Wicked Love. escrita por Beatriz


Capítulo 19
Capítulo 19.




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Enquanto o mundo de Kaori desabaria apenas dali algumas horas, o de Maya já estava começando naquele exato momento. Não que ela estivesse com medo dos pais, nunca sentira tal sensação, mas, como qualquer adolescente de sua idade, ela tinha pavor de castigos. Na última vez em que seu pai a colocou de castigo, foi forçada a vim para esta academia. Não estava sendo a pior das experiências, mas ela ainda sentia falta da liberdade que tinha fora dali.

Sem ter para onde fugir, a vampira seguia a secretaria de Cordelia pelos corredores da academia. Maya esperava que, se os pais fossem brigar com todos os filhos, então que fizessem isso separadamente. Ela não queria ter que olhar para Cordelia. Elas dobraram em um corredor e finalmente a secretária abriu uma porta e Maya deu um passo para dentro da sala. A porta foi fechada atrás de si e à sua frente estavam o Rei e a Rainha, mais conhecidos como seus pais. E eles estavam putos da vida com ela.

— Mãe, pai... — ela começou, mas não terminou, pois sua mãe ergueu uma mão.

— Maya, trouxemos você para cá para melhorar seu comportamento — a mãe disse, olhando bem séria para ela. — E agora você está em todos os sites de fofoca?! E justamente no dia do aniversário da Juri!

— Em minha defesa, eu não estava sozinha e o aniversário estava muito chato — Maya cruzou os braços, emburrada.

— Ah, com certeza sabemos que você não estava sozinha — agora era Karlheinz quem falava. — Ainda vou ter uma conversa bem séria com aqueles seis.

— E daí se o aniversário estava chato, Maya?! — sua mãe voltou a falar, andando de um lado para o outro. — Estamos tão próximos de conseguir unir nossas famílias. Será que você pode colaborar?!

— Unir nossas famílias como exatamente? — Maya franziu o cenho. — Com um casamento ente Kaname e eu? Vocês pelo menos já pensaram em perguntar seu quero isso?

— Não se trata de querer — Karlheinz disse, cruzando os braços. — Se trata de oportunidade.

— Eu não caso com aquele cara nem morta! — Maya continuou impassível. — Podem me obrigar, fazer o que quiserem, mas a minha resposta é e sempre será NÃO!

— Então, você prefere ficar por aí curtindo a vida, sem se preocupar com nada e flertando com seus irmãos? — Elizabeth semicerrou os olhos. — Por que é exatamente isso o que você está fazendo!

— Eu não estava flertando com ninguém! — a voz de Maya subiu uma oitava. Ela respirou fundo e continuou, mais calma. — Ele me provocou! Eu nem ia sair com Laito, primeiramente. Ele que veio atrás de mim e ficou fazendo um monte de besteiras.

— Aquele moleque... — Karlheinz segurou a ponte do nariz com força.

— Não interessa, Maya! Você estava flertando ou provocando, ou sei lá o que vocês estavam fazendo. Depois foram os sete para uma boate! E agora todo mundo está especulando se vocês não estão manchando a imagem do trono! — Elizabeth vociferou.

— Olha só — Maya começou. —, eu não sei se vocês estão sabendo ou se a fofoca ainda não chegou aos ouvidos de vocês, mas desde que eu cheguei aqui minha vida está um caos! Reencontrei meus irmãos que eu não via há anos e, adivinhem!, agora tenho que lidar diariamente com seis personalidades completamente diferentes, onde três delas me odeiam! Além disso, tenho que lidar com a vaca da Cordelia me provocando sempre que pode. Querem mais? Estou sendo babá de um casal que é extremamente proibido e eles parecem que cagam na minha cabeça sempre que possível porque são dois BURROS! Ah, não vamos esquecer que o Kaname está surtado, voltando com aquelas sedes de sangue bizarras dele e quando ele foi tocar o terror fui eu quem foi atrás do principezinho! Até o meu sangue eu tive que dar para ele não sair fazendo doidice por aí. Além disso, dois assassinatos ocorreram e, pode não parecer, mas estou com medo de que isso desencadeie uma guerra, o que está me deixando louca, surtada. Quase todos os dias eu tenho que sair escondida para ir visitar Luke porque morro de medo que alguém descubra que ele está se tornando caçador e faça algo com ele. Ah! E agora parece que estou noiva do Kuran, eu fui a última a saber, e ninguém sequer teve a coragem de me perguntar se eu QUERO ISSO! Parece que eu estou sempre segurando a barra de todo mundo e quem é que segura a minha?! — ela olhou para os pais pela primeira vez depois de todo esse discurso. — Então, me desculpem se eu resolvi sair um mísero dia para me divertir!

Ela ficou em silêncio finalmente, com a respiração pesada. Seus pais trocaram um olhar preocupado e ainda estavam procurando palavras. Maya se jogou no sofá e sua mãe se aproximou segundos depois, sentando-se ao lado dela.

— Sinto muito se está se sentindo sobrecarregada, filha — ela acariciou o braço de Maya. — Não sabíamos de quase nada.

— Claro que não sabiam. Estou 24 horas enclausurada aqui nessa prisão!

— Não é assim também, filha — Karlheinz puxou uma cadeira e se sentou de frente para as duas. — Você pode ir nos visitar a hora que quiser.

— Vocês já experimentaram estudar em uma escola em que o Rido trabalha? A Cordelia não está nem aí, mas ele parece a porcaria de um vidente. Se sairmos nos horários que não são permitidos, levamos advertência e eu não estou nem um pouco a fim de lavar cocô de cavalo ou as privadas — ela revirou os olhos.

Seus pais se olharam e sorriram um para o outro.

— Nós dois queremos o seu bem, Maya — Karlheinz falou. — Mas também queremos preservar a imagem da nossa família. Você sabe que os Kuran são boas pessoas, mas não hesitariam em pegar o trono, se pudessem. Nós faríamos o mesmo no lugar deles. E você e seus irmãos saindo para encher a cara não está ajudando em nada.

— Eu sei, pai, desculpa — ela realmente parecia arrependida. Elizabeth a abraçou.

