Wicked Love. escrita por Beatriz


Capítulo 13
Capítulo 13: Kaname / Maya.




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Kaname

Após o corpo do vampiro com uma espada dos caçadores cravada no peito ter sido descoberto no pátio da escola, a vida de Kaname parecia ter virado de cabeça para baixo. Ele dizia a si mesmo que tudo começou a partir daí porque realmente toda a merda parece ter sido jogada no ventilador depois disso, mas a verdade é que tudo começou quando ele escolheu, de livre e espontânea vontade, dar seu sangue a Kaori. Agora ele sentia uma sede de sangue humana incontrolável, tremores não o deixavam dormir, seu corpo parecia estar lutando conscientemente contra sua razão. Ele precisava se alimentar e apenas o sangue de Kaori não era o suficiente.

Na noite em que tudo desandou, ele não estava no pátio para ver o corpo e nem fez questão de ir atrás. Ele foi direto para o seu quarto, arrancou seu uniforme e deitou nu em sua cama. Seus pensamentos estavam uma confusão e ele estava suando, como se tivesse corrido uma maratona. Seu coração, tão tranquilo na maioria das vezes, parecia prestes a rasgar seu peito. Ele pensou em Kaori e nos dois momentos em que bebeu o sangue dela. Ele queria aquilo de novo, independente se o sangue era dela ou de outra pessoa, mas tinha que ser sangue humano. Essa era uma batalha que Kaname sabia que não venceria.

Sem conseguir deixar de lado aquela sensação que o estava matando aos poucos, o vampiro levantou da cama, pegou uma roupa qualquer no guarda-roupas e pulou da janela do seu quarto para o jardim. A escola estava uma confusão, vampiros corriam de um lado para o outro, alguns assustados, outros jurando vingança contra os caçadores, mas todos parecendo perdidos em suas promessas e medos. Kaname passou por todos, ignorando os olhares que provavelmente estava atraindo para si, e passou pelo portão de saída, indo em direção a cidade.

Uma vez lá, ele tentou com todas as suas forças se controlar, mas a sede que estava sentindo foi mais forte que ele. Ele pensou em ir até Kaori, ela teria dado seu sangue a ele bem fácil, mas ele iria mata-la, tinha certeza, então encontrou outro caminho. Pessoas inocentes que não tinham nada haver com aquilo. Tudo na cidade parecia barulhento demais, brilhante demais, sua cabeça estava explodindo e ele mal conseguia se manter de pé. Kaname se encostou em uma parede, em um beco, e deslizou até o chão. Havia um espelho quebrado em sua frente e ele encarou seu reflexo, observando o monstro que estava emergindo de dentro dele.

Sua primeira vítima foi uma adolescente, devia ter uns quinze anos e era magra demais, mas ela o encontrou ali no escuro e era inocente demais para parar e perguntar se ele precisava de ajuda. Ele não hesitou, mordeu o pescoço da menina como se não fosse nada, tomando até a última gota. O reflexo que aparecia agora no espelho quebrado em sete partes era de um demônio e ele ignorou aquela imagem, largando o corpo da menina como se não fosse nada e entrando na primeira casa que encontrou. Ele matou a primeira família, depois a segunda, depois entrou em um hotel e matou cada um dos hóspedes, secando suas veias, arrancando cabeças, largando corações pelos corredores como se fossem meias sujas.

Não havia remorso, arrependimento ou uma lembrança do rosto doce de Kaori que o fizesse parar agora. Seu instinto dizia para ele matar e ele era um animal, tinha que obedecê-lo. Ele escutou suplicas, orações, mas o desespero humano era seu combustível e o sangue sua motivação. Não havia deus algum que pudesse salvar aquela pobres almas dele. Sua mente ficou limpa ou ele finalmente estava conseguindo pensar livremente agora, sem aquele peso de ser o certinho, o herdeiro da família Kuran. Era isso o que ele era. Deveria agradecer a Kaori por trazer a tona o melhor dele. Depois de tomar todo o sangue dela, talvez. Ele sorriu diante dessa ideia.

 — O que é você? — uma de suas vítimas perguntou, se arrastando pelo chão, deixando um rastro de sangue em seu caminho.

— Seu pior pesadelo — ele respondeu, afundando as presas no pescoço daquela desconhecida.

— X —

Quando o sol nasceu, Kaname acordou jogado nos fundos do hotel em que tinha realizado aquele massacre. Sua cabeça doía como se ele tivesse passado a noite enchendo a cara. Com dificuldade, ele ficou de pé e, cambaleando, passou pelo saguão do hotel, onde viu seu reflexo pela terceira vez. O único lugar no qual não havia sangue eram em seus olhos, mas eles estavam vermelhos então não fazia muita diferença. Em outro momento, Kaname teria se assustado com a própria imagem refletida no espelho, mas agora não causou se quer uma pontada de culpa.

Ele passou pelo reflexo, procurando por uma saída menos movimentada. Mas antes foi se levar. Se trancou em um banheiro, jogou água no rosto e saiu dali tão limpo quanto um assassino poderia estar. No caminho de volta para a escola dos vampiros, um rosto em especial se destacou em seus pensamentos doentes. Não era o de Kaori. Aquela humana parecia pertencer a outra vida de Kaname. Os cabelos brancos da mulher de seus pensamentos passaram na sua frente e, pela primeira vez, ele teve alguma reação.

O vampiro se sobressaltou, parando de andar por um momento. Ele olhou ao redor, mas não havia ninguém ali além dele. Estava tendo uma alucinação. Ele voltou a andar e mais uma vez ele a viu: os cabelos brancos, os olhos lilás, o vestido branco que ela sempre usava. Tudo apareceu de uma vez nos pensamentos do puro-sangue. O sol estava forte demais ou ele estava perdendo a consciência.

— Shizuka... — ele disse baixinho, a voz fraca.

Kaname caiu de cara no chão. Não sentiu dor alguma, poderia ficar ali para sempre. Na verdade, até gostaria. Talvez ele pudesse sumir, desaparecer. Seus pais superariam, poderiam até mesmo ter outro filho. Kaname nunca entendeu porque não tiveram, porque colocaram todo esse fardo em cima dele. Enfim, um dia eles nem se lembrariam mais de Kaname.

Ele fechou os olhos por um momento, cansado demais para pensar em qualquer outra coisa. Ele queria poder morrer. O suicídio seria uma saída tão fácil... Se fosse humano... Ah, se ele fosse humano. Haveria tantas possibilidades. Kaname não queria a eternidade, nunca quis, mas estava fadado a ela. Acima de tudo o que ele sentia em relação a Kaori, ele a invejava. Ela sabia a sorte que tinha em seus dias finitos? Ela sabia que ele queria a vida com dias contados que ela tinha?

Seu celular vibrou em seu bolso e ele abriu os olhos, surpreso. Havia esquecido que tinha trazido o aparelho consigo. O vampiro o puxou do bolso, semicerrando os olhos diante da claridade da tela. O celular estava manchado de sangue, mas ele conseguiu ler o número na tela com o nome mãe “Mãe” junto de uma foto sorridente de Juri Kuran. Ele se obrigou a ficar de pé, caminhou até uma ponte e jogou o aparelho dentro d’água. Kaname observou enquanto ele submergia até sumir de vista.

