Wicked Love. escrita por Beatriz


Capítulo 17
Capítulo 17.




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Para Maya a dança do casal principal da festa foi linda e romântica, os dois realmente pareciam muito apaixonados mesmo depois de tanto tempo juntos. Porém, ela estava se sentindo entediada. A comida era boa, tinha bebida à vontade – ela já havia aproveitado muito o bar –, mas a vampira não estava se sentindo 100% animada ali.

Depois que o Kuran e a caçadora sumiram e ninguém percebeu – ou fingiram não perceber –, ela achou que já tinha tido o suficiente daquela família. Caso alguma besteira acontecesse, Maya não queria estar ali para apagar o incêndio. Nada daquilo era culpa dela afinal. Suspirando, ela colocou a taça de champanhe na bandeja de um garçom que passava por perto e caminhou até a sacada do salão.

A noite estava bastante fria, mas ela mal sentiu o vento gelado em sua pele. A temperatura estava normal para uma vampira. Apoiando-se no corrimão, ela olhou para o jardim abaixo. O salão em que acontecia o aniversário de Juri ficava na parte de trás da casa e a vista era de toda a floresta que a cercava. A mansão dos Kuran era belíssima, apesar de, na opinião dela, não chegar aos pés da mansão dos Sakamaki. A mansão (fotofoto) era feita no formato de M, pois, segundo a histórias, o pai de Juri e Haruka quis homenagear a esposa e mandou construir a casa deles no formato da primeira letra do nome dela.

— Que romântico — Maya murmurou, irônica. Ela arrancou uma rosa de um vaso alto ao seu lado e a jogou na grama lá embaixo.

A vampira observou a flor flutuar até cair no chão, espalhando algumas pétalas ao redor. Apenas após isso ela percebeu um movimento ao seu lado. Ainda que tivesse estremecido de susto, ela não deixou transparecer e virou-se para ver quem estava fazendo companhia à ela.

A escuridão cobria totalmente a pessoa, apenas podia ser visto a ponto do cigarro queimando. Ela ficou encarando o estranho por um tempo até ele virar-se para ela e seus olhos verdes ficarem visíveis em meio a todo àquele breu.

— Desde quando você fuma? — ela perguntou, encarando os olhos.

— Gosto de colocar na boca aquilo que deveria me matar, mas não vai — o individuo deixou o cigarro cair no chão e o apagou com a sola do sapato, deixando uma mancha no chão de mármore.

Em poucos segundos, ele se aproximou de Maya o suficiente para segurar seu pulso e levar a mão da garota até seus lábios. Ela não havia percebido, mas havia furado o dedo no cravo da rosa e, apesar do ferimento já ter curado, havia uma mancha de sangue em seu dedo indicador.

Laito olhou bem dentro dos olhos de Maya enquanto colocava a língua vermelha para fora com a intenção de lamber o sangue que havia ali. Maya podia ser muitas coisas, mas não era idiota. Não era uma daquelas escravas de sangue que Laito conseguia hipnotizar com seus olhos cor de esmeralda e conseguia arrancar delas tudo o que quisesse. Ele não provaria dela assim tão fácil.

A vampira puxou o pulso da mão de Laito e limpou o dedo antes que ele fizesse mais alguma idiotice. Laito sorriu aquele sorriso que ela odiava, pois era o sorriso que ele dava sempre que conseguia a provocar.

— Estranho você querer colocar meu sangue na sua boca — ela disse, cruzando os braços finos. — Eu posso matar você.  

— Será? — ele se segurou no corrimão e jogou seu corpo para trás. Fechando os olhos, ele aproveitou o vento frio que passava por eles.

Maya observou o perfil do ruivo, notando cada detalhe. Desde o sinal que ele tinha próximo dos lábios até o jeito como seu cabelo comprido balançava com o vento. Pela primeira vez ela estava o vendo sem o chapéu fedora que adorava usar. Por um motivo de orgulho, Maya nunca admitiria que Laito era lindo. Mais que lindo: ele era de tirar o fôlego. Porém, havia coisas que ela gostava de manter e uma delas era sua dignidade. Ele nunca a escutaria falando isso.

— Quer apostar? — ele voltou ao assunto quando ela não respondeu. Saindo de seus pensamentos, Maya percebeu que ele havia aberto os olhos e a estava encarando.

— Não — ela respondeu, desviando o olhar. — Isso não me beneficiaria de nenhuma forma.

O vampiro deu uma risadinha e ajeitou sua postura. Maya encarava o horizonte, forçando-se à não olhar mais para o meio-irmão, mas conseguia sentir o olhar dele em si. Para onde ele estava olhando, ela não saberia dizer, sentiu-se um pouco exposta demais com aquele vestido.

— Pensei que você estaria planejando seu casamento com o Kuran lá no salão — ele provocou.

— Não vou cansar com ninguém! — Maya disse, sentindo-se com raiva por todo mundo ficar falando sobre isso. Nem em seus piores pesadelos ela casaria com Kaname. — E se você falar sobre isso novamente, eu arranco sua língua.

Laito ergueu as mãos na altura dos ombros, divertindo-se. A lua saiu de trás das nuvens, iluminando o gramado abaixo deles, e Maya teve a ideia de ir embora dali. Ir para o mais longe possível de Laito e desse lugar. Ela já estava de saco cheio de tudo isso e não perderia o resto de sua noite ali.

