Wicked Love. escrita por Beatriz


Capítulo 12
Capítulo 12: Kaori.




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Kaori não conseguiu dormir depois que voltou para o dormitório no dia da festa dos namorados. Sempre que ela conseguia cochilar, lembrava das presas de Kaname e dele tomando seu sangue. E pior ainda, lembrava-se do beijo. O que ela tinha na cabeça para corresponder àquele beijo, ela não conseguiria responder nunca. Mas o fato é que tinha correspondido e tinha mentido para Zero quando o encontrou preocupado com ela, próximo ao dormitório na noite anterior, e agora guardava um segredo de Luke. Luke Sakamaki. Ela não sabia se a sua vida podia ficar mais complicada do que já estava, mas o dia que se iniciava a sua frente mostraria que podia sim.

A caçadora sentou-se em sua cama, levando uma mão ao pescoço, ainda com a sensação das presas de Kaname em sua pele. Ela estremeceu e bateu com o travesseiro no próprio rosto, abafando um grito. Tinha que parar de pensar nele e no fato de que teve seu sangue tomado por um puro-sangue e estava ligada a ele. A realidade se abateu sobre ela como um balde de água fria. Ela estava ligada a um vampiro puro-sangue e ele havia acabado de tomar seu sangue e ela havia tomado o dele e eles haviam se beijado. E ela havia gostado de tudo isso (e queria repetir). Kaori ficou de joelhos na cama, socando o travesseiro. Isso era inadmissível. Maldito seja, Kaname Kuran, e a porcaria das suas presas e dos seus lábios.

Respirando fundo, ela levantou da cama, determinada a não pensar no vampiro o resto do dia. Kaori tomou um banho, colocou seu uniforme branco, sua espada em seu quadril e saiu do dormitório feminino para a manhã nublada. O clima estava muito frio com toda aquela neblina e nenhum raio de sol para esquentar, mas ela atravessou o terreno da academia até o prédio da escola, ignorando os pelos de seu corpo se arrepiando com o vento frio.

Uma vez lá dentro, ela nem conseguiu tomar seu café da manhã sossegada. Pediu um café extra forte para levar, pois Kaien a havia chamado em seu escritório. Ela foi, é claro. Lá dentro, encontrou-se com Kaito e Zero além do diretor. Ela não se surpreendeu com a presença dos outros dois, mas esperava que Zero não quisesse retomar a conversa que não terminaram quando ela chegou toda bagunçada do meio do mato, carregando segredos de dois vampiros diferentes.

— Nossa, eu estou congelando — ela disse, fechando a porta atrás de si. — Vocês não estão?

Kaito sorriu, passando um braço pelos ombros da menina e a puxando para si.

— Nós meninos somos muito resistentes, diferente de vocês meninas que parecem feitas de porcelana — ele disse.

— Nem vou comentar que isso foi bem machista — ela fez um bico e se afastou dele.

— Bom dia, Kaori — Kaien disse, tomando um gole de seu chá. Ele parecia de bom humor, como sempre. — Gostou da festa de ontem?

Kaori parou seu café na metade do caminho até a sua boca. Kaien não sabia que ela havia passado a maior parte do tempo fora, dando seu sangue para um vampiro e conhecendo a irmã vampira de seu melhor aluno (que também era um vampiro), mas Zero sabia que ela havia sumido, então nem adiantava mentir. Zero estava a encarando, esperando a resposta que ela ia dar.

— Ah — Kaori sorriu sem graça. — A festa. Bem, não consegui aproveitar muito. Tive que resolver umas coisas, mas parece que foi um sucesso.

Zero virou o rosto, com raiva, ele sabia que ela estava mentindo. Kaori escolheu ignorá-lo. Não tinha como contar a verdade para ele e ele que aprendesse a lidar com o fato de que ela tinha alguns segredos não tão seguros assim para sair por aí compartilhando com todo mundo.

— Bem, que bom. Então, chamei vocês aqui para dar alguns comunicados — Kaien chamou a atenção deles, ficando de pé. — Cordelia e eu concordamos que seria bom fazer uma pequena festa entre as duas escolas antes da minha viagem para nos lembrarmos que nos damos bem acima de tudo, porém, minha viagem ao Canadá foi antecipada. Estarei indo hoje — ele anunciou, o que pegou os três de surpresa.

— Hoje, diretor? — Kaori exclamou, mas Kaien a silenciou, erguendo uma mão.

— Eles pediram que eu fosse urgentemente e, como a minha viagem vai ser toda bancada por eles, terei que ir hoje — ele explicou. — As passagens já foram compradas. Enfim, já está decidido.

— E quem vai ficar no seu lugar? — Zero perguntou, cruzando os braços na frente do peito.

— Eu já estava chegando lá — Kaien sorriu para o caçador. — Pedi para os irmãos Greco serem transferidos para a nossa academia. Sebastian será o novo professor de esgrima e Klaus ficará no meu lugar até eu voltar. Alois, o irmão mais novo, está vindo também para ter aula conosco. Se tudo der certo, eles ficaram definitivamente aqui. Não é incrível? Imaginem o status que isso dará para a nossa academia.

Kaori teve que segurar com força o copo de café para ele não acabar caindo de suas mãos. Há quatro anos ela não ouvia falar dos irmãos Greco e, há quatro anos, ela não se lembrava do beijo constrangedor que teve com Sebastian, o gêmeo mais novo. Ela sentiu a vergonha queimando no fundo de sua alma, como se ele tivesse voltado no tempo, quando tinha catorze anos, ficou bêbada pela primeira vez e beijou Sebastian como uma vagabunda (e uma que nem sabia beijar realmente).

Agora eles estavam vindo para cá e Sebastian olharia para ela com aquele sorrisinho passivo-agressivo e ela tinha certeza que ele não deixaria as coisas mais fáceis para ela. Ele a lembraria de todo aquele constrangimento. Meu Deus, será que dava tempo de pedir sua transferência para a academia mais distante que ela conseguisse pensar?