Como um zumbi, ele refez seus passos da noite anterior e conseguiu chegar a Academia dos Vampiros. Ela parecia vazia, como uma escola fantasma. Não via-se uma viva alma (ou morta) pelo terreno. Kaname se arrastou através do portão, pelo pátio de entrada e finalmente entrou no dormitório. Mas ele errou de cálculo. Não havia entrado no dormitório masculino. As pernas de Kaname cederam em frente a uma porta muito parecida com a sua e ele desmaiou no meio do corredor antes de conseguir entrar no quarto.

Quando Kaname acordou tudo estava escuro ao seu redor. Uma brisa fria entrava pela janela e a ponta da cortina roçava no rosto dele. Ainda sentindo-se zonzo, ele se sentou no colchão, passando mão pelo rosto e tirando alguns fios de cabelo que estavam grudados ali. Ele olhou pela janela, a lua estava alta no céu, brilhando intensamente. As lembranças da noite anterior voltaram com força total e ele fechou os olhos com força, tentando suprimi-las, mas não conseguiu. A porta do quarto foi aberta e fechada e Kaname reconheceu Maya Sakamaki quando observou seu acompanhante. Ele devia estar surpreso com a presença dela, mas não estava.

— Ah, você acordou — ela ligou a luz do quarto, fazendo Kaname semicerrar os olhos com a claridade. — Finalmente. Pensei que estivesse morto.

— Onde eu estou? — ele perguntou, olhando ao redor.

Maya puxou uma cadeira de rodinhas para perto da cama e sentou-se de frente para Kaname. Ela estava tomando sangue humano de uma bolsa. Os olhos de Kaname brilharam em um vermelho vivo no exato momento em que o cheiro de sangue atingiu as suas narinas. Ele apoiou a cabeça em uma mão, tentando se controlar.

— Você está no meu quarto — Maya respondeu, observando o vampiro com atenção. — Desmaiou aí na minha porta. Imagina a minha surpresa quando eu abri e vi o seu corpo. Pensei que outro caçador já havia feito mais uma vítima.

— E você me trouxe para dentro — ele concluiu. Ela deu de ombros, sugando seu canudinho. — Obrigado.

— Vai, desembucha — ela encostou a ponta de seu sapato na canela dele, que estava para fora da cama. — O que aconteceu? Você estava tão cheio de sangue que o meu corredor estava parecendo um show de horrores.

Kaname olhou para o próprio corpo, notando pela primeira vez que estava apenas de cueca. Ele pegou o lençol da cama e cobriu suas partes íntimas com uma rapidez digna de um vampiro. Maya revirou os olhos.

— Eu tirei suas roupas, claro. Você não imaginava que eu ia te colocar na minha cama todo cheio de sangue do jeito que você estava, não é? — ela fez uma pausa e, como Kaname voltou a olhar pela janela, ela voltou a falar. — E então? O que está acontecendo, Kuran?

— É uma longa história — ele disse, por fim.

Maya cruzou as pernas, recostando-se à cadeira. Ela respirou fundo, encarando o vampiro à sua frente.

— Ainda bem que temos a noite toda — ela disse. — As aulas foram canceladas e, até segunda ordem, não é para ninguém sair dos dormitórios.

Kaname olhou nos olhos dela e, quando abriu a boca, colocou tudo para fora. Ele não sabia de onde vinha aquela necessidade de falar, mas as palavras jorravam de seus lábios como uma cachoeira.

A verdade é que ele estava cansado de guardar aquilo tudo para si, estava cansado de apenas receber sermões da única pessoa que sabia tudo o que estava acontecendo. Ele precisava de outra opinião, outro ponto de vista que não lhe disse que tudo estava perdido. Maya era tão errada quanto ele estava sendo e ela era última pessoa que poderia julgá-lo, então ele despejou tudo em cima da vampira: como salvou Kaori, a ligação de sangue entre os dois, o fato dele ter tomado o sangue de Kaori, falou sobre o que fez na noite passada e, por fim, falou sobre sua falta de controle em relação ao sangue humano. Ele estava a beira das lágrimas quando terminou de falar, mas não deixou que elas derramassem.

Quando o relato acabou, o silêncio reinou no quarto de Maya. A vampira apenas ficou encarando o colega de turma sem expressar qualquer reação. Em um primeiro momento, Kaname esperou que ela fosse rir, quando isso não aconteceu, ele não sabia mais o que esperar. Maya sempre foi imprevisível e às vezes isso podia ser muito irritante. Ele abaixou a cabeça, encarando os pés como uma criança que havia sido pega fazendo besteira.

— Pela primeira vez você me deixou sem palavras, Kaname — ela disse finalmente, quebrando o silêncio. Ele ergueu a cabeça e a encarou novamente. — Quer dizer, caramba! — ela ficou de pé e foi até a janela. — Quem é ela? — a vampira perguntou, mas ela já tinha uma ideia da resposta. — A humana que está ligada a você. Quem é ela?

— Ninguém importante — ele desviou o olhar das costas da vampira.

Maya virou de frente para ele e se apoiou no parapeito da janela, cruzando os braços em cima do peito.

— Se ela não fosse ninguém importante você não estaria por aí atravessando a cidade para matar outras pessoas apenas para não acabar a matando — ele levantou o rosto e seus olhos encontraram os de Maya. — É aquela caçadora, não é? A tal de Kaori — finalmente Maya havia se lembrado do nome da menina.

— Como você sabe? — os olhos de Kaname se arregalaram.

— Eu a conheci no dia dos namorados — Maya disse. — Ela tinha o cheiro do seu sangue.

O celular de Maya tocou em um som estridente antes que Kaname pudesse dizer mais alguma coisa. Ela atendeu no segundo toque. O vampiro não prestou atenção na conversa, mas, aparentemente, ela estava conversando com a sua mãe.

Um pouco frustrado com o fim abrupto da conversa, Kaname ficou de pé e foi atrás de suas roupas. Encontrou as peças no banheiro, devidamente dobradas. Ele olhou por cima dos ombros, surpreso com o fato de Maya conseguir ser organizada. Ele se vestiu rapidamente, ignorando as manchas de sangue, enquanto ela gesticulava para o nada ainda falando no telefone. Quando a ligação terminou, Kaname saiu do banheiro e Maya olhou para ele, franzindo o nariz.

— Nossos pais irão fazer uma reunião e nos querem lá — ela anunciou. — Cadê o seu celular? Minha mãe disse que a sua mãe está desesperada atrás de você.

— Me livrei dele em uma ponte — Kaname admitiu.

— Muito inteligente — Maya disse, nem um pouco surpresa. — Ok, seria bom você ir tomar um banho e trocar de roupa. Aparentemente, eles querem conversar com a gente sobre o que aconteceu aqui na academia, então acredito que será em algum local discreto. Provavelmente não terá nenhum humano, mas, se por um acaso, você cair em tentação, eu serei o seu Jesus Cristo e te coloco na linha. Combinado? — ela olhou nos olhos de Kaname. Ele não esboçou nenhuma reação. — Vai. Sai daqui. Te encontro no portão em vinte minutos.

Maya o empurrou na direção da porta e a abriu para ele. O corredor estava vazio e antes de Kaname sair, ele virou de frente para ela. Ele observou os olhos vermelhos e o rosto bonito da vampira. Ela estava o encarando como se ele fosse algum idiota que não havia entendido o que ela disse, mas ele entendeu. Estava pensando apenas naquela hipótese de casamento que os seus pais levantaram no último almoço que tiveram juntos. Teria dado certo, ele e Maya? Com certeza seria bem menos prejudicial que ele e Kaori juntos.

