Wicked Love. escrita por Beatriz


Capítulo 11
Capítulo 11: Laito.




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Apesar de ter tido uma noite interessante no dia dos namorados, quando amanheceu Laito teve um sono inquieto. Ele não costumava sonhar quando dormia, não mais pelo menos. Ultimamente estava tendo sonos tranquilos, mas essa não foi uma dessas vezes.

O sonho de Laito começou com ele e Cordelia correndo por uma floresta que ele nunca havia visto. Não parecia a floresta que separava as duas academias. No sonho, Laito podia ver a si mesmo e à mãe como se estivesse vendo um filme. Ele ainda era criança, devia ter uns dez anos. Em algum momento, sua mãe parou, encarando um ponto a frente deles. Laito seguiu o olhar dele e viu o que ela via: uma raposa. O animal estava a alguns metros deles e Cordelia passou a língua vermelha pelos lábios, pronta para atacar o animal.

Ele se preparou para atacar o animal também, mas, quando olhou nos olhos da raposa, ele não conseguiu ir em frente. Os olhos vermelhos, cor de sangue, do animal o impediram de continuar.

O sonho mudou depois disso. Agora ele estava sentado em um gramado bem verde e a raposa de outrora estava em seu colo, dormindo, enquanto ele fazia carinho em seu pelo macio.

— Laito! O que você pensa que está fazendo?

Laito se sobressaltou com a voz da mãe o repreendendo e a raposa se mexeu em seu colo, sentindo a sua agitação, mas não abriu os olhos.

— Qual é a primeira regra da caçada? — Cordelia encarava Laito, cheia de raiva. — Diga! Agora!

Ele não olhou nos olhos da mãe quando respondeu.

— O predador nunca deve se afeiçoar a sua presa — ele falou baixinho, sentindo um nó em sua garganta.

— Isso mesmo — Cordelia disse. — Agora entregue essa raposa para mim, para eu acabar com ela — ela estendeu a mão.

Laito hesitou em dar o animal para a mãe. O animal choramingou, ficando de pé no colo do menino e encostando o focinho na bochecha dele, enquanto os olhos vermelhos o encaravam.

— Não! — Laito disse, desobedecendo a mãe.

Ele ficou de pé e, juntos, ele e a raposa correram para longe de Cordelia, escondendo-se atrás de uma árvore.

O sonho mudou mais uma vez. Agora Laito observava ele mesmo, mas com a idade que ele tinha atualmente, dezoito anos. Ele estava escondido atrás da mesma árvore, mas não estava mais com a raposa e sim com Maya, que estava o abraçando, assustada. Ele a apertou contra si e, quando ela se afastou apenas o suficiente para olhá-lo nos olhos, os dois se beijaram. A última coisa que Laito ouviu antes de acordar foi a voz de sua mãe.

— Um predador nunca deve se apaixonar por sua presa, Laito. Nunca esqueça isso ou você acabará se tornando a presa.

Laito acordou em um sobressalto, suando frio e ofegando. Ele olhou ao redor, percebendo que estava em seu próprio quarto e não em uma floresta qualquer com Maya, a beijando. O vampiro, sentindo seu coração se acalmar, passou uma mão pelo rosto, percebendo que o sol ainda estava visível no céu, porém fraco, pois o dia parecia extremamente nublado.

Ele saiu da cama quase se arrastando e entrou em seu banheiro ainda com a sensação dos lábios de Maya nos seus. Olhando seu reflexo no espelho, ele balançou a cabeça, jogando essa sensação para o fundo de sua mente. Havia sido apenas um sonho idiota.

Depois que Laito tomou um banho e colocou seu uniforme, ele saiu do dormitório masculino. O sol já estava quase se pondo e ele não sabia como a manhã havia sido, mas agora uma neblina densa e chata estava por todo o terreno da escola. Ele mal conseguia ver as flores do jardim direito. Aproveitando que estava sozinho, Laito se sentou em uma das mesas de piquenique que havia no jardim e ficou observando a escola de frente, vendo mais um dia de aula começar enquanto alunos e professores acordavam.