— Os irmãos Greco? — ao lado de Kaori, os olhos de Kaito brilhavam. — Eu sou muito fã deles. Será que consigo um autógrafo?

— Infelizmente não — Kaien disse. — Você e Zero terão que realizar um serviço fora da escola.

Isso chamou a atenção de Kaori, tirando de seus pensamentos todo e qualquer beijo estranho que ela já tenha tido.

— Um número preocupante de renegados está aterrorizando uma cidade próxima. Fomos chamados pelo prefeito e você e Zero irão até lá investigar e acabar com a gracinha deles — Kaien explicou. — Espero que vocês saiam antes do pôr-do-sol.

— Não vamos participar da festinha, então? — Kaito fez um muxoxo.

— Se vocês terminarem a tempo, vão — Kaien piscou para ele. — Bem, o que mais eu teria para dizer? — ele bateu o indicador no queixo, pensando. — Ah. Kaori. Como você ficará aqui, espero que apresente tudo aos Greco e os faça se sentirem bem-vindos.

— Claro, diretor — ela sorriu dolorosamente.

— Então, é isso. Daqui a pouco estarei indo para o aeroporto. Kaito, Zero, aconselho vocês a irem se preparar para sua própria viagem. Estão dispensados.

Os três fizeram uma reverência e saíram em fila indiana. O estômago de Kaori estava embrulhado. Ela tinha perdido a fome e jogou o copo cheinho de café no lixo. Kaito se despediu dela e de Zero e partiu em direção ao seu quarto para arrumar suas coisas. Os dois observaram o amigo se afastar até ele desaparecer de vista.

Uma vez sozinhos, Kaori abriu a boca para iniciar uma conversa com Zero antes que ele começasse a fazer perguntas que ela não seria capaz de responder, mas ela a surpreendeu quando abaixou o rosto na frente do rosto dela e a beijou. A caçadora demorou um pouco para fechar os olhos e quando o fez, Zero se afastou, olhando nos olhos dela.

— Não gosto quando você esconde as coisas de mim — ele disse. — Mas não vou obriga-la a compartilhar tudo comigo. Só espero que você esteja bem.

A consciência de Kaori pesou no mesmo momento. Ela sentiu uma vontade enorme de compartilhar tudo o que havia acontecido na noite anterior, mas mordeu a língua. Seria sua sentença de morte, o fim de seu relacionamento e de sua amizade com Zero. Ela adiaria isso o máximo possível.

A caçadora garantiu ao seu noivo que estava tudo bem, que ele não precisaria se preocupar. Mesmo contrariado, Zero aceitou a resposta e disse que iria arrumar suas coisas para a viagem. Depositou um último beijo nos lábios de Kaori e saiu andando na mesma direção que Kaito havia ido. Kaori suspirou e foi atrás de Yori para contar a novidade: o noivo da amiga estava indo embora mais uma vez. A menina não ia ficar nem um pouco feliz.

Como Kaori desconfiava, Yori fez uma cena. Xingou o diretor e xingou Kaito enquanto eles se despediam. Os meninos decidiram sair antes do almoço, pois quanto mais rápido chegassem lá, mais rápido voltavam. Seria uma viagem rápida de carro, algumas horas apenas, e os quatro estavam no portão da escola agora, despedindo-se. Enquanto Yori brigava com Kaito que apenas sorria para ela, Zero abraçou Kaori.

— Você vai ficar bem? — ele perguntou, afastando a menina gentilmente,

— Claro que sim — ela sorriu, olhando nos olhos dele. — Vê se não demora por lá.

— Vou tentar — ele sorriu minimamente. — Qualquer coisa, você pode me ligar.

— Tudo bem.

Ela ficou na ponta dos pés e, segurando a nuca do menino, o beijou demoradamente. Quando os dois se afastaram, Yori e Kaito estavam olhando para eles como se tivessem visto a cena mais inusitada do mundo. O que não deixava de ser. Kaori e Zero raramente demonstravam algum tipo de carinho um pelo outro em público. Eles se tratavam tão friamente que quem olhasse de longe imaginaria que os dois se odiavam e não que estavam prestes a casarem.

Yori e Kaito também se despediram com um beijo e os meninos entraram no carro, com Zero no volante. Eles acenaram e o menino de cabelos brancos acelerou, deixando as caçadoras para trás. Quando o carro desapareceu na primeira curva, Yori suspirou ao lado de Kaori e seus ombros caíram.

— Queria ter mais tempo com ele — ela disse. Kaori acariciou as costas da amiga.

— Quando as coisas ficarem mais tranquilas, você terá.

Kaori abraçou a outra de lado e elas caminharam juntas de volta para a escola. Hoje não teria aula de esgrima para Kaori dar, então ela decidiu ficar patrulhando a escola, atenta para o caso dos convidados especiais chegarem logo. Depois do almoço, foi a vez de Kaien partir. Ouve menos gritaria na saída dele, mas Kaori teve uma sensação ruim enquanto via o carro do diretor se afastar. Ela não sabia dizer o que era, mas sentia como se algo muito ruim fosse acontecer. Ela deixou o pensamento de lado e continuou seu trabalho.

Patrulhar e cuidar da segurança era um trabalho que Kaori gostava bastante de fazer, pois, na maioria das vezes, ela podia ficar sozinha, sem ninguém perturbando sua mente. Nesse dia não foi diferente, ela preferiu sair sozinha e achou que seria uma boa ideia sair da academia e patrulhar pela floresta. Seria bom dar uma olhada nos arredores, se certificar de que não tinha nenhum vampiro ou renegado aprontando nos limites da Academia dos Caçadores.

A neblina estava mais densa ainda na floresta e Kaori arrependeu-se de não ter colocado um casaco antes de sair da escola. Mas continuou seguindo seu caminho mesmo assim. Enquanto andava, ela notou uma sensação estranha em si mesmo. Um incômodo crescente. Com certeza tinha haver com Kaname e isso a deixou com raiva. Mais uma vez ele estava se metendo nas sensações dela. Isso era irritante além de muito invasivo, porém, usando toda sua força de vontade, ela empurrou o vampiro e suas crises de humor para o fundo de seu subconsciente. Além dessa ligação sanguínea, ela não queria mais ter nada haver com ele, então ele que aprendesse a lidar com os próprios sentimentos sem envolve-la.

