Martírio. escrita por Sevenhj777


Capítulo 4
Unidade de Extermínio.




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Nas ruas do centro urbano, os olhares de toda a população são direcionados às grandes máquinas que atravessam a estrada com propriedade. Entre os carros populares e em maioria mais simples, grandes comboios militares, caminhões e carros blindados em fila, liderando uma operação do Expurgo que atrai olhares de todos os cantos.

 

Dentro de um dos comboios, o décimo quinto esquadrão aguarda pacientemente sua chegada na zona de combate. Os membros não tem outra escolha a não ser esperar, olhando um para cara do outro enquanto as paredes de aço chacoalham com o movimentar do veículo.

 

Ninguém está mais desconfortável do que Nail, o único inumano do esquadrão. Ele está retido num dos cantos, engolindo seco enquanto desvia o olhar para as pequenas frestas da porta. Ulrich, posicionado em paralelo, fita Nail com seus grandes olhos castanhos, transparecendo seu preconceito em sutis expressões faciais – o suficiente para qualquer um ali ter certeza de que ele está se controlando para não "atirar por acidente" no vampiro. 

 

Aaron notou isso, e olhou com reprovação para Ulrich. O garoto é muito ousado, e tem certeza de que dificilmente vai conseguir colocá-lo na coleira. Ulrich é imprevisível, e as chances dele explodir com um companheiro como Nail é grande.

 

— Então, — De repente, Nail abriu a boca após longos minutos de silêncio. Se antes já era o holofote daqueles homens, agora com certeza tem a atenção de todos. — vamos invadir o quê?

 

É verdade, Nail Kafka chegou atrasado na reunião. Apesar de todos terem noção disso, um constrangedor silêncio se fez no interior daquele comboio. Ninguém disse nada, apenas ficaram trocando olhares que só aumentam o constrangimento.

 

Uma garota chama atenção entre todos aqueles homens em silêncio. Seu nome é Alissa Portnova, a vice capitã do décimo quinto esquadrão, atrás unicamente de Aaron Adamik, homem que entre-olhou de canto com os exuberantes olhos azuis, como se pedisse permissão para algo. Ela possui fios de cabelo loiros e emaranhados que escapam sutilmente da touca preta que usa; é altiva e tem um corpo forte, mesmo que não seja tão visível por baixo das grossas roupas militares. É uma garota exemplar, com um grande instinto de coordenação e a favorita de Aaron para herdar sua patente. Ao contrário dos outros, essa tem uma braçadeira com duas estrelas. 

 

— Não sabemos. — Ela foi direta, afirmando num tom neutro. O aval que pediu com um sútil olhar para Aaron foi respondido com o assentir de cabeça do capitão, e finalmente teve permissão para abrir a boca e dialogar com Nail. — Capturamos uma serviçal no meio da cidade. Ela estava por trás de alguns casos que a Inteligência investiga há meses. Nos disseram que existem mais deles aonde quer que ela "trabalhe", mas não contaram detalhes.

 

Com a afirmação de Alissa, Aaron deixou um suspiro escapar. Olhando por uma das frestas, pôde ver perfeitamente o comboio que carrega o esquadrão vizinho, liderado por Joseph Makarov. Como membro da Inteligência, talvez Joseph saiba de alguma coisa, mas omitiu informação para Aaron. A pergunta que fica é: por quê? Ambos estão na mesma posição hierárquica, a diferença é que o Makarov atua em duas áreas da APS. Em outras ocasiões talvez Aaron não se importasse, mas esta operação tem tantas possibilidades de dar errado que é impossível não se preocupar.

 

— Isso é estranho. Como não sabem de nada? A União Soviética tem os melhores espiões, é difícil de engolir que estejam omitindo dados justamente para quem lida com as ameaças cara a cara. — Nail Kafka afirmou, atraindo para si mais olhares tortos. Não está errado, na verdade, teve coragem para dizer o que todo mundo ali pensa. O problema de Nail é somente por ele ser o Nail. Vampiros não têm voz, e entre homens que matam seres como ele, o resultado é previsível.

 

Mais uma vez um silêncio constrangedor, que fez Nail reter os ombros e ficar cabisbaixo. 

 

Paralelo à Ulrich, um homem um pouco mais velho com fios de cabelo loiros amarrados num rabo de cavalo deixou um sutil sorriso escapar; os olhos negros dele se viraram para Ulrich, que pareceu compreender a piada mesmo sem uma única palavra escapar da boca do companheiro. Seu nome é Dmitri Patrushev, um soldado que estampa uma única estrela na braçadeira. Apesar de não ser tão extremista quanto Ulrich, é quem dá pilha para a maioria de suas atitudes duvidosas, e esta é mais uma delas.  