Enquanto tomava uma bolsa de sangue, Laito lembrou-se da noite anterior quando levou Maya para a igreja. Ele sorriu com a lembrança, observando sua respiração sair em uma fumaça branca na frente de seu rosto. Laito estudava nessa escola desde criança então conhecia cada canto dela, assim como seus arredores, como a palma de suas mãos. Ele sabia que entre a academia dos vampiros e dos caçadores havia uma igreja abandonada que havia passado por uma pequena reforma por motivos de preservação histórica, mas que antes havia servido como um local de tortura de vampiros.

Irônico, não? Preservar como patrimônio histórico um local que torturava vampiros. Como o rei podia permitir isso? A resposta era simples: a imagem da igreja servia para lembrar aos vampiros os horrores que seus antepassados haviam sobrevivido na última guerra e que não seria permitido repeti-los. Kalrheinz usava aquilo para controlar os vampiros. O que ele diria se soubesse o que Laito fez com a filhinha dele naquela igreja? Ele riu de novo diante da ideia.

Apesar de estar bem cuidada agora, a igreja estava abandonada havia muito tempo. Laito sabia que seria o lugar perfeito para levar Maya e foi o que fez. A lembrança dela naquele altar, gritando com ele, os olhos marejados dela, seu sangue... Laito fechou os olhos, respirando fundo o ar frio da manhã. Ele daria qualquer coisa para voltar para aquele momento. Talvez ele tentasse fazer aquilo de novo, havia gostado de ter Maya para si mais do que gostaria de admitir, não faria mal ter uma vez mais, não é?

Havia sido fácil droga-la. Maya era como qualquer outro vampiro, afinal, agia por impulso, por instinto muitas vezes, então ele sabia que ela não recusaria o sangue que aquele vampiro ofereceu para ela. Ele havia pagado uma quantia considerável para aquele cara, mas não era nada que fosse lhe fazer falta, tinha valido a pena. A droga que Laito usou era algo que Reiji estava produzindo em seu laboratório. Laito não sabia para que ele estava fazendo uma droga contra vampiros, mas o fato é que havia sido eficaz.

E Laito nem sabia se daria certo! Ele riu, jogando a cabeça para trás e encarando o céu cheio de nuvens cinzas. Ele só havia escutado alguns boatos, conversas de Reiji com Subaru, sobre o que ele estava fazendo e quais seriam os efeitos dessa droga, mas ainda estava em fase de teste. Bem, ele usou Maya como cobaia e viu que as drogas eram eficazes. Diria para Reiji anotar isso em seu caderno de nerd. Ele ficaria feliz, Laito estava contribuindo para a ciência, afinal!

O céu começou a ficar mais escuro à medida que as horas iam passando e logo alguns alunos começaram a aparecer pelo jardim. Dois deles Laito reconheceu depressa: Subaru e Maya. Eles estavam andando juntos pelo jardim, conversando sobre algo que deveria ser sério até Maya sorrir. Laito não gostou da aproximação deles e resolveu criar algum atrito no momento comovente deles.

A única coisa que havia atrapalhado o dia anterior de Laito foi o fato de que, quando deixou Maya sozinha na igreja, ele acabou encontrando com Subaru na volta. O vampiro de cabelos brancos perguntou sobre Maya, Laito se fez de desentendido, mas Subaru não era de ser enganado facilmente. Apesar de Laito não ter respondido onde Maya estava, o outro vampiro deve ter refeito os passos do ruivo e deve ter encontrado Maya. Patético.

O vampiro desceu da mesa de piquenique e foi até os dois, parando-os no meio do caminho. Maya e Subaru pararam de andar e encararam o ruivo, Maya parecendo que havia visto o próprio diabo em pessoa.

— Boa noite — Laito cumprimentou os dois com aquela expressão maliciosa no rosto. — Maya, Subaru — ele encarou a menina. — Como você está? Dolorida? — ele se aproximou um pouco dela. — Querendo mais?

Maya franziu as sobrancelhas diante da provocação, mas antes que pudesse falar alguma coisa, Subaru tomou a frente, dando um soco em Laito com tanta força que o ruivo se desequilibrou e caiu sentado no gramado. Ele se aproximou do meio-irmão, se agachando no chão e segurando a gola de seu uniforme. Havia um pouco de sangue na boca de Laito e ele riu da expressão de raiva no rosto de Subaru.

