A Imperatriz do Mar escrita por Tord


Capítulo 6
Donatello


Notas iniciais do capítulo

E aí, galera!! EU VOLTEEEI ! *Aparece com escudo* Suave? Não esperavam me ver aqui hoje, né nom? Bem... surpresa?
Já faz um tempo, não? Eu não sei se todos viram meus avisos, mas na semana retrasada não houve capítulo devido ao dia das mães, o qual tirei o dia para ficar com minha mamain! Já na semana passada não teve capitulo porque eu fui escalado para trabalhar no sábado e no domingo até 18:00h nas campanhas de vacinação de COVID e ao fim do dia estava completamente quebrado depois de trabalhar 12 horas sem folga. Eu quero pedir desculpas pelo atraso e espero que compreendam meu lado. Mesmo que eu tentasse fazer o capitulo, no estado em que estava, iria sair um lixo!
E beeem... hoje meu carro quebrou e eu não consegui trabalhar, então eu decidi ser otimista e aproveitar o tempo livre para escrever! Espero que tenha ficado bom!
Muito obrigado para todos os leitores que tem acompanhado a história e peço novamente mil desculpas pelo atraso em postar! A frequência dos capítulos irá voltar como o habitual! (Amém). Até mais!

—Tord.



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Ao retornarem para o esconderijo, Lisa manteve-se em silêncio durante todo o trajeto, encarando o chão com um ar distante e incômodo, parecendo apressada em retornar para casa. Enquanto isso, Leonardo caminhava ao seu lado pelos túneis do esgoto com uma expressão interrogativa, sedento por respostas.

—Lisa, espera aí! O que foi aquilo? – Leonardo tentava acompanha-la, porém ela apenas apertava mais o passo. – Eu pensei que você e a Karai fossem amigas!

—Somos irmãs. E irmãos brigam o tempo todo, Leo! Você deveria saber disso! – Retruca num tom ríspido muito incomum vindo dela.

—É, mas eu não tento socar meus irmãos! ... Ao menos não assim! E além disso – Leonardo aperta o passo também, segurando o pulso dela. – Meus irmãos sabem quem eu sou! A Karai... não conhece você.

Lisa permanece em silêncio, não olhando para Leonardo quando ele segura seu pulso e nem quando ele a questiona. Com o olhar distante encarou aos próprios pés por longos segundos, sua mente profundamente inserida em algum assunto que Leo não conseguia decifrar. Em seguida, Lisa puxa seu braço, desvencilhando-se de Leo e correndo de volta ao esconderijo, ignorando todas as perguntas dele e trancando-se em seu quarto assim que chegou.

Diante dessa reação, Leonardo não a seguiu. Apenas ficou parado nos corredores do esgoto, olhando para a direção onde ela havia sumido, repleto de dúvidas rondando seus pensamentos.

—x-

Na manhã seguinte, as cinco tartarugas se reúnem para iniciar sua sequência de treinos matinais após o café da manhã e rapidamente foi perceptível para as outras três tartarugas o clima estranho que rondeava Leo e Lisa.

Leo parecia preocupado e de vez em quando direcionava seu olhar para ela, mas sem conseguir ter um diálogo efetivo. Já Lisa mantinha-se distante, esquivando de todas as tentativas de aproximação do ninja azul.

—O que está acontecendo aqui? – Questiona Donnie.

—Vocês brigaram? – Pergunta Mikey.

—Mais ou menos... – Suspirou, encarando-a embora ela ainda não o olhasse diretamente.

Aquela situação era incomum para si. Mesmo brigando com eles dia sim-dia não, nunca havia ficado sem conversar com alguém do próprio time. Nem que fosse para trocarem ofensas, ele e seus irmãos estavam sempre se falando. Além disso, no dia anterior, Lisa finalmente parecia ter conseguido ficar mais solta na presença deles e começado a se sentir em casa, mas agora, era como ter retrocedido e lá estava aquela expressão distante em seu rosto novamente. Leo não entendia o que havia acontecido naquele encontro com Karai, mas sabia que se quisesse que aquilo desse certo, tinha que traze-la para o lado deles novamente.

Leonardo suspira. Havia passado boa parte da noite passada pensando no que havia acontecido e como consertar seja lá o que tivesse feito. E depois de muito refletir sobre “o que Mestre Splinter faria em seu lugar” chegou em uma conclusão.