Sem dizer mais nada, ele saiu do quarto, escutando a porta se fechar atrás de si. Kaname saiu do dormitório feminino o mais rápido que pôde, pelas portas dos fundos, não queria encontrar com Ruka. Ela faria perguntas que ele não tinha a capacidade (e nem a força de vontade) de responder agora. O vampiro atravessou a distância que separava os dois dormitórios em tempo recorde e, quando entrou no dormitório masculino, suspirou aliviado, reparando que estava tão silencioso quanto o feminino. Seus amigos ainda não tinham sentido sua falta, então. Ótimo.

No seu quarto, ele tomou banho e trocou de roupa, como Maya havia pedido. Não sabia que tipo de roupa devia colocar, mas, conhecendo seus pais e os pais de Maya como conhecia, ele sabia que, apesar de provavelmente fazerem algo discreto, seria algo que exigiria uma roupa mais elegante. Ele colocou um terno mais simples, mas ainda assim um que agradaria sua mãe. No fim, ele saiu do dormitório tão silencioso quanto uma sombra e seguiu para o portão de saída da escola. No pátio, próximo a sala de música, ainda podia-se ver a marca de sangue no chão.

Ele passou reto pelo sangue seco e escuro, não se demorando muito naquilo. Kaname não havia visto o corpo, mas sabia que devia ter sido algo traumatizante para os vampiros que viram. Principalmente os alunos, afinal a Academia dos Vampiros era um símbolo da força deles e saber que um mero caçador conseguiu entrar e sair e matar um dos seus sem ninguém ver mexia com o orgulho de todos. Era humilhante. Kaname sabia que os vampiros não iriam querer justiça para aquele que foi morto, apesar de usarem esse discurso como desculpa para atacar os caçadores, mas sim vingança. E eles teriam, querendo o rei ou não, pois, sejamos sinceros, quem conseguiria domar vampiros?

Kaname cerrou os punhos, pensando em Kaori. Ela seria diretamente afetada com tudo isso, mas ele não deveria se importar. Claro, estavam ligados através do sangue e, se ela morresse, ele sentiria uma dor terrível, provavelmente ficaria mal por dias, mas não morreria. Ele já havia sobrevivido a coisas piores. Ele não deveria querer protege-la, pois foram os caçadores, ela inclusa, que fizeram isso. Diabos, poderia até mesmo ter sido ela! O que Kaname sabia realmente sobre Kaori, afinal? Ela era caçadora e tinha um sangue bom. Ela devia sentir muita raiva dos vampiros, pois um deles matou seus pais há alguns anos atrás. Ela teria motivos de sobra para fazer algo como o que aconteceu na noite anterior.

Mas, lá no fundo, ele não acreditava realmente que ela seria capaz disso. Ele não sabia nada sobre ela, era verdade, mas ele podia sentir o que ela sentia por causa da ligação entre eles e Kaname nunca havia sentido coisas tão boas em tão pouco tempo. Ela era confusa, ansiosa, se metia em confusões difíceis de sair e era um pouco raivosa, mas, na maior parte do tempo, ela era apenas solitária. Claro, a solidão pode trazer milhares de outros sentimentos ruins consigo: vingança, ódio, depressão. Mas ele não sentia nada disso vindo dela. Ela deveria passar a maior parte do tempo pensando em como se vingar daquele que assassinou seus pais, mas, ao invés disso, ela pensava em trabalho, naquelas crianças para quem dava aula, naquele tal noivo e nos amigos. Ela sorria, cuidava, era empática e achava que devia carregar os seus problemas e os problemas dos outros sozinha. Essa pessoa seria capaz de entrar sorrateiramente na escola e matar um vampiro sem motivo algum? Ele achava que não. Ela não era do tipo que incitaria uma guerra sem motivo.

Kaname lembrou-se do momento que eles tiveram juntos naquele lago. Ele dizendo que não conseguia se controlar e ela dizendo que não se importava. Era a ligação entre eles falando mais alto, é claro, mas será que havia sido apenas isso mesmo? Quando se tratava dela mesma, Kaori parecia inconsequente o suficiente para dizer aquilo com a maior lucidez do mundo. Kaname tinha a leve impressão de que ela seria capaz de assumir toda a culpa da morte do vampiro se isso significasse que ela poderia salvar todos os outros caçadores de uma morte certa.

 — Ah, você chegou.

A voz de Maya o tirou de seus devaneios e Kaname percebeu que já havia chegado ao portão. Ele parou ao lado da vampira e olhou para ela. Pela primeira vez, ele viu Maya sem sua espada. Ela estava muito bonita, usando um vestido vermelho e salto alto. Kaname pensou que não era a toa todo o alvoroço que ela causou quando chegou à escola. Além de ser a filha do rei, Maya era conhecida por ser uma vampira excepcional, um pouco barra pesada, mas excepcional. E, para completar, ela era muito bonita, ele tinha que admitir. Comparando com Kaori, as duas não poderiam ser mais diferentes. Maya tinha a beleza eterna dos vampiros, Kaori tinha a beleza passageira dos humanos.

— Meu pai disse que o motorista chegaria em dez minutos — a vampira disse, olhando o celular. — Isso foi a dez minutos atrás.

— O que eles querem com a gente, afinal? — Kaname perguntou, olhando para a floresta a sua frente.

— Conversar — Maya respondeu. — Sobre o que aconteceu, eu acho. Talvez nos dizer o que devemos fazer. Não faço a menor ideia. Ah, aí está o carro.

A alguns metros um carro preto se aproximou até parar na frente deles. Kaname abriu a porta do banco de trás para Maya e deixou que a vampira entrasse primeiro. Surpresa e já acostumada com a personalidade dos outros Sakamaki, ela agradeceu e sentou-se, sendo seguida por ele. O motorista deu partida e os dois seguiram em silêncio, olhando por suas respectivas janelas e mergulhados em seus próprios pensamentos.

Quando o carro parou, o motorista saiu e abriu a porta para Kaname e depois para Maya. Kaname deu a volta no veículo e ficou lado a lado com a vampiro. Os dois observaram a construção a sua frente. Era a mansão onde costumava ocorrer reuniões do Conselho dos Anciãos. Kaname se perguntou se todos os membros dele estariam presentes também, pois ele não sabia se queria ter que socializar com aqueles vampiros.

Os dois foram recebidos por um mordomo que abriu a porta para eles e os conduziu para dentro. A primeira coisa que Kaname notou do lado de dentro foi que as pessoas trabalhando ali eram humanos. Isso com certeza era coisa de seus pais, eles adoravam, como Kaien, misturar humanos e vampiros para mostrar que as duas raças podiam sim conviver sem um desejar a morte do outro. Ele parou na metade do corredor, já sentindo sua sede de sangue se fazendo presente. Apoiado em uma parede, ele levou uma mão à garganta, tentando se controlar. Se ele perdesse o controle ali, na presença de seus pais, ele não conseguia nem imaginar qual seria a reação deles. Os dois confiavam demais em Kaname para imaginar que ele havia se descontrolado com o sangue de uma humana sem importância. Os dois nunca o perdoariam.

— Tudo bem? — Maya tocou no braço de Kaname.

Ele ergueu os olhos para ela, a vampira parecia genuinamente preocupada. A frente deles, o mordomo seguia sem prestar atenção em nada. Humanos...

