Race in Heels - Corrida em saltos escrita por badgalkel


Capítulo 24
Vingt-trois




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Setembro na Holanda trazia a temporada de pré inverno. Ainda não era consumado o inverno por completo, com os ventos assombrosamente gelados e temperaturas negativas, mas o precedente clima preparava os seus residentes para o que estava por vir.

Nos termômetros nas ruas indicavam 5 graus e já podiam ver pessoas bem agasalhadas, usando galochas para manter os pés quentes, toucas na cabeça e, até mesmo, luvas para resguardar os seus dedos.

Durante o caminho percorrido por Charlie, Carlos e Orlando no táxi eles viram nas ruas as pessoas confortáveis e aquecidas em suas vestimentas enquanto eles tremiam de frio devido á falta de trajes equipados para o clima em virtude à aflita e apressada saído do hotel.

Chegando ao clube noturno eles agradeceram aos céus por evitar enfrentar a fila gigantesca na entrada, privilégios de suas posições sociais, e assim que adentraram o ambiente repleto de luzes coloridas que refletiam em diversas direções suspiraram aliviados pelo calor transmitido pelos corpos dançantes, por mais que consigo trouxesse aquele odor de suor e umidade ao seu redor.

Com um próximo ao outro, os três percorreram a lateral da boate começando a procurar pelo bar lotado. Eram diversos corpos se esfregando conforme o ritmo da musica atrapalhando a sua movimentação.

Jatos de fumaça eram disparados e buzinas estridentes soadas ao intervalo de cada melodia. Aquilo era uma repleta confusão e perturbação à indivíduos mais sensíveis.

Charlie pisca algumas vezes para focar a visão e pensa ver uma mulher parecida com a ex-namorada na mesa do DJ, ao alto, em frente à um telão colorido dançando como se não houvesse amanhã.

Ele coça os olhos e olha em sua direção novamente, vendo com clareza o rosto de Liza com um sorriso radiante jogar os cabelos para trás com as mãos, tirando-os do rosto suado enquanto se movimentava alegremente.

— Ali! – Charlie diz aos amigos, apontando para o final do salão.

Merda!— Orlando xinga ao identifica-la e eles tentar caminhar o mais rápido possível.

Depois de passar pelos seguranças, que conferem as suas pulseiras, eles chegam à cabine e ficam boquiabertos com a cena, que seria hilária se não fosse trágica.

Lizzie estava em pé na mesa do DJ dançando em movimentos descontraídos, pouco cambaleante devido à embriaguez, e estava próxima ao beiral sem barreiras de segurança, que a levaria à uma queda livre de uns bons 2 metros até a pista principal de dança.

Max Manen tentava convencê-la a descer, porém igualmente embriagado, ria da tentativa dos seguranças em puxá-la para de volta à cabine enquanto o DJ parecia desesperado com o fato.

— Lizzie! - Orlando esbraveja caminhando rapidamente até a direção da pilota, que tem a atenção atraída pela voz do parceiro.

No momento em que ela para de se movimentar os seguranças a pega pelas pernas e a colocam de volta no chão em frente ao britânico com agilidade. Carlos e Charlie assistem a cena pouco afastados, estupendos pelo estado da jovem.

— Orlando! – ela comemora abraçando-o empolgada. – O que você está fazendo agui?

Sua voz embolada e o teor de álcool que saía de sua boa denunciavam os bons goles que ela havia ingerido.

— Você me ligou. – o rapaz diz em tom alto, devido a musica estrondosa.

— Liguei? – ela questiona olhando-o com a testa franzida, mas logo alivia a expressão. – Verdade, liguei! – Liza ri com humor – É que é a oportunidade perfeita para te ensinar a beber outra coisa além de leite. Max... – ela procura pelo holandês ao seu redor e ao encontra-lo ela diz. – Olha só, é o Lando. Ele adora leite, sabia? Parece um neném. Ah — ela suspira, como se tivesse acabado de ter uma ideia brilhante – Podemos te arrumar uma namorada hoje. Você precisa desencalhar.