—Caras, eu quero propor uma coisa! – Os irmãos o encaram. – Nós crescemos juntos, treinamos juntos e vivemos juntos por toda nossa vida! Mas Lisa chegou agora. – Olha para ela, a indicando com sua mão. – Eu acho que para podermos agir bem juntos como um time, além de treinar, temos que saber melhor a personalidade de cada um. Nos conhecer!

—O que isso tem a ver? – Raphael cruza os braços.

—Bem, como por exemplo, nós sabemos que você é esquentado. – Sorriso divertido. – O que significa que também sabemos que você é o mais provável a estourar numa batalha e acabar sendo imprudente por isso. – Raphael rosna. – Mikey é descuidado e quase nunca pensa antes de agir, então sabemos que temos que ficar de olho nele, principalmente quando estamos tentando nos infiltrar em algum lugar. – Os irmãos encaram à Mikey com cara feia ao se lembrar de todas as vezes que ele acabou com o significado de “sorrateiro”. Mikey apenas sorri amarelo. – O que quero dizer é que conhecendo quem somos, podemos prever como vão agir e isso vai nos fazer lutar melhor.

—Isso faz sentido. – Comenta Donnie com a mão no queixo.

—E para isso, eu quero que todos nós formássemos duplas com ela durante uma semana cada.

—Duplas?

—Isso! – Sorri. – E não só quando estivermos treinando, mas aqui em casa também. Desse jeito cada um de nós vai poder ter a chance de entende-la é e ela também vai poder nos entender. O que acha, Lisa..?

Leo olha para ela, que até então estava ali em silêncio ouvindo o que ele dizia. Lisa levanta sua cabeça que encarava ao chão e olha para eles, ainda parecendo um pouco pensativa.

—Isso quer dizer que... Vou andar pra lá e pra cá com um de vocês o dia inteiro?

—Sim! Apesar de gostarmos de você, não sabemos quase nada um sobre o outro. Ah! a intenção não é fazer disso um interrogatório ou algo assim. Mas acho que se nos tornamos bons amigos, também vamos igualmente proteger uns aos outros.

—Parece divertido. – Diz Donnie abrindo um sorriso.

A fala de Leonardo suaviza um pouco a expressão de Lisa, a fazendo parecer menos tensa. Após alguns segundos de reflexão, o encara de volta e balança a cabeça positivamente.

—Farei isso.

—Ótimo! – Leo aumenta seu sorriso.

—E quem vai ficar de babá primeiro? – Questiona Raphael que ainda parecia meio contrariado, com os braços cruzados, Lisa o encara feio com a provocação.

—Bem, eu pensei que a primeira dupla da Lisa... – Frisou, corrigindo ao irmão.

—EU! EU! Deixa eu! Me escolhe!! – Mikey levantava a mão animadamente.

—Poderia ser o Donnie.

—Eu? – Donnie sorri. – Tudo bem.

Donnie sorri para Lisa que instantaneamente sorri para ele também. A reação de Lisa ao ser colocada em dupla com seu irmão faz com que Leonardo suspire um pouco mais aliviado, afinal, parecia ter acertado em sua escolha.

Mesmo ainda sem peças suficientes para compreender a nova reclusão dela, sabia que a ligação entre ela e seu time havia se distanciado um pouco após com encontro com Karai e agora precisava recuperar isso. Coloca-la junto com Donnie, que aparentemente havia sido até então o que mais havia ganho sua confiança era o seu meio de chegar até ela novamente. Além disso, talvez ele fosse o mais qualificado para conseguir conversar com ela e entender o que estava a frustrando daquele jeito, diferente de Mikey que provavelmente só brincaria com ela o dia todo.

—Aaaaah... – Reclama frustrado. – E quando vai ser eu? – Questiona Mikey, num tom impaciente.

—Você é o próximo, Mikey. – Revira os olhos.

—YEAH! – Comemora sorridente. – Eu vou fazer uma lista de tooodas as coisas que quero mostrar a você!

Lisa ri da animação do outro.

—Estou ansiosa por isso, Mikey! – Sorri um pouco mais.

—Raph depois é você. – Raphael apenas solta um “Hm” – E o ultimo serei eu, tudo bem para todos? – Os demais concordam com a cabeça. – Certo! Então Lisa e Donnie a partir de hoje vocês serão como um só ninja, os outros, vamos para o dojo. – Indica o local com o polegar. – Donnie?