Antes que Laito pudesse falar mais alguma coisa, ela subiu no parapeito e pulou. Para um humano, aquela queda seria fatal, mas para Maya foi como pular da cama. Ela caiu agachado no chão, sentindo seu vestido flutuar ao seu redor. Assim que levantou, ouviu alguém atrás de si. Laito. Ela revirou os olhos, mas começou a andar para longe dele.

— Me deixa em paz — ela disse, adentrando a floresta atrás da mansão.

— Se eu passasse mais um segundo com aqueles vampiros — ele começou, andando atrás dela. —, acabaria levando todo mundo ao quarto do Kuran para mostrar onde ele estava se escondendo com uma humana.

Assim que ele terminou sua fala, já estava caminhando ao lado de Maya. Ela olhou para ele pelo canto do olho. Em sua mente, ela se perguntava o que ele poderia saber sobre Kaori e Kaname e, se sabia, como ficou sabendo. Ela decidiu não dar continuidade ao assunto para não colocar ideias na cabeça de Laito. Ela nem sabia porque continuava protegendo aqueles dois. Do jeito que eram indiscretos, ela não ficaria surpresa se daqui a pouco todo mundo ficasse sabendo o que acontecia entre eles.

Os dois caminharam em silêncio. Maya tentava ser mais rápida, queria se afastar e deixar Laito para trás, mas o vampiro a seguia não só com os pés como também com os olhos. Ele mantinha os passos no mesmo ritmo dos de Maya. Era como se fosse sua sombra. Ela não sabia o que era pior: passar a noite na mansão dos Kuran ou sozinha com Laito.

Maya estava tão absorta em seus pensamentos que mal percebeu que eles já estavam chegando próximo à estrada e acabou tropeçando em algo. A queda que teria sido humilhante, foi impedida por Laito que a segurou pela cintura antes que seus joelhos chegassem ao chão. Ele a segurou com força contra si, um pouco surpreso com a falta de atenção dela. Maya o empurrou para longe.

— Fica longe de mim! — ela disse, estressada.

— Então olha melhor por onde anda — ele respondeu, franzindo o cenho. — Para onde você está indo, afinal?

— Não é da sua conta — ela ficou de costas para ele, voltando a andar.

Por um momento, ela não escutou mais passos atrás de si e pensou que Laito havia dado meia volta e ido embora. Até que se surpreendeu quando sentiu o menino passando à sua frente e a puxando consigo. Ele estava usando a velocidade que qualquer vampiro tem e ela demorou um pouco até pegar o ritmo dele. Só então percebeu que ele havia colocado um óculos de grau no rosto.

Quando finalmente chegaram à cidade, não parecia que eles tinham acabado de correr vários metros. Estavam com a aparência perfeita, sem um fio de cabelo fora do lugar. Apesar de estar um pouco tarde, a cidade ainda vibrava com atividade humana. Alguns vampiros podiam ser vistos aqui e ali, mas não estavam em maioria. Enquanto caminhavam, Laito tirou o blazer de seu terno e jogou na lixeira mais próxima. Afroxou a gravata e colocou ao redor do pescoço como se fosse um cachecol. Abriu mais a blusa e furtou o primeiro chapéu fedora que encontrou no manequim mais próximo. Ninguém pareceu realmente se importar.

Quando ele parou de andar finalmente, ficou de frente para Maya com um sorrisinho.

— Gostou? — ele abriu os braços, mostrando seu novo visual.

— Você não precisa de óculos — ela respondeu, erguendo uma sobrancelha.

— Espero que o Reiji também não precise essa noite — ele riu.

— Você roubou o óculos do Reiji? — Maya olhou para ele incrédula.

Laito apenas deu de ombros, voltando a andar.

— Já planejava sair de lá e não queria ninguém me reconhecendo por aí.

— Ah, claro — Maya balançou a cabeça. — Como se um óculos fizesse grande diferença.

— Vamos — ele pegou a mão dela novamente e Maya abaixou os olhos para elas. — Estou precisando de umas comidas humanas.

Sem muitas ideias, Laito entrou na primeira sorveteria que encontrou. Os dois chamaram bastante atenção não apenas por suas roupas, mas por suas aparências. Não era novidade para ninguém vampiros tinham uma beleza que ia além da compreensão. Apenas o fato de que eram sanguessugas ambulantes os deixava longe da perfeição.

Apesar dos esforços de Clark Kent de Laito com o óculos, Maya conseguiu escutar algumas pessoas cochichando sobre eles serem os filhos do Rei Karlheinz e sobre o fato de serem vampiros. Ela se sentiu incomodada, mas Laito nem parecia perceber.

— Chocolate com cobertura de morango? — o vampiro perguntou á Maya e ela ficou surpresa por ele ainda se lembrar de seu sorvete favorito.

— Sim — ela respondeu.

Enquanto ele pagava e pegava os sorvetes, Maya procurou uma mesa e sentou-se em uma em frente à uma janela. Ela ficou observando o fluxo de carros e pessoas na rua até Laito sentar-se em sua frente e entregar o milkshake dela. Laito também gostava de milkshake de chocolate, mas dessa vez havia escolhido de chocolate com menta.

— Já conseguiu achar um melhor que chocolate com cobertura de morango? — ela perguntou.

— Infelizmente não — ele olhou para ela. — Esse era o último que faltava experimentar.

— E? — ela o encarou com expectativa.

— Não chega nem aos pés — ele sorriu.