Max gargalha bem humorado.

Orlando olha de um ao outro com estranheza.

— O que está acontecendo aqui? – o britânico pergunta. – Você e o Max de repente viraram amiguinhos?

— Eu sei o que parece. – ela diz apoiada no ombro do parceiro, mal aguentando se equilibrar sozinha – Mas nós não nos tornamos abigos. – diz desconcertada.

Ei!— Max solta ofendido.

— Ainda! – ela atenua na direção do holandês. – Não apresse as coisas, bonitão. Amizades não se constroem da noite para o dia. – Quando volta a mirar Orlando, explica – Eu só estou tendo um dia desgraçado, Max também. Então viemos agui— ela soluça – encher a cara.

Pouco o rapaz entendia, seja pela palavras atropeladas da parceira ou pela razão de todos estarem ali.

 - Eu adoro essa música! – Liza diz sorridente e puxa Max pelo braço, fazendo-o cambalear antes de fazer uma dança engraçada com as mãos. O copo na mão do holandês quase cai e eles riem pelo líquido que é derramado em suas roupas, pouco se importando com o próprio estado. Naquela altura, sequer deviam se lembrar dos próprios princípios.

— Liza. – Orlando a toca pelo braço, seu movimento é delicado, mas pela falta de equilíbrio ela quase cai em cima do rapaz, agarrando em seus ombros para se manter em pé. – Como assim, o que aconteceu para você ficar ruim desse jeito? Quanto você bebeu?

— Um montão dos álcool. – ela diz rindo.

Orlando não se controla e acaba rindo junto, a cena definitivamente era engraçada.

Charlie e Carlos finalmente se aproximam, ao perceberem a dificuldade do britânico. Quando Liza percebe a aproximação, precisa espremer os olhos para focar a visão e enxergar.

— Você trouxe o Carlos! – ela comemora, as mãos ao alto. – Carlota, estávamos bebendo sangria até agora pougo. Não é como a da Espanha, mas você vai adorar.

Carlos ri fraco.

— Num outro dia, talvez Lizzie.

Liza sorri e corre os olhos lentos até a terceira pessoa.

Quando identifica Charlie seu sorriso varia de feliz para tristonho em instantes. Todos os muros que ela tinha construído ao redor de si e que já estavam vacilantes terminam de desmoronar por completo quando ela vê aqueles olhos.

O silêncio entre o grupo se torna constrangedor.

— Eu não devia ter vindo. – o monegasco diz e se vira para sair do lugar.

— Não! – Liza esbraveja e dá alguns passos na direção do rapaz, que precisa segurá-la pela cintura para que ela não caísse. – Me desculpe. – ela diz ao notar que pisara no pé do rapaz.

 - Você está bem? – ele questiona preocupado.

— Sim... – ela sorri sem humor, mas logo em seguida solta o ar pesadamente – Ah, a quem quero enganar, você sabe que não. – ela admite sem filtro algum. – E não é porque você está agui, na verdade é bom que esteja agui. É muito bom. – ela sorri – Eu só...

Os olhos de Liza marejam, ela tinha perdido completamente o controle emocional. Ele por sua vez engole em seco. Lizzie chorando era seu maior ponto fraco.

— Eu queria você por perto. Gomigo. Mas não posso. – ela confessa aos murmúrios, que por pouco o monegasco não escuta devido a altura da música. – E você disse que não queria nem ser meu abigo. Me chamou de mentirosa... – ela suspira, tomando fôlego – Eu não menti, não.

O rapaz havia se arrependido daqueles dizeres instantes depois de tê-los pronunciado, agora então desejava com todas as forças bater em si mesmo.

— Eu não quis dizer aquilo, mesmo. – ele diz sincero. – Falo merda de cabeça quente, você sabe. Me perdoa.

Ela respira fundo e assente vagarosamente.

— Queria te ligar hoje, – ela desabafa – Max quase me convenceu, mas fui uma covarde e desliguei no terceiro togue. – Liza soluça – Não achei que fosse apropriado porque eu já estava muito bêbada...é que – ela suspira sofrida – Hoje está sendo difícil.