Leo direciona um olhar enigmático para Donnie, mas como o mais inteligente do grupo, ele pôde entender o que seu irmão queria: Leo estava lhe pedindo para ser cuidadoso com ela. Com um leve sorriso e um suave aceno de cabeça, Donnie o tranquiliza.

Ao serem deixados sozinhos, Donnie direciona um sorriso para Lisa.

—Bem, somos só nós agora!

—Sim. – Sorri. – O que quer fazer?

—Hmm... Na verdade, eu quero que me ajude com uma coisa! Venha comigo!

Donnie faz um sinal com sua mão para que Lisa o seguisse, e caminha em direção a seu laboratório juntamente com ela.

—x-

Lisa se encontrava admirada com todos os experimentos dispostos pelo local, encarando através de todos os frascos de vidro de diferentes formas e tamanhos que acabavam deformando a imagem de seu rosto, deixando-a com rosto esguio, achatado ou até dividido. Donnie ria vendo que ela parecia se divertir observando o lugar.

—Seu laboratório é incrível! Eu poderia ficar aqui o dia todo!

—Bem, se vai ficar comigo essa semana, então vamos vir bastante aqui!

—Talvez... Talvez eu pudesse usar seu laboratório as vezes?

—Hm? – Olha para ela. – Para que precisa dele?

—Para produzir venenos.

Donnie arregala os olhos.

—V-Venenos?

—Oh. – Riso sem graça. – Eu esperava essa reação. – Pigarreia. – Quando eu estava no Clã Foot eu aprendi a produzir venenos à partir de plantas. M-Mas não se assuste, nem todo veneno serve para matar! A definição de “veneno” na verdade é-

—Substância química capaz de destruir ou perturbar as funções vitais de um organismo. Eu sei! – Parecendo interessado.

—P-Pff! – Risos. – Isso! Então, um veneno pode servir para causar sonolência ou confusão, pode causar também fraqueza ou dor. Como uma ninja, algumas dessas substâncias podem ser uteis. Por exemplo... Se você embeber uma arma com veneno, o dano que ela irá causar é maior que um simples corte. Se você usar um veneno que cause tontura, a batalha será bem mais simples de se vencer e assim levará menos tempo e menos esforço.

—Isso parece eficiente! E como você produz esses venenos?

—A partir do extrato de diversas plantas, puras ou combinadas. Eu normalmente uso venenos em agulhas ninja. São discretas e fáceis de manusear.

—E como faz esse extrato?

—Eu gosto dos métodos de extração antigos. Normalmente uso um moedor manual e destilação.

—Ciência e tradição, uma combinação clássica!

—E sempre dá certo!

Lisa ri da conversa juntamente com Donnie, finalmente se sentindo um pouco confortável novamente e sorrindo de forma mais sincera. Percebendo isso, Donnie também aumenta seu sorriso. 

—Aaah! É ótimo ter outra pessoa com interesse em ciência nessa casa! - Suspira. - Eu não aguentava mais a sensação de que só podia conversar com os tubos de ensaio! 

—Eu também acho. – Aumenta seu sorriso. – Bem, no que queria minha ajuda, Donnie? – Seus olhos se arregalam suavemente quando Donnie lhe entrega um tipo de tubo com um longo cotonete dentro. Parecia confusa. – O que é isso?

—Eu preciso de uma amostra de DNA.

—DNA? - Tomba sua cabeça para o lado. 

—Sim, DNA são-

—Bases nitrogenadas que se juntam e formam o código genético dos seres vivos. – O completa com um sorriso metido.

—P-Pfff! Também conhecido como ácido desoxirribonucleico! – Pisca.

—Eu sei o que é! Quis dizer por que precisa do meu.

—Por conta do meu estudo sobre o Retromutagênico! Eu preciso de DNA mutante para poder ver se estou tendo avanços! O problema é que a mutação é algo muito oscilante! Depende do DNA da pessoa e de qualquer outro que esteja em contato com ela no momento da mutação! O Mestre Splinter por exemplo, se transformou em um rato após entrar em contato com um logo antes de entrar em contato com mutagênico! Por isso, eu preciso de todo DNA mutante que conseguir! Para assim conseguir criar um retramutagenico que funcione independentemente dos efeitos da mutação.

