—Uwaaa... Bom diaa...

Um bocejo sonolento inicia o período de treinos daquela nova manhã. As quatro tartarugas irmãs adentravam o dojo para dar seguimento aos seus treinos com a arte do Ninjutsu sob o comendo de Mestre Splinter. A manhã se seguia como em todas as outras, até uma suave voz feminina cortar a rotina do dia-a-dia.

—Ohayo, Mikey!

—Oha... “O” o que?

Mikey e seus irmãos voltam seu olhares para frente, olhando para a quinta tartaruga posicionada ao lado de Splinter que sorria orgulhosamente ao exibir seu novo visual. Além da máscara presente do Mestre posicionada em seu rosto, Lisa agora também trajava cotoveleiras e joelheiras semelhantes aos que os meninos usavam.

—HOOOAH! VOCÊ PARECE COM A GENTE! – Diz já empolgado.

—Agora que notou isso? – Provoca Leo, num ar divertido.

—Você entendeu o que eu quis dizer! – Bico.

—Hm... Rosa, é? – Raphael se aproxima. – Há! Previsível.

—Na verdade, esta cor de chama “Fúcsia”, Raph! – Corrigiu Donnie. – Ela é uma cor localizada entre o Rosa e o Roxo.

—Rosa escuro então. - Rebate simplista. 

—Por que ainda tento? – Donnie revira os olhos. – Ohayo, Lisa!  – Também a cumprimenta, arrancando um sorrido da jovem e um olhar confuso de Mikey.

—Caras, podem por favor falar nossa língua?

—Isso significa “Bom dia”, Mikey! – Explica Leo num ar risonho.

Sorrindo ao ver a interação de todos, Splinter se aproxima e imediatamente seus agora cinco alunos se alinham a sua frente, o cumprimentando com uma mesura respeitosa e em seguida se ajoelhando à frente dele.

—Meus filhos, eu gostaria de anunciar que Mona Lisa à partir de hoje, faz oficialmente parte desta equipe e ficará conosco de agora em diante.

—YEAAAH-

—Caham. Ou seja... – Continua de forma mais firme, contendo a empolgação de Mikey que voltou a ficar em silêncio com um sorriso amarelo. – Leonardo. Agora, você tem mais uma pessoa para liderar. Mais um par de mãos na equipe que significam maior apoio, mas também mais responsabilidades. Faça seu melhor.

—Sim, Sensei!

Leonardo lança um sorriso amigável para Lisa, que o retribui prontamente.

—Bem, para o treinamento de hoje, eu gostaria de reproduzir com Michelangelo e Donatello o que fiz com os demais ontem: Gostaria que enfrentassem Mona Lisa em um duelo. – Indicando a jovem com uma das mãos. –  Como ela teve um treinamento com bases diferentes, sua forma de atacar, esquivar e pensar durante uma batalha são distintas. É importante que vocês todos se habituem ao estilo de luta dela e não apenas Leonardo como líder.

—Sim, sensei! – Respondem em uníssono.

—É melhor levarem ela a sério, Raphael se deu mal! – Leonardo Sussurrou, provocando ao irmão.

Raphael estava pronto para responder à aquela provocação da maneira mais ríspida e grosseira que conseguia, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Lisa se levanta encarando ao mestre com uma expressão séria no rosto.

—Sensei, antes de continuar... E-Eu gostaria de contar a eles.  – Desvia seu olhar.  – O senhor poderia... Me devolver meu Teessen antigo por um momento?

Splinter já imaginava que Mona Lisa fosse lhe fazer aquele pedido mais cedo ou mais tarde, apenas aguardava pacientemente que ela mesma tomasse a iniciativa, pois não queria invadir seu espaço e queria que tal atitude partisse dela. Por isso, não hesitou em atender seu pedido e calmamente caminhar até seus aposentos, onde o antigo Teessen de Lisa estava guardado. Logo retorna com ele em mãos, entregando-a para a jovem. As outras quatro tartarugas se entreolham curiosos, sem entender o que aconteceria.