O monegasco confere o estado deplorável da amada e sente uma pontada acertá-lo no estomago. Quantas e quantas vezes ele havia se perguntado se ela estaria tão miserável quanto ele, assumia que até chegara a desejar isso. Mas vê-la daquele jeito partia o pouco daquilo que ainda restava em seu peito.

— Por isso que veio beber. – ele afirma.

Ela assente.

— O que me lembra que preciso de outra bebida. – ela comenta de súbito, chacoalhando a cabeça e olha na direção do bar.

O rapaz se surpreende com a repentina transição de um assunto sério à outro, mas ainda assim, sugere: - Acho que já é o suficiente por hoje, não é?!

Ela nega veemente.

— Quero uma Pina colada. Por favooor. – ela sorri em súplica e Charlie suspira. – Eu preciso.

— Tudo bem, fique aqui que eu pego para você. – ele diz e a entrega à Carlos, que a sustenta com a mão em suas costas.

— Ele é um amor. – Liza diz quando o monegasco dá as costas. Ela segue o trajeto do rapaz com os olhos – Sinto tanta a falta dele. – admite em um tom tristonho.

Orlando franze a testa e olha de Carlos à Max.

— O que eu perdi?

— Hoje faz um ano que eles se conheceram. – o holandês diz com naturalidade e dá uma bicada no resto de bebida que sobrara em seu copo. Orlando e Carlos o encaram atônitos.

— E como é que você sabe disso? – Orlando questiona.

— Lizzie me contou. – ele dá de ombros. – E mais um monte de coisa, não sei como vocês aguentam. Por Deus, como essa garota fala.

Carlos e Orlando ainda estão perplexos quando Charlie volta com a bebida, pedida secretamente para ser feita sem álcool. O monegasco dá uma bicada no canudo e faz uma careta, como se estivesse forte, e entrega à Lizzie que sorri encantada.

— Obrigada. – ela agradece e começa a beber feliz.

— Vamos embora, sim? – Charlie a questiona cuidadosamente.

Droga! – ela deixa os ombros caírem – Deve ter um monte daqueles abutres lá fora. E agora você está agui e vão nos fotografar juntos de novo... John vai ferrar ainda mais com a minha vida.

Charlie franze o cenho confuso e olha aos demais, pedindo silenciosamente por explicações. Orlando e Carlos dão de ombros, também perdidos. Max, que havia ido há algum lugar e retornara com mais um copo de bebida na mão, tem a expressão neutra completamente alheio à conversa.

— Quem é John, Lizzie? – Charlie indaga.

— O maldito presidente. – ela resmunga, os olhos se fechando involuntariamente – Aquele gara têm me feito de... – e a frase é interrompida pelo jato de vômito que sai pela boca da brasileira.

Ah, não!

— Merda, Lizzie! – Orlando esbraveja com uma careta desgostosa, mas a pilota continua a colocar tudo para fora em cima dos tênis novos do parceiro.

Charlie e Carlos a amparam pelos ombros.

Aquele definitivamente não tinha sido o jeito que eles planejaram finalizar a noite.

(...)

O relógio corria e eles tinham que agir o mais rápido e minuciosamente possível, carreiras dependiam daquilo.

Não era incomum que pilotos saíssem para se divertir na noite no final de semana das corridas, mas as comemorações eram feitas depois da corrida e não na noite antecedente à ela.

Antes de cada prova a FIA realizava exames específicos em pilotos aleatórios, incluindo bafômetro e antidoping para ter absoluta certeza que nada iria interferir na direção segura para a prova. Então eles tinham menos de onze horas para fazer com que as consequências daquela noite desaparecessem.

Depois de o trio conseguir convencer os bêbados que era hora de ir para a casa, pedido ao proprietário da boate que os providenciasse uma saída discreta pelos fundos, os cinco estavam dentro do carro com os tênis de Orlando cheirando à comida azeda, Max reclamando sobre a velocidade que Carlos conduzia e Lizzie desmaiada no ombro de Charlie.