—Oh, entendo...

—Até agora eu tenho o DNA de todos nós e de alguns outros mutantes que enfrentamos. Ou seja, tenho DNA de homem rato e de tartarugas de pântano! Vai ser ótimo testar com DNA de tartaruga marinha!

—Faz sentido... – Lisa encara o tubo em suas mãos, parecendo um pouco pensativa por alguns segundos. – Saliva é o suficiente?

—Será ótimo!

Lisa abre o tubo e tira o cotonete de dentro dele, a colocando em sua boca.

—Não acha perigoso pesquisar sobre um retramutagênico? – Fala meio torto pelo cotonete em sua boca. – O que aconteceria se isso caísse nas mãos de um inimigo? Poderiam transformar vocês em tartarugas normais outra vez!

—Talvez seja, mas... – Donnie abre um leve sorriso. – Eu fiz uma promessa. Eu preciso saber como reverter uma mutação.

Lisa tira o cotonete de sua boca e o coloca de volta no tubo, entregando-o para Donnie que sorri em agradecimento. Ele se ocupa logo em pegar uma amostra do DNA de Lisa e coloca-la em uma lâmina de vidro, começando a prepara-la para ser analisada em seu microscópio.

—Uma promessa?

—Sim. Para uma amiga. Eu prometi a ela.

—Uma amiga?

—É, ela se chama April! É uma amiga nossa! Você deve conhece-la logo. – Sorri enquanto olhava a lâmina no microscópio. – O pai dela acabou sendo transformado e eu prometi a ela que o traria de volta.

Donnie estranha o silêncio que se instalou após falar sobre April e levanta os olhos do microscópio para encara-la, dando de cara com Lisa bem a sua frente o encarando com olhos desconfiados.

—O-O que foi?

—Você gosta dela.

—O-O que?

—Goooosta! – Abre um sorriso divertido.

—Não!

—Gosta sim!

—...... – Suspira, se dando por vencido. – C-Como soube? Eu nem disse nada! Eu nem sorri!

—Sim, você sorriu!

—Mas não desse jeito!

—Intuição feminina! Nunca falha! – Sorrindo espertinha. - Além disso, eu sou uma ninja! Observação é um dos meus fortes~

Donnie revira os olhos, rindo sem graça enquanto Lisa sorria largo e se senta na banqueta à frente dele, balançando seus pezinhos que não alcançavam o chão.

—Como ela é?

—O-Oh... – Donnie cora, sorrindo sem graça. – B-Bem, ela é esperta, divertida e muuuito gata! – Ficando ainda mais vermelho. – Ela tem olhos grandes e azuis e um cabelo ruivo lindo e aaah... Fica tão bonita comendo pizza.

—Cabelo? – Parecendo surpresa. – ...Você gosta de uma humana?

—Oh. É. – Coça a nuca. – Isso pode parecer estranho, mas.... Eu estou quase conseguindo a chamar para sair. – Sorrindo confiante.

—P-Pfff! Tenho certeza que sim! Como ficaram amigos de uma humana?

—É uma longa história. – Ri, voltando a analisar o DNA.

—Quero conhece-la!

—Ela vai ficar bem surpresa quando te ver. Não é todo dia que se conhece uma tartaruga mutante, afinal!

—Pois é. – ri. – Bem, eu te dei meu DNA! Vai me emprestar seu laboratório?

—Hmmm... Se dividir o que sabe de botânica comigo, eu posso pensar nisso!

—Trato feito!

Eles sorriram um ao outro e Donnie voltou a analisar o DNA. Enquanto isso, Lisa gira na cadeira e voltando a ficar de costas para ele e a observar o laboratório, com um silencio confortável se instalando no ambiente. Este silêncio perdura por alguns minutos e Donnie vez ou outra levantava o olhar para ela, encarando seu casco e enquanto se perguntava como seria a melhor forma de pergunta-la sobre Leonardo. Após refletir, optou por ser direto.

—E então? Vai me contar o que aconteceu com o Leo? – Lisa solta um leve suspiro, olhando Donatello por cima do ombro. – Eu sou seu favorito, não é?

Lisa abre um leve sorriso.

—É... – Volta a olhar para frente e costas para ele, ficando séria novamente. – Eu tentei encontrar a Karai ontem à noite.