— Você e eles podem sair, mas, por favor, sejam mais discretos — ela disse. — E, um conselho de mãe, fique longe de Laito — ela olhou para o marido. — Eu sei que é seu filho, mas...

— Tudo bem, eu concordo — ela respondeu.

— Será que você poderia pensar pelo menos um pouco sobre casar com Kaname? — Elizabeth perguntou.

— Não, mãe! — Maya olhou incrédula para ela. — Se um dia eu casar, quero que seja com alguém que eu realmente ame e realmente queira ao lado, Kaname definitivamente não é essa pessoa.

— Tudo bem, vamos respeitar sua decisão — Karlheinz disse. — O problema vai ser tirar essa ideia da cabeça de Juri ­— os três riram.

Depois que eles se entenderam, ela ficou mais um tempo ali com os pais, colocando a conversa em dia. Ficaram curiosos sobre quem era o casal proibido, mas Maya desconversou e mudou de assunto. Elizabeth pareceu um pouco preocupada com Kaname, por ele ter voltado a ficar descontrolado em relação à sangue. Ela sempre achou que a decisão dos Kuran de parar de se alimentarem como qualquer vampiro normal era muito radical, mas quem era ela para falar alguma coisa?

Próximo ao almoço, Elizabeth disse que precisava voltar ao trabalho e Karlheinz disse que iria conversar com os outros filhos, ele pediu que elas lhe desejassem sorte, pois estaria na presença de Cordelia. Maya deu um beijo na bochecha do pai, Elizabeth lhe deu um selinho e o Rei saiu da sala, indo para a sala da ex-esposa. Maya acompanhou a mãe até o estacionamento e ficou ali, observando-a manobrar o carro e sair pelos portões. Ela queria poder ter mais tempo com os pais, mas sabia que eles eram ocupados e precisavam cuidar de um reino. Ela se sentia orgulhosa por ser filha deles.

O resto do dia passou como um borrão. Ela almoçou, treinou um pouco esgrima e luta corporal, o que não era tão legal quando não se tinha um parceiro. Depois tomou um banho quente e escutou boatos de que um caçador havia voltado de uma viagem quase morto por causa de uma mordida de Renagado. Maya pensou que tinha que ser muito burro para se deixar ser mordido por um Renegado, mas não comentou nada com ninguém. Até porque não tinha ninguém com quem comentar. Seus amigos pareciam ter ido para a casa de seus pais e, considerando que ela já havia aprontado o suficiente, preferiu ficar pela academia ao invés de arrumar mais confusão.

A vampira então foi para a sala de jogos dos Sakamaki e ficou por ali gostando seu tempo. Ela queria ser uma mosquinha para saber o que seu pai estava conversando com seus irmãos, se havia dado uma bronca neles ou algo do tipo. Não demorou muito para que ela fosse surpreendida por alguém entrando ali. Era Shu. Ele estava com seus inseparáveis fones de ouvido e só percebeu que tinha companhia quando levantou o rosto e viu a meia-irmã.

— Ah, oi — ele disse, surpreso e retirando os fones. — Não sabia que você estava aqui.

— Oi — ela sorriu, jogando-se no sofá e colocando os pés na mesinha de centro. — O papai resolveu brigar com vocês separadamente?

— Aparentemente sim — ele deu de ombros e se jogou no sofá ao lado dela. — Acredito que fui o único com quem ele realmente conversou de homem para homem, sabe.

— Ah, claro, porque você é o mais velho — ela lhe deu um empurrãozinho.

— Privilégios — o vampiro piscou para ela. — Você deveria pensar em vim como irmã mais velha da próxima vez.

Ela riu e se aconchegou no sofá, encarando o irmão. Enquanto ele se recostava no sofá e fechava os olhos com as mãos entrelaçadas em cima do abdômen, Maya o observou como havia feito com Laito. Apesar de serem irmão, Shu era muito diferente do mais novo, não apenas no cabelo, mas toda sua personalidade havia sido moldada de um jeito diferente – pelo menos no que dizia respeito à ela.

Aproveitando que ele não estava prestando atenção, Maya pegou uma almofada atrás de si e bateu no meio-irmão. Calmamente, ele abriu um olho azul e a encarou pelo canto do olho. Maya riu e bateu nele novamente.

— O que você está fazendo, pirralha? — ele perguntou, abrindo os dois olhos.

— Lembra quando éramos mais novos e sempre fazíamos briga de travesseiros? — ela perguntou e ele riu.

— Destruímos uns trezentos travesseiros brincando disso.

— Uma vez Subaru jurou nós de morte porque acabamos com o quarto dele — ela riu mais, segurando a barriga. Shu a acompanhou, pegando uma almofada ele também.

— Você sempre perdia — disse, olhando para ela com um sorriso sarcástico.

— Até parece.

Ela bateu nele no exato momento em que ele jogou seu próprio travesseiro contra ela também. Eles ficaram nessa brincadeira até estarem de pé e espalhando o estofado das almofadas por todos os cantos. Não demorou muito para que o chão ficasse todo sujo e Maya acabasse escorrendo em um estofado perdido no chão. Ela deu um gritinho, caindo para trás, porém, antes de atingir alguma parte do corpo, Shu a segurou pela cintura, colocando-a deitada no sofá gentilmente. Eles ainda riam bastante até o momento em que a graça acabou e os dois foram se acalmando aos poucos. No fim, encaram-se no silêncio da sala.

Alguma vez Maya já havia reparado no quão azuis eram os olhos dele? Ou Shu já havia reparado no quão macia parecia a pele dela? Ele olhou para os lábios dela, naturalmente avermelhados e Shu pensou por que não? Ele se inclinou um pouco na direção dela, o coração de Maya estava acelerado pela brincadeira e pelo momento de agora, mas não se afastou, ainda presa aos olhos dele. A falta de recusa de Maya apenas o incentivou a acabar com o espaço entre eles. Os lábios dele se encontraram quase que imediatamente em um beijo mais demorado do que qualquer um dos dois poderia imaginar.