Tomando o Teessen em mãos, ela caminha alguns passos à frente e se vira para eles sem muito ânimo. Lançou um olhar inseguro para Splinter, e este, acena positivamente com a cabeça para incentiva-la a continuar.

—Tem algo sobre mim que eu ainda não contei a vocês.  – Desvia o olhar para Splinter por um momento.  – Mestre Splinter sabe sobre isso, mas... se nós vamos ser um time, eu não quero começar isso guardando segredos de vocês.

Mantendo um olhar inseguro, Lisa respira fundo, e hesita por alguns segundos antes de abrir o Teessen num único movimento, revelando para os quatro irmãos o símbolo vermelho do clã Foot talhado no objeto metálico. No momento em que os quatro olhares recaem sobre aquele símbolo assustador, todos tem um sobressalto. No mesmo instante, Raphael também se levanta.

—Você é do clã Foot!

—Era. – Corrige sem ânimo.

—Você tem nos enganado esse tempo todo!

—Raphael. – Splinter o repreende. – Eu sei deste fato desde o início, Mona Lisa não enganou ninguém aqui e eu admiro sua decisão espontânea de lhes contar isso. Afinal, em nenhum momento eu a pedi que contasse. – Splinter olha para ela. – Mona Lisa, você considerou o time acima de seus próprios interesses. Muito bem.

—Obrigada, sensei. – Olha para Splinter com um leve sorriso no rosto e em seguida, direciona seu olhar para Raphael. – Eu imagino vocês tenham motivos para não gostarem da minha presença depois de saberem disso.  – Fecha o Teessen novamente. – Por isso, eu serei paciente para com o tempo ganhar a confiança de vocês.

—Eu não preciso de tempo. – Leonardo interrompe. – Se o Sensei confia em você, eu também confio.

Os outros irmãos encaram Leonardo, meio surpresos depois de ouvirem aquela decisão com um tom tão firme mesmo após aquela revelação. Splinter olha para Leonardo com um sorriso orgulhoso.

—Eu tô com o Leo. – Donnie afirma.

—Eu também! Gosto dela! – Mikey acompanha com um sorriso.

—Ah, qualé? Nós já não tivemos problemas demais com a Karai?

Raphael estava indignado com a aceitação tão rápida que seus irmãos tiveram. Como eles eram capazes de sempre confiar tão rapidamente em alguém do time inimigo? Leo tinha sua quedinha por Karai, Mikey tinha sua quase compulsão em fazer amizade com as piores pessoas possíveis e Donnie ainda não tinha feito nenhuma besteira, mas era bem capaz de se incluir nesse time rapidinho! Apesar da cara de desaprovação de Raphael, a preocupação de Lisa com a reação deles e o leve sorriso que se formou ao receber o apoio da maioria são imediatamente substituídos por uma expressão indecifrável ao ouvir aquele nome.

—Karai? – Os olhares se voltam para ela. – K-Karai está aqui?

—Conhece a Karai? – Leo estava interessado, principalmente por conta da expressão tão surpresa dela.

—Sim... Nós somos... – Pausa – S-Somos como irmãs. Crescemos juntas. – Ela parecia desconsertada por um momento. – Ela está aqui em Nova York?

—Pois é! Ela é a namorada do Leeeo! – Mikey provoca, cutucando a bochecha dele.

—E-Ela não é minha namorada! – Bate na mão dele, tirando-a de seu rosto.

—Basta. – Splinter interrompe num tom calmo, observando atentamente o olhar distante de Lisa. – Mona Lisa, se sente bem para prosseguir com os treinos?

—S-Sim... Eu estou. – Se recompõe. – E-Eu estou! – Endireita seu corpo.

—Muito bem. – Coloca suas mãos atrás de seu corpo. – Meus filhos, eu espero que vocês se lembrem de que assim como as pessoas boas podem se tornar más, pessoas más também podem se tornar boas. – Alisa seu bigode. – Mas, devem se lembrar principalmente que estar ligado à uma certa família não diz tudo sobre uma pessoa.

—Sim, Sensei.

—Mona Lisa, Donatello, venham. – Os chamando ao centro com um gesto e em seguida estende sua mão para Lisa e pegando de volta seu antigo Teessen. – Hajime.