Em algum momento da caminhada, Kaori tropeçou em algo grande o suficiente para fazê-la cair no chão. Ela caiu de joelhos na grama, praguejando. Uma árvore havia caído por ali, talvez? Ela se sentou no chão, dando uma olhada no joelho para se certificar de que não tinha se machucado. Estava tudo bem. Kaori abanou a mão a sua frente, tentando enxergar através da neblina que cobria o chão, para ver no que havia tropeçado. Ela realmente esperava ver um tronco de árvore ou uma pedra, mas sua surpresa foi enorme quando viu um menino no chão, desacordado.

Com um sobressalto de susto, ela se afastou do garoto, mas como ele não se mexeu, ela se aproximou novamente, observando-o mais de perto. Será que ele estava dormindo? Era um local muito estranho para tirar um cochilo, ainda mais com o frio que estava fazendo. Kaori aproximou a mão do rosto do desconhecido e se assustou mais uma vez com a frieza da pele dele. Ele parecia uma pedra gelo. Será que estava morto? Kaori pensou em procurar marcas de presas que indicassem que ele havia sido morto por algum vampiro ou por um renegado, mas ela não teve tempo, pois uma chuva fina começou a cair.

— Mas que droga! — ela exclamou.

Kaori se levantou. Ela ia deixar o menino ali e procurar um abrigo para si mesma, mas um movimento nas pálpebras do desconhecido a fez parar e pensar. Mesmo que ele estivesse morto, ela não ia gostar de deixa-lo ali, iria voltar quando a chuva passasse e levaria o corpo, mas agora que via uma possibilidade dele estar vivo pensou que seria desumano deixar o garoto jogado ali daquele jeito.

Sem hesitar, ela segurou o garoto pelas axilas e começou a arrastar o corpo com dificuldade. Ele não fez mais nenhum movimento e nem abriu os olhos, realmente parecia morto, e Kaori se perguntou se aquele espasmo que havia visto não era um último movimento antes da morte. Poderia acontecer, certo? Esses espasmos pós-morte. Mas agora ela não tinha mais como ter certeza, pois a chuva estava ficando mais forte e ela ficaria encharcada e provavelmente pegaria um resfriado se não encontrasse um lugar coberto para ficar.

Felizmente, ela encontrou uma pedra alta e curvada o suficiente para criar um local seco embaixo, como uma caverna, mas não tão fechada. Xingando, ela arrastou o menino até lá embaixo, escorregando e caindo de bunda no chão quando chegou ao local. Ela bufou e puxou o menino mais uma vez até que ele ficasse completamente fora da chuva. Nesse momento o céu pareceu desabar e agora ela não conseguia enxergar um palmo a sua frente com a força da chuva.

— Ah, que ótimo — ela disse para ninguém em especial. — Era só o que me faltava.

Ela encolheu as pernas, abraçando-as contra o próprio peito. Por um momento se esqueceu do menino ao seu lado até ele começar a tremer e Kaori ter certeza que ele estava sim vivo. Talvez estivesse perdido na floreste e acabou desmaiando de cansaço e agora poderia morrer de hipotermia ou algo assim. Ela não estava a fim de testemunhar a morte de ninguém, então tirou o blazer de seu uniforme e cobriu o menino o melhor que pôde com ele. Enquanto o rosto dela pairava acima do rosto dela, ela observou o menino melhor e pensou que o conhecia de algum lugar, mas não conseguia se lembrar de onde. Kaori balançou a cabeça, afastando o pensamento, provavelmente era coisa de sua cabeça. Ela levou uma mão à testa dele, deixando-a embaixo dos fios ruivos do cabelo dele. Ele não estava com febre, mas ainda continuava muito frio. Kaori não sabia muito sobre medicina, mas sabia que essa frieza toda não poderia ser bom sinal.

— Seria bom se você aguentasse até a chuva passar — ela disse para ele, sem esperar resposta. — Vou tirar você daqui e te levo para um hospital. O que você estava fazendo deitado no meio da floresta com um tempo desses, afinal de constas?

Achando aquele menino o maior idiota da face da terra, ela começou a espremer o próprio cabelo, tentando secá-lo. Ela se distraiu olhando a chuva e não percebeu quando o menino ao seu lado abriu os olhos, acordando finalmente. Ele virou a cabeça de um lado para o outro, observando ao seu redor, e seus olhos pararam diretamente na caçadora. Ele só a tinha visto uma vez, um pouco distante, e agora, vendo mais de perto, ele pensou que ela era muito, muito bonita para seu próprio bem. Ele percebeu que estava com o blazer dela em cima de si e ele aproveitou para sentir o cheiro dela. Era um cheiro bom. Um cheiro que ele conhecia.

— Eu gosto do seu cheiro — ele disse, a voz abafada por causa da chuva.

Assustada, Kaori virou a cabeça na direção da voz e deu um gritinho quando percebeu que seu paciente estava acordado finalmente. Ela se afastou um pouco. Os olhos dele a estavam encarando intensamente e Kaori pensou que nunca tinha visto um tom de azul igual ao daqueles olhos. Era um tom de azul tão claro que chegava a ser quase branco. Em um movimento rápido, o menino sentou-se, fazendo o casaco de Kaori cair em seu colo. Ele se espreguiçou e quando percebeu que o blazer havia caído o menino o pegou de seu colo e o levou até o nariz novamente enquanto respirava o cheiro de Kaori mais uma vez.

— Realmente, o seu cheiro é muito bom — ele disse, de olhos fechados. — Quase me faz querer provar você.

As bochechas de Kaori adquiriam um tom rosa e ela puxou seu blazer com força das mãos do desconhecido, o vestido logo em seguida. Zero disse para ela ficar em segurança antes de ir embora e agora ela estava presa no meio da floresta, em uma tempestade, com um completo desconhecido que ficava dizendo que queria prova-la. Quando ela deixaria de fazer tanta besteira?