—Uhum... – A incentivando a continuar, ainda concentrado no microscópio.

—Mas o Leo me encontrou enquanto eu ia lá para fora.

—Então é por isso que você está olhando para ele como se tivesse feito algo errado.

—B-Bem... Mais ou menos. – Baixa a cabeça.

—Estou ouvindo.

—Eu insisti e Leo concordou em me levar para vê-la. Disse que sabia onde poderia encontra-la e a Karai realmente apareceu para ele. Acho que eles devem ser próximos ou algo assim.  

—É. Mais do que gostaríamos.

—Leo gosta mesmo dela? – Olha para trás outra vez, o encarando.

Donnie devolve o olhar, fitando o teto por alguns segundos, pensativo.

—Bem... não sabemos se ele gosta, gosta dela, mas sim, ele gosta. Embora já tenha entendido que ela não é alguém confiável, o que nos deixa um pouco mais tranquilos. – Volta a olhar para as lentes. – E aí?

—Bem... Eu perdi o controle quando a vi e... a ataquei. E não quis explicar para o Leo porque fiz isso.

—E para mim? Gostaria de explicar? – Silêncio. – ... Ok. E-

—Karai não me reconheceu. -Lisa o interrompe.

Donnie volta o olhar para ela.

—... Tudo bem. – Pensativo por alguns segundos. – E o Leo achou isso estranho.

— E-Eu não quero ter que explicar isso agora. Eu não quero que ele me pergunte nada. Mas eu sei que ele vai.

—Já tentou dizer a ele que não quer falar sobre isso?

—Não...

—Leo é o mais cabeça fria de todos nós. Se fosse o Raph talvez realmente não te deixaria em paz. Mas o Leo deve entender. Ele é o líder, será ruim se vocês ficarem sem se falar desse jeito!

Lisa fica em silêncio, refletindo sobre as coisas que Donatello havia lhe dito. Boa parte de toda a tensão que sentia desde o início da manhã parecia ter dissipado de seu peito depois de colocar tudo para fora e desabafar um pouco com ele, mesmo que também não tivesse entrado em detalhes profundos de tudo que a incomodava.

Com um leve sorriso, Lisa percebeu que se sentia confortável na presença do maior e o quanto era bom saber que tinha alguém em quem pudesse confiar, ter alguém para ouvi-la. Lisa nunca soube até então o que era ter alguém assim. Karai era o mais próximo de uma ouvinte que ela havia tido em sua vida, mas devido as circunstancias ela nunca pôde lhe dar muita atenção. E agora... zero atenção.

Embora todos os problemas... Estava grata por estar ali, em meio aquele silêncio confortável que era apenas quebrado pelo som de Donnie mexendo em seus materiais.

—Acho que está certo. É tão fácil conversar com você, Donnie. – Lisa olha para trás novamente, mas o seu sorriso inicial muda um pouquinho ao perceber que a expressão calma de Donnie havia mudado. – Donnie..?

Donatello encarava a lâmina no microscópico com uma expressão aflita. Se afastando dele com um olhar desconsertado, confuso, mas que aos poucos... Parecia clarear, como se compreendesse algo.

Esticou sua mão até uma pequena estufa que havia em sua mesa e retirou de lá uma outra lâmina, a colocando no lugar da que continha o DNA de Lisa e a observando outra vez, repetindo esse movimento várias vezes, alternando as lâminas e as observando de novo e de novo. Enquanto isso, Lisa o encarava preocupada com o olhar dele e com a forma como ele parecia um pouco nervoso.

—Donnie!

Chamou novamente, desta vez com um tom um pouco mais enfático, que faz com que Donatello parasse o que fazia, afastando os olhos das lentes, mas ainda encarando o aparelho com um ar atormentado.

—Karai não te reconheceu?

Lisa estranha ele estar trazendo aquele assunto de volta, o encarando com uma expressão confusa. Diante do silêncio da menor, Donnie levanta o olhar para ela, um olhar firme, sério e... Dolorido. Ao ser confrontada por aquele olhar, Lisa leva alguns segundos para finalmente conseguir compreender o que havia acontecido e seus olhos se arregalam no mesmo instante, levantando bruscamente da banqueta onde estava, a fazendo cair no chão.

