Martírio. escrita por Sevenhj777


Capítulo 5
Genocida.




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A fina chuva começa a cair dos céus que há muito já alerta sobre o temporal que está vindo. As pessoas das ruas começam a se dispersar, procurando algum tipo de abrigo em caixas de papelão e coisas do tipo. Entre elas, os penetras da Unidade de Extermínio, inclusive Aaron, permanecem inertes, aguardando as ações da linha de frente. 

 

— É um... orfanato. — A rouca voz de Alissa escapou do comunicador que Aaron segura, trêmula e hesitante. A Portnova tem características firmes e determinadas, mas não importa o quanto ela e Adamik olhem para uma criança vampira, ainda se assemelha a uma criança normal.

 

Aaron ficou paralisado com a confirmação que veio de tão longe, inerte, respirando fundo. Joseph, do outro lado da rua, olhou para o Adamik com as lentes do óculos já abafadas pelas gotículas de água. Sabia muitíssimo bem o que viria a seguir.

 

O capitão do décimo quinto esquadrão de extermínio trabalha na área há quase dez anos, participou de inúmeras operações e viveu para contar a história de todas elas. Apesar disso, tem defeitos como qualquer um: Aaron não tem estômago para muitas coisas, e seu histórico mostra que só executa vampiros se de alta periculosidade; ele foca suas habilidades em prendê-los e mandá-los para a Concha – um sistema prisional especializado em conter esses seres, uma subdivisão da APS. Joseph reconhece este ponto em Adamik, e por isso omitiu informações para preservar o sucesso da operação. No final, a intuição de Aaron não falhou.

 

Joseph limpou os óculos e teve em vista Aaron caminhando com passos céleres em sua direção, bufando. O Makarov pareceu preparado para isto, abrindo os dois braços quando foi recebido por um puxão na gola de sua blusa. Aaron tem uma força anormal, algo explicado quando a mão direita escapou da manga da blusa e revelou a aparência metálica, que se estende por todo o seu braço direito. É uma das marcas que ficaram eternizadas em seu corpo após enfrentar diretamente o último Heulen, uma prótese de aço bem avançada, apesar de velha.

 

— Você mentiu para mim. Por quê?! — Aaron tem sérios problemas para controlar suas emoções, e isso transpareceu pelas veias que surgiram por todo seu pescoço. Está prestes a socar Joseph independente de quantas estrelas ele tem na braçadeira, chamando atenção de muitas pessoas que passam pelas ruas.

 

— Eu omiti, e fi-lo justamente para evitar esse tipo de comportamento. — Joseph não abaixou a guarda, e continuou com o semblante quase inexpressivo diante a ameaça no tom de Adamik. O mais velho bufou, respirou fundo e foi soltando vagarosamente a gola de Joseph. — Vamos até o fim agora, presumo.

 

O show de Aaron atraiu olhares de todos os cantos, enquanto os pedidos incessantes das equipes envolvidas na linha de frente por ordens dos capitães acumulam, vindos diretamente dos comunicadores. A desgraça já está feita na visão de Adamik, e não há mais nada a ser feito. Ele deu os ombros e bateu pé, andando em círculos com um stress nítido e visível a todos.

 

Se aproximando vagarosamente, os responsáveis pela vigia se viram obrigados a virem diante a atitude que quase pôs o plano inteiro a perder. Dmitri Patrushev e Nail Kafka vieram com passos lentos e hesitantes, tentando manter a discrição. Logo ao lado, os dois homens do sétimo esquadrão:

 

Dariusz Dombrowski é um homem alto, com físico decente e uma barba rala. Tem fios de cabelo castanhos na altura do pescoço e um penetrante olhar âmbar, fixo com julgamento em Adamik. O homem nunca teve uma boa impressão do capitão do esquadrão vizinho, e só piora. Ele parece ser um pouco mais velho, o que por si só já é raro entre os homens de uma estrela – até porque é difícil viver tanto trabalhando na Unidade de Extermínio, e os que vivem, recebem promoções para adiantarem suas mortes tardias. O motivo de Dariusz não ter duas estrelas e estar vivo certamente está relacionado a sua índole questionável.