— Quem é você? — ela perguntou, com raiva. — E por que diabos você estava deitado no meio da floresta? Está querendo morrer, por acaso?

— Morrer? — ele inclinou a cabeça para o lado, observando-a. — Ah, não. Eu não morro fácil. Por mais que eu tente — ela franziu o cenho, pensando que ele devia ser louco. — Senri Shiki — ele se apresentou, estendendo a mão para ela.

Ela não apertou a mão dele, apenas virou o rosto para o outro lado, tentando quebrar o contato visual, mas ela continuou sentindo os olhos dele em cima de si.

— Kaori Ozu — ela se apresentou. — E você teve sorte. Você poderia ter sido encontrado por algum renegado e não por mim.

Ele a observou por alguns segundos. Shiki não era muito bom em entender as emoções das outras pessoas, principalmente de humanos, mas ele havia percebido que ela estava chateada. Por causa dele ou por outra coisa, ele não sabia. Shiki se aproximou mais dela, sentando bem ao seu lado, mas com o rosto virado para a caçadora.

— Desculpe, eu chateei você? — ele perguntou.

Pronta para dar uma resposta, Kaori virou o rosto na direção do ruivo e se assustou com a proximidade dele. Bom, de uma coisa ela tinha certeza: ele não tinha noção nenhuma de espaço pessoal. Estava tão próximo dela que se ela virasse um pouco mais o rosto talvez suas testas se tocassem. Ela franziu as sobrancelhas, dando um peteleco na testa de Shiki. Ele levou uma mão à testa enquanto ela se afastava.

— Não sei qual é a sua, Senri Shiki, mas não, você não chateou — ela ficou de pé. — É estranho alguém estar largado no meio da floresta nesse tempo, mas cada um com as suas loucuras, certo? Será que essa chuva vai passar agora?

Shiki ficou de pé também e se aproximou dela mais uma vez. Kaori não se afastou de novo, apenas abraçou a si mesma. O tempo parecia ter ficado mais frio ainda, se é que era possível.

— Você é uma caçadora — não foi uma pergunta, mas Kaori respondeu mesmo assim.

— Sou, por quê? — ela olhou para ele pelo canto dos olhos.

— Eu estava me perguntando — ele deu alguns passos para longe dela. — Por que uma caçadora humana como você, tem o cheiro do Kaname.

A menção ao nome de Kaname fez Kaori entrar em alerta. Ela sacou sua espada imediatamente, sentindo-se subitamente ameaçada por Shiki. Em questão de segundos, ela se lembrou da onde havia visto aquele menino: entre os amigos de Kaname. Ele estava mais atrás, mas estava lá, olhando para ela com curiosidade enquanto acontecia aquele encontro entre eles no corredor da Academia dos Vampiros.

— Você é um vampiro — ela disse o óbvio.

— Bingo — ele virou de frente para ela, sorrindo. — Fiquei curioso sobre você desde o dia em que a vi na minha escola. Nunca vi Kaname tão incomodado com a presença de um humano como ele ficou com a sua.

— Como se isso fosse problema meu — ela disse.

— Eu acho que é — ele deu alguns passos na direção dela e, com um movimento rápido, desarmou Kaori, jogando sua espada há alguns centímetros de distância. — Qual é o segredo entre vocês?

— Não há segredo nenhum — Kaori disse com o coração quase saindo pela boca.

Shiki sorriu mais vez, pegando o pulso de Kaori bruscamente. Ele a puxou para si, segurando a mão dela a centímetros de seus lábios. Ela tentou se soltar, mas é claro que ele era mais forte que ela, e, antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, ele afundou uma de suas presas na palma da mão dela, fazendo um fio de sangue escorrer pelo braço da garota. Senri lambeu o sangue, passando a língua pelo lábio inferior quando terminou. Mas ele havia furado a mão dela e o sangue continuava escorrendo. Os olhos do vampiro brilhavam vermelhos como os de Kaname na noite passada. A lembrança desagradável das presas de Kaname afundando em sua pele invadiram a mente de Kaori sem permissão e ela odiou Shiki por isso.

— Me solta, seu maluco! — ela exclamou, o empurrando. — O que você pensa que está fazendo?!

— Eu disse — ela a puxou para si, fazendo-a ficar de costas para ele e colando seu corpo ao dela. — Eu estava com vontade de provar você.

O vampiro ergueu a mão dela novamente, colocando o machucado que havia feito entre os lábios. Ele chupou o sangue de Kaori avidamente. Assim como os outros, já fazia um tempo desde que Shiki tomou sangue humano e agora ele estava se lixando para tratado de paz, para pílula de sangue, para sua família e para Kaname. O sangue daquela humana era bom demais para que ele não aproveitasse o quanto pudesse. Senri passou um braço pelo abdômen de Kaori, enquanto continuava a tomar seu sangue escutava os protestos dela. Ele meio que gostava quando sua presa era difícil, como Kaori. Ele gostava do desafio por isso os escravos de sangue nunca chamaram sua atenção. Ele odiava submissão.

Quando Kaori conseguiu soltar sua mão (porque Shiki deixou que ela soltasse), ele a segurou com mais força contra si, tirando o cabelo dela da frente de seu pescoço. Ele passou a língua pelo pescoço dela e Kaori lembrou de Kaname mais uma vez, ela sabia o que viria agora.

— Não... — ela conseguiu dizer. — Por favor.

Kaori não sabia, mas os protestos apenas deixavam um vampiro mais excitado enquanto se alimentavam de um humano. Ela escutou quando ele abriu mais a boca, pronto para morde-la e se preparou. Mas nada aconteceu. Nenhuma presa rasgou sua pele e nenhuma gota de sangue foi tirada de seu corpo. Ele a soltou e ela o empurrou para trás, mantendo uma distância segura.