O susto pelo estrondo do objeto caindo ao chão, faz Lisa ficar ainda mais desconsertada do que já estava após ter recebido aquele olhar, parecendo paralisada enquanto por reflexo abraçava o próprio corpo numa tentativa de se acalmar.

Donnie, vendo aquela reação teve qualquer mínima dúvida sanada e confirmou o que havia percebido ao analisar aquelas lâminas. Devagar, levantou-se de sua cadeira e caminhou até ela, ficando alguns passos de distância pois não queria assusta-la mais.

—Por que não nos contou?

Lisa nada responde, apenas volta o olhar para o chão. Seus olhos imediatamente começam a se encher de lágrimas, embora tentasse a todo custo segura-las. Donnie suspira.

—Agora eu entendo. O Clã Foot, a Karai, seu jeito distante o tempo todo... – Coloca a mão na cabeça. – Nós nunca teríamos te rejeitado se soubéssemos disso! Por que não disse nada?

A jovem não consegue mais segurar suas lágrimas e começa a chorar dolorosamente, ainda tentando se conter de alguma forma e abraçando a si mesma com ainda mais força. Ao ver aquilo, Donnie se aproxima mais, tocando seus braços, tentando conforta-la.

—Ei, calma... E-Eu sei que deve ser péssimo. Eu entendo. Nós conhecemos várias pessoas que por acidente aca-

—NÃO FOI UM ACIDENTE!

Lisa volta o olhar para ele, o encarando cheia de dor enquanto chorava copiosamente após abrir novamente aquela ferida em seu coração que sempre ardeu ali no fundo, não importava o quanto tentasse cura-la. Aquela ferida que sempre esteve ali relembrando-a do passado que tanto tentava escapar. Donnie se assusta com o grito repentino, mas ainda prestava atenção nela.

—NÃO FOI UM ACIDENTE! ELES ME DEIXARAM DESSE JEITO!

—O-O que?

Lisa não queria acessar aquelas lembranças. Queria enterra-las em seu peito e nunca mais olhar para elas, mesmo sabendo que isso seria impossível. Porque afinal, sempre que via sua imagem refletida... Tudo voltava para atormenta-la.

—O CLÃ FOOT! ELES FIZERAM ISSO COMIGO! – Lisa bate suas mãos no peito do outro, a ira que sentia sendo difícil de conter apenas em si, mas Donnie não se abala, permanece firme a ouvindo.. – E-Eles fizeram isso comigo...  E agora a minha irmã... N-Nem ela me reconhece mais...

Com a fúria se esvaindo e sendo substituída pela dor, Donnie a puxa para mais perto de si, a abraçando. Lisa não demonstra resistência, apenas deixa seus braços caírem enquanto continua sendo consolada por ele.

—Karai não te reconheceu porque esse não é seu corpo original. – Donnie suspira. – Você é humana.

—x-

Após ter aberto a caixa de pandora que estava trancafiada a tanto tempo no coração de Lisa, Donatello deixou-a chorar por quanto tempo quisesse, ficando ali ao seu lado até que ela conseguisse se acalmar o suficiente para que pudesse conversar.

Já mais calma e terminado de chorar, Lisa estava sentada no chão próximo a bancada de trabalho, com Donatello sentado ao seu lado e permitindo que ela mantivesse a cabeça encostada em seu ombro.

—Você está bem..?

—...Vou sobreviver.

—... Eu devia ter sabido. Não sei como não pensei nisso antes... Parece ser tão óbvio agora.

—Como descobriu..? Como olhou para meu DNA e soube?

Donnie suspirou e se levantou do chão, estendendo a mão para ela que ela se levantasse também. Lisa aceita a mão oferecida e deixa-se ser puxada até próxima do microscópio.

—Veja... Esse é o seu DNA. – Lisa olha pelas lentes do aparelho. – Este... é o DNA do mestre Splinter. – Donnie troca as lâminas. -  Seu DNA é uma bagunça, tem muita coisa aí dentro. Mas está vendo o padrão? É bem semelhante ao do mestre... E ao da April. – Troca as lâminas novamente. – Agora veja o meu. É completamente diferente. Você deveria ter um DNA mais próximo do nosso, sendo da mesma espécie. Mas seu DNA é mais semelhante aos deles. Isso juntado ao que sei sobre você... Bem, eu liguei os pontos.