Pela primeira vez, Maya viu o sorriso inocente que Laito tinha quando eles eram crianças. Muito tempo havia passado e muitas coisas haviam acontecido, mas ele ainda não havia perdido aquele sorriso. Talvez ainda existisse aquele Laito em algum lugar, assim como talvez ainda existisse aquela Maya escondido em algum canto dela.

Laito se apoiou na mesa enquanto tomava seu milkshake e a encarou profundamente. A vampira desviou o olhar por uma fração de segundos e se arrependeu no mesmo momento.

— Eu te deixo nervosa, Maya?

Foi a vez de Maya sorrir, porém o sorriso dela era sarcástico.

— Você se acha demais, Laito — a vampira revirou os olhos e ficou olhando pela janela, fingindo estar muito interessada nos pedestres. Ela se recostou na cadeira, cruzando as pernas e deixando uma quantidade considerável da pele de sua perna amostra.

— Não tenho culpa se seu coração pode ser ouvido à quilômetros de distancia — ele rebateu, puxando a cadeira para mais próximo dela até as pernas deles se tocarem, em uma posição que Maya não gostou muito, pois ele estava próximo demais. Tudo nela gritava "Perigo, afaste-se!". — Ele te entrega sempre que está perto de mim.

— É mesmo? — ela apoiou um cotovelo na mesa, aproximando o rosto do dele. — Deixa eu te contar uma coisa — Maya olhou bem nos olhos de Laito. — O seu também te entrega.

— Meu coração não tem nada para entregar — ele disse, desviando o olhar. Maya sorriu, deslizando uma mão pela perna de Laito, fazendo-o a encarar. — O que você... — antes que ele pudesse terminar, Maya se inclinou, aproximando seu rosto do dele e dando um beijo próximo de seus lábios. Aparentemente, Laito havia ficado sem reação, pois ficou parado como uma estátua e Maya podia ouvir seu coração acelerado.

— Eu te deixou nervoso, Laito? — ela sussurrou em seu ouvido.

Antes que eles pudessem continuar com as provocações, foram interrompidos por alguém que limpou a garganta próximo a eles, chamando a atenção dos vampiros. Eles se afastaram bruscamente.

— Vocês desejam mais alguma coisa? — a garçonete da sorveteria perguntou.

— Ah, hã... — Laito parecia um pouco confuso. — Macarrons, por favor.

Eles voltaram a tomar seus milkshakes longe um do outros, cada um olhando para um lugar diferente. Apesar de tudo, Maya estava feliz por ter dado a última palavra.

Na volta para a mansão dos Kuran, Maya e Laito tiveram que pegar um táxi, pois estava chovendo e nenhum dos dois estava com vontade de se molhar. O motorista do carro ficou tão em choque por ter dois vampiros em seu automóvel que esqueceu de cobrar a corrida quando os deixou em seu destino.

Maya ficou pensando no fato deles dois terem sido reverenciados por humanos e vampiros enquanto caminhavam em busca do táxi, tudo isso por serem filhos do Rei. Ela imaginou que tipo de repercussão isso teria na manhã seguinte.

Eles pediram para o taxista os deixar próximo à floresta. A chuva já havia passado e eles fariam o resto do caminho a pé. Não queriam chamar a atenção chegando lá de táxi. Eles dois acabaram se deparando com alguns renegados no caminho, mas foi bem fácil acabar com eles. Maya precisava se lembrar de ficar de olho nos treinamentos de Laito. Ele havia melhorado suas técnicas de batalha desde a última vez em que haviam se visto e ela não queria ficar para trás.

Quando já era possível ver a entrada da mansão, Laito a surpreendeu quando a puxou para si e pressionou suas costas contra uma árvore, colocando seu corpo ao dela.

— Laito, o que você pensa que está fazendo... — a voz dela falhou quando ele passou uma mão por sua cintura e aproximou o rosto do dela. Maya pensou que ele estava prestes a beijá-la, porém, se estava, foi interrompido por vozes próximas.

— O que aconteceu? — era a voz de Kanato sendo trazida até eles pelo vento.

— Laito pegou meus óculos — agora era Reiji e ele parecia furioso. — Não sei o porquê, mas vou mata-lo quando o encontrar.

— Merda — Laito murmurou, próximo do rosto de Maya.

Estava explicado: ele havia a puxado para trás da árvore porque não queria que Reiji os visse. Óbvio que não era porque ele queria beijá-la. Internamente, Maya se sentia um pouco frustrada, mas deixou o pensamento de lado quando o puxou para longe do esconderijo, chamando a atenção de Reiji.

Laito chamou vários palavrões para ela enquanto o irmão mais velho reparava na presença dos dois ali em baixo. Assim que os olhos de Reiji se fixaram em Laito, suas sobrancelhas se franziram e ele partiu para cima do ruivo. Teria o atingido em cheio se Maya não tivesse se colocado entre os dois, deixando que uma mão subisse até o peito de Reiji e o mantendo no lugar.

— Só um minuto, Reiji — ela disse. — Esse não é o melhor lugar para você tirar o Laito do nosso plano e manda-lo para o espiritual.

— Esse filho da puta! — o mais velho vociferou. — E o que diabos você estava fazendo com ele?

— Eu só fui dar uma volta e encontrei com ele no meio do caminho — ela mentiu.

— Cama aí, irmãozinho — Laito riu, tirando os óculos do rosto. — Seu óculos está aqui, são e salvo.