Ainda um pouco atordoado pela conversa anterior, Donatello obedece ao comando do Mestre, assim como Lisa e ambos se colocam ajoelhados frente à frente.

—Han... Eu não nunca lutei contra uma garota mais nova que eu, então... me desculpe em antecedência.

—Donnie, se começar a me tratar como menininha agora, não vou ser boazinha com você.

—Oh. – ...Abre um sorriso. – Bem... eu não quero que seja!

—Hajime!

Ambos se levantam após o comando. Donnie pega seu bastão, o girando em suas mãos e o posicionando em posição defensiva. Lisa também se coloca em guarda, observando atentamente todos os movimentos dele.

—Hm... Bõ, é? – Fala consigo mesma, refletindo sobre a arma de Donnie. – Interessante.

—Não vai sacar sua arma?

Lisa abre um sorrisinho.

—Se eu achar necessário...

Sorrindo largo pela ousadia dela em desafia-lo daquela forma, Donnie continua em guarda e vendo que não seria ele quem iniciaria aquela luta, Lisa avança sobre ele, furiosamente deferindo o primeiro chute prosseguido de um giro, os quais o ninja roxo consegue bloquear com seu bastão.

—“F-Forte!” – Pensou o maior quando seus pés se arrastam para trás com o impacto de seu chute.

Novamente teve que pensar rápido, pois ela não perde tempo em deferir outro ataque em sua direção. Desta vez Donatello consegue reagir com sua ofensiva e após se defender novamente, é sua vez de atacar. Saltando alto enquanto girava seu bastão, defere um golpe na direção da menor que reflexivamente gira seu corpo para que o ataque atingisse seu casco. O impacto da batida lança Donatello alguns metros para trás.

—Você usou o casco como escudo!  – Surpreso. – Que inteligente!

—Inteligente? – Arqueia a sobrancelha. – Eu diria que é obvio! Somos tartarugas! – Risonha.

—É, mas eu nunca pensei em usar meu corpo como ferramenta!

—O corpo é sempre a melhor ferramenta. – Pega seus Teessens em mãos. – Até as armas de fogo são inúteis nas mãos de um corpo fraco. – Abre a ambos. – Tem que pensar maior, Donnie!

—x-

Após mais uma sessão de duelos que resultou em uma vitória e uma derrota para Lisa, as cinco tartarugas podem aproveitar o restante do dia. Donnie mantinha um olhar curioso, enquanto em sua cabeça pensava sobre a luta que havia tido com Lisa minutos atras e sobre como poderia aplicar o que tinha conseguido aprender naquele treinamento em seus próximos confrontos. Donatello estaria 100% tranquilo com relação ao fato de ter falhado perante as habilidades de combate da mais nova, se não fosse Mikey ali cantarolando todo metido por ter a vencido.

—Há! Eu venci! Eu sou o primeiro a vencer a Lisa! – Com as mãos para cima comemorando. – Caras, vocês são fracos!

—Eu não perdi para ela. Tecnicamente foi um empate! – Leonardo corrige.

—Empate não é vitória!

—Eu não entendo como você perdeu justo para o Mikey. – Raphael estava inconformado.

—Por que? – Arqueia a sobrancelha. – Qual a diferença entre perder para você e perder para o Mikey?

Os três mais velhos encaram Lisa num ar incrédulo, em seguida se entreolham.

—Han... é o Mikey? – Donnie responde como se fosse obvio, fazendo com que o mais novo o encarasse feio.

—O que quer dizer com “É o Mikey?” – Questionou ainda sem entender.

—É! – Mikey questiona com cara feia. – O que quer dizer?

—Mikey é ágil. Seus reflexos são ótimos e ele mantem a mente limpa durante o confronto. Ele se concentra plenamente durante a batalha mas ao mesmo tempo não deixa que isso limite seus movimentos. As vezes sua falta de seriedade o distraí um pouco, mas Mikey é um ótimo ninja. Não vejo nenhuma diferença entre o nível que ele se encontra com o que todos nós estamos.