— Não podemos ir para o hotel. – o monegasco fala. – Lá é o lugar com mais fotógrafos. Eles não podem chegar assim lá.

— E para onde iríamos? – Orlando questiona.

— Tenho um apartamento à algumas quadras daqui, era do meu pai. – Max diz com a voz amena - Podemos continuar a festa por lá.

Charlie revira os olhos, sem paciência, e diz á Carlos: - Ao apartamento do Max, então.

Quando eles chegam ao conjunto de prédios luxuosos e de grande requinte, Charlie precisa acordar a jovem delicadamente para auxiliá-lo na caminhada até os elevadores, seu peso triplicava quando estava apagada.

 Liza acorda meio desnorteada, mas segue os seus comandos. Com um braço no ombro de Charlie e o outro no de Orlando eles seguem pelo saguão, elevador e corredores até a porta que Max identifica como a sua.

O holandês se abaixa cambaleante até o tapete em frente à porta e procura por algo debaixo dele. Liza estica uma de suas pernas, ainda apoiada, e empurra o traseiro do rapaz lentamente, fazendo com que ele desequilibrasse e batesse o rosto contra a porta.

Max reclama e ela ri.

— Admitam, todos queriam fazer isso. – ela diz enquanto ele se levantava e tentava acertar o buraco no trinco da porta com a chave que resgatara.

Carlos toma a chave da mão do rapaz e abre a porta sem dificuldades.

— Sejam bem vindos e tal... – Mas balança a mão com descaso – Deve ter comida na geladeira, bebida no armário e uma TV de noventa polegadas para jogarmos videogame. – ele indica a tela gigantesca no meio da sala bem mobiliada.

Eles estavam na cobertura do prédio e as janelas gigantescas de vidro permitia que eles vissem toda a cidade iluminada abaixo deles. O apartamento de Max era de uma organização palpável, tudo metricamente colocado em seu devido lugar. As paredes internas eram decoradas com os capacetes do piloto, assim como troféus expostos em prateleiras de vidro. Não haviam fotos, mas um único pôster que tomava uma parede inteira de seu próprio pai. O grande piloto Vandemanen-pai.

Liza parece readquirir as suas energias automaticamente ao ver a TV ser ligada e as cores saltarem da tela.

— Quais jogos você tem? – ela pergunta soltando-se dos rapazes e caminhando na direção do holandês com os olhos brilhando.

— Nada de jogos, você vai é tomar um banho. – Orlando diz e olha para os próprios pés – Talvez eu precise mais do que você.

Liza ri envergonhada.

— Max, você também deveria tomar um banho, Carlos vai preparar alguma coisa para vocês comerem e depois devem ir direto para a cama. Quero que vocês dois bebam muita água. – Charlie diz firme, e olha em seu relógio de pulso – Já é meia-noite e vinte e em poucas horas nós temos uma corrida importante para estar. Todos nós. E o álcool tem que sair do corpo de vocês antes disso.

Max suspira desapontado, mas assente, desliga a televisão e se direciona até o corredor que levava aos quartos.

— Estes são os quartos de hospedes. – ele diz apontando para as duas portas consecutivas ao lado direito. – Tem toalha nos armários e sabonete nas gavetas do banheiro. Fiquem á vontade.

O grupo se espalha pelo apartamento.

Enquanto Charlie aguardava ao lado de fora do quarto Liza terminar o seu banho, Orlando passa por ele secando os cabelos com uma toalha.

— Noward. – o monegasco chama sua atenção, e ele se aproxima. – Você ouviu o que a Liza disse sobre o presidente John?

— Como esquecer os minutos antes de eu levar um jato quente nos pés? – o rapaz diz sarcástico – Claro que eu lembro.

— Eu nem sabia que ela o conhecia, e, se eles se conhecem, porque ele estaria ferrando com ela, como ela disse? – Charlie questiona ao piloto, que se põe à pensar.

Depois de alguns instantes, Orlando arqueia as sobrancelhas com os olhos arregalados.