— Eu poderia arrancar sua cabeça, seu imbecil — Maya se afastou e Reiji tomou o óculos da mão do ruivo bruscamente. — Se você fizer isso de novo...

— Eu sei, eu sei — Laito levantou as mãos na altura dos ombros. — Estou morto. Bla, bla, bla.

Antes que Reiji pudesse falar mais alguma coisa, a atenção deles três e de Kanato foi direcionada para a porta de entrada da mansão, por onde estava saindo os outros irmãos: Shu, Ayato e Subaru.

— Que merda está acontecendo aqui? — Subaru perguntou, estressado. — Dá para ouvir vocês lá dentro.

— Ah, vocês sabem, o de sempre — Maya disse, movimento a mão como se não fosse nada demais. — O vagabundo do Laito arrumando confusão, como sempre.

— Eu ainda estou aqui — ele disse, contrariado.

Maya lhe lançou um sorrisinho pacifico e Laito revirou os olhos.

— Então — Ayato chamou a atenção deles. —, tô dando o fora. Essa festa já deu o que tinha que dar.

— Espera aí — Maya disse, parando-o. — Por que não fazemos algo? — todos olharam para ela, curiosos. — O que foi? Sei que não somos os irmãos mais carinhosos do mundo, mas eu não quero voltar para a escola ainda e vocês?

Os seis trocaram um olhar e, um por um, eles foram concordando com ela.

— Não sei — Reiji disse, antes de concordar. — Amanhã é sábado, mas ainda temos muita coisa para fazer. — Shu e Ayato precisam ter aulas extras; Rido colocou Laito de castigo por ter faltado aula e ele precisa limpar os estábulos. Shu e Ayato vão me ajudar a ficar de olho naquelas caçadoras e...

— E amanhã daremos um jeito em tudo isso — ela passou o braço pelo de Reiji e começou a andar com ele, enquanto os outros os seguiam. — As caçadoras podem se virar sem vocês. Podem apostar que elas têm tratamento VIP com uma certa parte dos alunos.

— O que você quer dizer? — Reiji ergueu uma sobrancelha, olhando para a irmã.

— Boatos, professor, boatos. Vamos indo que a noite está só começando.

Os sete concordaram que queriam ir à alguma festa e Laito foi reclamando sobre ter que limpar os estábulos. Eles conversaram sobre várias coisas e riram juntos algumas vezes e, antes de entrarem nos carros em que haviam vindo, Maya pensou que, apesar de tudo o que havia acontecido entre eles, todas as brigas e ameaças e mágoas que ainda não foram tratadas, ela sentiu falta de seus irmãos.

— x —

O sol já estava quase nascendo quando o aniversário de Juri finalmente chegou fim. Kaori não aguentava mais aquele vestido, seus pés deviam estar cheios de bolhas e já estava de saco cheio de todos aqueles vampiros, principalmente de Kaname. Mas ela tinha que admitir que os vampiros sabiam como fazer uma festa boa. Apesar do cansaço e estresse, ela estava feliz por ter tido a oportunidade de participar de uma festa assim. Provavelmente seria a primeira e última vez.

Depois que ela saiu do quarto de Kaname – toda ofegante e com o corpo em combustão por causa do beijo e dos toques e porque ela só pensava em deitar naquela cama e deixar Kaname fazer o que bem entendesse com ela –, a caçadora foi surpreendida na metade do caminho até as escadas que levavam ao salão de festa por uma das amigas de Kaname. A tal de Rima. As duas pararam no meio do corredor e se encararam, desconfiadas.

— O que você está fazendo aqui? — Rima perguntou, encarando Kaori sem expressão alguma no rosto.

— Fui ao banheiro — a caçadora agradeceu por sua voz não ter falhado.

Antes que uma das duas pudessem falar mais alguma coisa, elas escutaram o barulho de uma porta abrindo e fechando e observaram Kaname sair de seu quarto e empacar no meio do caminho quando percebeu a vampira e a caçadora no corredor.

— Rima — ele a cumprimentou. Se ficou sem graça, não demonstrou. — Caçadora.

Kaori apenas balançou a cabeça, cumprimentando-o como se minutos atrás eles não estivessem com suas línguas um na garganta do outro. Como se a sua boca não estivesse inchada e vermelha e seu corpo não estivesse tremendo.

— Kaname-sama — Rima o cumprimentou, fazendo uma mensura.

— O que vocês duas estão fazendo aqui? — ele perguntou, normalmente.

— Banheiro — elas responderam juntas.

— Ah — Kaname sorriu sem mostrar os dentes. — Última porta à direita.

Ele passou por elas, dizendo que iria ficar com a mãe no andar debaixo e que esperava vê-las na festa depois. Assim que Kaname sumiu escada abaixo, Kaori fechou os punhos com força. Por que ele tinha que ser assim, fingindo que tudo era normal e fácil? A expressão no rosto de Kaori não passou despercebida à Rima. A vampira não sabia o que, mas algo estava acontecendo entre ela e o Puro-Sangue.

— Escute, caçadora — Rima chamou a atenção de Kaori que a olhou. — Não sei o que você e Kaname-sama estão aprontando juntos e não sei se realmente quero saber, mas é melhor você tomar cuidado.

— Não estamos aprontando nada — Kaori respondeu, franzindo as sobrancelhas. — Estarmos juntos aqui em cima foi apenas uma coincidência.

— Sim — Rima passou por ela. — Continuem acreditando em suas mentiras. Você e Kaname.