 

Ao lado de Dariusz está Anton Kalachnik, um ucraniano que é literalmente o contrário de seu companheiro. Ele tem um rosto fino e delicado, um olhar hesitante e um visível despreparo emocional para lidar com uma operação daquele calibre. Possui um cabelo ruivo, bem penteado para um dos lados, junto a um corpo fraco e pequeno, realçando dois olhos pretos como a noite. O que diabos aquele homem está fazendo ali? Parece tão forte quanto uma mosca.

 

Anton está sutilmente com uma das mãos trêmulas no coldre de sua arma, temendo que o desentendimento de Aaron e Joseph dê em algo mais. Nail notou aquele posicionamento das mãos, atento ao que poderia sair dali.

 

Dmitri está com sérias dificuldades para olhar para Kafka. O motivo? Ele usa aquela máscara ridícula, com duas lupas pretas no lugar dos olhos e com o tecido grosso tampando o nariz e a boca. Com a mentalidade que tem, só não riu na frente dos superiores por estar sem Ulrich para acompanhar sua infantilidade.

 

— Vamos continuar a missão. Divisão A, avance. Divisão B, aguarde o sinal verde. — confirmou Joseph, após tirar o pó das suas roupas com tapas firmes sobre ela. Os olhos dele se deslizaram por Aaron, que continuou o fitando em tom de raivosidade. O clima tenso não vai passar tão cedo.

 

— E lembrem-se, — Aaron continuou logo após o fim da frase de Joseph Makarov, pressionando o botão de seu comunicador. — sem mortes desnecessárias.

 

O aval foi dado, e a missão teve seu seguimento. Um cabo de aço foi suspenso contra o alto de uma das paredes, saindo como um arpão de um objeto cilíndrico preso ao antebraço de Alissa. Devidamente posicionada, como num rapel improvisado, a loira foi escalando manualmente até chegar na beira da janela. Uma longa haste com um espelho na ponta foi erguida, e usada como um "retrovisor" para flagrar possíveis presenças de alguém dentro do cômodo que planejam invadir, um quarto infantil. Com o aval de Alissa, os outros três membros da divisão A tiveram certeza de que poderiam subir sem problemas.

 

Enquanto a divisão A, liderada por Alissa, invade silenciosamente por uma das janelas, a divisão B segue camuflada na vértice contrária. Eles cobrem a porta dos fundos, e aguardam silenciosamente o "sinal verde" para invadirem.

 

Eles são liderados pelo vicê capitão do sétimo esquadrão, Bernhart Vlushken. É um homem loiro, com cabelos espetados e um olho verde e outro castanho, fruto de sua heterocromia. Apesar de estar atualmente com a boca e o nariz tampados, possui normalmente um cavanhaque.

 

A divisão B é constituída unicamente de soldados da elite soviética, normalmente corelacionados ao governo para batalhas sangrentas na fronteira. Apesar de não constituírem nenhum esquadrão dentro da Unidade de Extermínio, continuamente participam para cobrir flancos e dar cobertura aos esquadrões principais. Bernhart lidera esses homens com o único objetivo de somá-los à conta e dar uma vantagem numérica dentro da zona de combate. Trabalha diretamente com as divisões C, D e suas ramificações para impedir fugas.

 

Por outro lado, Alissa lidera uma mistura do décimo quinto com o sétimo esquadrão, focados em achar o inimigo e fazer o necessário para contê-lo. Os passos da loira são silenciosos tanto quanto os de seus companheiros, assumindo a fronte até encostar na parede e deixar o rifle colado ao próprio corpo.

 

Ulrich vem logo atrás, bufando de raiva e com o dedo coçando para apertar o gatilho logo, mesmo ciente das ordens de Aaron. Ele caminhou silenciosamente até a lateral de Alissa, aguardando suas ordens.

