Race in Heels - Corrida em saltos escrita por badgalkel


Capítulo 25
Vingt-quatre




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3 de outubro

Circuito de Maria Bay – Singapura

 

Quando chega o mês de outubro de todo ano os residentes da espetacular cidade situada no sul da Malásia já estão a ansiar por um evento em específico, aquele que além de causar mais visibilidade ao local trás diversos turistas de inúmeros lugares, provocando um aumento na economia do país. Todos são imerso em um clima completamente arrojado e perigosamente sedutor.

O Grande Prêmio de Fórmula 1 é um espetáculo de circuito de rua de cinco quilômetros completamente excitante, desafiador e técnico. São 23 curvas em uma volta, mais do que qualquer corrida no calendário, 1.771 projetores de luz que garantiam que os pilotos enxergassem onde estão indo à noite e pelo lugar ficar na Linha do Equador é muito quente e úmida – cerca de oitenta e cinco por cento ou mais.

No cockpit dos pilotos fazia até 60 graus durante a corrida e era uma das mais longas, por volta de duas horas no mesmo trajeto. O que exigia muito da equipe toda e afetava especialmente os pilotos. Fisicamente era a mais desgastante do ano e eles tinham que estar em sua melhor forma para aquele evento especial, e trabalhavam o ano inteiro para isto.

Enquanto tomava o seu banho de gelo após o segundo treino, Liza ainda está maravilhada com todas aquelas técnicas passadas pela equipe na reunião, muito diferente das que eram traçadas quando correu pela Fórmula 2 naquele mesmo lugar.

Por um segundo ela quase se esquece da sua situação e que teria que agir de maneira oposta à maioria das instruções de seu engenheiro e técnicos, mais uma vez coordenada à eliminar um de seus colegas da pista.

Aquela situação já estava desgastante, exaustiva. Principalmente agora que Charlie sabia.

Ela agora tinha que refletir sobre mais possíveis soluções para o seu caso, além das que já havia considerado anteriormente, porque conhecendo o monegasco como ela conhecia sabia que ele não suportaria muito tempo calado sem intrometer-se a modo de ajuda-la. E o que ela mais receava era ele se colocar em perigo por uma consequência causada pela impaciência. Não poderia permitir isso.

Enquanto se encaminhava ao ponto de encontro no deque privado do Marina Bay Sands, o prédio mais alto e luxuoso da cidade-estado, ela está pensativa e calculista.

O prédio de arquitetura impressionante era um completo de cassinos, hotéis, shopping e restaurantes, geralmente frequentado por turistas, empresários, funcionários, comerciantes, magnatas ou, como aquela noite, por criminosos corruptos como John Toddy.

Ela mal se senta na mesa em frente à parede de vidro, com vista à marina repleta de barcos luxuosos e iluminados abaixo de si, e o envelope amarelo é passado à ela.

Liza respira fundo e pega o pacote, abrindo-o sem cerimônias. No entanto, quando puxa a foto do seu alvo daquele final de semana, seu peito congela e o estômago revira dentro do corpo.

— Você não acha que já fodeu a McDraguen demais? – ela questiona com a boca amarga.

— Dessa vez não é somente por apostas. – John revela – Um investidor de altíssimo consagro dobrou o valor do patrocínio para que a sua escuderia caísse nas classificações porque mesmo com as suas saídas, vocês estão em quarto lugar. O que é bem impressionante, na verdade.

John não havia tido exageradas reações ao deslize de Eliza na balada com os demais colegas pilotos.

Pelo menos até aquele momento.

Ela sabia que a discrição era um dos pontos chaves para a postura de um piloto e ter vídeos de um deles completamente bêbado em uma balada, dançando de forma desengonçada e sendo o centro das atenções uma noite antecedente à uma corrida fugia completamente disto.

Apesar de terem completado a corrida perfeitamente e não houver cogitações sobre a direção dos envolvidos, Liza desconfiava que não houvesse investidor algum e que na realidade este fosse o troco pelo episódio e, principalmente, por ter sido vista com Charlie na saída do apartamento de Max.

Tinha sido apenas uma rápida e singela aparição, nada muito incriminador, até porque os rapazes haviam tomado todo cuidado possível para que não acontecesse. Depois daquele dia ela e Charlie não haviam voltado a se falar ou sequer se aproximar, mas Liza tinha certeza que chegara ao conhecimento do homem.