— Eu poderia matar você bem aqui! — Subaru disse, cheio de raiva.

— Mas não vai, não é? — Laito provocou. — Você é covarde demais para isso.

Subaru levantou a mão que estava livre, fechada em um punho, pronto para desferir outro soco em Laito, mas Maya se adiantou e segurou a mão do vampiro, impedindo que isso acontecesse.

— Não vale a pena perder seu tempo com isso — ela disse para Subaru, mas olhando nos olhos de Laito.

Como se Maya tivesse algum feitiço sobre Subaru, ele largou Laito, ficando de pé. Ainda segurando o pulso de Subaru, Maya e ele ficaram lado a lado. Maya deu uma última olhada em Laito antes de lhe dar as costas e sair andando com Subaru. Laito riu, levantando-se e observando os dois se afastarem.

Muito romântico, Laito pensou, limpando o sangue no canto de sua boca. Ainda com um sorrisinho no rosto, ele se afastou do jardim, entrando na escola. A primeira aula que o vampiro teria agora era de história, sobre Lilith, a primeira vampira, e, apesar de ser uma matéria que Laito particularmente achava insuportável, o professor dessa matéria era um pé no saco. Laito estava por um triz de repetir na matéria dele por pura preguiça e desleixo e se ele se atrasasse dois segundos não ia mais ter paz.

Sem pegar qualquer livro ou caderno, Laito apenas entrou na sala de aula e largou seu corpo em uma cadeira mais ao fundo. Ninguém realmente relevante teria essa aula com ele além de alguns seguidores do Kaname Kuran, Senri, Akatsuki e Seiren, mas Laito não tinha o menor interesse naqueles três. Se o próprio Kaname estivesse ali talvez fosse divertido tirá-lo do sério, mas como não estava, Laito ficaria entediado até o fim da aula.

A noite passou normalmente até o último horário quando a aula, que seria de Reiji foi suspensa, pois ocorreriam algo como uma assembleia para votarem a favor ou contra as pílulas de sangue que estava sendo produzidas pela família Kuran. Era uma alternativa para vampiros que queria parar de tomar sangue humano como os Kuran. Uma perda de tempo na opinião de Laito, mas fazer o que? Ele apenas votaria contra e esperava que seus irmãos fizessem o mesmo.

O rei em pessoa iria comparecer na escola para conduzir as votações e o corpo docente e discente da academia tinham que esperar a boa vontade de Karlheinz dar o ar da graça, por isso os alunos se dispersaram para lugares distintos enquanto aguardavam. Quando o rei estivesse chegando, eles sabiam que Rido se encarregaria de avisar e todos se encontrariam em um local.

Laito se encaminhou para a sala de jogos e se surpreendeu quando viu os outros meninos Sakamaki ali também. Ayato e Subaru estavam jogando bilhar, Reiji estava lendo um livro, sentado em um sofá, e Kanato estava conversando algo inaudível com Teddy, seu urso de pelúcia, e Shu estava largado em outro sofá, ouvindo música como sempre. Laito revirou os olhos, pensando que se tinha como seu dia piorar o momento era agora.

O vampiro deu uma volta pela sala, mas não chamou a atenção de ninguém em especial. Nem mesmo Subaru, que parecia pronto para arrancar seus olhos no jardim, pareceu particularmente interessado na presença do meio-irmão. Não que Laito estivesse a fim de se envolver em uma briga com Subaru, estava de saco cheio dele.

— Sente-se, Laito — a voz de Reiji quebrou o silêncio da sala. — A sua inquietação está atrapalhando a minha concentração.

— Talvez você devesse ler em outro lugar — Laito rebateu, mas sentou-se.

A sala caiu em um silêncio de novo. Laito observou os irmãos, tão perto, mas ao mesmo tempo mais distantes que qualquer outra coisa. Há muito tempo ele não ficava assim com os irmãos, não na mesma sala, mas parecendo em paz. Já fazia um tempo que eles não conseguiam ficar juntos na mesma sala sem trocarem farpas uns com os outros. Laito balançou a cabeça diante do pensamento. Não podia ser dar ao luxo de ser nostálgico, não com aqueles cinco.

— O que vocês acham que vai acontecer hoje na reunião?