Kaname balançou a cabeça em resposta a Maya, dizendo que sim, estava tudo bem, mas nem ela e nem ele acreditaram nisso.

— Vamos, então — Maya disse, passando um braço pelo dele e o desencostando da parede. — Não faço a menor ideia de quem esteja aqui junto com nossos pais e você não quer que eles o vejam assim.

Kaname sabia que ela estava certa, então ergueu a cabeça e seguiu caminhando de braços dados com a vampira. Considerando o histórico que os dois tinham, era surpreendente que aparecessem em uma reunião tão próximos assim um do outro, mas Kaname preferia que os outros vampiros pensassem que eles haviam começado a se dar bem a descobrirem que ela o estava ajudando, pois ele não conseguia controlar algo que era natural aos vampiros. Como uma criança.

Os dois seguiram o mordomo até uma das portas de carvalho que foi aberta por dentro. Um grande salão se estendeu a frente deles. No centro, havia uma mesa grande o suficiente para Kaname e Maya perceberem que não seriam apenas eles e os pais ali. Os dois adentraram a sala, chamando atenção para si. Em apenas uma olhada, Maya observou todos os rostos presentes.

— Ichio está aqui — Maya disse baixinho para Kaname.  

Kaname olhou ao redor e, quando seus olhos encontraram o vampiro, ele viu que era verdade. Asato Ichijou, conhecido como Ichio, era avô de Takuma Ichijou, amigo de Kaname. Kaname nunca gostou do vampiro. Ele era um homem muito ganancioso, que passava por cima de tudo e todos para conseguir o que queria, mas mantinha uma falsa personalidade de bonzinho. Agora Kaname percebia que Maya também não era muito fã do velho. Mas nem Cordelia e nem Rido estavam presentes, o que já melhorava os ânimos por ali.

Antes que Kaname pudesse falar alguma coisa, ele e Maya foram recebidos por seus pais. Elizabeth e Juri estavam muito bonitas em seus respectivos vestidos (Elizabeth / Juri). Maya soltou o braço de Kaname para abraçar os pais enquanto ele mesmo foi puxado para um abraço de sua própria mãe. Ela começou a falar muitas coisas para ele, mas Kaname só conseguiu prestar atenção em algumas, como por exemplo: ela estava aliviada que ele estava bem, havia ficado preocupada por ele não ter atendido o celular e está tudo bem? Kaname balançou a cabeça para a pergunta, o que a fez sorrir ainda mais aliviada. Seu pai tocou em seu braço, o cumprimentando. Quando o soltou, Juri Kuran virou-se diretamente para Maya, parecendo exultante em vê-la ali.

— Maya! — ela exclamou, indo até a vampira mais nova e a abraçando também.

— Senhora Kuran — Maya cumprimentou, devolvendo o abraço da mais velha de uma forma meio desajeitada.

— É tão bom ver você! — Juri disse, sorridente. — Como tem passado? Fico feliz em ver que você e meu filho são próximos. Você sabe que Haruka e eu estamos conversando com seus pais sobre o quão bom seria um casamento entre vocês dois.

— Mãe — Kaname a repreendeu firmemente, mas a mulher pareceu não se importar.

— Ainda não penso em casamento, senhora Kuran — Maya disse, sorrindo sem graça.

— Bem, mas devia, claro. Principalmente com meu filho, não é, Haruka? — ela olhou para o marido que abriu um sorriso de desculpa para Maya.

Kaname suspirou e olhou na direção da mãe de Maya, Elizabeth. A mulher estava o encarando e ela tinha um olhar tão intenso quanto o da filha, apesar de seus olhos serem pretos. Ela se aproximou dele, deixando seu pai, sua mãe e Karlheinz ao redor de Maya. O rei olhava para seus pais com um olhar divertido.

— Tudo bem, Kaname? — Elizabeth perguntou.

— Senhora Sakamaki — ele fez uma reverência. — Tudo bem e com a senhora?

— Muito bem, obrigada — ela sorriu. — Achei uma pena a votação que ocorreu na escola. Para sua família, claro. Não vou ser hipócrita dizendo que gostaria de seguir uma dieta com aquelas pílulas.

Kaname sorriu, acompanhando o sorriso dela. Elizabeth não era uma mulher fingida, pelo contrário, era muito autentica, e Kaname sabia que ela não estava falando aquilo para ser maldosa, mas sim porque era verdade. Os Kuran estavam confiantes de que conseguiriam persuadir todos os vampiros a tomar as pílulas de sangue, então Elizabeth se sentia mal por eles, mas ao mesmo tempo estava feliz por não ter dado certo, pois ela não teria a mesma força de vontade que eles para seguir tomando os remédios. Ele entendia a vampira, afinal também não havia sido forte o suficiente.

— Bom — Elizabeth deu de ombros. —, o importante é que todos poderão escolher. Nisso meu marido acertou bastante — ela estava olhando para Karlheinz e Kaname seguiu seu olhar por um momento antes de voltar a olhar para ela novamente.

Ele gostaria de perguntar a Elizabeth como foi para ela ser uma humana e estar ligada a um vampiro. Ela havia decidido se tornar vampira por causa da ligação? Karlheinz havia a convencido de que essa era a melhor opção ou ela decidiu por conta própria?

— É bom ver você, Kaname — ela tocou o braço dele, sorrindo, e se distanciou, voltando para o lado do marido.

Finalmente, a tal reunião começou. Karlheinz pediu que todos sentassem em seus devidos lugares. O rei e sua esposa ficaram na cabeceira com Maya ao lado de Elizabeth. A família de Kaname assim como o próprio ficaram ao lado direito e o avô de Ichijou do lado esquerdo. Sucessivamente, cada um foi sentando em seus lugares designados e, quando todos estavam devidamente acomodados, o rei ficou de pé.

— Nessa reunião requisitei a presença de Kaname e minha filha, Maya, pois precisava de dois representantes da Academia e, devidos aos recentes eventos, Codelia e Rido não puderam comparecer — ele disse. — Bem, obrigado pela presença de todos vocês.

Karlheinz sentou-se novamente e o almoço começou a ser servido. Eles iriam comer comida humana e Kaname sentiu o estômago embrulhar quando seu prato foi colocado à sua frente.

— Acredito que a pauta principal de hoje seja a morte que ocorreu na Academia — a voz de Ichio se fez presente.

— Sim — Karlheinz concordou, fazendo contato visual com todos. — Devido ao nosso tratado de paz com os humanos, quando ocorre a morte de um vampiro tão próximo ao domínio dos caçadores, não acho sensato apontar dedos sem provas.

— Mas há provas suficientes — Elizabeth continuou. — A espada, encontrada no corpo do aluno da Academia, tinha a insígnia dos caçadores. Contudo, considerando a situação em que estamos vivendo, na qual os ânimos dos dois lados estão alterados, não podemos descartar a hipótese de que o ataque tenha sido proposital.

— O que você quer dizer? — Ichio franziu as sobrancelhas.

— Quero dizer que alguém pode ter matado aquele aluno de propósito, usando uma arma dos caçadores para culpá-los deliberadamente — ela completou, encarando o chefe do clã Ichijou.

— Perdão, senhora — outro membro do conselho interrompeu. —, mas isso não seria tentar colocar a culpa nos vampiros por algo que os caçadores obviamente fizeram?

— O ponto é esse — Karlheinz disse. — Não temos certeza se foram eles realmente.