Assim que Maya sentiu que o beijo se aprofundaria, foi como se sua ficha do que estava acontecendo tivesse caído. Ela colocou uma mão no peito de Shu, afastando-o gentilmente. Maya percebeu que a ficha dele também havia caído e, quando seus lábios se desencostaram, o vampiro se afastou completamente, voltando a se sentar no sofá. A cor avermelhada que tomou as bochechas dele teve um alto contraste com a sua pele e Maya achou que aquilo era bem fofo até.

— Perdão — ele disse, quebrando o silêncio. — Não sei o que me deu.

Com um pouco de dificuldade Maya se recompôs e sentou-se também de frente para Shu. Ela passou a língua pelo lábio inferior, movimento que não deixou de ser notado pelo loiro. Ele olhou nos olhos dela. Maya não sabia, mas ele estava pensando se a beijava novamente ou não.

— Tudo bem — ela sorriu, sem graça. — Deixa para lá.

Eles tentaram retomar o clima de antes, mas foi um pouco difícil, então, depois de um tempo, eles arrumaram uma desculpa e cada um foi fazer algo, separados. Uma vez longe do loiro, Maya respirou fundo, soltando o ar lentamente pela boca. Os olhos azuis dele vinham em sua mente sem permissão e ela sentiu um frio na barriga que não deveria estar ali. A vampira balançou a cabeça, tentando jogar para o fundo de sua mente aquele pensamento, enquanto caminhava pelos corredores até sair da academia.

Maya então foi para o dormitório feminino onde estava decidida a finalmente ir arrumar seu guarda-roupa que estava uma confusão. Uma vez lá dentro, ela jogou tudo para fora, algumas peças foram parar em sua cama, outras no chão, outras até mesmo em sua poltrona. Ela prendeu os cabelos longos em um coque frouxo, enfiou seus AirPods nos ouvidos e começou a organização enquanto começava sua limpeza com a música Say My Name (David Guetta, Bebe Rexha, J Balvin) em volume máximo.

Primeiro ela organizou suas peças íntimas, depois passou para calças, shorts e saias jeans, todos os tipos de blusas e moletons, uniformes da escola, vestidos longos e curtos, casuais e os mais chiques. Ela tinha tanta roupa que enfiar todas elas ali naquele guarda-roupa estava difícil. Lembraria de falar com seu pai sobre ter um closet bem grande ali. Ela pensou nas roupas que ainda estavam lá na mansão Sakamaki e riu, pensando que estaria em apuros se tivesse trazido tudo consigo.

Um momento depois, pelo canto dos olhos, ela percebeu algo entrar por sua janela dando um rasante que fez Maya se agachar para não ter nada acertado em sua cabeça. Ela virou-se de frente para sua cama e ficou surpresa ao ver uma águia pequena, ainda filhote, pousada em seu colchão. Ela ergueu uma sobrancelha diante da aparição, confusa, até que o animal mudou sua forma para a de um humano pequeno que ela conhecia muito bem. Seu irmão mais novo, Luke.

— Minha nossa, Luke! — ela levou uma mão ao peito, retirando os fones. — Você me assustou.

— Desculpe, irmã — o menino disse, enfiando-se debaixo do lençol de Maya, pois estava sem roupas.

— O que você veio fazer aqui? — ela perguntou, puxando uma blusa enorme, que antes pertencera ao seu pai e ela tentara montar um look com a peça e não devolveu, da pilha de roupas e dando ao irmão.

O garoto se vestiu rapidamente, a blusa ficou parecendo um vestido em seu corpo magra, mas pelo menos ele pôde ficar mais à vontade. Um segundo depois ele estava de pé, abraçando Maya.

— Senti sua falta — Luke fechou os olhos com força, apertando a irmã. — Está tudo tão maluco lá na Academia. Às vezes sinto medo.

— Também senti sua falta — ela o abraçou de novo até o menino soltá-la. Os dois então sentaram-se na cama. — Mas como assim medo? Alguém lhe fez algum mal?

— Não, mas... Teve o assassinato e a minha professora, Kaori, veio para cá e agora o noivo dela, Zero, voltou de uma missão muito mal. Ele foi atacado por um Renegado.

Maya sentiu seu coração dar um pulo em seu peito com a notícia. A mordida de um renegado era falta tanto para um humano quanto para um vampiro. O vampiro acabava se transformando em Renegado também e o humano, em 99,9% dos casos, morria.

— Você não devia estar lá — Maya disse. — Devia estar aqui, comigo e com seus outros irmãos. Você é um Puro-Sangue, seu lugar é com a gente!

— Mas eu quero ser um caçador igual a mamãe! — ele rebateu, triste. — E tem mais uma coisa.

— O que? — Maya fez carinho nos cabelos escuros do irmão.

— A mamãe e o papai não querem que eu vá com eles na próxima missão — ele disse. — Eles nunca fizeram isso, Maya. Acho que algo muito está acontecendo.

Os olhos deles se encheram de lágrimas e, apesar de não terem caído, essa visão fez o coração de Maya apertar.

— Luke, por que você quer ser igual a mamãe? — a vampira pergunta já sabendo a resposta.

— Porque ela é a melhor caçadora do mundo — ele sorriu, limpando os olhos com as costas da mão. — Ela é muito forte, ninguém se compara a ela. Acho que nem o papai, mas não fala isso para ele — Maya riu.

— Então, você não precisa se preocupar nada. Nossos pais são muito fortes e estão sempre cuidando de nós todos — ela segurou as mãos do irmão. — Talvez só não querem que você vá porque precisam estar mais concentrados nessa missão.

— Eu sei — ele olhos para as mãos dos dois. — Mas às vezes me sinto tão sozinho... E ainda tem aquele moleque! — ele franziu o cenho.

— Que moleque?

— Um idiota que chegou há pouco tempo lá na Academia — ele desviou os olhos de Maya. — Alois Greco. É o irmão caçula do diretor novo. Ele é um bom caçador, mas está sempre tentando competir comigo.