A voz de Shu chama a atenção de todos e Subaru e Ayato até param de jogar. O loiro estava sentado no sofá agora, havia tirado os fones do ouvido, mas ainda dava para escutar uma música saindo por ali. Reiji fechou o livro sem marcar a página. Ele não estava lendo de verdade.

— Apenas uma votação — Reiji ajeitou os óculos no rosto, subindo-os mais pela ponte do nariz.

— Não é só isso — Kanato disse, acomodando Teddy em seu colo. — Vai haver uma demonstração de que o tratado de paz entre humanos e vampiros não vale nada.

Laito sorriu.

— O resultado vai ser contra as pílulas de sangue — disse. — Todos nós já sabemos disso. Os Kuran são muito ingênuos.

— Eles são bem inteligentes, na verdade — Ayato disse, chamando a atenção dos outros. O ruivo estava brincando com uma das bolas de bilhar entre seus dedos. — Se uma guerra eclodir, eles podem se safar, dizendo que mantinham a dieta com as pílulas mesmo que tomem sangue humano escondido. Eles vão sair como mocinhos e nós como vilões.

— O que você quer dizer? Algum Kuran está tomando sangue humano escondido? — Laito sorriu novamente. — Que surpresa. Quem é?

— Kaname — Subaru respondeu antes de Ayato, sentando-se na mesa de bilhar.

— Não há qualquer prova que confirme isso — Reiji disse.

— Mas é óbvio — Subaru insistiu. — O Kuran sempre foi um cara de hábitos e agora ele agindo bem estranho. Como se ninguém fosse desconfiar. Sumindo no meio da noite, desaparecendo dos eventos...

— Ontem a noite ele voltou para a festa cheirando a humano — Kanato comentou. — Aquela vampira que é apaixonada por ele, Ruka, surtou.

— Ah, a doce hipocrisia — Laito jogou a cabeça para trás, encarando o teto. — É mais doce ainda vindo de um Kuran, vocês não acham?

— Devíamos entrega-lo — Shu volta a falar. — Acabaríamos com essa festinha dos Kuran.

— Não valeria a pena — Laito olha para o loiro. — Kaname seria punido, mas os Kuran são influentes demais para serem exilados da comunidade vampira. Por um não pagariam todos.

— Eu gostaria de me livrar do tratado de paz — Kanato comentou como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— E quem não gostaria, irmãozinho? — mais uma vez Laito sorriu. — Os humanos são fonte de comida e apenas isso. Caçadores, cidadãos comuns... Nenhum deles têm importância. Nosso pai é um fraco por continuar com isso.

— Para ser sincero, Laito — Reijo encarou o meio-irmão. —, ele é tão inteligente quanto os Kuran. O tratado de paz mantém os humanos na linha e nós bem sabemos que, se eles se revoltarem, têm forças suficientes para nos dar trabalho.

— Besteira — Laito fez um gesto com a mão, desconsiderando o que Reiji havia falado. — Humanos são fracos. Caçadores ou não, nós podemos acabar com eles em um piscar de olhos.

— Você os subestima demais — Reiji rebateu.

— Só estou dizendo a verdade.

Laito ficou de pé e foi até a máquina de bebidas, tirando dali um energético. Quando Karlheinz chegaria? Ele já estava ficando impaciente para começar logo essa votação. Queria ver a expressão no rosto de Kaname e de seu grupinho quando aquelas porcarias de pílulas fossem negadas por todos.

— Ouvi dizer que os irmãos Greco estão vindo para a Academia dos Caçadores — Ayato comentou, jogando a bola de bilhar na caçapa com um barulho audível. — Devíamos pensar que eles estão se preparando para algo, considerando isso.

Laito quase colocou para fora todo o líquido que estava em sua boca. Só podia ser brincadeira. Há alguns anos ele e os dois gêmeos Greco havia se envolvido em uma confusão que quase terminou na morte dos irmãos e não dele, claro. Eles nunca mais haviam se encontrado, pois os irmãos foram para a academia de caçadores da Itália, mas Laito ficou sabendo que o terceiro irmão, o mais novo, havia iniciado sua vida de caçador, ou seja, mais trabalho para Laito caso os três se encontrassem. Os gêmeos com certeza deveriam ter feito a cabeça do pirralho contra ele, assim como contra toda a família Sakamaki. Eles seriam um incômodo bem estressante agora que estavam vindo para cá.