— E se ele souber de vocês? – o britânico sugere.

Charlie suspira, é claro.

— Por isso ela terminou. – ele deduz e Orlando assente. – Ela disse sobre sermos fotografados juntos de novo, talvez alguma coisa deve ter escapado na mídia e ele soube. – o monegasco põe a mão sobre a boca, chocado – Ele deve tê-la procurado. Meu Deus.

— Dizem que ele é um chantageador e faz um monte de trapaças para comandar os campeonatos. – Orlando declara – Eu morro de medo dele. Lembra daquele acidente do Marcus em 2018?

Charlie assente, claro que se recordava. Marcus Erik era o seu parceiro na Alfromeo e aquele ano era a sua temporada de estreia. Ele se lembrava de como havia ficado assustado com o seu primeiro acidente ao vivo. Se recordava de como as pessoas falavam que o parceiro teve sorte ao sair de um acidente de tamanha proporção sem uma lesão sequer.

— Carlos disse que não foi acidente. – Orlando revela – Há rumores de que John frauda alguns motores e chantageia pilotos para fazerem o que ele quer. Dizem até que o Rodríguez era o capacho dele, e por isso ele tirou um ano sabático, para desviar dos rumores.

Caralho.— Charlie sopra incrédulo.

 - Mas... – Orlando engole em seco – tudo isso não passam de rumores, né?! – o rapaz tenta afirmar, mas o tom sai duvidoso – Isso são mais lendas da Fórmula 1, que realidade, certo?!

— Espero que sim. – Charlie diz com os olhos perdidos em um ponto qualquer da parede e respira fundo, voltando-se a porta do quarto de Lizzie. – Ela está demorando demais lá.

— É melhor você ir dar uma olhada, ela pode estar vomitando de novo. – Dito isso Orlando continua seu caminho e Charlie entra no quarto com cuidado, batendo levemente na porta.

— Lizzie? – ele a chama, mas o quarto está vazio.

Ele continua, seguindo a luz que vinha do banheiro e escuta alguns gemidos de dor atrás da porta.

— Lizzie, você está bem? – ele fala contra a porta e ouve mais gemidos em resposta.

Charlie tenta abrir a maçaneta, mas está trancada.

— Lizzie, você precisa destrancar a porta para eu te ajudar.

— Eu... Eu estou bem. – ela diz com a voz rouca. – Saio em um minuto.

O monegasco escuta a descarga do vaso ser acionada, depois de alguns instantes a água da pia é ligada e o som da escova passando pelos dentes da pilota soa. Ele aguarda até que ela termine de escovar os dentes e então ela abre a porta.

Liza está apenas envolta pela toalha branca, com os cabelos molhados caídos pelos ombros e costas, pele úmida e um semblante adoentado na face.

— Você está bem? – ele questiona pegando-a pela mão e a levando até a cama.

— Nunca mais eu vou beber. – ela resmunga e novamente a ânsia soa pela sua garganta. Ela tapa a boca com a mão livre e espera a vontade passar. – Não aguento mais vomitar. Não tem mais nada no meu estomago para sair.

Charlie a conduz até a cama e a senta no colchão, em seguida vai até os armários e procura por uma camisa qualquer, encontrando uma azul escura com símbolo da Rang Blue estampada em sua frente.

Ele volta à Liza e ela estica os braços para o alto, para que ele a vestisse. Quando a camisa já está no seu corpo, cobrindo até o meio de suas coxas, ela se livra da toalha e se deita sob os lençóis pretos.

— Você não quer comer alguma coisa? – Charlie pergunta – Ao menos precisa continuar bebendo a sua água. – ele indica a garrafa em cima da cômoda de cabeceira.

— Não conseguiria nem se quisesse. – ela diz se encolhendo e se acomodando por debaixo do edredom. Sua cabeça girava e o estômago doía pelo esforço.

Charlie assente, estica o edredom até cobri-la por inteiro e visto que ela já havia fechado os olhos ele segue até o interruptor para apagar a luz.