Kaori ficou petrificada, não conseguia nem mover as pernas. A porta do banheiro se fechou atrás dela com um clique, mas ela ainda conseguia sentir a aura ameaçadora de Rima ao seu redor. As coisas entre ela e Kaname já estavam tão às claras assim? Se sim, quem poderia saber com certeza além de Maya e Ichijou? Eles haviam contado à alguém? Trêmula, ela se obrigou a descer as escadas e passou o resto da noite tentando ignorar os olhares de Kaname e seus amigos.

Agora, no final de festa, ela estava com medo até mesmo de entrar no mesmo carro que o Puro-Sangue. Foi para o lado de fora da casa que estava quase vazio e respirou fundo algumas vezes, tentando pensar no que fazer. Klaus havia se oferecido para leva-la à academia dos vampiros, mas ela, por idiotice, havia recusado. Ela disse que daria um jeito e, mesmo contrariado, ele aceitou. Agora, estava sem carona e tremendo de frio. A noite tinha como piorar? Por um segundo ela desejou que Maya estivesse ali com ela, mas a vampira já havia ido embora há muito tempo.

— Ainda está por aqui, Caçadora?

Kaori pulou de susto. Ela virou para ver quem estava ali e se deparou com o pai de Kaname, acompanhado da esposa, do filho e dos amigos dele. Com todos eles ali, Kaori quase teve uma síncope. Desejou que Zero ou sua espada estivesse junto com ela. Ali, sozinha, próxima de três Puro-Sangue e outros vampiros ela se sentia como uma criança indefesa.

Juri e Haruka a encaravam com expressões amigáveis, mas os amigos de Kaname não pareciam tão felizes em vê-la. Até mesmo Kaname estava sem qualquer expressão naquele maldito rosto. Antes que Kaori pudesse responder, a mãe de Kaname se fez ouvir.

— Pode voltar com meu filho, querida, assim como veio — ela tocou no braço de Kaori que estava gelada como a morte. — Agradeço muito por ter vindo — ela franziu as sobrancelhas perfeitas. — Está tudo bem, querida? Você parece pálida.

— E-estou bem — ela se odiou por ter gaguejado. Não estava realmente bem, ela se sentia enjoada. — Não precisa se preocupar comigo. Irei caminhando — ela forçou um sorriso. — Muito obrigada pelo convite, foi um prazer — ela fez uma mesura tanto para o casal em sua frente quanto para o filho deles ao lado.

— Tem certeza que irá caminhando? É um longo caminho e podem ter Renegados... — Haruka parecia genuinamente preocupado. Lembrou um pouco o pai de Kaori.

— Tenho certeza — a caçadora sorriu novamente. — Posso não estar armada, mas consigo lidar com Renegados. E talvez eu tenha exagerado um pouco na bebida, acho que preciso de um pouco de ar.

— Tudo bem então, se você se sentirá melhor assim, só posso pedir que tome cuidado — Juri sorriu para ela. — Se cuide. Até a próxima.

— Até — Kaori se despediu de todos e começou a se afastar, mas uma voz a fez parar antes de dar mais algum passo.

— Posso acompanha-la, tia — era Senri quem falava. Kaori deu meia volta e encarou as costas do ruivo enquanto ele falava com os pais de Kaname. — Posso garantir a segurança dela e ver o nascer do sol.

— Perfeito! — Juri bateu palmas. — Tudo bem para você, Kaori?

E eu tenho escolha?, ela queria gritar. Será que nunca se livraria desses vampiros?!

— Sim, tudo bem — ela respondeu, contrariada.

— Ótimo — Haruka falou. — Obrigada, Senri.

— Tia, tio — ele fez uma mesura também em frente ao casal e em frente a Kaname. — Kaname-sama.

Timidamente, Kaori acenou para o casal de vampiros e um dos amigos de Kaname, Akatsuki, acenou para ela também junto com Juri e Haruka. Ela percebeu o olhar de Kaname sobre si, mas tentou não dar muita importância. Deu as costas a todos e voltou a se afastar, dessa vez com Senri em seu encalço.

Eles já estavam há alguns metros de distância, adentrando a floresta, quando Senri quebrou o silêncio entre eles. Apesar dele ter pedido para investigar os assassinatos junto com ela, Kaori ainda não confiava totalmente no vampiro e ainda não entendia todo esse interesse que ele estava tendo nela.

— Kaori — ele chamou. — Espere.

Ela se deteve e parou, virando de frente para ele. Porém, acabou perdendo o equilíbrio e cambaleou para trás, caindo sentada em um tronco. Ela rezou para que não sujasse o vestido.

— Droga — ela disse, sentindo-se realmente tonta.

— Você realmente exagerou na bebida, hein — o vampiro se aproximou dela, agachando-se em sua frente para ficarem com o rosto no mesmo nível.

— Como se isso fosse da sua conta — ela resmungou e, como um castigo divino, sentiu uma fisgada no pé e gemeu, tentando ver o que havia acontecido.

— Deixa que eu vejo — Senri disse, erguendo um pouco a barra do vestido dela. — Relaxa um pouco, tá bom?

Senri gentilmente tirou o sapato dela e viu que seu pé estava sangrando. O sapato havia lhe dado bolhas e agora ela estava com o pé ferido por ter continuado em pé a noite toda. Kaori quase nunca usava saltos e, quando usava, dava um jeito de tirá-los rapidamente. Ela definitivamente não estava acostumada com essas festas, essas roupas, essa vida.