A sinceridade na fala dela faz com que os outros a encarem atônitos, inclusive Mikey que nunca havia ouvido algo como aquilo à seu respeito. Tais palavras até por um momento fizeram com que o rosto dele se avermelhasse.

Em alguns segundos, Mikey se convence de que todos aqueles elogios eram mesmo para si e seu olhar brilha, abrindo um sorriso gigante e rapidamente voltando ao ar metido de antes.

—Há! Viram só! Eu sou demais!

Os outros três ainda pareciam incrédulos.

—Por que estão me olhando como se o que eu estivesse falando algum absurdo? – Se senta no sofá assim que chegam à sala.

—Ah, você sabe. Eu e Raph sempre fomos o time A, Donnie e Mikey o time B. – Fala simplista, arrancando olhares feios do “Time B”.

—Bem... Não que eu seja comparação para alguma coisa, mas “Time A” não tem alguém que me venceu numa disputa. – Responde na lata, num ar meio ríspido por não ter gostado nada daquela separação. Donnie e Mikey instantaneamente abrem sorrisos espertinhos para os outros dois irmãos. – O melhor lutador e o mais inteligente. Eu diria que o “time B” venceria facilmente o “time A”

A essa altura, Leonardo já os encarava com cara de tacho por perceber que não poderia rebater aqueles argumentos, enquanto Raphael já tinha emburrado a cara toda pelo mesmo motivo.

—Gostava mais de você quando não falava. – Resmunga.

—Desde quando ficaram tão próximos? – Leo tentava desconversar do assunto com um sorriso amarelo no rosto.

—Mikey é o mais divertido e Donnie é meu favorito! – Abre um sorriso largo.

—Hooh! Como você é interesseeeira! – Donatello provocou com um sorriso no rosto, pois sabia muito bem porque tinha se tornado “o favorito”.

—Eu não sou interesseira! – Risonha.

—Interesseira por que? – Questiona o ninja laranja curiosamente.

—Donnie me deu um presente ontem!

Instantaneamente os outros três encaram Donatello com um sorriso de “hmmmmmm”, o fazendo os encarar indignado no mesmo instante.

—E-Eu já tenho a April! Eu sou um homem fiel!

—Cara, você não tem nem o “A”. – Mikey não perde a chance de incomodar, fazendo Donnie lhe direcionar um olhar irritado. Nem aí com a expressão do irmão, volta a olhar para ela. – O que ele te deu?

—Ah! Eu vou pegar!

Rapidamente, Lisa salta do sofá e corre até seu quarto para buscar sua boneca. Enquanto isso, os outros permanecem na sala, com Leonardo tranquilamente ligando a TV para assistir seu programa favorito.

—Ei. – Raph começa, se recostando todo no sofá. – Eu ainda não gosto dessa história dela ter vindo do clã Foot. – Quem garante que ela não é uma espiã ou coisa assim?

—Se ela fosse uma espiã não teria contado ao Splinter de onde veio e nem à nós. – Donnie rebate calmamente. – Além disso, espiãos normalmente não se infiltram aparecendo desmaiados e feridos no cais.

—Qualquer um poderia ter a encontrado, ter sido nós foi pura coincidência. – Completa Leo. – Além disso, ela não parece perigosa para mim.

—Mesmo sendo muito forte. -Donnie volta a falar. – Os saltos dela são impressionantes!

—É, parece um sapo. – Raphael comenta maldoso.

—Sua inveja é tocante, Raph.

Novamente a um passo de estourar novamente por ter verdades jogadas em sua cara, Raph é interrompido pela voz de Lisa voltando ao local com sua boneca nos braços, a levantando animadamente para mostrar a eles.

—Essa, é a Srta. Calabresa!

.

.

.

—Fez uma boneca pra ela?!

Instantaneamente os irmãos começam a gargalhar e fazer piadinhas sobre as habilidades de costura de Donnie. Mas, apesar da cara feia, Donnie não se importa com isso. Sabia desde o inicio que com a personalidade antiquada que seus irmãos poderiam ter (Assim como qualquer adolescente besta teria), com certeza não perderiam a chance de zoa-lo por ter se dedicado a uma atividade que não gritasse testosterona. Bem, ninguém ali sabia como era ter uma garota por perto depois de por anos viverem apenas entre homens, então eventualmente, os irmãos iriam acabar se acostumando.