— Eu não vou tirar o Lando da corrida. – ela diz firme, jogando o envelope na mesa e derrubando uma taça de água. O líquido escorre ao chão. – Me recuso. Encontre outro ceifador para fazer o seu trabalho imundo. – dito isso ela se levanta, recolhe a sua bolsa e dá dois passos para longe da mesa.

Contudo, antes que tivesse a chance de se afastar mais, um dos seguranças de Toddy entra em seu caminho interrompendo a sua saída dramática.

O homem corpulento e incrivelmente alto a mira com olhos ferozes e impacientes, indicando que ela retornasse à mesa. Porém ela se mantém firme no lugar, chegando a cruzar os braços a frente do peito. Estava determinada.

— Nossa conversa ainda não acabou. – John diz às suas costas, ainda sentado na mesa e provando uma das porções servidas de entrada.

— Não. – ela se vira na direção do homem. – Eu não vou fazer isso com o Orlando, ele... – ela suspira – é como um irmão para mim. Eu não conseguiria nem mesmo se quisesse!

— Me poupe de todo esse sentimentalismo, mulher! – John vocifera, batendo na mesa e se levanta de súbito. Liza estremece.

O homem de olhos azuis amedrontadores pega o envelope e se aproxima dela lentamente.

— Você vai fazer o que eu lhe peço. – ele afirma esticando o pacote em sua direção. – Porque se não o meu outro ceifador, como você mesma diz, vai cumprir com a missão dele. E ele não será tão cuidadoso com o alvo dele como você é com os seus.

Liza engole em seco.

— Você não ousaria.

— Você sabe que sim. – ele sorri indicando-a o envelope.

Ela mira o pacote à sua frente e sua visão começa a ficar vermelha, seu sangue aquece e ela sente que poderia explodir ali mesmo.

— Essa é uma das pistas mais perigosas do calendário. Se algum deles se ferir, - ela pronuncia, as palavras saindo cortantes entre dentes – Charlie ou Orlando, eu juro que vou te caçar e da mesma forma que elimino os seus alvos da corrida eu vou te eliminar. Só que da maneira mais brutal possível. Nem que apodreça na prisão por isso.

John sorri desafiador.

— Admito que estava ansioso para vê-la mostrar as suas garras, minha cara. Estou impressionado.

— Você não sabe do que eu sou capaz pelas pessoas com que eu me importo. – ela arqueia uma sobrancelha. – Eu juro que acabo com você.

O homem assente lentamente, fingindo teatralmente ponderar as suas palavras.

— Basta você fazer o seu trabalho conforme combinamos, com o seu extremo cuidado, que as minhas medidas secundárias não serão necessárias. – ele declara. – A decisão está em suas mãos, Benedetti.

 

(...)

4 de outubro

 

Boa noite caros amigos, estamos para dar início a décima sétima etapa do campeonato mundial de Fórmula 1 aqui em Singapura, circuito urbano de Marina Bay” – o comentarista pronuncia – “ E está na hora da gente conferir o grid de largada para este grande prêmio. Mais uma vez a primeira fila é da Mustof, em onze corridas das 17 do ano temos Luís e Korhonen largando na frente. A seguir, na segunda fileira, Max Vandemanen e Alessandro Arthit. Logo depois temos Sérgio González e Daniel Richarts, que pela décima terceira corrida seguida está largando à frente do companheiro de equipe, Rodríguez. Na quarta fila temos Orlando Noward acompanhado de Pierre Gregov. E na sequência temos Eliza Benedetti e Charlie Lacroix fechando as dez primeiras posições!”

A pista que está congestionada pelas equipes técnicas rodeando os vinte carros na reta da largada de repente é esvaziada ao aviso do início da abertura da volta de apresentação.

Liza guia o carro em modo automático pela pista, sua cabeça estava longe e cheia de conflitos pelas ações as quais deveria tomar. Se seguisse pelas instruções de John ela causaria a saída de Orlando da corrida, o que além de poder causar danos ao carro e ferir seu amigo também acarretaria em um desconforto com a sua própria equipe pelo atrito de parceiros. Caso ela não o fizesse sabe-se lá o que John faria com Charlie, o que fazia seu corpo se arrepiar por inteiro.

A pilota estava coagida, não poderia simplesmente escolher por um ou outro.

Dada à largada ela segue os comandos de seu engenheiro através do rádio e decide por empurrar o enigma durante a corrida até onde conseguisse. Não precisava fazer nada por enquanto.