Os dois irmãos mais velhos, Klaus e Sebastian, eram considerados os melhores caçadores do mundo em relação a habilidades. O nível deles estava acima de qualquer outro e Laito havia conseguido lutar de igual para igual com eles quando tinha apenas catorze anos e eles dezoito. O irmão mais novo, Alois, estava indo no mesmo caminho. Laito ainda não conhecia o garoto, mas sabia que ele tinha a mesma idade de Luke, seu meio irmão. Laito já imaginava que ele seria a terceira pedra em seu sapato de um jeito ou de outro.

— Antes que vocês perguntem — Ayato continuou. —, eu não sei o motivo. Só fiquei sabendo que eles estavam vindo.

— Aparentemente — Reiji disse. —, o diretor dos caçadores, Kaien, vai viajar por algum motivo. Talvez ele queira alguém realmente qualificado para ficar em seu lugar até a sua volta.

— Tsc — Laito sentou-se novamente. — Como já não tivéssemos coisas demais para lidarmos.

Como esperado, o comunicado de Rido se fez presente pelos autos falantes da sala. O vice-diretor disse que o rei estava chegando e que era para todos se dirigirem para o auditório. Reiji foi o primeiro a se levantar, por ser professor tinha que dar bom exemplo. Os outros foram o seguindo e Laito foi o último a sair. Enquanto fechava a porta atrás de si, ele sorriu, achando interessante a conversa que teve com os irmãos.

Dentro do auditório, a atenção de Laito foi imediatamente para Cordelia. Ela estava no palco, conversando com Rido, e olhou diretamente para ele com aqueles olhos frios. Laito balançou a cabeça, cumprimentando-a sem qualquer emoção. Os irmãos Sakamaki se espalharam e Laito sentou-se mais à frente, ansioso para ver onde o Kuran e se séquito sentariam e se ele teria uma boa visão deles.

Um pouco depois Kaname entrou, sendo seguindo pelos outros. O Kuran parecia mais pálido que o normal, estava distraído, dando de contra com as pessoas e não escutando quando falavam com ele. Laito percebeu que ele estava irritadiço também quando Ruka tentou tocá-lo e o vampiro a repeliu como se ela fosse radioativa. Laito riu, isso seria mais divertido do que ele esperava.

Não demorou muito para o rei entrar acompanhado de Elizabeth Sakamaki, sua esposa. Eles entraram lado a lado, Karlheinz com uma mão na cintura da vampira. Laito olhou diretamente para a mãe e Cordelia, como esperado, estava encarando o casal com sangue nos olhos. Previsível demais. Laito balançou a cabeça, decepcionado. Às vezes sua mãe era tão ridícula que dava pena.

Karlheinz se dirigiu até o microfone que estava no meio do palco. Testou o mesmo e pediu que todos se acomodassem e ficassem em silêncio. Do outro lado da sala, Kaname não movia um músculo. Parecia uma estátua, bem típico dele.

— Boa noite, alunos, professores — Karlheinz disse quando um silencio mortal tomou conta da sala. — Boa noite, diretora, vice-diretor — ele olhou para Cordelia e Rido. — Como todos sabem, hoje haverá uma assembleia aqui nesta escola para decidirmos, de forma democrática, sobre o uso obrigatório das pílulas de sangue que estão sendo produzidas pela família do aluno Kaname Kuran.

Karlheinz indicou Kaname na plateia com a mão e algumas cabeças vivaram para o vampiro, inclusive a de Laito. Era impressão dele ou o vampiro estava segurando o braço de sua cadeira com mais força que o normal? Laito queria ter o poder de ler mentes para saber o que Kaname estava pensando. Será que era verdade? Sobre o rumor dele estar tomando sangue de algum humano escondido? Seria tão interessante ter essa informação.

— Bem — Karlheinz continuou. —, cada um de vocês podem votar através de seus celulares. O resultado aparecerá na tela. Vocês têm meia hora.