Ela observava o pé até perceber que Senri já estava há algum tempo olhando para seu pé sem se mover. Seu coração deu um pulo no peito e ela tentou puxa o pé da mão dele, mas ele a segurou firme.

— Senri... — ela o chamou baixinho.

Quando ele ergueu a cabeça e olhou nos olhos dela, Kaori viu que os olhos dele estavam vermelhos e suas presas estavam um pouco visíveis. Ela lembrou-se do dia em que eles se conheceram e em como ele tomou o sangue dela sem permissão, ainda que tenha sido bem pouco. Kaori sentiu medo mais uma vez. Ao longe, o sol subia devagar no céu e uma nevoa densa tomava conta da floresta. O cheiro do orvalho estava deixando Kaori ainda mais enjoada.

— Desculpe — Senri disse, levando uma mão ao rosto. Ele fechou os olhos por alguns segundos e quando tornou abri-los estava da cor normal: azul claro. As presas haviam sumido também. — Nasci e cresci tendo uma dieta muito restritiva de sangue — ele explicou. Para surpresa de Kaori, ele rasgou um pedaço de sua blusa e usou uma parte para limpar o pé de Kaori. — Você deve saber que os Kuran são um dos poucos clãs que não tomam mais sangue humano. Vivemos de pílulas — ele sorriu amargamente.

— Pílulas? — ela perguntou, interessada.

— Sim — após limpá-la, ele começou a enfaixar o pé dela. — São remédios. Imitam o gosto e as proteínas do sangue, mas não é a mesma coisa nem de longe — ele sorriu novamente, triste. — é uma vida miserável para um vampiro, mas não posso trair minha família.

— Sua... Família? — ela o encarava suavemente.

— Sim, sou um Kuran, por parte de pai — ele amarrou o tecido da blusa no pé de Kaori e olhou nos olhos dela. — Sou filho de Rido, o vice-diretor da academia, primo de Kaname e sobrinho de Haruka e Juri.

— Por isso você os chamou de tio e tia — Kaori observou, surpresa.

— Bingo! — ele se levantou e estendeu a mão para ela. — Consegue se levantar?

Kaori segurou na mão dele e ergueu-se, mas seu pé ainda estava doendo e ela se desequilibrou um pouco, sendo amparada por ele. Eles ficaram mais próximos do que o necessário e Kaori percebeu que Senri tinha um cheiro suave, invisível. Diferente de Kaname que parecia deixar uma marca aonde passava e impregnava os sentidos dela com seu cheiro, Kaori poderia adormecer tranquilamente próximo do cheiro de Senri.

— Não posso tomar seu sangue — ele disse. — Mas você pode tomar o meu se quiser. O machucado vai sarar mais rápido.

Kaori sentiu um frio na barriga diante da ofertar. Tomar o sangue dele como havia tomado o de Kaname? A lembrança do dia em que Kaname tomou seu sangue pela primeira vez e lhe disse que não dividia o que lhe pertencia voltou a sua mente e ela se arrepiou, imaginando que não queria dar motivo nenhum para Kaname machucar Senri e começar uma confusão.

— Não precisa, vou ficar bem — ela tentou sorrir, mas apenas conseguiu fazer uma careta. — Se você não pode tomar sangue como os outros, porque mordeu minha mão naquele dia na floresta?

Ele riu e Kaori sentiu a respiração dele bagunçando os fios de seus cabelos.

— Você quer a verdade completa ou apenas a metade? — ele perguntou.

Antes que ela pudesse responder, ele a pegou no colo. Kaori arquejou, surpresa, e lutou contra a vontade de manda-lo soltá-la. Ela realmente não tinha condições de caminhar nem mais um quilômetro. Tentando ignorar a proximidade entre eles, ela se ajeitou melhor nos braços dele e deixou que o vampiro a levasse para a academia.

— A verdade completa — ela disse.

— Desde o dia em que vi você no corredor da Academia dos Vampiros, quando você estava acompanhando seu diretor para uma reunião com Cordelia — ele começou. Kaori lembrava bem desse dia, quando ela deu de cara com Kaname e seus amigos e percebeu que o ruivo de olhos azuis claríssimos a encarava de uma forma estranha. —, eu me senti atraído por você — o coração de Kaori deu um pulo no peito. Era muita sinceridade de uma vez só. — Se você me pedir para definir essa atração, eu não conseguiria, sendo bem sincero — ele admitiu. — Pode ser carnal, pode ser mental, pode ser espiritual...

— Você acredita em espiritualidade? — ela perguntou, interrompendo-o.

— Não — ele sorriu de novo. — Mas minha mãe acreditava e eu aprendi uma coisa ou outra com ela.

Kaori balançou a cabeça, entendendo o que ela havia dito. Ela encostou o rosto no peito do vampiro e o coração dele batia suavemente contra sua bochecha. Até isso era diferente de Kaname, ela pensou. O coração dele vivia acelerado, como se ele vivesse sob constante ansiedade e o de Senri era tranquilo.

— Continue, por favor — ela incentivou.