Suas mãos ardiam, seu corpo estava em chamas de tão quente e já na metade da prova ela se sentia como um frango assado dentro do forno. Seu corpo suava e a água que bebia pelo cano conectado ao capacete não parecia ser o suficiente para hidrata-la. Liza jurava que já tinha perdido ao menos uns dois quilos desde que havia começado a prova.

Alguns competidores já haviam abandonado a corrida, Richarts por uma colisão com Arthit; Gregov por problemas no motor e Ricardo por um pneu estourado. As posições estavam completamente diferentes das do início da corrida, a trindade da frente acabara perdendo posições e foram jogados para trás. Mas isso não significava que a prova ficara mais fácil, muito pelo contrário, a cada milésimo de segundo dentro daquele carro Liza sentia seu tempo se esvair dolorosamente.

Ela se sentia observada de forma incômoda, não pelas trilhões de pessoas que a assistiam, mas como se houvesse alguém na sua cola esperando a todo instante por suas ações. Literalmente cafungando em seu cangote.

— “Lizzie, Lando esta 2.5 à frente. Ele está te dando vácuo para você forçar o Luís logo afrente”. – Andy diz pelo rádio e Liza choraminga em silêncio.

Se ela aproveitasse a deixa e o ultrapassasse, perderia a chance de ter qualquer toque com ele que pudesse encerrar a sua corrida. Desta forma teria tomado a sua decisão jogando os leões à Charlie, que vinha à dois carros atrás.

Não, não, não, não. Ela pensa. Ainda não estava preparada para aquela decisão.

Nunca estaria preparada para tomar aquela decisão.

A própria definição de tortura.

“Lizzie, vácuo aberto. Área livre para DRS. É agora.” – o engenheiro a avisa e a pilota respira fundo.

Ela quase fecha os olhos e os dedos apertam comandos involuntariamente.

Quando ela torna os abrir percebe a McDraguen laranja à sua esquerda, quase rente à própria.

Essa era a hora, ela tinha que jogá-lo contra o guard rail.

O coração de Liza acelera consideravelmente, mais do que o considerado normal mesmo para uma corrida tão intensa.

Ela olha mais uma vez para o lado e vê o capacete de Orlando.

Era um completamente colorido, com respingos de tinta e grafite metalizado. A viseira era espelhada e em cores quentes, vermelha e laranja. Não havia um significado conceitual em como as suas cores se chocavam ou o porquê das linhas se encontrarem em certos pontos, porém era bonito e expressivo.

Aquele era ironicamente o capacete que Liza havia feito para Orlando, em uma atividade de customização de capacetes para um vídeo que o marketing os fez gravar ainda em Woking.

Orlando havia gostado tanto que guardara para usar em seu circuito preferido, justo aquele em Marina Bay.

Ela não poderia fazer isso com ele.

E assim ela aperta o botão de DRS, terminando a ultrapassagem em cima do colega.

“Muito bom, Lizzie. Luís está logo à frente, 4.8 segundos à frente. Você está na P4. Parabéns!” – Andy comemora, mas as lágrimas que escorriam pelo rosto da pilota não eram de felicidade. – “Vamos forçar uma passagem?”

— Estou perdendo potência. – ela diz reduzindo as marchas, a voz rouca.

“Então vamos manter por enquanto, próxima volta direto para o boxe!” – ele instrui.

Liza continua guiando pelo corredor infinito que era o circuito, constantemente mirando seus espelhos e atentando-se aos carros de trás.

Que ele tenha piedade, ela rezava para que o homem deixasse passar daquela vez.

No entanto, em um milésimo de segundo quando ela desvia os olhos da traseira para se atentar à curva que viria a seguir, tudo acontece.

Tem batida forte!” – o comentarista declara assustado – “Tem batida forte e incêndio na pista!”.

Imediatamente ela vê a bandeira vermelha se acender em seu painel e pelos espelhos atrás, as chamas tomando conta da lateral direita da pista e crescendo ao alto no céu.

A sessão está paralisada e os carros à frente de Liza reduzem, fazendo-a reduzir também por consequência. À medida que seu pé pisava no freio seu coração acelerava na mesma intensidade.

— Eu vi fogo, Andy. Tem fogo, Porra!— ela exclama ao rádio desesperada.

“Estamos vendo, Lizzie” – o engenheiro diz. – “Vem para o boxe agora.”.

