaien. O diretor realmente estava aguardando Cordelia, quando os três entraram na sala, o homem estava sentado à sua mesa. Ele ergueu os olhos quando Kaori anunciou que Cordelia havia chegado.

A vampira entrou na sala como se estivesse em sua própria na escola dela. Ela estendeu a mão para Kaien, que beijou a parte de cima da mesma, e sentou na cadeira à frente do diretor, cruzando as pernas e fazendo a fenda do vestido mostrar suas coxas torneadas e brancas. Zero e Kaori se postam um de cada lado da sala e ficam parados como duas estátuas.

— Há quanto tempo não nos vemos, Kaien — Cordelia é a primeira a quebrar o silêncio.

— De fato, Cordelia. Muito tempo — Kaien voltou a se sentar em sua cadeira. - Quanto tempo você acha que ele demorará a chegar?

— Não irá demorar muito — Cordelia levantou-se e andou pela sala, parando na frente da bancada onde estava algumas garrafas de bebida. Ela serviu um pouco de uísque a si mesma.

Kaori franziu o cenho, pensando em quem mais eles poderiam estar esperando para se juntar a essa tal reunião. Enquanto eles esperavam esse convidado misterioso, Cordelia e Kaien ficaram conversando banalidades como o clima, os planos para as escolas durante o ano e coisas parecidas. Eles pareciam velhos conhecidos que não se viam há muito tempo, mas Kaori conseguia sentir uma certa tensão no ar como se um não suportasse o outro internamente.

Alguns minutos mais tarde, a porta da sala fora aberta novamente. Os olhos de Kaori se voltaram na direção de quem quer que estivesse entrando. Ela estava muito curiosa para saber quem era, afinal.

Kaori quase perdeu o fôlego quando viu quem estava entrando. Era Kaname Kuran, um dos vampiros Puro-Sangue que estudavam na Academia de Vampiros.  Ela nunca o tinha visto pessoalmente, mas já havia escutado boatos sobre ele e até mesmo visto uma foto uma vez, algum tempo atrás. Mas a foto não fazia jus à ele, pois era muito mais bonito pessoalmente.

Kaname estava usando o uniforme da escola e quando entrou pareceu nem perceber a presença de outras pessoas que não fossem Cordelia e Kaien. Ele apenas olhou pelo canto de olho para Kaori como se ela fosse alguma decoração do ambiente e não um ser humano e fingiu que Zero não existia.

— Kaname! — Cordelia girou na cadeira que estava sentada, parando bem de frente para o novo membro daquela reunião. — Que bom que você chegou. Já estava com saudades.

Mesmo sem olhar para os dois, Kaori franziu o cenho diante do flerte escancarado da diretora da escola para com um aluno. Ela nunca se acostumaria com o vampiros, independente do quanto ela estivesse inserida no mundo deles parecia que eles viviam em uma realidade completamente paralela a dela.

Kaname ignorou Cordelia e cumprimentou Kaien, sentando-se no sofá que havia ali na sala. Kaien às vezes trabalhava demais e acabava dormindo no escritório então colocou um sofá para dormir mais confortável. Agora o vampiro estava sentado nesse momento sofá como se estivesse no sofá da sua própria casa, ele cruzou as pernas e colocou um braço em cima do escondo do sofá, bem confortável. Ele estava bem de frente para Kaori então ela podia ver tudo o que ele fazia.

— Vamos começar então — Kaien disse. — Pedi para que vocês viesse aqui, pois considerando a situação em que estamos, tudo o que envolve uma academia ou a outra precisa ser tirado a limpo. Há uns dias atrás, uma de minhas Caçadoras, Kaori Ozu — ele indicou Kaori no canto da sala com uma mão. Os olhares de Cordelia e de Kaname se voltaram para ela. — Fez seu trabalho ao matar um Renegado que havia matado um de nossos caçadores. Ela foi encontrada algum tempo depois por outro caçador, Zero Kiryu — ele indicou Zero dessa vez. —, porém, surpreendentemente, ela não estava sozinha.