Todos, alunos e professores, pegaram seus celulares e começaram a votar pelo aplicativo que havia sido feito apenas para isso. Havia apenas a pergunta se eles eram a favor ou contra o uso obrigatório das pílulas de sangue para substituir o sangue humano e as opções “a favor” e “contra” logo embaixo. Laito votou contra assim como seus outros irmãos, incluindo Maya que estava sentada nas poltronas do fundo, fuzilando a nuca de Laito com os olhos.

Aos poucos, um celular de cada vez foi sendo abaixado e, em trinta minutos, a votação foi encerrada. Bem, o resultado era certo, mas seria uma surpresa e tanto se o aparecesse “a favor” no telão atrás de Karlheinz. O rei recebeu o resultado primeiro em seu celular. Quando o rosto do vampiro se iluminou com a luz do aparelho, sua reação não nada interessante. Ele pareceu ter certeza de algo que já imaginava. Atrás dele, a palavra “contra” encheu o telão.

Murmúrios de aprovação e de surpresa encheram o auditório. Laito olhou para Kaname mais uma vez.o vampiro parecia a beira de um ataque de nervos, estava tremendo como vara verde e suas presas brancas eram visíveis mesmo a distância. Satisfeito, Laito guardou seu celular no bolso de seu uniforme e se espreguiçou na cadeira. Irritar o Kuran e seu grupinho era um de seus hobbys preferidos.

— Esse já era o resultado esperado, não é mesmo? — Cordelia falou em alto e bom som, fazendo todos se calarem. — Desde o início essa história de pílulas de sangue foi uma utopia. Sinto muito, Kaname, querido, você terá que dar as más noticias aos seus pais — ela olhou para o vampiro na plateia.

— Sim, Cordelia, o resultado era esperado — Karlheinz disse no microfone. —, mas apesar do uso não se tornar obrigatório, a família de Kaname, e quem mais quiser, terá o livre arbítrio para escolher se viverá tomando as pílulas ou se gostaria de continuar com o sangue humano. As pílulas não irão parar de serem produzidas só por causa desses votos.

— Mas é claro que ninguém irá escolher viver com esses remédios, Karlheinz — Cordelia rebateu.

— É Majestade ou Vossa Alteza para você, Cordelia — Karlheinz franziu as sobrancelhas para a vampira e Elizabeth sorriu. — Por que não perguntamos isso ao próprio Kaname? — o rei se virou para a plateia. — Kaname, o que você acha? Como representante da família que mais usa as pílulas, vocês pararam de usá-las?

Kaname ficou de pé. Era nítido que o vampiro estava passando por algo bastante doloroso dentro de si. A dor era visível em seu rosto.

— Não, senhor — ele disse, polidamente. Apesar da aparência, sua voz não vacilou. — Posso garantir que as famílias Kuran, Ichijo, Shiki, Souen, Kain, Toya e Aido não irão parar de usá-las.

— Muito bem — Karlheinz balançou a cabeça, aprovando a fala do garoto. — Isso fica a critério de vocês.

Kaname fez uma reverência e voltou a se sentar. Karlheinz não deu mais atenção a Cordelia e encerrou a assembleia, agradecendo a todos que participaram e se desculpando com os professores por ter tomado o tempo de sua aula. Laito seguiu os outros alunos para fora do auditório, mas antes de passar pela porta dupla, algo chamou a sua atenção.

Para ser mais específico, alguém. Maya e Subaru caminhavam juntos de novo, entretidos em uma conversa. Eles passaram ao lado de Laito e ele reparou em algo que não havia reparado antes: Subaru estava com o cheiro de Maya. Laito virou o rosto subitamente, encarando as costas dos dois enquanto eles se afastavam pelo corredor. Subaru havia tomado o sangue de Maya. O ruivo deu um soco tão forte na parede quando percebeu isso que a mesma rachou sob seu punho. Alguns alunos que estavam por perto se sobressaltaram e se afastaram de Laito, sussurrando entre si.

Laito se dirigiu para sala de música, deixando de lado por um momento tudo o que havia acontecido no auditório. Ele não havia reparado no cheiro quando se encontrou com os dois no jardim, estava mais concentrado em tirá-los do sério. Mas era impossível não senti-lo agora. Subaru havia mordido Maya e ela, com certeza, tinha dado seu sangue de livre e espontânea vontade. Na sala de música, havia trocado o piano desde a última vez em que ele esteve ali e Laito quase descontou sua raiva novamente no instrumento, mas pensou melhor.