— O piloto... – ela engasga – ele está bem?

“Eu vou checar e já volto com você.”

Ah, Meu Deus! – as mãos da mulher começam a tremer, dificultando a sua direção. – Porra!

“Não temos informações ainda”.

— Não, por favor. Por favor. Por favor. – ela pede sem voz, os olhos já transbordos por água. – Quem é, você sabe?

“Não pudemos ver direito, mas acho que tem uma Findspot envolvida. Eles cortaram a transmissão. Foi bem grave”.

— Não! – ela esbraveja, seu peito já afundado em agonia.

 

Ao sair do carro na reta dos boxes Liza está trêmula e as lágrimas transbordam como correnteza pelos seus olhos. Sua equipe está ao seu redor e tenta a amparar. Os técnicos colocam o carro em suspensão para revisões rápidas.

Pelos telões acima de suas cabeças é reprisado o momento do acidente. Liza vê de relance a traseira vermelha do carro característico e suas pernas fraquejam ao mesmo tempo em que suas vistas escurecem. Ao seu redor ela não vê nada mais que borrões azuis dos macacões de sua equipe.

— Não, não, não, não, não. – ela repete, afastando-se cambaleante das mãos que a empurravam garrafas de água, toalhas e um ventilador portátil.

— Lizzie! – ela escuta a voz de seu tio chama-la, mas a ignora.

Liza olha além ao redor, constatando os carros parados atrás de si em fila indiana e começa a caminhar na mesma direção em passadas apressadas.

Ela confere Orlando sair sã e salvo da McDraguen atrás da sua própria, passa por três carros até encontrar a Findspot vermelha e seu peito se alivia automaticamente.

Puta merda, que susto!

Suas pernas seguem ao seu rumo como se dependessem da visão de Charlie para sobreviver. Nunca ficara tão ansiosa para ver seu rosto.

Porém quando o piloto sai do carro, tira o capacete e a touca, e Liza vê a face do espanhol ao invés da do monegasco, sua pressão caí por completo. Ela mira o número na dianteira do carro e constata que realmente não era o 16 de Charlie, e sim o 55 de Carlos.

— Carlos?! – ela sopra e chama a sua atenção aproximando-se vagarosamente, o piloto a ampara antes que ela caísse no chão.

— Liza? – ele diz confuso, os integrantes da equipe da Findspot ao seu redor espantados com a reação da jovem. – Você está bem?

— Ele... – ela já chorava culposamente, o nó em sua garganta impedindo-a de pronunciar muito mais – ele...

— Lacroix? – o rapaz questiona, olhando-a nos olhos e procurando entender a sua angustia.

Liza assente freneticamente, o rosto completamente molhado.

Carlos estica o pescoço ainda com a pilota nos braços e olha ao seu redor atentamente.

 

— Liza. – ele gira os ombros dela para o final da fila. – Ele está ali.

Quando Liza identifica o homem de macacão vermelho, caminhando tranquilamente na direção do boxe da Findspot enquanto tirava o próprio capacete e touca, um sopro de amenidade esfria a aflição do seu coração.

Seu carro estava estacionado pouco mais atrás e sem um arranhão sequer.

Ela nunca agradeceu tanto aos céu por vê-lo, era engraçado como as pequenas coisas pareciam tão importantes diante de situações extremas.

Tomando cuidado para estar fora do alcance das câmeras, que estavam voltadas à reprise do acidente, Carlos se põe atrás do companheiro guiando a pilota com cuidado.

— Vamos, aqui.

Ele segue Lacroix quando ele entra para os corredores internos, os que levavam aos banheiros, e é quando o chama: - Charlie!

O monegasco se vira na sua direção com os olhos brandos até ver o estado da pilota. No entanto, antes mesmo que ele pudesse se aproximar ela caminha rapidamente em sua direção e o abraça pelo pescoço, apertando-o com sagacidade.

É quando ela chora ainda mais. Desta vez, porém, de alívio completo.

— Você! – ela o funga – Está bem, você está bem! – diz conferindo cada parte de seu corpo, passando as mãos pelos ombros, braços, rosto e peito rapidamente antes de voltar a abraçar seu corpo saudável e sem lesões.

— Eu estou. – ele diz abraçando-a de volta, mesmo que estivesse perdido.

— Pensei que fosse você lá. – ela puxa o ar para o pulmão com o nariz nos cabelos do rapaz, agraciando-se pelo quase imperceptível toque do perfume, que ainda ficara ali depois de hora suando. Mas ela não se importava. – Pensei que tinha te perdido para sempre.