Mais uma coisa que ela não sabia sobre os vampiros, sobre Shiki principalmente: ele não desistia fácil de algo que queria. E ele queria saber o que havia entre ela e Kaname e agora queria mais do sangue dela, mas não desse jeito. Em um piscar de olhos, ele se colocou na frente dela de novo, segurando o queixo de Kaori e a obrigando a encará-lo.

— Eu tenho uma leve tendencia a ficar obcecado por certas coisas — ele disse, olhando nos olhos dela. — Parabéns, caçadora, você acabou de se tornar uma dessas coisas.

Sorrindo, ele se afastou dela e saiu do local onde eles estavam, sem se importar se estava caindo o mundo em forma de chuva. Sentindo lágrimas queimando em seus olhos, Kaori gritou a plenos pulmões. Mas que caralho tinha acabado de acontecer aqui? Já não bastava um vampiro, agora ela tinha dois querendo o sangue dela?! Kaori bateu no próprio rosto, se perguntando se estava sonhando, se isso tudo tinha mesmo acontecido, mas a dor a fez perceber que era tudo real.

Pior que ter seu sangue arrancado a força dela pela segunda vez foi perceber que ela estava se sentindo mal pelo o que acontecer. Por não ter sido Kaname. Agora ela sentia uma vontade quase incontrolável de ir atrás dela para o que? Pedir desculpas por ter sido ataca por um dos amigos dele? Ela cobriu o rosto com as duas mãos, gemendo. Ela queria vê-lo porque sentia falta dele. Passou a manhã inteira tentando não sentir, mas não adiantou muita coisa, pois agora a vontade veio mais forte que nunca. Maldita ligação! Ela enxugou os olhos. Na primeira oportunidade daria um fim a isso tudo.

Quando a chuva passou, Kaori refez seu caminho para a escola, pensando que ao chegar lá iria se trancar em seu quarto e nunca mais sair, pois toda vez que colocava os pés para fora, algo muito ruim acontecia. E Zero nem mesmo estava ali para distraí-la. Ela abraçou a si mesma na metade do caminho e se perguntou o que Kaname estaria fazendo agora. Ela não estava sentindo nada vindo dele. Talvez estivesse dormindo? Teria ele sentido o que Senri fizera? Provavelmente sim. Kaori lembrou-se da noite passada quando o puro-sangue disse que não gostava de dividir. O que ele faria se soubesse que outro vampiro havia tomado o sangue dela?

— Kaori!

A voz de Yori a tirou de seus pensamentos. A menina a encontrou próximo do portão da escola. Ela estava mais feliz, nem parecia que havia ficado cheia de raiva por Kaito ter ido viajar a trabalho.

— Por favor, não me diz que os irmãos Greco chegaram — Kaori disse, sentindo-se extremamente cansada.

— Não, não — Yori balançou a cabeça e segurou a mão da amiga, vendo o furinho que havia ali. — O que foi isso?

— Ah, nada — Kaori puxou a mão para si. O sangue havia parado de escorrer, mas ainda estava machucada. — Eu furei enquanto patrulhava. Nada demais.

— Hum, certo — Yori sorriu para ela de novo. — Eu estava pensando. Vamos tomar banho no lago?

— Nesse frio? Nem pensar — Kaori contornou a amiga, tentando se livrar dela gentilmente.

— Ah, por favor, Kaori! — Yori segurou o braço dela, mantendo-a no lugar. — Nós fazíamos isso quando éramos crianças. Independente do frio. E a água do lago está sempre quentinha, lembra? Vamos, por favor!

Kaori suspirou, derrotada.

— Tudo bem — ela cedeu e Yori gritou um “yay” enquanto puxava a amiga para o outro lado da floresta, onde de fato havia um lago que nunca ficava congelava ou ficava com a água gelada.

Enquanto elas caminhavam, Yori tagarelava sobre Zero e Kaito, sobre o que eles deviam estar fazendo nesse exato momento, e disse que Kaito havia mandado uma mensagem de voz para ela quando eles chegaram. Ela perguntou se Zero havia mandado uma mensagem também, mas Kaori sabia que não mesmo que não tenha visto o celular nas últimas horas. Zero não era esse tipo de cara, ele não mandava mensagens assim, mas Kaori o conhecia bem o suficiente para saber que ele estava bem, independente de seu silêncio.

Quando as duas chegaram no lago, Yori foi logo tirando o uniforme, ficando apenas de sutiã e calcinha. Ela tremeu de frio, mas pulou logo dentro d’água, feliz como uma criança. Kaori hesitou por um instante apesar de Yori a incentivar, dizendo que a água estava uma delícia. Kaori pensou se estava tudo bem deixar a escola assim, sem ninguém para cuidar das coisas, mas imaginou que lá tinha caçadores de sobra e que nem tudo tinha que ficar apenas nas costas dela. Eles poderiam se cuidar sozinhos por uns minutos.

Kaori tirou o blazer de seu uniforme, dobrando-o e deixando-o em uma pedra próxima. Quando ela começou a desabotoar a blusa de seu uniforme, sentiu algo estranho. Como se estivesse sendo observada. Ela olhou de um lado para o outro, mas além da neblina, não viu mais ninguém. Talvez fosse Senri, mas algo dizia a Kaori que ele não era do tipo que ficava apenas observando. Ignorando a sensação, ela tirou a camisa, deixando tudo bem arrumado em cima da mesma pedra. Quando começou a tirar seus sapatos, a sensação que ela teve pareceu aumentar e, por um instante, ela imaginou que fosse Kaname ali. Ela havia sentido algo muito parecido quando ele foi até a escola dela na noite passada.

Seu rosto corou ao imaginar que Kaname podia estar por ali, observando-a se despir. Mas algo a impeliu a continuar. Ela deixou os sapatos de lado, tirou as meias e deslizou a saia pelas pernas de uma forma mais sensual que o necessário. O que eu estou fazendo?, ela pensou, sentindo-se uma idiota. Se Kaname estivesse ali, ela queria que ele a admirasse. Kaori assustou-se com o próprio pensamento e se impediu de continuar tirando o que restava de sua roupa, sutiã e calcinha.

— Vamos, Kaori! — Yori chamou. — Você vai congelar aí fora.