— Pode ser qualquer tipo de atração — ele fez o que ela pediu. — É difícil para mim entender. Nunca tive que lidar com esse tipo de sentimento e, muitas vezes, não sei como agir próximo de você. Não sei se você já percebeu, mas os Kuran não são conhecidos por sua hospitalidade e simpatia — ela riu baixinho. “Sim”, respondeu à ele, “Já percebi”. — Talvez meus tios sejam os mais simpáticos. Mas, enfim, o que eu quero dizer é que sinto vontade de estar perto de você e não sei como fazer isso sem assustá-la. Aquele dia na floresta, foi um erro, e o jeito como falei com você quando pedi para ajuda-la na investigação também não foi bom, mas foi o melhor que consegui naquele momento. Peço desculpas.

— Está tudo bem — Kaori respondeu, encarando seu pé enfaixado. O frio havia passado e ela queria pedir para ele leva-la até a cama em seu colo. — Não entendo realmente nada que está acontecendo na minha vida ultimamente. Espero poder confiar em você em algum momento.

— Se um dia eu vier a tomar seu sangue de novo — ele começou e Kaori ergueu a cabeça, olhando-o nos olhos. Olhar para os olhos dele era como olhar para um belo iceberg reluzindo ao sol. Eram olhos lindos, Kaori não podia negar. —, terei tido a sua permissão. Eu lhe dou a minha palavra de que só encostarei minhas presas em você novamente com a sua permissão e se for da sua vontade.

Era mais do que Kaname havia feito por ela e Kaori sentiu-se grata por isso. Em um mundo em que vampiros podiam e tinham força para tomar tudo o que desejassem, ela gostaria de sentir segura ao lado de um deles, sem temer que ele secasse todos os seus vasos sanguíneos. Diante do olhar dele, Kaori corou e desviou seu olhar. Eles continuam o percurso em silêncio.

Quando chegaram à academia, Senri percebeu que Kaori havia dormido em seus braços e não sabia se a acordava ou não. Ele a observou por um instante, parado em frente ao dormitório dela. Decidiu que não acordaria então deu um impulso do chão e pulou para a janela do quarto dela. Ele sabia qual era o quarto dela, pois a observava de seu próprio quarto no tempo que ela passava ali, mas nunca realmente teve coragem de ir até lá.

Uma vez dentro do quarto, Senri tentou fazer o mínimo de barulho possível para não acordar a amiga dela. Ele a deixou na cama, foi até seu próprio dormitório e voltou, trazendo consigo dois uniformes que ele havia encontrado enquanto a ajudava a procurar pistas sobre os assassinatos. Ele conversaria com ela sobre isso quando Kaori acordasse. Por enquanto não precisava ter pressa.

Com o mínimo de barulho possível, ele sentou-se à mesa dela com papel e caneta e escreveu um bilhete para a caçadora. De vez em quando ele lançava um olhar para ela, adormecida ao seu lado. Ela parecia tão em paz que Senri teve que resistir ao impulso de deitar-se ao lado dela, afundar o rosto em seus cabelos. Ela era a mulher mais linda que ele já havia visto em toda sua vida e odiava o fato de Kaname ter colocado os olhos nela primeiro que ele.

Depois que terminou de escrever o bilhete, deixou-o próximo das roupas que havia levado e levantou-se para ir embora. Olhou mais uma vez Kaori e, silenciosamente, saiu do quarto dela, pulando da varanda para o chão. Ele caiu agachado para amortecer melhor a queda e, quando ajeitou a postura, deu de cara com seu primo, Kaname.

— Kaname — Senri disse, deixando a formalidade de lado. Sendo alguns centímetros mais alto que ele, Kaname encarava o primo de cima.

— Por que estava no quarto dela, Shiki? — Kaname perguntou, ameaçador.

Senri escutou a ênfase em seu sobrenome. O primo sempre gostava de enfatizar que ele não era e nunca seria um Kuran de verdade e isso era nítido no fato de que ele usava o sobrenome de sua mãe e não do clã de seu pai.

— Não devo satisfação à você — ele respondeu, passando por Kaname, mas antes que chegasse longe, o Puro-Sangue segurou seu braço, fazendo-o parar.

— Fique longe dela — Kaname disse, ameaçador.

— Se não você vai fazer o que? — ele puxou o braço bruscamente da mão do primo, soltando-se. — Ela não é sua propriedade.

— Você sempre teve inveja de mim — Kaname disse, fazendo Senri parar a alguns passos de distância. Eles ficaram de costas um para o outro, os punhos fechados. — Sempre ficou obcecado por tudo o que eu gostava ou queria — Kaname não se importava com as palavras que estava usando. Ele sabia que Senri tinha consciência de que havia algo entre ele e Kaori, talvez ainda não soubesse sobre a ligação, mas sentia que havia algo forte entre eles. — Nunca se conformou por não ser 100% Kuran. Sempre tentou se igualar à mim, me imitar, ser como eu. Não vou admitir que faça isso novamente.

— Isso foi há muito tempo, primo — a palavra “primo” saiu como veneno de sua boca. — Talvez agora seja diferente.

— x —

Maya nem dormiu depois que voltou para an academia. Apesar da ressaca e de estar com tanto álcool no corpo que às vezes esquecia seu próprio nome, ela foi para a aula extra que teria naquele sábado e agora estava no refeitório, tomando uma xícara imensa de café e sentindo seu corpo de vampiro ir se curando aos poucos. Era muito raro ela ter ressaca, mas dessa vez havia exagerado.