— Você com certeza é melhor que ele — Maya sorriu. — Apenas não responda às provocações dele. E sobre você se sentir sozinho, sempre que você quiser pode assistir suas aulas e depois vim ficar aqui comigo — ela se levantou e foi até um mini freezer que tinha em seu quarto, abrindo porta dava para ver as bolsas de sangue. — Pelo menos de fome a gente nunca vai morrer.

— Posso pegar uma agora? — ele perguntou, os olhos brilhando. — Realmente estou com fome.

A vampira pegou uma e jogou para ele, que pegou no ar. Em alguns passos ela estava de volta ao lado do irmão.

— Você ainda não me contou sobre nossos outros irmãos — ele disse depois de um tempo. — Não me lembro de nenhum deles e sempre que vejo o papai ele não gosta de tocar no assunto.

— Você vai conhecê-los em algum momento — ela sentou-se na posição de lótus. — Não que você esteja perdendo grande coisa, acredite — os dois riram. — Mas não pense que eles são como nós dois. Os seis se odeiam e, às vezes, odeiam a gente mais ainda. Nunca abaixe a guarda para nenhum deles.

— Certo, entendi — ele levou uma mão à testa como um soldado.

Uma batida forte soou na porta e Luke se assustou, transformando-se em um gatinho e se escondendo embaixo na cama. A bolsa de sangue caiu no chão, espirrando o líquido em alguns lugares. Ela foi até a porta, contrariada, e se surpreendeu ao ver Shu ali.

— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou.

— Senti o cheiro de sangue e vim ver se tinha acontecido algo com você — ele olhou ao redor do quarto por cima da cabeça de Maya, mas, além da bolsa de sangue no chão, não havia nada fora do lugar. — E também vim conversar sobre o que aconteceu na sala de jogos, aquele bei...

Ela tapou a boca dele com uma mão e levou um dedo aos próprios lábios, pedindo silêncio.

— Ah, claro — ela disse um pouco alto, disfarçando. — Está tudo bem, Shu.

 Dois olhinhos apareceram debaixo da cama e chamaram a atenção de Shu que entrou no carro e puxou o gato debaixo da cama, segurando-o pela pele próxima do pescoço.

— Você tem um bicho de estimação agora?

O gato tentou arranhar o rosto do loiro com suas unhas afiadas, mas suas patas eram tão pequenas que não chegaram nem perto de encostar no rosto do vampiro. Franzindo o cenho, Shu largou o animal no chão e virou-se para Maya, esperando uma explicação, mas logo escutaram um barulho e quando virou-se novamente para o animal viu que no lugar havia uma criança.

— Que merda é essa? — ele perguntou, surpreso. Luke vestiu de novo a blusa.

Maya levou uma mão à ponte do nariz e apertou com força, fechando a porta do quarto atrás de si.

— Shu, esse é o Luke, nosso irmão mais novo — ela apresentou. — Luke, esse é o Shu, nosso irmão mais velho.

Mas o menino parecia receoso com o desconhecido, talvez estivesse com medo de que ele lhe fizesse algum mal. Maya foi para perto do irmão e o abraçou de lado.

— Está tudo bem, ele não vai lhe machucar — Maya disse.

— Ah, uau — Shu respondeu, passando uma mão em seus cabelos loiros. — Nunca ia imaginar que ele tem o poder de metamorfose.

— É, pois é — Maya olhou feio para ele. — Se vocês seis se interessassem mais pela família, saberia.

— Como se fosse nossa culpa — Shu se aproximou de Luke, que quase se escondeu atrás de Maya, mas o encarou com coragem. — E aí, garoto? Sou seu irmão mais velho — ele se agachou na altura do menino.

— O mais velho? — Luke perguntou e Shu balançou a cabeça, concordando. — O mais velho de sete... Nossa, você é bem velho mesmo.

Maya e Shu riram.

— Comparado com você, sou mesmo — ele disse e bagunçou os cabelos do menino. — Podemos ser amigos? — o loiro estendeu a mão.

Hesitante, Luke segurou a mão do vampiro que era bem maior que a sua.

— Acho que sim — respondeu.

— Ótimo.

Shu ficou de pé e Luke logo se despediu dos irmãos, dizendo que precisava voltar antes que notassem o seu sumiço. Ele abraçou Maya apertado e deu um abraço desajeitado em Shu. Logo depois se transformou novamente na águia e saiu voando pela janela.

— Então — Shu virou-se de frente para Maya. —, garoto interessante.

— Sim — ela devolveu o olhar. — Queria que o papai fosse mais flexível em relação à... Você sabe.

— Sim, eu sei — ela coçou a nuca. — Olha, Maya, sobre o...

Ela levantou uma mão, interrompendo-o.

— Está tudo bem, Shu — disse. — Vamos esquecer isso.

Os dois ficaram em silêncio por um instante enquanto Maya limpava a bagunça que Luke havia feito. Até que o loiro quebrou o silêncio.

— Ah — ele disse. —, nosso pai mandou que fôssemos para mansão. Vamos jantar com ele hoje.

— Como assim? Não estava sabendo de nada — Maya olhou para ele.

— Aparentemente ele decidiu isso de última hora já que tem um tempo livre — Shu revirou os olhos. — Ainda temos algum tempo antes da limousine chegar.

— Vou me arrumar — Maya disse. — Obrigada pelo recado.

Ele levou uma mão até a nuca de Maya e a puxou para si, dando um beijo em sua testa. Assim que ele se afastou e foi embora, Maya fechou a porta do quarto, suspirando. Ela disse que o beijo havia ficado no passado, mas era mentira. Ela ainda sentia os lábios de Shu sobre os seus.

— x —

Maya só foi encontrar com seus irmãos novamente já do lado de fora quando já estava noite. Maya escolheu uma roupa que fosse casual e elegante ao mesmo tempo. Do lado de fora, seus seis irmãos já a aguardavam assim como Cordelia e Rido. A menina revirou os olhos, mas seguiu seu caminho até eles mesmo assim.

— Está atrasada — Cordelia comentou.

— Não lembro de ter pedido sua opnião — Maya respondeu, parando ao lado de Subaru.

— Insolente — Cordelia murmurou.