Essa nova informação pegou Kaori de surpresa. Ninguém havia contado a ela que ela estava na companhia de alguém quando Zero a encontrou, nem mesmo ele havia dito algo a ela. Kaori lançou um olhar para Zero, perguntando porque ele não havia falado nada, mas o menino não devolveu o olhar dela.

— Ela foi encontrada sendo carregada por você, Kaname. O que eu gostaria de entender é porque você estava lá naquele exato momento — Kaien cruzou as mãos em cima da mesa e ficou encarando o vampiro.

Kaori olhava diretamente para Kaname também, esquecendo-se de parecer profissional, ela só queria saber o que ele poderia dizer em resposta. O porquê ninguém vai lhe contado que fora encontrada nos braços de um vampiro Puro-Sangue ainda era um mistério e ela, automaticamente, levou uma mão até o abdômen, sentindo a pele lisa e macia no lugar que outrora havia um buraco.

Kaname parecia bem relaxado no sofá. Bem diferente de Kaori, ele não estava sentindo nenhum tipo de ansiedade e quando falou, falou com a maior calma do mundo, olhando diretamente para a menina no canto da sala. Mesmo se sentindo um pouco intimidada com o olhar dele, Kaori não se deixou abalar, ela sustentou os olhos do vampiro em si como faria com qualquer outra pessoa.

— O renegado que matou o caçador, já havia matado um vampiro na nossa academia também — ele começou, olhando para Kaori como se existisse apenas ela dentro da sala. — Eu estava indo atrás dele quando o vi em um embate com a caçadora. Ela me poupou o trabalho de matá-lo e acabou desmaiando ao final de tudo. Eu a carreguei para trazê-la de volta para cá.

— Ah, Kaname... — a voz de Cordelia era melodiosa, quase como se ela estivesse tentando puxar o saco dele o suficiente para seduzi-lo. — Você é tão cavalheiro.

Olhando nos olhos de Kaname e ignorando Cordelia, Kaori sabia que o vampiro estava escondendo algo. Ele não havia contado tudo. Se sua memória não falhava, Kaori havia visto um vulto antes mesmo de quase ser empalada em uma árvore. Se o que Kaname está dizendo for verdade, ele havia chegado ali antes mesmo dela ter desmaiado. Antes mesmo dela quase ter morrido.

Os olhos de Kaname pareciam desafiá-la. Vamos lá, conte tudo o que você acha que é verdade, se tiver coragem, era o que aqueles olhos castanhos-avermelhados queriam dizer. Ele sabia que ela não ia falar nada, não agora. Ele esperava que ela fosse atrás dele, sozinha, e o perguntasse ela mesma: o que você fez comigo? Ele queria, quase desejava, que ele fosse atrás dele. E ela iria.

— Zero? — Kaien olha para o menino, esperando que ele confirme a história, afinal havia sido ele quem vira Kaori sendo carregada por Kaname.

— Não sei o que aconteceu antes — ele respondeu. — Mas quando cheguei lá, ele realmente estava vindo na direção da academia com Kaori.

— Está vendo, Kaien? — Cordelia ficou de pé, seu vestido dançou ao redor de suas pernas. — Não há porque desconfiar de nós vampiros. Kaname sempre foi um aluno exemplar, ele nunca viria até aqui para se alimentar de uma... — ela olhou para Kaori pelo canto dos olhos e a menina percebeu o desprezo ali. — Caçadora.

Kaori deve ter sido a única a perceber o jeito como Cordelia falou e se alguém mais percebeu não demonstrou. Kaien apenas balançou a cabeça, concordando que Kaname era inocente e não estava perto da Academia dos Caçadores para matar alguém. Cordelia também confirmou que um de seus alunos, uma menina, havia sido morto por um renegado e as coisas, aparentemente, estavam resolvidas.

— Sei que foi uma situação excepcional, mas eu peço a você, Kaname, para não ultrapassar mais os limites de sua própria escola. Todos nós, vampiros e caçadores, estamos com os nervos à flor da pele. Não queremos mais uma tragédia acontecendo.