Lisa se afasta do aparelho, olhando para frente com um olhar distante, mas compreensivo.

—Entendi.

—Lisa, eu não entendo. Por que nunca nos disse isso? Achou que não iriamos acolhe-la do mesmo jeito?

—Não tem a ver com o que vocês pensam sobre mim, Donnie. Tem a ver com como eu me sinto sobre isso. Eu não fui transformada por acidente. Não foi um descuido, não foi uma consequência de uma batalha com esses Kraang. Eles me transformaram, o Clã Foot me fez ficar assim.

—Te transformaram... A força? – Lisa confirma com a cabeça. – Por isso fugiu... Por isso estava machucada daquele jeito.

—Eu não estava tentando esconder. Eu só não queria mais pensar nisso... Não queria mais me lembrar disso.

—É compreensível. – Afaga a cabeça dela. – E agora que eu sei, o que quer fazer? Pretende contar aos outros ou quer que eu guarde segredo?

—Se eu guardar esse segredo... Isso nunca vai me deixar em paz, não é? Eu estou aqui há dias e não importa o quanto esteja feliz... Sempre volta e volta.

—...Se jogar a poeira debaixo do tapete, ela vai continuar ali.

—... Eu quero falar com Mestre Splinter. Donnie, poderia... chamar os outros também? Eu não quero ter que repetir a história toda de novo e de novo para cada um deles então... será pra todos de uma vez.

—Claro que posso. Eu vou com você até o mestre. – Afirma num tom atencioso que coloca um leve sorriso no rosto dela.

—Obrigada...

—x-

O Clã Foot nunca foi simplesmente meu clã, era toda a minha família. Foi por quem eu dediquei toda a minha vida, por quem eu sacrifiquei toda minha infância. Brincadeiras por treinamentos sem fim. Bonecas por facas. Flores por máscaras. Afagos por palavras duras. Rosa pelo preto. Tudo o que eu mais amava deixado de lado para servir a lealdade que eu tinha pelo meu clã. Tudo para agradar a quem eu mais amava e respeitava.

Sacrifiquei tudo o que me fazia feliz por pensar que o Clã era a minha família e que lá seria o meu lugar

Mas então...

“O mestre destruidor solicitou que acompanhássemos você até seu encontro.”

“Os planos dele mudaram devido à notícia que Hamato Yoshi está vivo. Ele precisa de você. Mas como é agora, não poderá ser muito útil. Por isso vamos ajudar.”

“E-Ele... disse que precisa de mim?”

Aquela noticia foi o suficiente para me encher de alegria, afinal, eu queria ser importante para meu pai. Naquela época eu não compreendia que "ser importante" era ser treinada para matar alguém, ou talvez eu compreendesse, mas estava tão feliz em poder ser util... que não pensei muito nisso. Quando os ninjas do clã vieram até mim dizendo isto, pensei que seria colocada em algum treinamento especial, mas...

“Que tartaruga linda...”

Fui levada até um tipo de laboratório, meu pai havia o construído a pouco tempo e até então nunca haviam permitido que eu entrasse naquele lugar. Eu esperava ver muitas coisas ali dentro, mas um enorme tanque d'agua onde nadava uma tartaruga marinha não era uma delas..

"Por que capturaram uma tartaruga?

“Esta é apenas uma pequena provocação do mestre à seu inimigo.”

Após isso... tudo o que aconteceu é uma lembrança confusa. Em um momento estava à borda do tanque observando aquele animal e no outro, jogada no tanque d’agua, só eu e a tartaruga marinha. Ela foi a última coisa que vi após desmaiar. Ainda me lembro do olhar profundo que ela tinha logo antes de sentir aquela dor que queimou todo meu corpo.

Quando eu acordei, eu estava em meio a uma grande poça de agua, em um corpo que não era o meu.

—x-

O silêncio se instala por todo cômodo após Lisa contar sua história, Splinter assim como seus filhos estavam sentados próximos a ela. Os quatro irmãos a olhavam com expressões doloridas assim como a de Donnie quando descobriu tudo, já Splinter mantinha um olhar estristecido, embora não tão expressivo quando o de seus filhos.

—Mona Lisa, fico feliz que finalmente tenha me dito a verdade.

Ouvindo aquilo, Lisa o encara surpresa.

—O-O senhor sabia?