— O que vamos fazer afinal? — Laito perguntou, cruzando os braços.

— Jantar com o Rei — foi Rido quem respondeu.

— Digam a ele que agradeço o convite, mas prefiro enfia uma tora bem grande no...

— Laito! — Cordelia chamou sua atenção. — Entra nesse carro. Agora!

Demorou um pouco, mas Laito fez o que a mãe mandou. Maya trincou o maxilar diante da passividade dele com a mãe. Depois do ruivo, cada um foi tomando seu lugar no veículo que era espaçoso o suficiente para os sete. Para seu azar, Maya acabou sentada ao lado de Laito. As pernas dos dois se tocaram e o corpo de Maya arrepiou-se imediatamente, mas fez o possível para não transparecer.

— Gostaria de lhe informar que assumi toda a culpa por você ter saído no meio do aniversário da Juri — ele falou baixinho ao lado dele.

— Não pedi para que você fizesse nada — ela rebateu no mesmo tom de voz.

— Só estava cuidando da minha irmãzinha — ele colocou uma mão na perna de Maya que foi removida dali pela menina com força. — Não há de quê.

— Vai se foder.

Laito riu baixinho e os outros se acomodaram em seus lugares. O motorista finalmente deu partida na limousine e eles seguiram em direção à mansão Sakamaki. Durante todo o percurso Maya ficou olhando pela janela, observando a floresta e o céu estrelado. Ela mal ouvia seus irmãos conversando e também não se importou de prestar atenção na conversa. Até que eles começaram a fofocar sobre o tal caçador que havia sido mordido por um Renegado. Pelo jeito esse seria o assunto do ano.

— Isso é tão idiota — Laito disse, dando aquela risada cínica que ele tinha. — Por isso eu sempre digo que esses caçadores são uns imbecis. São tão fáceis de matar.

— São nojentos — Kanato disse, sem emoção, encarando seu urso de pelúcia. — Todos eles — ele suspirou e fechou os olhos. — Gostaria de abrir suas gargantas. Um por um.

— E você pode — Ayato disse, estressado. — Se você quiser que a sua seja aberta pelo pai.

Kanato olhou com tanto ódio para ele que Maya pensou que eles fossem começar a brigar bem ali dentro do carro, porém, felizmente, nada aconteceu.

— O que será que ele quer com a gente, afinal? — foi Subaru quem perguntou, fechando a mão em um punho.

— Com certeza não é para falar que somos os filhos do ano — foi Maya quem respondeu dessa vez, ainda olhando pela janela.

O trânsito não estava tão ruim então eles conseguiram chegar à mansão (foto / fotofoto) em menos de uma hora. Na concepção de Maya já fazia tanto tempo que ela não pisava em casa que nem se lembrava mais como era, mas ainda continuava maravilhosa como sempre. Seu coração doeu de saudade de seu lar. Ao seu lado, ela observou seus meio-irmãos observando a casa deles também. Se já fazia um tempo para ela, para eles devia parecer uma vida.

Eles entraram juntos e o mordomo logo recolheu os casacos deles. Maya se sentiu mais à vontade sem o vento frio lá de fora, os sete caminharam então para a sala de jantar onde o Rei e a Rainha já estavam sentados, cada um uma cabeceira da enorme mesa. Eles se acomodaram em seus devidos lugares que já sabiam desde criança. O único assento vazio era o de Luke. Ela se perguntou porque o irmão mais novo não viria, mas logo a porta foi aberta novamente e o caçula entrou por ela. Ele sorriu para Maya e acenou para a irmã que devolveu o carinho. Ao chegar próximo da mãe, deu-lhe um beijo na bochecha e para o pai fez uma mesura de respeito, depois sentou-se ao lado da irmã.

— Muito bem — Karlheinz começou. — Primeiramente, gostaria de agradecer a presença de todos. Realmente não esperava que todos fossem vim — ele lançou um olhar incisivo para os gêmeos. — Acredito que esse jantar irá valer a pena. Saúde à todos! — ele ergueu sua taça de sangue e todos fizeram o mesmo, alguns resmungando, outros em silêncio. E então eles beberam um gole e colocaram a taça na mesa novamente. — Gostaria de apresentar Luke aos irmãos e vice-versa, acredito que vocês não devem lembrar-se direito uns dos outros — ele apresentou o mais novo aos meninos por ordem de nascimento. Cada um deles cumprimentou Luke, até mesmo Shu que já o havia conhecido.

— Qual é o motivo desse jantar, pai? — Reiji perguntou, ajeitando seus óculos no nariz.

— O pai de vocês e eu vamos fazer uma viagem de trabalho amanhã — foi a Rainha quem respondeu. Todos olharam para ela. — Mas antes de irmos, ele precisa deixar algumas coisas resolvidas com vocês.

O jantar começou a ser servido. Primeiro a entrada. O Rei esperou que os criados saíssem para começar a falar.

— Primeiro, gostaria de reforçar com vocês como é importante que o tratado de paz seja mantido entre nós e os seres humanos — disse. — Não teríamos chegado até aqui se ele não existisse e, mais importante, seu o Rei hoje porque, além dos vampiros, os humanos também confiam em mim.

Maya lembrou-se de Kanato no carro, dizendo como queria abrir a garganta de cada caçador vivo e ergueu as sobrancelhas diante das palavras do pai, enquanto comia sua entrada.

— Se as coisas voltassem a ser como era antigamente, seria uma catástrofe — ele continuou. — E eu espero que vocês como meus filhos e representantes, sigam à risca esse tratado. Não tentem, nem pensem, em subestimar qualquer caçador que seja. Eles não são fracos.

— Um deles voltou para a Academia dos Caçadores hoje mordido por um Renegado, então eu acho que eles são bem fracos sim — foi Shu quem disse.

— Erros acontecem — Elizabeth disse, fazendo contato visual com cada um. —Vocês certamente erram bastante também — ela estava se referindo à mais nova loucura que fizeram indo à boate.