— Com todo respeito, Vossa Alteza — Ichio voltou a falar, parecendo muito incomodado. —, mas todos nós sabemos que os caçadores são completamente capazes de fazerem algo assim. Não estou querendo contestar seu reinando e o modo como o senhor conduz as coisas, mas devemos ser mais duros com eles.

— E como o senhor propõe que façamos isso? — Karlheinz olhou incisivamente para o homem loiro.

— Retaliação — ele respondeu, sem hesitar. — Deveríamos matar todos eles.

O incômodo de Kaname ficou evidente com o rumo que aquela conversa estava tomando quando, ao tentar cortar o filé em seu prato, aplicou tanta força no garfo e na faca que o prato partiu ao meio com um som audível. Todos os olhares se voltaram para ele e sua atitude foi interpretada por alguns como normal, pois era óbvio que ele era um pacifista, como seus pais. Ele não deveria querer derramar mais sangue que o necessário. Porém, a verdade era que ele estava assim por causa de Kaori.

A mãe de Kaname fez um movimento com a mão, pedindo que o prato do filho fosse trocado, e a reunião prosseguiu normalmente, mas, em seu íntimo, Kaname estava incomodado o suficiente para deixar aquela mesa sem dar qualquer explicação a ninguém.

— Não concordo com você, Ichio — a mãe de Kaname disse, enquanto o prato do filho era trocado ao seu lado. — Devemos matar todos pelo erro de apenas um? Isso se, como bem pontuou Elizabeth, de fato tiver sido um caçador quem fez isso.

— Eu não entendo porque vocês estão tão inclinados a desconfiarem de um vampiro — Ichio disse, com raiva. — Esqueceram que, com tratado de paz ou não, os caçadores ainda nos odeiam?

— Essa desconfiança se deve ao fato de que muitos vampiros, assim como o senhor, também odeiam os caçadores e fariam de tudo para acabar com eles. Até mesmo matar um dos seus — a voz de Maya chamou a atenção de todos. — Não há um lado mais inocente que o outro nessa história.

Maya e Ichio trocaram um olhar mortal entre si e, subitamente, o clima na sala ficou tenso. Kaname sabia que Maya teria coragem o suficiente de levar essa discussão a um nível físico, mas felizmente o pai dela interveio, acalmando os ânimos.

— De qualquer forma, apesar de vivermos em uma monarquia, eu prezo muito pela democracia — Karlheinz disse. — Vou dar início a investigações, tanto dentro da Academia dos Vampiros quanto da Academia dos Caçadores. Conversarei pessoalmente com Kaien, o diretor deles, e ele terá que nos dar acesso livre à escola deles e às pessoas que vivem lá dentro. Se o culpado estiver entre eles, iremos descobrir. Após isso, levarei a situação a votação, assim como fizemos com as pílulas de sangue, e então decidiremos como punir o culpado.

— Mas, Majestade... — Ichio protestou, mas foi interrompido pelo próprio rei.

— É a minha decisão final, Ichijou — ele disse, firme, e o outro se calou.

A sala ficou em silêncio por um momento, enquanto todos comiam. Kaname se forçou a engolir algumas colheradas, mas não conseguia desviar o olhar de tantos pescoços humanos andando para lá e para cá pelo local.

— Há mais um assunto que seria importante discutir, Majestade — o pai de Kaname se fez ouvir.

— Prossiga — Karlheinz incentivou.

— Recentemente, Allegra Asimov, filha do Lorde Asimov, membro do conselho, o qual não pôde comparecer hoje, foi sentenciada a morte por se ligar através do sangue com um humano.

Próximo ao pai, Kaname sentiu náuseas. Se ele não soubesse que o pai estava no escuro em relação a própria ligação de sangue com uma humana, ele entenderia isso como um aviso.

— Tanto ela quanto o humano ligado a ela foram mortos essa manhã. Por isso o pai dela não se juntou a nós — Haruka continuou. — O fato aqui, Vossa Alteza, é de que houve um crescimento considerável em casos do tipo. Vampiros estão se ligando a humanos de forma irresponsável, mesmo isso sendo considerado um crime. Seria bom debater como dar um basta nisso, afinal todos nós sabemos o quão perigoso é essa situação. A quebra da ligação pode matar o humano e um vampiro pode acabar fazendo isso quantas vezes quiser, com quantos humanos quiser. Devemos pará-los antes que isso saia do controle e sejamos acusados de assassinato.

 Karlheiz limpou o canto dos lábios com um guardanapo e afastou um pouco seu prato, considerando a questão.

— Apesar de haver a lei que proíbe a ligação sanguínea entre humanos e vampiros — ele começou. —, não há como controlar cada vampiro existente nesse mundo. Cada um é responsável por suas ações. O que nós podemos fazer é divulgar as punições, as mortes no caso, para tentar conscientizar. Até onde eu sei, vampiro nenhum gostaria de morrer por um humano.

Ao lado de Kaname, uma garçonete se inclinou para retirar o prato dele de sua frente e acabou cortando o dedo em um caco de porcelana que havia ficado na mesa do prato anterior. Ela abafou um gemido de dor, mas acabou deixando uma gota de sangue cair na mão de Kaname. No mesmo instante a sede de sangue do vampiro voltou com força total. Ele se sobressaltou em seu assento, batendo o joelho na mesa, provocando mais um barulho de pratos e copos pulando. Uma taça virou em algum lugar, o que fez alguém levantar abruptamente de seu assento para não se molhar com o vinho.

Kaname observou a gota de sangue em sua mão, sentindo suas presas ficarem visíveis sob seus lábios. Seus olhos com certeza já estavam vermelhos e ele se levantou imediatamente, pedindo licença para ir ao banheiro. O vampiro saiu da sala praticamente correndo, deixando para trás os outros vampiros confusos com a atitude estranha que ele estava tendo. A única que não estava surpresa era Maya. Ela limpou os lábios e se levantou, pedindo licença também, usando o banheiro como desculpa.

Kaname passou pelo corredor como um raio, trombando com o mordomo que o havia recebido e saindo da presença dele como se fosse o diabo fugindo da cruz. Kaname procurou o banheiro e, quando o encontrou, se lançou lá dentro, apoiando-se na pia e puxando sua gravata com força de seu pescoço. Seu reflexo no espelho mostrou a ele como estava sua aparência: olhos vermelhos brilhantes, boca salivando, presas aparentes. Ele esperava que ninguém viesse atrás dele, pois se alguém o visse assim seria seu fim.

O vampiro encostou-se à parede, deslizando até o chão. Ele abriu os botões de sua camisa social, tentando encontrar forças dentro de si mesmo para se controlar. Imagens da noite anterior voltaram à sua mente, os momentos em que ele tomou o sangue de todas aquelas pessoas. Ele queria sentir aquele gosto de novo. Precisava disso. Kaname fechou os olhos, tentando bloquear aquelas imagens.

Ele abriu seus olhos subitamente quando a porta do banheiro se abriu. Maya irrompeu por ela e o encarou por um instante, antes de fechar a porta atrás de si. A vampira foi imediatamente até Kaname, agachando-se na frente dele. Os olhos dela estavam cravados nos dele.

— Levanta — ela disse, puxando-o para cima.

— Sai daqui — ele rebateu, tentando afastá-la.

— Não. Vamos. Fique de pé — ela continuou o puxando.

— Sai daqui, Maya! Me deixa em paz! — ele empurrou suas mãos para o lado, bruscamente.