 

Logo em seguida, Bertholdt Schmidt caminhando sorrateiramente com uma escopeta de combate colada ao corpo. É um homem com algumas marcas de expressão bem fortes ao redor dos olhos castanhos, com um cabelo preto como a noite e um físico firme, bem alto e forte. Ele assentiu com a cabeça para a mulher logo atrás dele, como se ordenasse para ela acelerar.

 

Usando a mesma máscara que Nail Kafka, a pobre Heike se arrastou tremulamente até o canto de uma das paredes. O nervosismo se transpareceu diante a tanta pressão, e logo teve que retirar vagarosamente uma parte de sua máscara.

 

As presas avantajadas foram expostas, o que arrancou um longo suspiro de Ulrich. Ela respirou fundo, tentando farejar alguma coisa entre todos os corredores que se ramificam por todo o orfanato.

 

Heike, no entanto, começou a salivar. Ulrich se viu com o dedo no gatilho e prestes a disparar nela no primeiro movimento suspeito, mas nada aconteceu depois disso. A garota se recompôs e colocou a máscara novamente, tentando se controlar.

 

— S-Sangue. Muito sangue. — Ela alertou, sussurrando para os companheiros.

 

Vampiros como Nail e Heike se vêem diante a uma situação de abstinência, uma vez que se alimentam obrigatoriamente de sangue animal duas até três vezes por semana. O sangue humano é atraente até demais em certas circunstâncias; ele os torna mais fortes do que já são, além de muito, muito superior ao sangue animal em todos os quesitos. Vampiros hereditários – ou seja, que nasceram, e não que foram contaminados por um outro vampiro – só sobrevivem caso tomem sangue humano, e por essa razão, em maioria, são sempre exterminados sem chance de prisão.

 

Alissa engoliu seco, deu a ordem com um dos dedos para Heike continuar ali, parada. Se realmente existe uma reserva de sangue exposta, então talvez ela perca o controle se muito próxima a ele.

 

A loira deu os primeiros passos a fundo no corredor, seguida de Bertholdt e Ulrich. Eles caminharam até a beirada de uma porta entre-aberta, fonte de muito barulho de crianças e alguns adultos.

 

Os olhos azuis se arregalaram assim que viram um cadáver estirado sobre a mesa, consumido por inúmeras crianças que se acumulam ao redor do corpo como filhotes de algum mamífero quando prestes a serem amamentados.

 

O corpo é de um homem ainda distante do estado de decomposição, com o corpo azulado como se tivesse acabado de sair de um refrigerador ou algo do tipo. Há cortes em pontos estratégicos por todo corpo, feitos para os pequenos alcançarem as veias e as concentrações de sangue com maior facilidade.

 

Ulrich ficou paralisado, se recordando do passado, um passado amargo.

 

Em sua cabeça, a imagem de um ser de estrutura inigualavelmente grande, distorcido e com as características mais puras de um ser vampírico que se recorda de ter visto, talvez, até mais que o último remanescente dos Heulen. É um verdadeiro monstro, algo muito similar aos demônios que já viu em ilustrações, como se fosse algo sobrenatural, que não pertence a este mundo.

 

Se lembrou de uma seita que idolatra aquele ser como se fosse um deus, dos fiéis e dos símbolos expostos na parede. Por que Ulrich esteve ali? Ou melhor, o que diabos era aquilo?

 

Desorientado, o homem se ergueu e abriu a porta. Alissa e Bertholdt não tiveram escolha a não ser irem atrás enquanto tentam chamar atenção de Ulrich, que não parece ouvi-los.

 

As crianças largaram o cadáver, expondo os olhos consumidos pelo tom negro e a iris vibrando em diferentes cores, únicas. Foi a gota d'água para um Ulrich desestabilizado.

 

Ele ergueu sua metralhadora, com os olhos arregalados e dentes rangidos.

 

— Eu... vou... matar... vocês.

 

Repetiu várias vezes, pausadamente. Tentar acalmá-lo está fora de questão.

 

Distante, Aaron não pôde fazer nada a não ser aguardar pacientemente do outro lado, até que o som da metralhadora de Ulrich começou a sair de seu comunicador. "Sem mortes desnecessárias"? Tarde demais. 


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