— Ah, não se preocupe, Kaien. Se meus vampiros ultrapassarem o limite, eu garanto que não serão eles quem irão morrer — Cordelia disse, se aproximando de Kaname mais que o necessário. Kaien apenas ignorou o comentário. — Kaname e eu gostaríamos muito de ficar mais um pouco, mas ele já está perdendo aula. Marcamos um próximo dia, Kaien?

— Quem sabe surja uma oportunidade, Cordelia — Kaien respondeu, polido como sempre e se levantou para acompanhá-los até a saída.

Kaori e Zero saíram primeiro e andaram um de cada lado com os três no meio. Kaori ainda pensava no que havia sido dito na reunião e no fato de Kaname ter a encontrado. Além disso, ela também pensava que ele estava escondendo algo, que não havia sido totalmente sincero.

Algo a tirou de seus pensamentos antes que ela tivesse tempo de analisar o comportamento do puro-sangue. Era uma sensação apenas, mas a desconcertou até a raiz dos cabelos. Seu olhar se desviou de sua frente para o seu lado, sua cabeça virando apenas um pouco, e ela quase se assustou ao ver que Kaname estava olhando diretamente para ela, sem prestar atenção nenhuma no que Cordelia dizia ao seu lado.

Kaori virou o rosto rapidamente, acabando com o contato visual o mais rápido que pôde, mas sentiu seu coração acelerar de uma forma não natural. Seu corpo inteiro se arrepiou e ela teve que fazer um esforço estratosférico para não pedir licença e sai dali correndo. Kaori só respirou melhor quando todos chegaram a porta de saída e as despedidas começaram.

— É sempre bom rever você, Kaien — Cordelia disse, virando de frente para o diretor.

Os dois ficaram conversando mais um pouco enquanto o motorista do carro de Cordelia descia de seu banco e abria a porta para ela. Kaori e Zero ficaram lado a lado, de frente para o diretor Cross, atrás de Cordelia e Kaname. Kaori imaginou que Kaname fosse se despedir dela e de Zero do mesmo jeito que os cumprimentou: fingindo que eles não existiam, mas, para sua surpresa, o vampiro virou de frente para os dois e abaixou um pouco os olhos, olhando diretamente no rosto de Kaori.

— Como você está, Kaori? — ele perguntou a ela. Kaori pensou ter visto um esboço de sorriso brincando nos lábios dele.

Antes que Kaori pudesse responder alguma coisa, Cordelia virou de frente, atraída pela voz de Kaname. Ela segurou o braço de Kaname, praticamente abraçando o membro e abriu um sorriso simpático para Kaori.

— Ela é linda, não é, Kaname? — ela perguntou e ele não respondeu, apenas ficou olhando para a caçadora a sua frente. — Daria uma vampira perfeita.

Instintivamente, a mão de Zero foi direto para o cabo de sua espada, mas Kaori segurou o pulso do menino, impedindo-o de puxar a arma.

— Ouvi falar bastante das famílias de vocês — Cordelia falava agora para os dois. — Ozu e Kiryu. Eram ótimos caçadores, uma pena que vocês agora são os últimos.

Kaori sabia que Cordelia estava apenas provocando e não deu importância alguma ao que a vampira falava, mas Zero não estava tendo a mesma sorte. Falar sobre os pais deles já era o suficiente para tirá-lo do sério e Cordelia havia conseguido.

— Vamos, Kaname? — ela puxou o vampiro gentilmente não direção do carro.

Antes de se afastar, Kaname lançou um último olhar a Kaori.

— Cuide-se — ele disse a ela, descendo o olhar do rosto dela para o abdomen rapidamente.

Mais uma vez Kaori teve aquela sensação de que Kaname sabia mais do que havia falado naquela reunião. Ele estava escondendo algo e agora ela tinha mais que certeza disso.

Assim que Kaname e Cordelia deram as costas para eles, Kaori levou a mão de novo ao abdômen. Ele havia feito algo com ela, Kaori podia sentir isso em todas as células de seu corpo. Mas o que poderia ter sido? Ela ficou sozinha ali vendo o carro dos vampiros se afastarem. Dentro de si, Kaori sentia uma urgência de ver Kaname de novo.


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