Headle escrita por Fénix Fanfics


Capítulo 3
Você está com medo?


Notas iniciais do capítulo

Desfrutem ♥



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Estava ansiosa quando tocou a campainha. A casa de Heather era como um grande castelo, e Sara se sentia ainda menor, até mesmo diminuída em relação a tudo. O conflito de emoções e o modo que se sentia em relação a Lady Heather Kessler, não ajudavam em nada.

— Oi Sara. 

— Oi. – Respondeu séria e sem sorrisos.

Kessler a guiou pela casa até a sala. Sala que reconheceu quase que imediatamente. Alguns flashes de memória começaram a pipocar em sua mente, ela sobre a Heather, os beijos quentes, o suor, os corpos roçando um no outro, e, ainda que não quisesse admitir, o tesão. Ainda que tentasse apagar as imagens da cabeça, tentasse não pensar, era quase impossível. 

Heather sentou no sofá, e Sara preferiu a cadeira que ficava do lado oposto. A morena não sabia o que dizer, e ficou no aguardo que a ruiva tomasse a iniciativa. Naqueles poucos instantes de silêncio, no entanto, ela aproveitou para analisar melhor Heather, de um jeito diferente, que talvez nunca tivesse visto.

Os cabelos ruivos, caídos e lisos sobre os ombros, eram ondulados nas pontas na altura dos seios fartos. A maquiagem escura e forte que sempre levava, o corpo exalava sensualidade e luxúria. Os olhos verdes eram claros, mas o olhar em si era escuro, como um olhar forte e poderoso. O crucifixo sempre no pescoço e os dedos adornados com vários anéis. Ela era sem dúvida uma mulher bonita, sexy e poderosa, uma mulher que outras mulheres adorariam pela beleza e pela personalidade. E mesmo com todas as diferenças que sempre tiveram, ela sabia que Kessler era uma mulher de qualidades, o que incluía uma grande inteligência. No entanto, isso não queria dizer que ela se interessaria, ela amava a Grissom, seu ex-marido. E em tantos anos nunca tinha se interessado por outro homem, quem dirá uma mulher. A resposta para ela, era a mesma que pensava há dois dias, o vinho. Estava mais bêbada do que imaginava.

Ao mesmo tempo que Heather era analisada, ela também analisava Sara, mas não era um novo olhar, uma vez que ela já havia pensado em Sara em outra perspectiva. Os cabelos morenos curtos, os dentinhos da frente separados, o modo simples de se vestir. A expressão triste do fim do casamento, o modo contido. Tudo isso escondia uma mulher extremamente forte, que tentava se apagar. Uma mulher guerreira, com muita força, bonita, divertida, alegre, inteligente e cheia de poder. Fisicamente bela, mas com uma personalidade magnífica. As vezes Heather achava que Sara não via isso em si mesma, mas era a realidade. 

— Certo, o que você tem a me dizer?

— Como assim? Eu não tenho nada a falar. Você me chamou aqui na sua casa, me obrigou. Espero que tenha algo a dizer, se não, não me faça perder tempo. 

— Certo. – Ela sorriu, recostou-se no sofá. Ao contrário de Sara, Heather não sentia nenhum desconforto na situação. – Por que me beijou?

A expressão de Sara era atônita.

— Bom, talvez você não se lembre, ou finja que não. Você me beijou, subiu no meu colo e depois desistiu. E para ser sincera, faz muito… muito tempo, que ninguém fica sobre mim desse jeito sem autorização.

— Eu não sei o que aconteceu. Eu acho que estava bêbada.

Era uma grande mentira. Apesar de ela não se lembrar da noite como um todo, se havia algo que ela se lembrava bem era que havia tomado a iniciativa. E, claro, que não estava tão bêbada quando queria, agora, que Heather pensasse.

— Você está com medo?

— Não. 

— Sim, você está. Eu só não sei exatamente o motivo. – Sara se manteve calada. – É por que eu sou uma dominadora? – Ela aguardou para ver a expressão de Sara. – Não. – Ela chegou quase que imediatamente a essa conclusão. – É por que eu sou mulher. Bom… Se te conforta… É a primeira vez que beijo uma mulher também. 