Splinter acena com a cabeça, alisando seu longo bigode com as mãos.

—Tudo se esclareceu quando soube de suas origens. Suas habilidades com ninjutsu são esplêndidas. Alguém em treinamento a pouco tempo jamais teria tais habilidades. Você foi treinada por anos, assim como meus filhos. Seria ingênuo demais acreditar que o acaso fez com que uma tartaruga fosse espontaneamente treinada justamente pelo clã inimigo ao meu. Você foi transformada... Por capricho deles.

Lisa olha para baixo.

—Eu compreendi isso quando os encontrei. Quando soube que você era Hamato Yoshi e quando vi vocês. – Olha para as tartarugas. – Eu entendi porque me transformaram nisso. – Encara as próprias mãos.

—Você foi mutada em um tanque com agua do mar? – Questiona Donnie, e Lisa acena positivamente a cabeça. – Por isso seu DNA é uma bagunça. Tem de tudo na agua do mar, milhares seres vivos, milhares de componentes!

—Por isso Karai não sabia quem você era. – Leo ainda estava estático, mas ainda... confuso. – Mas você pareceu aliviada quando viu que ela não te reconhecia! Por que?

Lisa sorri distante, voltando o olhar para ele.

—Se ela não sabia da existência de uma quinta tartaruga ninja, ela não está envolvida no que aconteceu comigo. Karai ainda é minha Nee-san.

A expressão de Leo se clareou em compreensão, finalmente entendendo aquele encontro estranho da noite anterior.

—Desculpe Leo. Desculpe por não ter explicado nada...

—Deixa disso. – Leo abre um sorriso. – Eu acho que toda essa confusão acabou servindo para nos unir ainda mais.

—Foi muito corajosa em se abrir para nós, Mona Lisa. – Splinter comenta. – Imagino que mexer nessas memórias seja algo dolorido para você. Obrigado por confiar em nós.

—Vocês também confiaram em mim, Sensei. – Baixa a cabeça. – Sensei, me desculpe pelas vezes que o ataquei. Agora eu consigo compreender melhor a raiva que senti. Quando... Quanto entendi que o desafeto entre você e o destruidor foi o motivo de eu ter sido mutada... Por um momento, eu o odiei.

—Eu compreendo perfeitamente, Mona Lisa. Como disse várias vezes, você é apenas uma criança e a fúria faz parte da juventude. Agora todos sabemos que estamos no mesmo lado.

—Agora sei que estava do lado errado a vida toda, Sensei. – Olha para os outros. – Obrigada por sempre me acolherem e perdão por tantos segredos.

No mesmo instante Mikey gruda nela, a apertando em um abraço enquanto estava todo choroso, afinal, sempre foi o mais sensível dos irmãos.

—Agora vamos jogar videogame todo dia! Eu te deixo até ser o player 1.

—O-Obrigada? – Não havia compreendido bem o que aquilo significava, mas parecia ser algo bom.

—Mona Lisa, não podemos saber se um dia você retornará ao seu corpo original, mas espero que saiba que sempre encontrará refúgio nessa família.

—Agora eu sei disso, Sensei. – Sorri agradecida, se curvando. – Mas... Ainda tenho algo para contar a vocês. – Eles olham para ela e Splinter acena suavemente com a cabeça a incentivando a prosseguir. – Karai não é como uma irmã para mim. Karai é minha irmã.

O olhar dos mais jovens se arregalam com aquela informação, principalmente pela outra informação que advinha desta. Splinter continua a encarando com um ar sério, também compreendendo o que ela estava querendo lhes dizer.

—P-Peraí... – Leo estava boquiaberto. – Se a Karai é sua irmã, então você é...

Lisa abaixa sua cabeça.

—Filha do Destruidor. 


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Notas finais do capítulo

Você gostou do capitulo? Não gostou? Tem alguma sugestão, pergunta ou elogio? Se sua resposta a alguma dessas perguntas for "sim", por favor deixe seu comentário aí embaixo! Isso me incentiva muito a continuar com meu trabalho!
Dá uma conferida lá no meu instagram, onde eu posto o andamento da escrita dos capítulos e também posto umas coisas nada a ver e uns desenhos que eu faço as vezes. ;) https://www.instagram.com/tord_thewriter/
Até o próximo capitulo!

—Tord.



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