— Calma, eu estou aqui. – ele a tranquiliza, acariciando as suas costas. – Está tudo bem.

Liza controla o seu choro, mordendo o lábio inferior enquanto acariciava os cabelos da nuca do rapaz.

— O que aconteceu? – ela questiona com a voz fanha.

— Eu não sei, foi tudo muito rápido. – ele diz. – Só vi a coisa toda quando já estava em chamas pelos meus retrovisores.

Liza se afasta vagarosamente, a cabeça trabalhando em analises e cogitações da razão do acontecido. Se não havia sido ele nem Orlando, quem fora?

— Estão mostrando na televisão. – Carlos se pronuncia, chamando a atenção dos dois. Eles fazem o caminho de volta pelo corredor e conferem a tela que transmitia o episódio, na mesa de transmissão da garagem da Findspot.

O carro da Homes de Marcus estava para tocar a roda de Charlie quando em milésimos de segundo a máquina azul da Rang Blue se lança na frente e colidi forte com o guard rail. Em pouco tempo o fogo acende e transcende por todo lugar.

— Max! – Liza esbraveja ao ver o carro entre as chamas desesperadoras. – Não!

— Se essas imagens estão sendo liberadas, está tudo bem. Não se preocupe. – Carlos garante. – A assessoria tem todo um cuidado de confirmar que está tudo bem para não transmitir imagens mais fortes e dramáticas.

Liza volta os olhos preocupados à tela.

— “Max Vandemanen já está dentro do carro médico da FIA. Que bom.” – o comentarista diz quando imagens do rapaz sendo amparado pelos socorristas são mostradas. – “As imagens com fogo são assustadoras, mas vale lembrar que o macacão do piloto é feito de um material chamado Nomex, que aguentam pelo menos 20 segundos no fogo, além do capacete que é super-resistente. Provavelmente ele não desacordou com a pancada, foi um resgate rápido e ele está bem.”

Os três respiram aliviados ao vê-lo ser transferido à uma ambulância e ir até ela caminhando.

As imagens do acidente são reprisadas, com o momento da batida em lentidão. Percebe-se que o carro do rapaz fica fora do fogo mais alto e que logo que ele se solta dos cintos é resgatado pelo socorrista que se põe em meio ao fogo para tirá-lo de lá.

Uma salva de palmas é ressoada por todas as garagens, aplaudindo o trabalho dos socorristas que agiram de forma admirável. Os três aplaudem na mesma sintonia.

— Estranha uma explosão assim. – Charlie comenta. – Vazamento de gasolina?

— Provavelmente. – Carlos assente. – O líquido pegou nas partes quentes no carro e inflamou de vez quando teve o choque.

“Manen já está chegando no centro médico, vocês podem conferir as imagens aqui.” – uma repórter fala – “Ele está bem, foi caminhando lá para dentro.”

Ufa.

— O estranho mesmo foi aquela fechada do Marcus em você. – Carlos comenta. – Vocês estavam na reta, não tinha porque ele te jogar contra o guard rail daquele jeito. Se bem que, parando para pensar, mais entranho ainda foi o Max ter entrado na sua frente como se ele tivesse te protegendo. A situação toda é loca.

Liza tira as luvas uma de cada vez e passa uma mão livre pelo rosto.

Meu Deus do céu. – ela sopra.

Charlie suspira a fitando.

— Você acha que Marcus...? – ele indica, se interrompendo.

Ela se vira para o monegasco.

— Muito provável. – ela assente.

Carlos olha de um ao outro.

— Marcus o que? – ele questiona confuso.

Liza respira fundo e engole em seco, não conseguia se focar em um do turbilhão de pensamentos que rodavam a sua cabeça.

— Preciso ir ver o Max. – ela diz decidida. – Preciso ver se ele está bem.

Charlie assente e juntos os dois partem na direção da saída das garagens.

— Mas e a corrida? – Carlos esbraveja, ainda parado no lugar.

— Provavelmente vai ser adiada. – Charlie dá de ombros, sem parar de andar. Em seguida ele pede ao amigo: – Me dá uma cobertura. Logo retornamos.

 

(...)

 

Depois de terem invadido o centro de atendimento e implorado aos médicos que os deixassem ver o piloto antes que fosse transferido para o hospital, levando um audível não como resposta, o casal a muito custo convence a enfermeira a lhes dar cinco minutos na sala com Max.