Olhando para as teclas pretas e brancas, ele sentou-se e começou a tocar a primeira música que veio em sua mente: Poison. Ele tocou como se as teclas fossem Subaru, descontando toda a sua raiva nelas. Talvez ele desse mais algum prejuízo, mas quem se importava? A escola tinha dinheiro suficiente para comprar quantos pianos ele quebrasse.

Parecia ironia do destino ou uma piada de muito mal gosto do mesmo, mas enquanto Laito tocava, alguém entrou na sala, atraído pelo som da música. Era Maya e o piano estava agora de frente para a porta, o que deu a Laito uma visão privilegiada da garota enquanto a expressão dela passava de curiosidade para raiva. Sim, era ele ali. Quem ela esperava que fosse? Além de Laito não haviam mais muitos alunos que se interessassem tanto pela sala de música. Maya o encarou por um segundo, dividida entre ficar e ir embora. Ele esperou para ver o que ela ia fazer, ainda tocando sem tirar os olhos dela.

Ela não foi embora. Mentalmente, Laito sorriu, mas por fora continuou com a mesma expressão fria no rosto. O que ela estava planejando? Se ela pensava que conseguiria se vingar dele agora, estava enganada. Maya se afastou da porta, se aproximando do piano e dando a volta no mesmo. Quando ela passou atrás de Laito, ele sentiu o cheiro do perfume dela.

— É engraçado como acabamos voltando para o mesmo lugar — ela disse, fazendo sua voz se erguer acima da melodia. — Se eu não te conhecesse, acharia que você está planejando tudo isso, mas você não consegue nada de outras pessoas por vontade delas.

Os olhos vermelhos dela acompanhavam os dedos de Laito na tecla. Ele não respondeu nada até acabar de tocar e Maya fechou os olhos, aproveitando a melodia. O jeito de Laito tocar era agressivo, mas ela gostava disso. Quando a melodia diminuiu de ritmo, Maya sentou-se ao lado de Laito e afastou as mãos dele do piano, começando a tocar com suas próprias mãos. Ela continuou a música até o final sozinha, enquanto Laito a observava. Quando ela terminou, o rosto dele estava bem perto do rosto dela, mas ela não o encarou.

— Já fazia um bom tempo que eu não tocava, mas vejo que ainda sou boa — ela sorri, tirando as mãos das teclas.

Maya finalmente vira o rosto na direção do vampiro, os olhos dela sendo atraídos pelos dele. Quando o olhar dos dois se encontram, Maya engole em seco, seus olhos abaixando automaticamente para os lábios dele. Ela se lembra dos momentos que os dois tiveram na igreja, das presas dele em seu corpo.

— Por que você está aqui? — ele pergunta, sem emoção. Seus olhos verdes brilham.

— Por acaso a sala de música é propriedade sua? — ela pergunta, sarcástica. — Apesar da sua personalidade de merda, você toca bem, e eu gosto de ouvir música boa.

— Não sei se eu acredito em você — ele se aproxima mais.

Laito sorri quando ela se levanta e se afasta dele, indo até a porta, mas o ruivo é mais rápido que ela. Ele chega primeiro a porta e a segura com força, impedindo que a vampira saia dali. Ela vira de frente para ele, encarando-o com uma expressão fria no rosto. se olhares pudessem matar, ela o teria matado agora. As sobrancelhas de Laito se erguem e um sorriso de piedade surge em seu rosto.

— Você quer mais, não é mesmo? — ele passa o indicador na curva do maxilar dela e Maya vira o rosto bruscamente, afastando-o da mão de Laito, mas o vampiro segura o queixo dela, forçando-a olhando para ele. — Estou certo, não estou? As presas do Subaru não se comparam às minhas.

Laito abaixa um pouco a cabeça, aproximando o rosto a centímetros do rosto de Maya. Se ele tocasse em seu peito, sentiria o coração dela quase saindo pela boca, mas ele tem outros planos. Ele fecha sua mão no pescoço fino de Maya, apertando-a contra a parede. As presas dela ficam visíveis, com raiva, mas ele as esconde de novo quando encosta seus lábios aos dela.