Indignada, Maya o soltou e ficou o encarando. Ela queria dar um tapa na cara dele, dizer que ele era o maior idiota que já existiu nesse mundo. Se ele não tivesse agido como um garotinho irresponsável, ela não precisaria estar bancando a babá. Inferno, ela não precisaria se preocupar se o próximo vampiro a morrer seria ele!

— Olha aqui, seu moleque — ela disse, com raiva, segurando o queixo dele com força. — Eu não sei que porra você tinha na cabeça para se colocar nessa situação, mas se te descobrirem, vão te matar, ok? No lugar daquele casal que acabou de morrer, será você e a caçadora. Você quer morrer, porra? Quer que aquela menina morra? Para de pensar só em você por um instante, seu idiota!

A maçaneta da porta girou, enquanto mais alguém tentava entrar no banheiro. Maya levantou-se, dizendo “merda” baixinho, e escondeu-se em uma das cabines do banheiro no exato momento em que Kaname se colocou de pé e Ichio entrou. Kaname jogou um pouco de água no rosto e, quando olhou para o seu reflexo no espelho a sua frente, ele estava tão normal quanto poderia estar. Isso teria que ser o suficiente.

— Está tudo bem com você, garoto? — Ichio perguntou, observando o vampiro mais novo com desconfiança.

— Sim — Kaname respondeu, agradecendo por sua voz estar firme. — Só estou cansado.

— São tempos difíceis — Ichio entrou na cabine ao lado da que Maya estava e começou a se aliviar. Quando ele saiu, foi para a pia lavar a mão. — Por isso, seria bom você votar sim quando o rei pedir para decidirmos sobre o futuro daqueles caçadores desgraçados — o homem enxugou a mão em um guardanapo de papel e olhou para Kaname. — Eu tenho certeza de que eles são os culpados. Seria bom nos livrarmos deles então, não é? Cortar o mau pela raiz.

Hesitante, Kaname balançou a cabeça, concordando com o homem. Ichio deu alguns tapinhas no ombro de Kaname e se virou para sair.

— Você é bom garoto. Mais sensato que seus pais. Tenho certeza de que tomará a decisão certa quando chegar a hora.

O vampiro saiu do banheiro e Maya saiu da cabine, xingando. Kaname voltou a deslizar até o chão. Sua respiração estava mais acelerada que o normal e ele estava se sentindo claustrofóbico ali naquele banheiro. Maya se agachou mais uma vez entre as pernas do vampiro. Eles se encararam por um momento e a vampira fez algo que o chocou. Ela mordeu o próprio pulso, oferecendo a Kaname o seu sangue em detrimento do sangue dos humanos que estavam na outra sala. Não seria a mesma coisa, mas pelo menos serviria para melhorar o estado do vampiro.

Em um primeiro momento ele negou. Nunca se imaginou tomando o sangue de Maya e não o faria agora, mas ele sabia que só conseguiria sair daquele banheiro se se alimentasse. E ela estava ali oferecendo sangue a ele.

— Você não tem condições nenhuma de recusar — ela disse. — Também não vai ser nem um pouco agradável para mim, acredite. Vamos — ela aproximou mais o pulso do rosto de Kaname. — Toma logo antes que eu me arrependa.

Sem forças mais para recusar, Kaname segurou o braço de Maya e levou o pulso dela aos lábios, sugando seu sangue com avidez.

Maya

Maya se surpreendeu com a força e a sede de Kaname. Ele puxou seu braço com tanta força que ela se desequilibrou e teria caído em cima dele se não tivesse colocado uma mão no ombro do vampiro para se manter no mesmo lugar.

Quando Kaname enfiou as presas no pulso dela, Maya mordeu o lábio inferior, contendo um gemido. Ela estava se sentindo patética, principalmente porque seu corpo estava sentindo prazer com a mordida não porque ela se sentia atraída pelo Kuran, mas porque era automático. A mordida era diretamente ligada ao ato sexual e era natural o sentimento de prazer se fazer presente.

Ah, como ela odiava Kaname agora, mais do que jamais odiou em todos esses anos. Ele teria um débito com ela pelo resto de sua vida imortal e ela o faria se lembrar disso a cada respiração que o vampiro desse. Em toda a sua vida, Maya nunca havia se imaginado dando seu sangue a Kaname, ela sentia enjoo só de pensar nisso. Mas olha só como a vida era engraçada. Aqui estava ela, de joelhos no canto de um banheiro, com as presas do Kuran enfiadas em seu braço. Se alguém tivesse lhe dito que isso aconteceria em algum momento da sua vida, ela teria internado a pessoa em um manicômio.

Alguns segundos se passaram antes que Maya colocasse uma mão no peito de Kaname e o empurrasse para trás, afastando o pulso da boca dele. Ela ficou de pé, colocando o braço embaixo de uma torneira. A água corrente lavou seu sangue até o ferimento se fechar e não sobrar mais nenhum vestígio das presas do vampiro. Resignada, ela virou de frente para Kaname, estendendo a mão para ele.

— Se você der um pio sobre o que acabou de acontecer para quem quer que seja, eu arranco sua cabeça — ela ameaçou.

Ele não respondeu, mas aceitou a ajuda e segurou a mão dela antes de se levantar. Os dois saíram do banheiro e voltaram para a sala de reunião, onde, aparentemente, a tal reunião já havia acabado. Ah, que ótimo. Justamente quando Maya estava realmente interessada em saber sobre tudo o mais que eles falaram, ela ficou presa no banheiro com um vampiro que não sabia controlar os próprios instintos.

— Vocês demoraram — Elizabeth comentou quando a filha se aproximou dela.

Maya deu de ombros, pegando uma taça de vinho na mesa e virando tudo de uma vez.

— Fico feliz que tenha vindo, filha — a voz de Karlheinz fez Maya virar de frente para ele.

— Eu também, pai — ela sorriu para ele que a abraçou. Nos braços do pai, ela fechou os olhos e se aconchegou em seu peito. — O senhor acha que isso tudo resultará em uma nova guerra?

— Não sei — ele mentiu e a afastou delicadamente para olhar em seu rosto. — Mas não se preocupe com isso. Farei todo o possível para as coisas não chegarem a esse ponto.

Ela balançou a cabeça, olhando nos olhos do pai. Ele sorriu e beijou a testa da filha. Do outro lado da sala, Kaname já estava se despedindo de seus pais. Quando Maya saiu da mansão, ela se encontrou com o Kuran do lado de fora. Os dois voltaram no mesmo carro em que tinham ido e voltaram em silêncio. Na escola, cada um foi para um lado, seguindo caminhos diferentes.

A tarde passou e a noite finalmente caiu. Cordelia e Rido ainda não haviam falado nada sobre o novo toque de recolher que eles haviam implementado na rotina dos estudantes. Maya não sabia o que eles estavam tramando, considerando que agora os alunos só podiam sair de seus quartos para se alimentarem e depois tinham que voltar. Não saber o que estava acontecendo a preocupava.

Em algum momento da noite, olhando pela sua janela, Maya viu uma silhueta caminhando pelo jardim da escola na direção do portão de saída. Ela não precisava olhar duas vezes para saber que era Kaname. Algo lhe dizia que essa saída dele não resultaria em nada de bom. No período em que passou no dormitório, ela escutou algumas meninas conversando sobre um massacre que havia ocorrido na cidade. Algum vampiro havia matado um número considerável de humanos. Naquele momento ela soube porque Kaname não atendeu as ligações da mãe mais cedo naquele dia.