— Como eu ia dizendo — Karlheinz retomou. —, não os subestimem. É melhor seja o contrário. Prefiro ser visto como fraco que perder um filho para uma guerra que poderia ser evitada — todos os filhos lançaram um olhar silencioso para o pai. — Mantenham-se sempre alertas, não baixem a guarda para nada e nem ninguém. Principalmente se for um amigo — dessa vez ele olhou diretamente para Maya.

Ele comeu um pouco de sua entrada, enquanto os outros faziam o mesmo, absorvendo as palavras do pai.

— Gostaria de falar também — ele continuou. —, sobre a nova droga que Reiji acabou de criar. Ela serve para vocês usarem contra qualquer inimigo em potencial, uma morte indolor e silenciosa. Fui eu que o mandei cria-la. Vocês podem usar de várias formas: comida, bebida, em suas armas. Andem sempre com um frasco e usem com sabedoria.

Cada um deles recebeu um frasco pequeno com um pó roxo dentro. Parecia algo inofensivo, mas, se fosse tudo o que Karl estava dizendo, causaria um estrago e tanto se caísse em mãos erradas.

— Pai — Maya chamou. —, sobre a viagem de vocês. Qual é o motivo?

— Não apenas em nosso país como em vários outros há notícias de ataques que estão incitando uma guerra — ele respondeu. — A droga que vocês têm em mão é para ser usada contra nossa própria espécie. Acredito que em algum momento vamos ter que lutar contra nossa própria espécie.

Maya arrepiou-se da cabeça aos pés com essa fala.

— Nossa viagem é para tentarmos descobrir quem são os possíveis caçadores e vampiros que estão na liderança dessa loucura — Elizabeth continuou pelo marido. — E para tentar amenizar a situação nos outros países. Kaien, o diretor da Academia dos Caçadores, estava visitando cada academia ao redor do mundo para tentar o mesmo, mas receio que ele teve que voltar por causa do caçador que sofreu o ataque recente. O menino é como um filho para ele. Karlheinz e eu vamos dar continuidade ao seu trabalho, mas dessa vez investigando entre caçadores e vampiros.

— Desculpe, mas e se vocês saírem do país e a guerra começar aqui? — Reiji perguntou, polidamente.

— Não se preocupem com isso — o pai respondeu. — Três amigos de extrema confiança ficarão em meu lugar. Não acredito que uma guerra irromperá enquanto estivermos fora, mas, caso algo aconteça, eles irão ser os responsáveis por qualquer coisa que tenha que ser feita para manter o país em segurança.

Foi com essa conversa de guerra e perigo que o prato principal foi servido e eles comeram em silêncio, remoendo tudo o que tinha sido falado. Após um momento, o Rei retomou sua fala novamente.

— Reiji, Shu e Subaru — ele chamou, mas todos olharam. —, gostaria de falar com vocês primeiro. Quero me desculpar — os três trocaram um olhar entre si. — Sim, isso mesmo. Mandei vocês muito jovens para a Academia. Na época, eu tinha tanto trabalho e sem as mães de vocês, eu tinha medo que Cordelia os machucasse. Eu não podia colocar a responsabilidade nas mãos de Elizabeth que já tinha Maya e estava grávida de Luke — Então, peço que me desculpem. Fui um péssimo pai ao afastar vocês uns dos outros e da nossa família. Desculpem também por ter deixado impune o que aconteceu à mãe de vocês. Vocês não são mais crianças e sei que sabem que foi Cordelia quem as matou e, se um dia quiserem vinga-las, não irei impedi-los.

— Quer dizer que está dando permissão para eles matarem a nossa mãe? — Ayato perguntou.

— Por mim tudo bem — Laito disse, remexendo a comida com o garfo. — Ela é só uma vagabunda que nunca se importou com a gente.

— Laito — Elizabeth o repreendeu gentilmente, mas todos ali sabiam que o ruivo estava certo.

— Cordelia fez coisas horríveis — disse o Rei, respondendo Ayato. — E eu nunca a puni, pois não queria que vocês crescessem sem mãe também, mas agora já não sei se foi a decisão mais certa. Então, deixo a decisão na mão daqueles que achar que tem mais coisas a acertar com ela.

— Eles não podiam crescer sem mãe, mas nós podíamos? — Subaru bateu o punho na mesa, tremendo. — Que merda de pai é você?!

Ele ficou de pé tão rápido que todos se assustaram, mas, antes que fizesse qualquer coisa que fosse se arrepender, Elizabeth também ficou de pé e foi até ele. Colocando uma mão em seu ombro. Ela podia não ser mãe dos seis, mas agia como uma quando era preciso.

— Está tudo bem, Subaru — ela acariciou o ombro do menino que ainda olhava para o pai com raiva. — Os pecados de seu pai existem, são reais e afetaram cada um de vocês de forma diferente e irreparável. Uma ferida dessas talvez nunca cure ou demore séculos para curar — ela passou sua mão para a nuca do vampiro, apertando gentilmente um ponto ali que sempre melhorava qualquer crise de raiva que Maya ou Luke tivessem quando eram mais novos. — Pode sentir raiva dele, é direito seu, assim como de Reiji e Shu, mas ele fez o melhor que pôde.

Aos poucos, ele foi se acalmando. Maya lembrou-se de sua infância, da gentileza de sua mãe em suas palavras, do carinho e do acolhimento que ela tinha independente do que Maya fizesse ou deixasse de fazer. Olhando os irmãos ali agora, ela queria que eles tivessem tido uma mãe igual. Subaru finalmente sentou-se e a Rainha voltou ao seu lugar.

— Kanato, Laito e Ayato — os trigêmeos olharam para o pai. —, também devo desculpas a vocês. Também os tirei de perto de mim por culpa de Cordelia. Devia tê-la mantido longe e vocês por perto, porém errei ao dar mais importância a todas as coisas que eu tinha na cabeça e escolhi o caminho mais fácil e que hoje eu sei que não foi certo — ele olhou para Laito. — Ela empurrou Maya da escada um dia e culpou você, Laito, e eu nunca desmenti mesmo sabendo a verdade. Então, é para você que eu devo as maiores desculpas. Você era só uma criança, perdão.