Kaori deu mais uma olhada ao redor, mas como continuou sem ver nada entrou na água sem qualquer preocupação. Yori comemorou jogando água nela, o que fez Kaori rir e mergulhar. Ela sempre foi uma boa nadadora desde pequena e conseguia prender a respiração debaixo d’água por mais tempo que todas as outras pessoas que ela conhecia. Então, ela disse para Yori que ia nada um pouco e, após a amiga concordar, Kaori a deixou na superfície e se perdeu no silêncio do fundo do lado.

Seus cabelos castanhos flutuavam ao seu redor enquanto ela parou por uns segundos lá no fundo do lago. A água sempre foi boa para abafar sua mente inquieta e agora não foi diferente. Kaname, Senri, Luke, Maya, os caçadores que estavam chegando... Tudo parecia muito distante agora e ela se sentiu em paz por um momento. Mas foi apenas por alguns segundos. Por míseros segundos ela conseguiu respirar um pouco ainda que não estivesse respirando debaixo d’água.

Até que o grito de Yori penetrou a água, arrancando Kaori de seu sossego. Ela arregalou os olhos dentro d’água, imaginando que a amiga estava em algum tipo de perigo, e colocou os pés no fundo do lado, impulsionando-se para a superfície. Quando chegou lá, seu cabelo estava grudado em seu rosto e em seu corpo e ela estava mais ofegante que o normal. A primeira coisa que Kaori procurou foi Yori e ela a encontrou na margem do outro lado. A amiga estava abraçando a si mesmo, como se estivesse tentando esconder o próprio corpo. Yori estava em uma parte mais rasa, a água estava batendo em suas coxas e Kaori não perdeu tempo, foi até a amiga o mais rápido que conseguiu. Uma vez perto da menina, Kaori a segurou pelos ombros, forçando-a a encará-la.

— Yori! — Kaori disse, um pouco assustada. — O que foi? Por que você gritou?

A menina apenas mexeu os olhos, apontando para a frente delas. Confusa, Kaori olhou naquela direção e seu corpo inteirou travou quando ela viu que as duas tinham companhia e quem era as companhias.

Kaname e outro vampiro de cabelos loiros estavam ali, em pé, próximos ao lago, olhando diretamente para elas. Estava explicado o motivo do susto de Yori. Não era todo dia que dois vampiros apareciam assim na sua frente enquanto você tomava banho seminua em um lago no meio do nada. Quando a ficha de Kaori caiu e ela se lembrou que estava usando apenas sutiã e calcinha, sentiu seu rosto corar violentamente, mas já era tarde demais. Yori havia se escondido um pouco atrás dela, não por medo, mas por vergonha de sua quase nudez, o que deixou Kaori bem na linha de visão dos dois. Além disso, ela não conseguiria se cobrir nem se quisesse muito, pois suas roupas estavam na margem do outro lado do lago.

Kaname, como sempre muito cavalheiro, olhava nos olhos de Kaori, mas o outro vampiro olhava para o resto do corpo dela. Por um momento, ela agradeceu por estar com um sutiã e uma calcinha novos e não aqueles que ela usava para dormir. No que diabos você está pensando, Kaori?, ela se repreendeu mentalmente.

— O que vocês estão fazendo o mesmo aqui? — Kaori perguntou, agradecendo por não ter gaguejado.

— Eu poderia perguntar o mesmo a você — Kaname respondeu.

Ah, meu Deus. A voz dele. Aquela maldita voz. Kaori tremeu da cabeça aos pés internamente, mas colocou a culpa no frio. Por um segundo, o olhar de Kaname vacilou, saindo do rosto de Kaori para o corpo dela. Ela se perguntou se ele gostou do que viu, mas se repreendeu no mesmo momento. Ele voltou a olhar nos olhos dela.

— Estamos tomando banho, não estão vendo? — redescobrindo sua valentia, Yori saiu de trás da amiga. O olhar do outro vampiro acompanhou a menina.

— O diretor de vocês viajou — o loiro disse. — Cordelia nos pediu para procurar você, Kaori, para darmos um aviso.

— Bem, acabaram de nos encontrar. Podem falar. — Kaori abriu os braços, dando-se por vencida e saindo do lago. Ela caminhou na direção de suas roupas junto de Yori.

Assim que elas pegaram suas roupas, os vampiros se aproximaram delas. Kaori tremeu mais uma vez. Kaname estava próximo demais dela. Mesmo de costas ela podia sentir que se ele desse mais um passo sequer a ponta do sapato dele encostaria nos calcanhares dela. Que diabos ela pensava que estava fazendo? Havia perdido o juízo por acaso?

— Ela pediu para avisar que a festa será daqui a três dias — o loiro disse. — Recado dado. Vamos, Kaname-sama.

— Vá você, Hanabusa — Kaname disse. — Kaori, eu gostaria de conversar com você em particular.

Kaori estremeceu. Eles dois, sozinhos? No meio de uma floresta? Depois que ele havia a visto sem roupa? Nem pensar. Quais eram as chances disso dar muito errado? Ela imaginou que o tal Hanabusa não iria arredar o pé, não querendo deixar seu líder sozinho com uma caçadora, mas, mesmo hesitante, Kaname havia sido firme o suficiente para ele não ter escolha a não ser ir embora. Com uma reverência, ele começou a se afastar.

Yori foi quem não quis abandonar Kaori a própria sorte. Ela bateu o pé, dizendo que era perigoso, mas Kaori analisou a situação. Dependendo do que estivesse passando pela mente do puro-sangue ele não iria deixar para lá, ele iria acabar aparecendo na Academia dos Caçadores. Correria o risco de ser visto por Sebastian e Klaus. Tanta coisa podia dar errado agora que ela não conseguia nem pensar em todas as possibilidades.