Era preocupante o quanto Kaname estava fora de controle e ela se recusava e ficar dando o seu sangue para ele sempre que o vampiro tivesse mais um daquele episódio que teve dentro do banheiro. Decidida a dar um basta em Kaname, ela saiu pisando duro de seu quarto. Atravessou a distância que separava os dois dormitórios e entrou no dormitório masculino. Ignorando os olhares que os vampiros lançavam em sua direção, ela bateu na porta do quarto de Ichijou.

 Na terceira batida, o loiro de olhos verdes abriu a porta e encarou, com uma expressão confusa no rosto, uma Maya sem um pingo de paciência à sua frente.

— Preciso que você venha comigo — ela disse, lhe dando as costas e saindo dali com a mesma rapidez que entrou.

Sem entender nada, Ichijou não teve outra opção a não ser seguir a vampira. Ele apressou o passo para conseguir acompanha-la pelos corredores até o lado de fora do dormitório. No ar frio da noite, ele contornou a vampira, ficando na sua frente e a impedindo de continuar.

— Que diabos é isso, Maya? — ele perguntou, franzindo o cenho. — Não podemos sair, esqueceu? O que você quer comigo?

— Nós não só podemos sair como vamos — ela passou por ele e o vampiro foi atrás. — Seu amiguinho está com problemas.

— Amiguinho...? — os olhos de Ichijou se arregalaram. — Kaname?!

— Parabéns, você não é tão burro quanto eu pensava — ela revirou os olhos. — Sim, Kaname.

Enquanto os dois passavam pela floresta, Maya contou ao loiro tudo que já sabia de tudo sobre Kaname e a caçadora, pois ele havia contado para ela; contou o que havia acontecido na reunião, que Kaname teria matado todos os vampiros naquela casa se ela não tivesse feito dado um jeito (Maya deixou de fora o fato de que deu seu sangue para o Kuran); contou também que Kaname havia tomado o sangue da caçadora humana e que por isso estava assim agora. Porque ele era um idiota, bem simples. Ela contou a Ichijou também sobre as mortes que ocorreram na noite anterior na cidade, que desconfiava que Kaname era o responsável por elas e que ele estava indo fazer de novo essa noite. Ela só parou de falar quando os dois chegaram a frente da Academia dos Caçadores.

— O que estamos fazendo aqui? — Ichijou perguntou, olhando o portão.

— Eu tenho um plano para tentar melhorar a situação do seu amigo — Maya disse, dando uma olhada ao redor para ver onde estavam os guardas. — Mas inclui a humana que está ligada a ele. Vá busca-la — ela mandou.

Eu? — Ichijou olhou para Maya com raiva. — Está louca? Não vou entrar aí.

— É melhor você ir porque se eu for sou capaz de arrastá-la até aqui pelos cabelos — Maya o encarou.

Os se encararam por um segundo até Ichijou ceder e pular o muro, desaparecendo nas sombras. Ele realmente esperava que Maya tivesse um plano e que fosse bom. Em seu íntimo, ele sabia que tudo isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, mas confiou em Kaname o suficiente para imaginar que ele conseguiria se controlar, que a situação não era nem um pouco perigosa. Estava errado, claro.

Do lado de fora, Maya esperava impaciente pelo retorno de Ichijou e tudo durou um tempo menor do que ela imaginava. Ela trouxe Ichijou consigo, pois, além de ser o melhor amigo de Kaname, ele conseguia ser mais simpático e persuasivo, então ela imaginou que o menino conseguiria trazer Kaori consigo por livre e espontânea vontade dela mesma, mas estava enganada. Quando voltou, Ichijou trazia Kaori jogada em seu ombro, com uma mordaça na boca, abafando seus protestos.

Apesar de tudo, ele a deixou gentilmente no chão e tirou a mordaça da boca dela com delicadeza, o que contrastou bastante com a torrente de palavrões que Kaori despejou em cima dele e de Maya quando teve sua boca livre.

— Que porra é essa?! — ela exclamou, alto o suficiente para Maya se preocupar se alguém acabaria ouvindo. — O que vocês querem comigo?

Sem mais muito paciência, Maya segurou o braço de Kaori com força e a arrastou consigo, enquanto voltava a andar com Ichijou as seguindo. Ela nem queria saber como o vampiro havia conseguido amordaçar a caçadora, isso era irrelevante agora. Mesmo Kaori sendo alguns centímetros mais alta que Maya, a vampira era mais forte então ela conseguiu subjugar a caçadora com facilidade

Ignorando os protestos da menina, Maya ergueu a voz acima da dela e explicou a situação. Ao ouvir o nome de Kaname, Kaori parou de reclamar e ficou calada, ouvindo o que Maya dizia. Ela explicou para Kaori tudo o que havia explicado para Ichijou, deixando os mesmos detalhes de fora. Quando ela terminou de falar, Kaori ficou mortalmente silenciosa. Ela não falou nada por vários segundos enquanto os três caminhavam.

— E o que você quer eu faça? — Kaori perguntou, por fim.

— Bem, é bem simples — Maya disse. — Você está ligada a ele e você é humana. Kaname está assim porque ele quer sangue humano e, advinha, você tem sangue humano. É simples. Você vai ensiná-lo a se controlar com o seu sangue e, para isso, você vai ter que ser a única fonte de sangue para ele. Estamos indo até ele para você dizer isso para ele pessoalmente, entendeu?

— Você enlouqueceu, Maya? — Ichijou segurou a vampira pelo braço bruscamente, a fazendo para de andar. Ela encarou. — Isso é loucura. Se o Conselho descobrir...

— Você tem uma ideia melhor? — Maya puxou o braço da mão dele. — Porque se você tiver, eu sou toda ouvidos. Desde o início isso tudo foi uma loucura e o Kaname sabia disso, mas ele se importou? Não. Agora temos que dar um jeito nas consequências das próprias ações dele. De qualquer jeito, se o Conselho descobrir, vai dar merda, então seria bom se ele aprendesse a se controlar, não acha? Pelo menos ele teria uma chance e ela também — Maya apontou para Kaori. Ichijou olhou para a caçadora pelo canto dos olhos.

— Vocês apenas se esqueceram de perguntar se eu quero isso — Kaori disse, com raiva. — Estou cansada de vocês, vampiros, acharem que podem decidir minha vida por mim!

— Não sei se você tem muita escolha aqui, garota — Maya rebateu, encarando-a. — Nada disso é culpa sua, claro, mas o Kaname já decidiu isso por você no momento em que te deu o sangue dele. Ele salvou sua vida, então encare isso como uma retribuição.

Nem Kaori e nem Ichijou falaram qualquer outra coisa e eles voltaram a caminhar. Quando eles atravessaram a floresta e chegaram a cidade, Kaori usou a ligação que ela tinha com Kaname para encontra-lo. Foi bem eficaz e Maya achou interessante ver como uma ligação de sangue funcionava ao vivo e a cores, pois nunca havia tido a experiência de estar ligada a alguém.

O trio encontrou o puro-sangue em uma casa modesta. No imóvel, aparentemente, só morava uma moça que Kaname já tinha aterrorizado o suficiente para ela entrar em estado de choque. Maya e os outros dois entraram na casa no exato momento em que Kaname se preparava para morder o pescoço da mulher. Os olhos dela estavam opacos e Maya duvidava muito que ela ainda tivesse qualquer consciência de que mais dois vampiros e uma humana haviam invadido sua casa.