— Eu perdoo você, pai — Kanato disse. — E o Teddy também.

— Você sempre soube o monstro que ela era, sempre soube o que ela fazia com Laito, como nos tratava e mesmo assim nos deixou sermos criados por ela — Ayato disse, olhando nos olhos do pai. — Não acho que você mereça nosso perdão.

— Cala a boca, Ayato — Laito rebateu. — Não preciso de você para me defender. Nosso pai sabe muito bem tudo o que ela fez.

— Sim, Laito — Karlheinz limpou o canto da boca com o guardanapo, inabalável. — E como é meu sucessor e vai assumir o trono quando eu morrer, ou Shu, caso ele reivindique, o que acho improvável, ainda tenho esperança de que há uma chance de você mudar, de se tornar alguém melhor que eu e sua mãe. Por isso estou lhe pedindo perdão.

— Você me prendeu, Karl, por algo que ela fez comigo — Laito disse. — Fez eu pagar por algo que eu nem tinha noção — ele riu, talvez tentando disfarçar sua dor. — Não sei se tenho salvação e devo isso aos meus queridos pais. Você devia escolher outro sucessor porque a promessa que eu fiz pra você há quatro anos ainda está de pé.

— Você tem meu sangue em suas veias — Karlheinz rebateu. — Mesmo que me renegue como pai, que cumpra sua vingança, meu sangue sempre vai correr por suas veias e, enquanto o tiver, eu confio que você possa mudar.

Laito riu sarcástico, mas não falou mais nada. Então, foi a vez de Maya.

— Se eles não quiserem um trono, eu quero — disse. — Eu seria uma Rainha bem melhor.

— Maya, por favor — sua mãe chamou sua atenção. — Você sabe que tem que ser um primogênito homem. E você é uma híbrida.

— Isso é tão machista! — ela levantou a voz. — Vocês acham que eu sou fraca por ser híbrida, mas um dia vou provar que sou melhor que todos eles.

— Filha, ninguém disse que você é fraca — Elizabeth olhou firme para ela. — Mas você sabe toda a confusão que seria se um híbrido subisse ao trono. O conselho nunca aceitaria.

— Ah, que se fodam aqueles velhos.

— Maya! — seu pai a advertiu. Ela deu de ombro.

— Desse jeito você não vai ser Rainha nem do próprio nariz, que dirá do país — Ayato disse.

— Olha aqui seu filho da p... — ela se levantou, mas o Rei a interrompeu.

— Já chega! — ele ergueu a voz e Maya sentou-se novamente. — Vamos manter essa conversa civilizada! Maya, eu entendo você, mas estou tentando mudar as coisas. Aos poucos — ela revirou os olhos. — As coisas não acontecem do dia para noite. Sei que é muita informação para vocês assimilarem e vou lhes dar seu próprio tempo. Não espero receber nenhum perdão agora, mas torço para que um dia eu receba.

— Meninos — Elizabeth disse. —, sei que também não fui muito próxima de vocês, mas com meus afazeres de caçadora vivia fora da cidade. Mal mude ver vocês crescerem e se tornarem homens. Porém, quero que saibam que tenho um carinho especial por cada um e sempre estarei aqui para o que precisarem.

— Obrigado, Elizabeth — Shu disse.

— Gostaria de saber também se posso contar com vocês sete para viverem como uma família no instituto, sem brigas, sem um querendo matar o outro? — o Rei perguntou.

— Sim — todos responderam. Maya não sabia se todos estavam realmente sendo sinceros.

— Ótimo porque tenho uma proposta para vocês: se eu passar pelo menos um mês sem ser chamado pela direção ou qualquer órgão de autoridade por causa de vocês, os sete vão poder voltar a morar comigo, Elizabeth e Luke. Irão continuar frequentando a escola, porém morando aqui.

Nenhum dos sete disseram nada, estavam sem palavras. Tudo o que eles mais queriam era voltar para casa.

— E não pensem que só porque estarei longe não irei saber tudo o que vocês fazem — disse, severo.

Depois do prato principal, eles comeram a sobremesa e o jantar continuou tão normal quanto poderia depois de toda aquela conversa pesada que Karlheinz teve com ele. Até que chegou o momento de ir embora e os oito se viram obrigados a voltarem para as Academias. Eles pegaram seus casacos de volta e os veículos já os aguardavam em frente à mansão. Dessa vez, Maya foi a última a entrar no carro, mas antes que conseguisse, seu pai a chamou.

— Maya, gostaria de falar com você um minuto — ele disse.

— Claro, pai — ela respondeu, afastando-se com ele do carro.

— Realmente quero que vocês se deem bem, mas, entre todos os seus irmãos, quero pedir para tomar mais cuidado com Laito, principalmente agora que estarei fora. Não irei poder lhe proteger.

— Eu não preciso de proteção, pai — disse, com raiva.

— Eu sei que todo esse perigo e adrenalina que ele emana te atrai e sei que foi por isso que acabou fazendo tantas besteiras por aqui, apenas para chegar lá aonde você o encontrou, mas não caia nessa. Dos trigêmeos, ele foi o que mais aprendeu coisas com Cordelia. Ela o ensinou a manipular suas vítimas sem que percebam e, no momento, a vítima que ele escolheu foi você. Ele vai te conhecer, te estudar e quando tiver certeza de todos os seus pontos fracos não vai hesitar em descarta-la.

— Por que você acha isso? — ela estremeceu.

— Anos atrás ele me ameaçou, ameaçou você também e hoje ele disse que não esqueceu disso. Eu conheço vocês, sei que eles se sentem atraídos pelo seu sangue e você pelo perigo que isso traz, então tudo o que eu lhe peço é para ter cuidado, está bem?

— Tudo bem, pai — ela respondeu, abraçando-o. — Não se preocupe.

— Está bem, amo você — ele devolveu o abraço.

— Também amo você, papai.