Sem opções, Kaori disse que ficaria tudo bem, que Kaname não faria nada contra ela e, se fizesse, ela sabia se cuidar. Yori ainda protestou mais algumas vezes, mas foi vencida. No fim, ela se vestiu e também foi embora. Era Kaname quem queria falar com ela então Kaori não moveu um músculo para quebrar o silêncio, até se lembrar que ainda estava apenas de sutiã e calcinha. Ela vestiu uma manga da blusa, mas antes que pudesse puxá-la até seu ombro e colocar a outra manga, Kaname segurou sua mão, parando-a. Ele tinha certeza que estavam só os dois, que Hanabusa e a outra caçadora não poderia ver ou ouvir o que quer que fosse.

Kaori gostou do toque se Kaname mais do que gostaria de admitir. Ela olhou nos olhos dele e viu que eles estavam vermelhos. Como na noite anterior, ele estava com vontade de tomar o sangue dela, mas não fez qualquer movimento para concretizar isso. Ao invés de toma-la para si, ele segurou a mão dela diante de si, virou a palma para cima e observou o furinho que a presa de Senri havia deixado ali. Kaori sentiu-se culpada, com vontade de se explicar, mas nenhuma palavra escapou de seus lábios.

— Quem foi? — ele perguntou, por fim.

— Ninguém — ela mentiu. — Eu furei enquanto estava trabalhando.

— Você acha que eu sou idiota? — ele ergueu os olhos, encarando-a.

Kaori se perguntou o que Kaname faria se ela falasse que havia sido um dos amigos dele que havia feito isso. Ele descontaria sua raiva nela ou nele? Desde a noite passada, Kaori percebeu que Kaname a viu como sua propriedade e, apesar de estar puta da vida com aquele vampiro ruivo, ela não queria que Kaname arrumasse confusão por causa dela. Afinal, se ele fizesse qualquer coisa contra Shiki, o rivo teria certeza sobre o envolvimento dele com ela. Kaori não queria isso, mas também sabia que não havia como mentir para Kaname.

— Não, Kaname, não acho — ela puxou sua mão, tirando-a da mão do vampiro. — Mas eu acho que o que eu faço ou deixo de fazer e com quem é problema meu.

Ela virou de costas para ele e voltou a colocar seu uniforme. Havia uma pedra bem grande na frente dela e Kaori estava a encarando, enquanto xingava Kaname de todos os nomes possíveis em sua mente. Ela devia ter ficaod surpresa, mas não ficou quando sentiu as mãos dele em seu quadril. Ela ia virar de frente para falar mais algumas verdades para ele, mas Kaname a empurrou com firmeza, mas gentilmente para frente até ela se encostar na pedra que estava encarando segundos atrás.

— O que você está fazendo? — ela perguntou.

Kaname não respondeu, apenas encostou o próprio corpo ao dela, puxando a blusa (que ainda não havia sido abotoada) e a alça do sutiã dela para baixo. Ele abaixou o rosto, encostando o nariz na pele do ombro dela. Ela abriu a boca para falar mais, porém Kaname cobriu os lábios dela com uma mão, assim como fizera na noite anterior. Ela fechou as mãos em punhos, cravando as unhas em suas palmas. Ele ia mordê-la de novo e ela queria.

Kaori acabou gemendo quando Kaname mordeu seu ombro. Ela semicerrou os olhos, sua visão ficando turva de desejo. Kaori deu um jeito de desligar seus pensamentos, pois ela não queria de jeito nenhum ficar pensando no que diabo estava acontecendo bem ali entre eles dois. Ela sentiu a ereção de Kaname contra sua bunda e grunhiu, sentindo seu corpo esquentar. Ele fez mais pressão na mão que estava na boca de Kaori e quando ele afastou as presas do corpo dela, Kaori quis protestar. Ainda bem que ele estava tapando sua boca. Ofegante, Kaname encostou a testa na cabeça dela.

— Eu não consigo... — ele começou, baixinho. — Você devia saber que eu... Não consigo me controlar.

Com um pouco de dificuldade, ela virou de frente para ele. Kaori não estava mais nem mesmo sentindo o frio ao redor deles. Seu corpo estava queimando por dentro e por fora. Se ele tivesse a mínima noção do que ela vinha sentindo desde que ele a mordeu pela primeira vez, não a morderia mais. Era difícil, uma tortura, ficar longe dele agora. Não apenas por causa da ligação, ou talvez apenas por causa dessa ligação, mas o fato é que ele estava tornando tudo extremamente difícil para ela.

— Eu acho que não me importo — ela disse, em reposta ao que ele havia lhe confidenciado.

O único problema era que Kaori não sabia nem metade do significado daquilo que Kaname lhe disse. Ela pensava que ele estava se referindo apenas a ela, mas ele queria dizer que não conseguia se controlar como um todo. Em algum momento, mais cedo do que ele esperava, considerando a quantidade de sangue que já havia tomado dela, o Kaname que ela conhecia daria lugar a uma coisa monstruosa. Ele queria que ela o fizesse parar, mas ela não queria que ele parasse.

— Você não tem noção do que está falando — ele disse, limpando a boca com as costas da mão.

Kaori se sentiu quase humilhada. Essa situação toda era culpa dele. Ele havia dado o sangue dele para ela, ele havia se ligado a ela, ele a havia mordido, ele continuava a mordendo e ele a fazia sentir coisas horríveis, que ela nunca imaginou que sentiria em toda sua vida. Toda aquela excitação havia subitamente desaparecido e Kaori só queria ir embora.

— É, talvez eu não tenha mesmo — disse, terminando de vestir seu uniforme.

Sem falar mais nada, ela passou por Kaname como um raio e desapareceu floresta adentro, deixando o vampiro sozinho próximo do lago.

Kaori estava soltando fogo pelas ventas quando chegou a escola. Foi direto para o seu quarto, tomou um banho, fez um curativo em seu ombro e colocou uma roupa quente. Ela gostava de estar com raiva, pois, nesses momentos, não pensava nada de bom do vampiro. E era melhor assim.

No jantar, Kaori se encontrou com Yori no refeitório e as duas se serviram e comeram conversando. A outra caçadora estava curiosa para saber o que Kaname queria conversar a sós com ela. Kaori inventou mais uma mentira e Yori acreditou. Ao fim do jantar, elas foram surpreendidas quando anunciaram a chegada os irmãos Greco. Kaori suspirou, levantando-se da mesa. Mais essa agora.