Perplexa com a cena que via, Kaori foi mais forte do que Maya pensava que seria. A vampira pensou que a caçadora sentiria medo, mas Kaori tomou a frente da situação. Ela deu alguns passos na direção de Kaname e o chamou pelo nome. O vampiro parou sua boca na metade do caminho até o pescoço da melhor e, devagar, virou o rosto para olhar na direção de Kaori. Na escuridão do quarto, os olhos de Kaname eram como faróis com luzes vermelhas.

Por um momento, a sala ficou em completo silêncio. Kaori olhando para Kaname, Kaname olhando para Kaori e Maya e Ichijou olhando para os dois. Antes que Kaori dissesse mais alguma coisa, com um movimento rápido, Kaname jogou a mulher em seus braços do outro lado da sala e avançou na direção de Kaori, segurando-a pelo pescoço e batendo as costas da menina na parede. Ichijou correu até a mulher no chão e Maya, surpresa, saiu em socorro de Kaori.

— Kaname! — Maya gritou.

— O que você está fazendo aqui? — Kaname perguntou a Kaori, ignorando Maya e o fato de que ele estava apertando mais que o necessário o pescoço da caçadora.

Kaori abriu a boca para falar, mas não conseguiu. Maya sacou sua espada, apontando a lâmina para Kaname. Ela já estava de saco cheio das atitudes dele.

— Para com isso, Kuran — ela disse, ameaçadora. — Se você machuca-la, eu mato você.

— Como se eu tivesse medo de você, Maya — ele disse, virando um pouco a cabeça na direção da vampira.

— K-kaname... — Kaori grunhiu, tentando tirar a mão dele de seu pescoço.

— Larga ela, seu imbecil! — Maya gritou mais uma vez.

Ele realmente largou Kaori. A menina caiu no chão, segurando a garganta. Kaname virou na direção de Maya e começou a caminha até ela. A vampira não ia hesitar em usar seus poderes com ele, nem que isso significasse que ela o mataria. Mas Kaori foi mais rápida. Ela se levantou e correu, dando a volta em Kaname e se colocando entre ele e Maya. As marcas dos dedos de Kaname eram visíveis no pescoço dela. Kaori abriu os braços, protegendo Maya com o próprio corpo.

— Se você quiser chegar até ela, vai ter que passar por mim — Kaori disse, firme, olhando nos olhos do vampiro. — Me mate e então você pode continuar.

Todo mundo pareceu prender a respiração quando Kaori parou de falar. Kaname não avançou mais, ele apenas ficou olhando nos olhos da caçadora. Ninguém sabia o que ele iria fazer agora. Poderia realmente matar Kaori, considerando como estava fora de si. Seria fácil, ele poderia arrancar o coração dela, quebrar seu pescoço ou simplesmente abrir um buraco na cabeça dela com o poder que tinha. Maya estava xingando Kaori mentalmente, pensando que ela só podia ser muito burra para se envolver entre dois vampiros. Ela pensou em puxar Kaori para trás de si enquanto lidava pessoalmente com Kaname.

Mas o próximo movimento de Kaname a surpreendeu e a impediu de continuar. Ele ergueu a mão na direção de Kaori, mas ao invés de fazer algo contra ela, ele apenas acariciou o rosto da menina. O polegar do vampiro limpou os cílios dela que estavam molhados com algumas lágrimas que nem ela mesma havia percebido se formarem. Todos estavam em silêncio, observando a cena. Kaname deu dois passos na direção dela, diminuindo a distância entre os dois. Ele deslizou a mão para a nuca dela e a puxou para si, encostando a testa na testa dela e fechando os olhos em seguida.

— Eu preferia morrer — ele disse para ela — a matar você. Eu sinto muito.

Ao dizer isso, ele desmaiou nos braços dela, o que a fez ir ao chão, de joelhos, segurando o vampiro em seus braços. Maya já havia visto muitos humanos chorarem, mas nunca do jeito que Kaori chorou naquele momento. O soluçou que saiu de sua garganta partiu o coração da vampira.

— X —

Os três levaram Kaname de volta para a Academia dos Vampiros. Maya e Ichijou deram um jeito de entrarem com uma humana e Kaname desacordado sem que ninguém visse. Eles foram para o quarto do puro-sangue. Deixaram Kaname na cama e Maya desabou na poltrona mais próxima. Ichijou ficou em pé e Kaori sentou-se no colchão, ao lado de Kaname. Ninguém falou nada até o vampiro acordar com um sobressalto. Ele estava assustado e ofecgante, como se tivesse acabado de acordar de um pesadelo. Kaori colocou uma mão no peito dele e outra em seu rosto, tentando acalmá-lo, repetindo “tudo bem, tudo bem”. Quando ele a reconheceu, se acalmou imediatamente e abaixou a cabeça, a encostando no ombro da menina. Maya queria ter o poder de ler pensamentos para saber o que aqueles dois estavam pensando.

— Sinto muito — ele disse para Kaori.

— Eu sei — ela respondeu, colocando uma mão em cima da dele.

Ele olhou para a mão dos dois juntas por um momento e levantou a cabeça para olhar nos olhos dela. Kaori piscou e ergueu os olhos, encontrando os dele com os seus. O rosto dele estava cheio de dor, mas o dela estava sem expressão alguma.

— Kaname — Ichijou chamou, quebrando o momento entre o puro-sangue e a caçadora. o vampiro olhou para o amigo que havia se aproximado da cama. — Nós precisamos conversar sobre... — ele foi interrompido por Kaori.

— Se você prometer tentar se controlar — ela começou, olhando nos olhos do vampiro. Parecia mais decida que momentos atrás. —, seria sua fonte de sangue humano até você conseguir se alimentar com bolsas de sangue ou seja lá o que vocês tomam para não saírem matando outros humanos.

Ela desabotoou a blusa de seu uniforme, deslizando-a por seu ombro junto com o blazer de seu uniforme. A pele exposta dela fez os olhos de Kaname voltarem a ficar vermelhos. Kaori engoliu em seco.

— Eu posso matar você... — ele disse, mas ela o cortou.

— Prometa — o tom de voz dela não permitia qualquer discurssão. O vampiro suspirou, derrotado.

— Eu prometo — ele disse por fim.

Ela aproximou o ombro e o pescoço da boca de Kaname e ele hesitou por um momento, mas afundou suas presas na curva do pescoço da menina. Ela fechou os olhos, segurando a blusa de Kaname com força entre os dedos enquanto um fio de sangue escorria por suas costas. Considerando que aquele momento, entre duas pessoas ligadas pelo sangue, era algo um tanto quanto íntimo, Maya e Ichijou desviaram o olhar do casal na cama.

Ichijou levou Kaori embora quando Kaname conseguiu dormir. Já estava quase amanhecendo e o loiro apressou Kaori, pois estava com medo de que alguém a visse pela escola. Ela se despediu de Maya com uma reverência respeitosa, lançou um último olhar para Kaname e seguiu o outro vampiro para fora do dormitório. Pela janela de Kaname, Maya observou os dois entrarem na mata. Ela desviou o olhar para o vampiro desacordado e balançou a cabeça em desaprovação.

— Você é um idiota — ela disse para Kaname, mas não obteve resposta.


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