— Charlie? – ela o chama em meio à escuridão.

— Sim?

— Obrigada. – ela sopra.

— Não foi nada. – ele sorri fraco e caminha na direção da porta. – Boa noite.

Quando está para fechá-la por completo, por meio de uma fresta aberta ele consegue ouvi-la dizer baixinho: - Eu te amo, espero que não tenha se esquecido disso.

(...)

Antes mesmo de Eliza abrir os olhos a dor de cabeça a acerta em cheio, deixando-a desconcertada imediatamente. Ela grunhe de dor e leva a mão à cabeça dormente.

A jovem massageia suas têmporas por um tempo antes de abrir os olhos cuidadosamente.

O ambiente não está totalmente claro, alguns raios de claridade transcendiam das cortinas cor de pêssego e pouco iluminava o quarto completamente desconhecido.

Sua cabeça gira quando ela se senta na cama macia e Liza volta a massagear as suas têmporas de olhos fechados. Que enxaqueca do inferno.

Aos poucos a tontura vai passando e ela se permite abrir os olhos novamente.

Imediatamente ele nota Orlando deitado desconfortavelmente em uma poltrona ao lado da cama e com um balde de ferro em seu colo.

Droga.

Algumas imagens da noite passada a atingem com força, no entanto todas estavam embaralhadas e desconexas.

Ela tenta recapitular a noite, parte por parte.

Lembrava-se ter ido à boate com Max e de aproveitar a promoção de shot duplo de tequila pelo preço de um que se encerrava à meia-noite, no entanto eles ficaram bêbados muito antes disso. Ela sente seu estômago regurgitar com a lembrança dela virando os primeiros dez shots da bebida já que os demais apareciam apenas em borrões.

Liza se recordava de ter dançado, de ter conversado e ter sido convidada para ir até a cabine do DJ. Depois disso ela se lembra de vultos de Orlando, Carlos e... Seria possível, Charlie?!

Puta merda, ela pensa.

Ela se descobre do edredom e joga as pernas para fora da cama, no mesmo instante Orlando pula da poltrona assustado e segura o balde em sua direção.

— Está passando mal de novo? – ele questiona os bocejos, os olhos cansados e sonolentos.

— Não. – ela nega – Eu acho.

— Que bom, muito bom. – ele sopra e volta a se acomodar na poltrona, com o balde no colo, e fecha os olhos. Em poucos instantes está dormindo.

Liza olha para a cômoda de cabeceira e constata o horário no relógio, 7 A.M.

Ela respira fundo e se levanta, caminhando na direção do parceiro, e percebe estar vestida com uma camiseta que obviamente não era sua. Rang Blue Racing?! Que merda era aquela?!

Ignorando os seus pensamentos que traçava um mar de possibilidades, ela chama Orlando cuidadosamente para leva-lo até a cama. O rapaz, com a exaustão expressa no rosto, obedece aos seus comandos sem reclamar. Ele a entrega o balde vazio e se deita onde ela estava há alguns minutos.

Enquanto observava Orlando carinhosamente, sentindo-se grata por ele ter cuidado de seu porre, a porta do banheiro do quarto se abre e revela Charlie Lacroix vestindo apenas um calção e secando os cabelos úmidos com a toalha. Claramente ele havia acabado de sair do banho.

Ela se desconcerta imediatamente. Não esperava encontra-lo tão cedo, apesar das vagas lembranças da sua presença na noite passada.

— Você acordou. – ele nota, com um sorriso fraco e olhos cansados.

— E você parece não ter dormido. – ela comenta.

— Acho que dormi coisa de uma hora. – ele dá de ombros – Vinte minutos depois que você se deitou reclamou de fome e o nosso erro foi achar que precisava colocar alguma coisa sustentável no seu estômago. Logo eu vi que não foi uma boa ideia, você passou mal a noite toda.

— Eu vomitei em você? – ela questiona alarmada, notando as roupas jogadas no chão do quarto.

— Não se preocupe, eu não guardo rancor. – ele diz e joga a toalha sobre a cômoda do quarto. – Já o Lando... – Charlie ri – digamos que você vai ter que fazer alguns favores para se redimir com ele.