Por um bom motivo, é claro. Estava com seus irmãos, foi uma noite incrível e ela esperava que eles pudessem repetir algum dia antes que as brigas e os desentendimentos recomeçassem. Ela estava na sua quinta xícara de café quando Kaori irrompeu pelas portas do refeitório, parecendo um furacão. Maya observou a menina enquanto ela olhava ao redor do local, procurando alguém entre os poucos vampiros ali. Quando seu olhar parou em Maya, a caçadora veio até sua mesa. A vampira percebeu que ela estava mancando.

— Tudo bem com você? — Maya perguntou. — Parece que um caminhão passou por cima de você enquanto dormia.

— Olha quem fala — Kaori ergueu uma sobrancelha e desabou em uma cadeira ao lado da vampira. — Você viu Senri por aí?

— Quem? — Maya franziu o cenho, sentindo uma dorzinha de cabeça. Ela só melhoraria quando tomasse sangue direto da veia de alguém.

— Senri — Kaori repetiu, mas Maya continuava confusa. — Ruivo, olhos azuis, do grupo de Kaname.

— Ah! Lembrei — ela deu outro gole em seu café. — O ruivo estranho. Sim, sei quem é, infelizmente — Kaori olhava para ela com expectativa. — Não, não o vi. Por quê? O que está acontecendo?

Kaori suspirou e, depois de pensar um pouco, contou mais ou menos o que Senri havia escrito no bilhete que estava em seu quarto.

Kaori,

Espero que durma bem e não se importe com o fato de eu ter entrado em seu quarto.
Estou deixando aqui dois uniformes que encontrei nos limites da floreta, em uma busca que fiz na tentativa de ajuda-la a conseguir respostas. Gostaria de falar com você pessoalmente, mas receio que quando acordar estarei ocupado com outras coisas.
Por isso, quero resumir através desse bilhete minhas suspeitas: como pode ver, são uniformes dos caçadores e dos vampiros. Acredito que foram usados para os assassinatos, estão sujos de sangue.
Espero que nos encontremos logo para discutirmos sobre isso – e também para falarmos sobre nós dois e todas as coisas que eu lhe falei na floresta.
Espero que seu pé esteja melhor.

Senri.

Claro que Kaori omitiu tudo isso de “nós dois”, dele ter entrado em seu quarto, a carregado pela floresta e todos os detalhes comprometedores e se ateve ao que interessava. Quando terminou, Maya estava pensativa.

— O que acha? — a caçadora perguntou.

— Acho que essa merda toda foi uma porcaria de plano muito bem arquitetado por alguém dentro das Academias, mas vou ficar calada por enquanto, não quero acabar perdendo a língua por falar demais — Maya respondeu.

Kaori abriu a boca para falar novamente, mas o barulho do noticiário de fofoca na televisão do refeitório chamou sua atenção e da vampira. A apresentadora, uma socialite que não tinha mais nada para fazer da vida além de falar sobre a vida dos outros, entrou no foco da câmera. Ela estava com um sorriso de orelha a orelha.

— Bom dia à todos — ela começou. — Me chamo Krissy Jacobs e estou aqui com notícias fresquinhas. Ontem à noite, às 23:30 para ser mais precisa, nossos repórteres flagraram duas pessoas muito importantes tendo um “encontrinho” às escondidas por aí — seu sorriso de cobra cresceu mais. — Vocês, meus telespectadores, acreditariam se eu falasse que Maya e Laito Sakamaki foram fotografados em um momento um tanto quanto comprometedor em uma sorveteria? Produção me mostra as fotos! — a tela da TV se encheu com algumas fotos de Maya e Laito da noite anterior. Uma que eles estavam entrando na sorveteria, outra que Laito furtava o chapéu da manequim, mais uma em que eles estavam se encaravam tomando seus respectivos milkshakes e mais outra em que Maya aparecia com a mão na perna de Laito, sussurrando em seu ouvido. Maya quis morrer vendo tudo aquilo. — Pois é, isso mesmo que vocês viram — a câmera voltou a filmar Krissy. — Sabemos que é normal os vampiros se relacionarem entre si, então o que vocês acham? Um dos filhos e a filha do nosso querido Rei estão em um romance? Todos achamos que ela casaria com Kaname Kuran, será que estávamos errados? Façam suas apostas!

E ela continuou:

— E não acaba por aí, meus queridos telespectadores! Após esse encontro entre os dois, Maya, Laito e todos os outros filhos do Rei foram vistos em uma boate luxuosa na zona sul da cidade, onde curtiram a noite com várias outras celebridades. Infelizmente nossos repórteres não conseguiram nenhum clique, pois a boate era exclusiva e não permitiram nossa entrada, mas fica o questionamento. Estariam os filhos do nosso querido Rei realmente preparados para sucederem o pai? O reinado estaria com os dias contados ou seremos surpreendidos de maneira positiva em algum momento? Não sei o que pensar e vocês, meus queridos? 

O assunto mudou para outra fofoca e Kaori encarou Maya, chocada. A vampira nem olhou para a amiga, estava desacreditada, com raiva, puta da vida, pronta para fazer Krissy Jacobs engolir todos aqueles dentes brancos. Maya se levantou da mesa, sentia os olhares de todos no refeitório em cima dela, mas não devolveu nenhum. Ela respirou fundo e, antes que desse um passo para longe da mesa, a secretária de Cordelia passou pelas portas do refeitório, indo até Maya.

— Bom dia, Maya — ela disse, a vampira olhou com ódio para ela. — Preciso que me acompanhe. Seus pais estão esperando para vê-la.

Maya fechou os olhos com força.

— Puta merda — ela murmurou.  


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