— x —

Foi só quando saiu da limousine e entrou na Academia que Maya teve certeza de que a caixa de Pandora havia sido aberta e o pandemônio estava em andamento. Ela só queria chegar em seu dormitório, tomar um banho de banheira bem quentinho, colocar um pijama e deitar em sua cama para ter pelo menos algumas horas de sono tranquilo. Contudo, ela foi interceptada por Ichijou antes que tivesse tempo de fazer qualquer uma dessas coisas. 

Quando ela percebeu o loiro vindo em sua direção, tentou apressar o passo, porém ele começou a gritar seu nome e acenar em sua direção e, por mais que quisesse, não conseguiria ignorar e dizer no outro dia que não o havia visto. No momento em que virou-se de frente para ele, soube que algo estava muito errado e ela xingou mentalmente em todas as letras possíveis.

— Maya! — ele parou de correr na frente dela. — Preciso falar com você.

— Ichijou — ela cruzou os braços. —, você já ouviu falar daquele peixe, Remo, que vive nas profundezas do mar e só emerge quando alguma catástrofe está prestes a acontecer?

— Sim, já ouvi — ele franziu o cenho. — Por quê?

— Porque você é um peixe Remo para mim! — ela aumentou o tom de voz e deu as costas para o menino que a seguiu e segurou com força seu braço.

— É sério, Maya! — ele a olhou em seus olhos e, pela primeira vez naquela noite, a vampira sentiu um pouco de medo. — Aconteceu algo muito ruim e preciso da sua ajuda.

— E o que foi? — ela tirou o braço da mão dele.

— Todo mundo... — ele respirou fundo, hesitante. — Todos nós, amigos de Kaname, e o tal noivo de Kaori, acabamos de vê-los juntos.

— E o que isso tem haver comigo exatamente? — ela perguntou, realmente confusa.

— Ele estava tomando o sangue dela — Ichijou disse, simplesmente.

O queixo de Maya quase chegou aos seus pés de tão chocada que ficou. Todos haviam descoberto sobre eles? Por tudo o que era mais sagrado, Maya sentiu uma raiva crescer em seu peito e quase explodir para fora. Ela sabia! Desde o início toda essa loucura estava fadada ao fracasso e o pior era que ela e Ichijou haviam incentivado tudo aquilo, mesmo que indiretamente, quando tentaram ajudar os dois. 

— Você precisa da minha ajuda com o que? — ela perguntou.

— Está uma confusão no dormitório masculino — ele respondeu. — O tal de Zero surtou, obviamente, tentou atacar Kaname, mas ele está fraco demais depois do que aconteceu com o Renegado. E eu acho que... Que Kaname tomou sangue demais de Kaori enquanto estava com ela e agora ela está desmaiada e não acorda de jeito nenhum.

— Ele matou ela? — Maya perguntou, incrédula.

— Não! — respondeu. — Ela está no quarto de Kaname e nós levamos Zero para fora da escola. Eu preciso ir para lá antes que façam alguma besteira com ele, mas não posso deixar Kaori sozinha em um dormitório cheio de vampiros. Será que você poderia...? — ele nem precisou terminar de falar, pois Maya já havia entendido.

— Tudo bem, eu fico com ela. Pode ir embora — ele se virou para ir, mas Maya o chamou de novo. Olhando em seus olhos, ela disse: — Ichijou, faça o que for preciso para ninguém começar uma guerra por causa desses dois. 

O loiro balançou a cabeça, concordando, e desapareceu em poucos segundos. Maya então caminhou até o dormitório até o dormitório masculino, onde seus irmãos provavelmente já haviam entrado. Silenciosamente, ela abriu a porta e percorreu os corredores até encontrar o quarto de Kaname. A vampira abriu a porta, entrou e a fechou atrás de si. No meio de todo aquele breu, ela viu os cabelos de Kaori espalhados pelo travesseiro e a caçadora enfiada no meio dos lençóis. 

Maya se aproximou da cama e puxou um pouco o lençol, descobrindo o rosto de Kaori. À luz da lua que entrava pela janela, ela parecia pálida. Todo o sangue havia fugido de seu rosto, dando à ela uma aparência doentia. Maya não entendia como as coisas podiam ter saído de controle em tão pouco tempo, mas viver era sempre se surpreender. 

A vampira passou dois dedos pelo pescoço de Kaori, onde as marcas das presas do Puro-Sangue ainda podia ser vistas, inchadas e vermelhas. Ela balançou a cabeça, decepcionada. Esperava que Kaname fosse mais inteligente que isso, mas, aparentemente, estava enganada. Atrás dela, ela sentiu uma presença na sacada do quarto, que estava com as portas de vidro abertas. Maya nem precisou virar-se para ver quem era.

— Pensei que tivesse ido junto com os outros — ela disse. 

— Achei melhor ficar aqui — Senri disse, entrando no quarto. — O que quer que eles façam com o caçador, não precisam da minha ajuda para isso.

— Você acha que vão matá-lo? — Maya perguntou.

— Não é o que Kaname quer, mas ninguém mais está dando ouvidos a ele. Estão todos com muita, muita raiva. 

Senri entrou no campo de visão de Maya.

— O que você está fazendo aqui, afinal? — perguntou.

— Ichijou me pediu para ficar de olho nela.

— Pode ir — Senri disse, sentando-se em uma cadeira. — Eu fico.

— Você não é confiável — Maya franziu o cenho.

— E você é?

— Mais que você, com certeza. 

Senri olhou para ela com raiva, mas deixou o sentimento de lado. Sentando-se em uma poltrona, ele suspirou.

— Seria bom você ir atrás de Kaname antes que queimem o caçador em uma fogueira como no século XVI — disse. — Dois Puro-Sangue contra vampiros comuns pode ser melhor. 

Maya pensou por um instante, sabia que Senri estava certo e acabou se dando por vencida. Como ela queria que aquele dia acabasse logo!

— Tudo bem, me prometa que não vai fazer nada à Kaori — ela disse.

— Você tem a minha palavra.

E com isso ela pulou da sacada do quarto de Kaname e seguiu atrás do vampiro pela floresta. Kaname não sabia ainda, mas ele já estava devendo toda a sua miserável vida imortal à Maya. E ela o odiava tanto! Mas o salvaria mais uma vez. 


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