Quando eles entram o rapaz ainda estava sozinho. Seus engenheiros, chefe de equipe e demais funcionários ainda estavam cuidando da burocracia da finalização da corrida antes de irem até lá. Liza se aproxima da maca com os olhos nos curativos provisórios nas mãos e pés do rapaz.

Seu macacão havia sido removido do tronco e braços, e erguido nas pernas. A pele exposta do peitoral, braços e pernas estava com a aparência normal. Mas as partes com contato indireto com o fogo estavam pouco avermelhadas, o que intensificava a aparência debilitada.

— Max. – ela lhe chama a atenção e ele se espanta com a entrada surdina dos dois.

— Benedetti, Lacroix. – ele fala confuso – O que estão fazendo aqui?

— Viemos ver se você está bem, claro. – Lacroix diz dando de ombros, com as mãos nos bolsos.

— Me ver... Mas e a corrida? – ele questiona desorientado.

— Foda-se a corrida, cacete. – Liza diz dura, mas ri para descontrair a sua tensão. – Como você está?

Max dá de ombros, modesto.

— Tive algumas queimaduras leves nas mãos e nos pés. – ele indica os curativos – Só. Não foi nada demais, já fiz queimaduras mais sérias tentando cozinhar sozinho. O macacão me protegeu bem, só as luvas e sapatilhas que falharam um pouco, mas tudo bem. – ele sorri satisfeito – Estarei na pole na próxima corrida, para a infelicidade de vocês.

Charlie e Liza riem.

— Porque você fez aquilo? – Liza pergunta, o olhar doce fez Max engolir em seco e desviar de seus olhos.

— Naquela noite na Holanda você me contou sobre as ameaças que vem sofrendo nas corridas. – ele revela, deixando-a boquiaberta. Uma das partes da noite que ela ainda não voltara a se lembrar. – Você disse que tinha medo deles ferirem Charlie e por eu ter causado todo esse alvoroço achei que nada mais justo que eu o vigiasse. Sabe, para que nada acontecesse.

— Você... – Charlie suspira surpreso – O que?

Max abaixa os olhos, envergonhado.

— Fui eu quem disse à Federação que vocês estavam juntos. – revela ao rapaz. – Pensei que eles só lhes dariam uma advertência, mesmo uma suspensão da temporada, não que agissem de forma tão injusta. Esse comportamento da parte deles é completamente inaceitável.

Liza pousa a mão no ombro do rapaz.

— Você não tinha como saber.

— Ainda assim, eu fui egoísta. – ele morde a bochecha por dentro – Ainda não tive a chance de me desculpar você, Charlie, por isso então... – ele suspira – Eu realmente sinto muito, cara.

Liza mira o monegasco, que fica um tempo relativamente longo em silêncio. Ele engole em seco, passa as mãos pela cabeça, mas quando volta a mirar Max, sorri por fim.

— Então... – ele incita à Max, aproximando-se da cama – Você me salvou, cara.

— Se contar isso á alguém eu falo que é mentira. – Max diz e encara Liza, eles riem cúmplices relembrando da fala da brasileira há algum tempo.

— Obrigado, Max. – Charlie diz verdadeiramente. – Eu te devo uma.

A pilota se aproxima do holandês e com cuidado para não encostar em seus ferimentos, ela o abraça. Max franze a testa, mas depois de um tempo a seu modo desengonçado, retribui o abraço.

— Obrigada. – ela sopra. – Isso foi mais que gentil, foi heróico.

Max sorri quando eles se separam.

— Você é um grande amigo, Maximilliano.— ela diz risonha e ele joga a cabeça para trás, aos risos.

— Não pode perder a oportunidade de me zoar, não é?!

— Você sabe que não. – ela diz aos risos.

Logo a enfermeira entra no recinto, alegando que teria que leva-lo naquele momento e eles se despedem.

— Nos avise quando tiver alta. – Liza diz ao rapaz.

— Pra quê? – ele questiona confuso.

— Para sabermos que está tudo O.K., seu avoado. – Charlie explica e Max ri fraco.

— Tá bom.

— E obrigado de novo, Max. – Charlie diz pouco antes dele desaparecer pelas portas duplas.

Eles ficam observando as portas balançarem até ficarem novamente inertes. Liza se aproxima do monegasco vagarosamente.