 

A piada interna entre os dois foi enviada somente com o olhar, e não tardou para ambos começarem a rir. Para eles, a existência de Nail por si só era uma piada: um vampiro entre caçadores. Claro que na visão deles ele não passa de um fardo, ou talvez uma arma para que possam usar. 

 

Alissa, sempre num tom sério, parece completamente neutra quanto a presença de Nail. Se os superiores o mandaram, não tem motivos para ficar remoendo a decisão. Não vai destratá-lo em nenhuma hipótese.

 

Aaron, por sua vez, tem pelo menos um pé para trás. Ele ficou cara a cara com uma das criaturas vampiricas mais temidas da atualidade, e por essa razão tem muito pelo que temer de um ambicioso projeto inumano dos soviéticos. Apesar disso, seu incômodo não passa de um desconforto, e ao contrário de Dmitri e Ulrich, não zomba de Nail.

 

O comboio finalmente parou, e as portas se abriram. Todo o esquadrão desceu em fila, e em paralelo, podem ver que o veículo que traz o esquadrão de Joseph fez o mesmo. Apesar disso, nem todos os automóveis pararam no extremo da cidade como eles; muitos veículos blindados seguiram vias paralelas, visando cobrir outros pontos cegos da cidade. 

 

E finalmente os preparativos estão prontos. Grandes holofotes foram erguidos em filas, prestes a serem ligados. São literalmente feitos para assassinar os vampiros, carregando consigo uma grande quantidade de luz armazenada do sol. Certamente uma tecnologia revolucionária, que usa energia limpa na era em que o combustível fóssil tá batendo recordes de poluição.

 

As armas foram entregues aos homens: grandes rifles, fuzis... armamentos de grosso calibre. A força dos vampiros variam, mas muito deles possuem resistência para sobreviver por minutos sem o coração. São seres sobrenaturais, cuja força pode ser de duas até dezenas de vezes mais poderosa que um homem normal. Para lidar com seres assim, armas de guerra devem ser usadas.

 

Nail se isolou num dos pontos, distante dos grandes holofotes erguidos. Ele olhou com certa relutância para a maleta que lhe foi entregue, e quando abriu, deu de cara com os acessórios que deve usar durante a operação, uma máscara para o rosto e duas lentes pretas para os olhos – similares a um óculos de sol. 

 

É um processo comum. Vampiros se deformam quando em adrenalina, e mesmo que Nail tenha alterações "leves", ainda precisa se submeter a esse tipo de tratamento.  

 

O bom é que, olhando para o lado, percebeu que não está sozinho. No sétimo esquadrão, o liderado por Joseph, uma mulher pequena e aparentemente frágil, com cabelos curtos e negros, usando a mesma máscara e lentes que foram entregues à Nail. Certamente a pobre coitada que carrega o fardo de participar desse experimento governamental. 

 

E por fim, a divisão está justa. Aaron, Joseph, Nail, Dmitri e dois homens até então desconhecidos do sétimo esquadrão ficaram como vigias, cuidando dos mantimentos e do possível reforço enquanto rondam as ruas com cuidado, camuflados na multidão. É um ponto sensível, com aglomeração de pessoas. A chance de sem querer alertarem o inimigo caso desfilassem com as armas pelas ruas é bem grande.  

 

— Alissa? — indagou Aaron, pressionando o botão do comunicador que carrega manualmente. Está sentado num banco, rodeado de pessoas e do lado de uma pesada maleta preta. Sua preocupação ascendeu quando a vice-capitã de seu esquadrão de repente parou de responder. O que diabos poderia ter acontecido? 

 

A resposta está algumas quadras de distância dali. Usando o anoitecer como método de camuflagem, o grupo escolhido para lidar com a missão é liderado por Alissa, que caminhando entre becos e vielas, subitamente parou e ficou em silêncio. 

 

A sempre tão decidida vice-capitã deixou suor escapar pela sua face, encarando a grande estrutura, o "local de trabalho" que a suposta serviçal diz abrigar mais seres como ela. É um orfanato, um abrigo para crianças.,

 

É, parece que não vai ser hoje que Aaron vai ter o sono tranquilo que tanto ansiou. A operação precisa continuar. 

 

 

 

 


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