Ela encontrou com SabastianKlausAlois na porta de entrada da escola. Sebastian e Klaus estavam ainda mais bonitos do que ela lembrava. Alois também era bonito como os irmãos, apesar de não parecer nada com eles fisicamente.

Como Kaori esperava, Sebastian, assim que colocou os olhos nela, abriu um sorriso malicioso. Aquele sorriso que ela lembrava bem. Sentindo-se derrotada, ela não falou nada apenas esperou passivamente enquanto o homem caminhava na sua direção.

— Kaori Ozu — ele a cumprimentou, abrindo os braços. — Quanto tempo.

— E aí, Sebastian — ela o cumprimentou, sem muita vontade. — Fizeram uma boa viagem?

— Péssima — ele disse, massageando a nuca. — Estou faminto.

Ela o observou por um instante, pensando se esse comentário dele tinha sido ou não com segundas intenções, pois quando se tratava se Sebastian nunca se tinha certeza. Ele sorriu, erguendo uma sobrancelha escura.

— Não vai me dar um abraço? — perguntou, aproximando o rosto do dela.

Kaori revirou os olhos, mas acabou o abraçando como ele queria. Ele a segurou com força contra si, as mãos dela envolvendo os ombros dele e as dele a sua cintura. Sebastian era muito cheiroso e Kaori achou isso muito sexy, mas não comentou nada.

— Sentiu minha falta? — ele perguntou, finalizando o abraço.

— Tanto quanto você sentiu a minha — ela rebateu.

— Então, você quase morreu de saudades — ele piscou para ela.

— Sebastian — a voz grave de Klaus se fez ouvir e tanto o irmão quando Kaori se viraram para encara-lo. Alois vinha andando ao seu lado. — Espero que você se comporte.

— Bem, irmão, a criança aqui não sou eu — Sebastian indicou Alois com um olhar.

Uma veia saltou na testa do mais novo. Kaori sorriu, observando aquela interação entre os três. Pelo menos eles seriam uma distração para o momento em que ela estava vivendo.

— Entrem — ela disse, dando passagem para eles. — Sintam-se em casa.

Enquanto ela apresentava a escola para os irmãos, Sebastian flertava com as meninas, Klaus parecia muito sério e Alois a enchia de perguntas sempre que tinha a oportunidade. Ela ficava feliz em responder ao pequeno. Quando chegaram ao dormitório e Kaori lhes mostrou seus respectivos quartos, Sebastian, é claro, tinha que fazer um comentário com segundas intenções, perguntando se a cama era grande o suficiente para ele e para ela. Isso lhe rendeu uma pisada bem forte no pé de seu irmão mais novo.

Por fim, ela mostrou o local onde Sebastian daria aula e o escritório de Kaien, que agora seria de Klaus enquanto o primeiro estivesse fora. Os quatro sentaram-se nos sofás do escritório.

— Então, o que acharam? — ela perguntou.

— Um pouco menos sofisticado que a academia da Itália — Sebastian disse e ela franziu o nariz. — Mas é um bom lugar, só não entendo porque vocês, romenos, insistem nessa decoração rústica. Essa escola fica parecendo um castelo de tortura do século XV — ele balançou a cabeça, desapontado, e olhou para Klaus. — O que você achou, irmão?

— Esperamos fazer um bom trabalho — Klaus disse, ignorando o comentário do irmão e ajeitando seus óculos na ponte do nariz.

— Estou louco para começar as aulas — Alois se jogou em um poltrona, os olhos brilhando. — Acho que os alunos aqui precisam de uma demonstração de um dos melhores caçadores.

Kaori deu uma risadinha, escondendo a boca com as mãos.

— Não subestime nossos alunos, Alois. Eles podem ser tão bons quanto você — ela comentou, contrariando o menino.

— Acho que vou pagar para ver — ele disse.

Klaus abriu a boca para falar algo, mas foi interrompido quando a porta do escritório foi aberta com força. Os quatro viraram a cabeça naquela direção e observaram uma Yori transtornada ali. A visão da amiga daquele jeito fez o coração de Kaori disparar em seu peito. Algo muito ruim havia acontecido.

— Kaori — Yori disse, ofegante. — Vem rápido. Um caçador foi encontrado morto.

Kaori trocou um olhar com Klaus e Sebastian, que havia perdido aquele sorriso malicioso. Os quatro se levantaram imediatamente e correram atrás de Yori.

Próximo ao portão de entrada, havia um corpo mergulhado em uma poça de sangue. Os furinhos no pescoço ficaram visíveis quando Klaus se aproximou e puxou a gola do uniforme do caçador para baixo. Alguém com presas havia o matado.

— Talvez tenha sido um renegado — Kaori disse, esperançosa.

— Um renegado não faria um trabalho tão limpo assim — Sebastian disse, causando um tremor em Kaori. — Eles fazem uma bagunça grande. Foi um vampiro quem fez isso.

— A única testemunha — Yori apontou para uma menina que estava chorando há alguns metros, sendo amparada por outros estudantes. —, disse ter visto o uniforme preto da Academia dos Vampiros quando quem fez isso estava fugindo.

— Desgraçados! — Sebastian exclamou.

Kaori olhou ao redor e seu olhar encontrou o de Luke. O menino parecia transtornado, com lágrimas brilhando em seus cílios. Kaori fez menção de se aproximar dele, mas o menino saiu correndo como se ele fosse o culpado daquilo. Kaori sentiu seu coração doer e as marcas das presas de Kaname formigaram em seu ombro.

— Levem o corpo para dentro — Klaus disse, dando suas primeiras ordens como diretor da academia. — Eu não sei como Kaien conduzia as coisas por aqui, mas acho que já está na hora de fazer uma mudança.

— O que você vai fazer, irmão? — Alois perguntou.

— Vamos fazer uma visitinha aos vampiros — ele respondeu.


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