Ela volta a mirar o parceiro respirar pesadamente no sono profundo.

— Coitado. – ela sopra envergonhada – Vocês estão exaustos, não precisavam ter feito isso.

— Eu disse para ele ir dormir que eu dava conta sozinho. – Charlie dá de ombros. – Mas ele estava preocupado. Eu também. Nunca tinha visto você passar tão mal com bebida.

Ela suspira frustrada e olha em sua direção.

— Obrigada.

Ele abana a mão ao dizer: - Não foi nada.

Liza sorri atenciosa e olha ao seu redor.

— Onde estamos?

— Na casa do seu mais novo amigo, Max. – Charlie zomba e ela ri fraco.

— Isso explica a camiseta. – ela diz olhando para o próprio corpo.

— Então é verdade, - ele fala procurando por outra camiseta nos armários – vocês agora são amigos? – Charlie ri – O que ele teve que fazer, vender a alma dele para o diabo?

Liza gargalha.

— Quase isso. – ela diz brincalhona, para em seguida confessar: - Acho que vale a pena dar uma chance para ele. – dá de ombros – Nós começamos com o pé esquerdo, dois esquentadinhos... Podemos ter uma convivência agradável se nos esforçarmos para isso e colocarmos as diferenças de lado.

O monegasco assente e retorna ao quarto, já vestido com uma camisa preta gola V.

— Então todo o resto que você disse ontem a noite também é verdade? – ele indaga mais sério.

Liza engole em seco.

— O que mais eu disse? – ela questiona, já apreensiva.

Deus, ela perdia o filtro e senso quando ficava bêbada.

— Que John Toddy está te chantageando.

Seu estômago gela e ela sente um suor escorrer metaforicamente pela sua testa. Sua pressão caí e Liza sente suas pernas fraquejarem.

A jovem não se recordava de ter feito tal revelação – não se recordava de uma boa parte da noite também – portanto não sabia até que ponto tinha contado ao rapaz. O medo foi subindo em um arrepio pela sua espinha e ela já via tudo estar perdido.

No entanto, com uma súbita calma e racionalidade, ela respira fundo – tenta recuperar a pose – e questiona, fazendo-se de desentendida: - O que? – ela ri fraco – Eu disse isso? Que ridículo.

Charlie sorri convencido, ele sabia o que ela estava tentando fazer.

— Não exatamente nestas palavras, mas a sua reação diz que foi exatamente o que aconteceu.

Liza solta o ar frustrada, completamente desarmada: - Merda, Charlie!

Estava vulnerável e sem máscaras. Como queria não ser tão transparente, principalmente na frente dele.

Oh Meu Deus, isso realmente está acontecendo! – Charlie exaspera, incrédulo. – Puta que o pariu, Lizzie!

— Fala baixo. – ela diz se aproximando dele com os olhos em Orlando, que continuava a dormir um sono pesado. Ela indica a porta e eles saem para o corredor vazio.

Quando ela fecha a porta vagarosamente para que não fizesse barulho, vira-se para ele.

— Eu sabia que alguma coisa nessa história não se encaixava. – ele diz com sua mente agora iluminada. – Eu estive me martirizando todo esse tempo sobre nós dois, o que eu possa ter feito de errado e criticando suas atitudes... Por que não me disse nada?

— Porque eu não podia e sinto muito por isso! – ela impetuosa. – Sinto muito, sério. Te ver desolado... – ela engole em seco – acabou comigo. Mas eu não podia fazer nada e ainda continuo não podendo! – Liza passa as mãos pelo rosto e suspira pesadamente para choramingar para si mesma – Merda, ele já deve estar sabendo sobre ontem.

— O que? – Charlie questiona. – O que ele está fazendo com você, o que é que está acontecendo?

— Fiz um pacto com o próprio diabo em pessoa. – ela se vira para ele – Então o quanto menos você souber, melhor.