— Levei um grande susto hoje. – ela diz passando os braços ao redor da cintura dele, encostando a cabeça em seu peito.

— Foi realmente assustador. – ele concorda, acariciando suas costas.

— Mas isso me ajudou a perceber que nada mais importa. – ela diz firme – Eu não me importo com merda de acordos, com caralhos de campeonato ou prêmio. Foda-se essa taça! É um jogo sujo do qual eu não tenho mais tanta certeza que quero fazer parte. – ela se afasta minimamente e vislumbra o rosto dele, focando-se nos olhos – Eu pensei que tinha te perdido de verdade e não quero mais ficar longe de você... Foda-se as consequências, eu só não quero voltar a sentir isso nunca mais.

Charlie a encara nos olhos avelã por algum tempo, buscando toda a sua franqueza e determinação ao pronunciar aquelas palavras.

Por fim ele sorri satisfeito.

— Eu estava esperando você dizer isso.

Ela suspira conformada.

— Nunca pensei que teria que me aposentar no meu primeiro ano na Fórmula 1. – ela dá de ombros – É uma pena, porque eu teria feito tanta coisa.

— E quem disse que você precisa se aposentar? – o monegasco questiona arqueando uma sobrancelha esperto.

Ela franze o cenho, no rosto um vislumbre de sorriso.

— O que você quer dizer com isso?

— Quero dizer que obviamente eu não pude ficar sem fazer nada, quando a mulher da minha vida está em uma situação que iria de mal á pior. – ele diz. – Não seria eu se não bancasse uma de Dona Isabel e não metesse o bedelho no assunto.

Liza controla o sorriso.

— O que foi que você fez? – ela cruza os braços, mirando-o desconfiada.

— Fiz o que geralmente os homens fazem quando precisam resolver um problema. Conversei com uns amigos. – ele sorri satisfeito enquanto o semblante dela se torna confuso – E mais alguns contatos importantes, que em troca de alguns anos de favores extracontratuais prestados por mim concordaram à se juntar pela causa. Não se preocupe, não é nada mais que posar para uma linha de ternos, óculos ou o que eles pedirem. – ele dá de ombros.

Meu Deus, Charlie. – ela diz temerosa. – Tá arriscando a sua vaga do mesmo jeito.

— Eu não me importo. – ele diz sorrindo – Não quero competir em um campeonato que é comandado por um velho machista que tanto torturou a minha namorada. – balança a cabeça em negativa veemente – Não mesmo.

Liza ri fraco.

— E o que acontece agora, então? – ela questiona

— Como eu confio que você é uma pessoa tão esperta quando prevenida, e não teria ficado quieta sem ter pensado em nada para contra-atacar o cara, acredito que já tenhamos tudo para acabar com aquele filho da puta na próxima semana mesmo. – ele diz convicto.

— E do que você precisa?

— De gravações, da lábia do seu tio, argumentos da Cris e que marque um encontro.


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao PENULTIMO capítulo dessa trajetória e eu já estou começando a ficar com saudades dessa estória, que começou só com a vontade de concretizar - mesmo que no fictício - um sonho de criança que é ser uma pilota de Fórmula 1 e hoje acredito que tenha se tornado um símbolo de igualdade, empoderamento feminino e inspiração.

Por menos viral que a fanfic seja - ainda - recebo mensagens inspiradoras de pessoas falando sobre o quanto estão gostando e o quão importante e representativa ela se tornou nas vidas das delas.

Quero mais uma vez agradecer a todos pelos views, os comentários, os votos, MUITO MUITO MUITO OBRIGADA! vocês estão tornando meu objetivo de tocar a vida das pessoas real, e eu sou muito grata á isso.

Só para relembrar, confira o roteiro do que vai acontecer:



— Dia 01/05 (SABADO) Estarei postando o capítulo final.

— Dia 02/05 (DOMINGO DE GP EM PORTUGAL o/o/o/) Estarei postando o epílogo + novidades.
E aproveitando que estamos nesse clima de despedida, peço um favor á vocês (se flopar eu apago e finjo que isso nunca aconteceu rsrs): Comentem aí qual foi a parte/cena favorita de toda a trajetória. Qual a mais tocante, a mais marcante, ou a mais engraçada.

E me digam o que esperam para o final, quais as suas expectativas. (é por meu TCC kkk)

Beijo, desejo um bom final de domingo. E vejo vocês no domingo que vem.



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