— Nossa, essa conversa está cada vez mais estranha.

— Vamos Sara, estamos no século XXI. Relacionamentos homoafetivos não deveriam ser um tabu. 

— Relacionamentos? Agora está dizendo que aquele beijo significou alguma coisa. – Sara levantou-se ansiosa, dando passos de um lado para o outro, andando em círculos – Eu estava bêbada, carente talvez, então falamos do Gil, o homem que eu amo – ela enfatizou a palavra homem – e eu acabei confundindo as coisas, agindo por impulso. Mas não significa nada. 

— Se você está dizendo. – Ela deu os ombros. 

Não acreditava em uma única palavra que a perita dizia, e sabia que a própria perita também não. Ela tentava se enganar. Ela já havia visto isso em vários de seus pacientes, ainda sim, tentava não dar uma de terapeuta com ela, o que parecia quase impossível.

— No final das contas você só tem medo.

— Eu já disse que não tenho medo.

— Bom, vamos supor que estivesse com medo então. – Ela fitou Sara com certa ironia. – Teria medo por se relacionar com uma mulher, é algo novo. E coisas novas geralmente, mesmo nas pessoas mais seguras, mudanças tão fortes como essa, dão medo. Teria medo por eu ser uma dominatrix, até asco também, como já demonstrou algumas vezes, mas dominação não são apenas cenas, é parte de quem eu sou, ainda sim, outra coisa nova para você. E por fim, o maior medo de todos. O medo de admitir que gostou, de que o que tivemos lhe deu prazer, ou ainda pior, que te deixou excitada. 

Sara ficou quieta. Queria rebater ela, dizer que estava tudo errado, mas simplesmente não conseguia. Ainda em pé, de braços cruzados, tinha parado de caminhar e a olhava fixamente. Heather permanecia no sofá, bem recostada no encosto, sem o mínimo incômodo daquela conversa.

— Sabe Sara… – Ela disse por fim. – Eu sou uma pessoa pacienciosa, mas também, como acabei de dizer, sou uma dominadora. Então, ao mesmo tempo que sei que o que está passando é um processo, que você precisa passar por esse estágio de negação, eu também sei que não quero esperar, que não quero mais que dite as regras. Eu estou subindo para meu quarto agora, você pode me acompanhar, e se fizer, pode ter certeza que farei as coisas no seu tempo, e descobrirá um universo novo, mas se você decidir sair por aquela porta… – Heather olhou em direção a saída. – Só volte quando estiver pronta. Porque acredite, você vai voltar.

Heather se levantou do sofá. Por um momento esperou que Sara falasse algo, mas ela seguiu calada.

— Ah, Baby. – Heather tinha que lhe dizer uma última coisa antes de se retirar. – Quando você precisar, a sua palavra de segurança é "não". – Ela sorriu. – Você já sabe onde fica a saída, se optar por ela.

Por fim, a ruiva saiu. Deixando-a sozinha com seus pensamentos. Sara estava em pé ainda, processando tudo que Heather havia lhe dito, as opções que ela havia lhe dado. As palavras ecoavam na sua cabeça. 

"Eu estou subindo para meu quarto agora, você pode me acompanhar, e se fizer, pode ter certeza que farei as coisas no seu tempo, e descobrirá um universo novo, mas se você decidir sair por aquela porta… Só volte quando estiver pronta. Porque acredite, você vai voltar."

Ela sabia que tinha que sair dali naquele momento, e nunca mais voltar. No entanto, porque tinha algo que a prendia naquele lugar? Porque uma parte de si queria ficar? Ela precisava resolver esse conflito. Urgente. 

Apesar de não surpreender a ruiva, ela ficou desapontada quando percebeu que Sara, ainda não estava pronta, e que apesar de todo aquele conflito interno, por hora — ou definitivamente — havia decidido ir embora.


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