 – Isso é um absurdo. – ele passa a mão no rosto, inquieto – Só para nos manter em um campeonato? – seu semblante era abismado – Se eu soubesse que estava se submetendo à algum abuso de poder desses teria saído de livre e espontânea vontade dessa sujeira.

— Queria que fosse tão fácil. – ela ri sem humor e olha fundo em seus olhos – Charlie, você não tem ideia do que aquele homem é capaz. Não é só sobre uma suspensão na temporada. É bem mais grave que isso.

Liza se abraça e seu corpo fica trêmula inconscientemente.

O rapaz a observa atentamente.

— Você está com medo. – ele sopra, concluindo.

— Eu estou apavorada! – ela corrige, seus olhos marejados. – Morro de medo de que ele vire a casaca e decida te machucar só para me punir. Ele sabe que você é meu ponto fraco, droga, e eu só quero te proteger.

Charlie engole em seco.

Por Deus, Lizzie. – ele se aproxima dela, tomando seu corpo em seus braços.

— Eu descobri coisas horríveis sobre ele e o que ele fez. – ela diz com a voz rouca – Ele... É um monstro.

Charlie a aperta contra seu corpo e ela passa os braços pelos ombros dele, envolvendo o pescoço delicadamente e com calma aproveitando-se naquele momento do toque na pele conhecida e a flagrância masculina que emanava do seu ser.

O monegasco afunda o rosto por entre seus cabelos e o cheiro de shampoo preenche suas narinas enquanto ela passa os dedos por entre os cabelos macios da nuca dele. Como haviam sentido falta daquele contato, daquele abraço.

— Me desculpe. – ele enuncia sentido. – Disse coisas horríveis à você quando você só estava...

— Você não tinha como saber. – ela o interrompe com a voz amena.

Ele se afasta minimamente e prende o rosto dela entre suas mãos para olhar em seus olhos avelã, que naquela manhã estavam mais claros.

— Me deixe te ajudar. – ele sopra.

Liza automaticamente se retrai, saindo de seu aperto e seus braços, afastando-se instintivamente.

— Você não pode. – ela diz num murmúrio.

— Isso não pode continuar assim! – Charlie declara.

Eliza balança a cabeça negativamente, os olhos vidrados nas reações do monegasco.

— Não. – ela diz firme. – Você tem que me prometer que não vai fazer nada.

— Mas Lizzie...

— Tem que me prometer! – ela exaspera.

Ele umedece os lábios vagarosamente, as mãos vão à cabeça.

— Você está se colocando em perigo e eu não vou aceitar isso.

— Eu não me importo! – ela grita, mas respira fundo para se recompor – Você não está entendendo o grau de seriedade aqui.

De repente duas portas do corredor se abrem e um sonolento Carlos e um confuso Max surgem com os rostos amassados pelo sono pesado do qual haviam sido despertados.

— Está tudo bem, pessoal? – Carlos pergunta, o semblante preocupado ao constatar o casal de frente um para o outro com rostos transcendendo emoções.

— Não sei. – Liza dá de ombros e se vira à Charlie – Está, Charl?

O rapaz passa a mão pelos cabelos e suspira pesadamente.

— Não. – ele responde com os ombros caídos – Mas que outra opção eu tenho além de deixar isso nas suas mãos?


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Notas finais do capítulo

E chegamos na tão aguardada RETA FINAAAAAAL!!!

Este é o antepenúltimo capítulo de Race in Heels (e falo isso com dor no coração, porque foram meses trabalhando arduamente neste projeto e não vou superar simplesmente parar de escrevê-la porque acabou.)

Então vamos de roteiro do que acontecerá nas próximas semanas:

— Dia 25/04 (DOMINGO) Estarei postando o capítulo de número 24, e adianto que é um dos mais emocionantes para mim (como autora). no spoilers.

— Dia 01/05 (SABADO) Estarei postando o capítulo final.

— Dia 02/05 (DOMINGO DE GP EM PORTUGAL o/o/o/) Estarei postando o epílogo + novidades.

Vejo vocês na próxima semana, Beijos de luz.

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