Os olhos de Laito estão fechados, mas os de Maya ficam arregalados. Ela esperava qualquer coisa menos um beijo do vampiro. Ainda segurando-a pelo pescoço, ele enfia uma perna entre as pernas de Maya, prendendo a saia do uniforme dela com o joelho. Então ele desce a mão do pescoço dela para os botões de sua blusa e começa a desabotoá-la. Quando a língua dele invade sem qualquer aviso a boca de Maya, ela fecha os olhos com força, tentando empurrá-lo, mas ele a segura com força com o outro braço, prendendo-a contra si.

Maya sente as pontas dos dedos dele em sua pele, onde a blusa devia estar abotoada. Ele abaixa uma manda, junto com a alça do sutiã dela. Maya estremece nos braços dele. Na igreja, ela tinha a desculpa das drogas, de que estava fraca demais por causa delas para lutar contra ele, mas e agora? Qual era a sua desculpa? Ele ri contra os lábios dela.

— É difícil resistir a mim, não é? — ele pergunta, baixinho. Maya se arrepia e ela tenta empurrá-lo mais uma vez.

Mas Laito tem a vantagem ali, mais uma vez. Ele a segura com mais força, passando a língua pelo ombro da garota. Quando a lua sai de trás das nuvens, iluminando a sala de música, ele abre a boca, expondo suas presas. Está prestes a afundá-las na pele de Maya mais uma vez quando eles escutam um grito alto vindo do pátio do lado de fora da escola. Laito para no meio do caminho. A respiração de Maya está ofegante em seu ouvido.

Aproveitando a hesitação dele, Maya consegue de desvencilhar do vampiro e, uma vez longe dele, começa a ajeitar suas roupas. Laito pensa em ir até ela de novo e ignorar o grito, mas está tendo uma comoção no andar debaixo que atiça a curiosidade de Laito. Ele caminha para a sacada da sala, se apoiando no parapeito e olhando para baixo. Quando Maya chega ao seu lado, ele está com uma sobrancelha erguida e com um ar divertido, observando a cena que se desenrolar bem debaixo deles.

No pátio, um vampiro com o uniforme dos alunos da Academia dos Vampiros está morto com uma espada com a insígnia dos caçadores cravada bem no meio de seu peito. Uma poça de sangue se formou embaixo do vampiro e a vampira que o achou, e quem provavelmente gritou, está de joelhos no chão, chorando e sendo amparada por outra aluna. Algumas pessoas já estão se aglomerando ao redor do corpo. Os outro Sakamaki chegam ali um segundo depois e os cinco olham juntos para a sacada da sala de música, para Laito e Maya. Os sete se entendem em silêncio, apenas com um olhar.

Mas não precisa ser um gênio para perceber o que acabou de acontecer. Um caçador havia matado um vampiro. A prova do crime estava bem ali na frente deles, no formato de uma espada. Como esse caçador havia conseguido fazer isso sem ninguém ver que era o grande mistério.

— Bem — Laito disse, quebrando o silêncio. —, isso sim é bem interessante.

— Quem você acha que foi? — Maya pergunta, sem tirar os olhos do corpo.

Por um momento, os dois se esquecem do beijo que aconteceu segundos atrás. O que eles têm diante de si é muito mais importante que qualquer sentimento. O que aconteceria daqui para a frente Laito não fazia ideia, mas ele estava mais que animado para descobrir. Ele esperava que essa morte fosse suficiente para desencadear a fúria de Karlheinz e ele resgasse aquele tratado de merda. Já estava mais que na hora dos vampiros mostrarem quem realmente mandava por ali. Os caçadores já haviam tido a sua cota de diversão, agora seria a vez deles. Os olhos de Laito brilhavam tão intensos quanto a lua no céu.

— E isso importa? — Laito da as costas para o corpo e multidão que se reunião no pátio, olhando Maya pelo canto dos olhos. — Agora nós temos a desculpa perfeita para acabarmos com a raça deles.

O vampiro riu, subindo no parapeito da sacada e pulando para o pátio. Ele caiu em pé, sem nenhum arranhão, e uma vez lá embaixo, fingiu estar interessado em justiça para aquele vampiro infeliz no chão, quando na verdade estava apenas tentando disfarçar a vontade que sentia de invadir a Academia dos Caçadores e matar um por um. 


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