Toujour Delacour escrita por Maga Clari


Capítulo 2
La Belle et la Bête




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800562/chapter/2

É engraçado falar sobre eternidades ou estações do ano quando me refiro a Fleur. Principalmente porque há muitas semelhanças entre a nossa vida juntos e aquela história famosa do encanto que se quebra à meia-noite.

Lá pelo quinto ou sexto ano de casados, decidimos que era hora de termos uma folga dos afazeres domésticos. Já tínhamos Victoire à essa altura e logo nossa pequena vitória já teria se tornado o centro de nossas vidas. Entretanto, faltava espaço para sermos Fleur e Bill, dois jovens adultos apaixonados em busca de aventuras. Por isso, deixamos que Rony fosse tio pela primeira vez, e preciso deixar registrado o quanto fiquei orgulhoso ao vê-lo cuidar de minha princesinha tão bem.

― Sinto-me honrado ― foi o que ele me disse, quando a deixei em seus braços, numa sexta-feira à noite qualquer.

― Um dia será a sua vez e a gente troca ― respondi, recebendo um olhar de pavor do meu irmão só em mencionar a hipótese.

― Por enquanto, tio já está bom pra mim.

―  O velho Rony medroso de sempre, hã? Como a Grifinória o aceitou? 

―  Sabe, Bill. Faço-me a mesma pergunta há catorze anos!

E depois disso, fomos nós dois, mãos dadas, aparatando pelos túneis temporais que nos levaram de volta à época que não tivemos a chance de viver, pois, repito, tivemos que crescer rápido demais. 

― Você está tão bonito ― Fleur tocou meu rosto, a minha cicatriz, e algo revirou na boca do meu estômago ― Será que devo me preocupar com os olhares das outras garotas? ― brincou ela, mesmo sabendo que eu não teria olhos para mais ninguém.

― Acredito que não ― respondi, estendendo meu braço, para que Fleur, minha garota, atravessasse o bar noturno em segurança ― Temos os dois maldições de invisibilidade. No meu caso é a cicatriz, e no seu…

― O gene veela. Acertei?

― Exatamente.

La Belle et la Bête ― ah, como eu gosto desse sotaque francês! É bem provável que Fleur saiba exatamente quando usá-lo ao próprio favor.

― Vai ser assim que contaremos a Victoire. O que acha? Ao invés de uma lenda folclórica, contaremos a história de uma linda garota capaz de achar beleza num rosto tão horrendo.

Fleur percebeu o quanto aquilo me deixava desconfortável. Ali, à meia-luz, ela tornou a tocar meu rosto, na frente de todo mundo. Garçons tentaram arrumar mesa para nós algumas vezes, mas nada, nem mesmo o ruído abafado da pista de dança ou das conversas alheias, nada, nada, nada, era capaz de distraí-la dos meus olhos que a encaravam com carinho, porque olhá-la deixava-me seguro como nunca antes. Seus dedos, do mesmo jeitinho que sempre observei, passearam agora pelos meus brincos e piercings, pelas tatuagens no pescoço, por minhas tentativas de parecer menos esquisito, menos falso, menos besta, menos fera. Moins de bête.

Oh, cher… ― ela finalmente respondeu. Nossos narizes estavam há poucos centímetros de distância, e eu era capaz de me perder na tempestade de sardas que povoavam o seu rosto delicado. Então, pouco antes de agarrar-me num beijo apaixonado, veio aquela frase que viria a me acalmar em tantas noites insones: ―  Tu est suffisamment belle pour deux!

É, Fleur. Parece que sim. (Embora eu nem sempre acredite nisso).


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!