Lisa também não se importou com os risos, apenas abraçou sua boneca com zelo e sorriu agradecida para Donnie novamente, que moveu uns lábios num “Nome legal!” silencioso.

Enquanto abraçava sua boneca, o olhar dela aos poucos se torna distante novamente. Mesmo que por um instante tivesse conseguido ignorar o assunto de mais cedo, novamente aquele nome toma seus pensamentos. Karai estava na cidade. Ela estava ali. Apenas tinha medo... do que aquilo poderia significar.

—x-

—Onde está indo?

O corpo de Lisa se paralisa ao ouvir a voz atrás de si, resmungando baixinho para si mesma por ter sido descoberta. Lentamente, virou a cabeça para trás, encarando a outra tartaruga parada ali.

Já era tarde da noite e todos deveriam estar dormindo naquele horário. Depois de passar horas se revirando em sua cama e sendo atormentada por seus pensamentos, Lisa não conseguiu mais ser confortada apenas por sua boneca. A ansiedade em saber da presença de Karai na cidade tornava impossível com que simplesmente pegasse no sono enquanto aquela duvida que a assombrava não fosse sanada. Mesmo que correndo o risco de gerar mais desconfiança ao seu novo time, precisava tentar. Nem que fosse uma vez. Só não esperava ser descoberta assim tão facilmente.

—Como sabia?

—Foi um palpite.

Leonardo se aproxima dela à passos calmos, parando ao seu lado. Manteve o olhar paciente sobre ela, aguardando que ela respondesse sua pergunta anterior e estranhando a forma como ela não o encarava diretamente.

—Eu... Preciso ver a Karai.

—Por que?

—Eu não a vejo há meses. Eu... só queria vê-la.

—Olha, aqui nós temos uma regra! – Levanta o indicador. – Ninguém saí sozinho. Ok que essa regra na verdade só se aplica ao Mikey, mas... – Lisa suspira, fazendo com que Leo pare com o sermão. – Olha, além disso, eu não sei como você encontraria a Karai. É sempre ela quem nos encontra!

—Você é namorado dela, não é? Você deve saber como achar ela!

—O-Olha, aquela história que o Mikey falou sobre namorada... – Rindo de nervoso, com seu rosto ficando vermelho. – N-Não é bem assim, sabe?

—Leo! – Interrompe os devaneios joviais do outro, se aproximando um passo. – Eu preciso vê-la!

O olhar de Lisa estava diferente do habitual. Não continha mais aquele brilho gentil que ela possuía normalmente, agora ele estava firme e decidido embora houvessem traços de insegurança em toda sua expressão. Um brilho determinado reluzia nos olhos azuis como o mar e tornavam impossível que Leonardo desviasse do assunto.

Meio incerto, o ninja azul olha para a saída de casa e em seguida volta a encara-la por mais alguns segundos. Suspirou pesadamente.

—Ok. Eu te ajudo. Mas eu não garanto que vamos encontrá-la. Vamos ser rápidos com isso e depois você vai me explicar porque quer tanto vê-la!

Após o aceno ansioso da cabeça dela que concordava com o trato, Leo salta por cima das catracas que ficavam na entrada e é prontamente seguido por Lisa que o olha com um sorriso agradecido em seu rosto.

—x-

—Eu ainda não gosto da ideia de você vendo a Karai.

—Eu só quero falar com ela, Leo. Mas eu entendo... duas antigas companheiras, do Clã Foot, conversando. Eu entendo sua preocupação.

—Não vou mentir. No fundo, eu acho que Karai não seja uma pessoa assim tão ruim. Mas... ela já traiu minha confiança mais de uma vez. Não posso mais colocar ela acima dos meus irmãos.

Lisa e Leo se encontravam sentados lado à lado ao alto de um prédio localizado em Chinatown já há alguns minutos. O vento da noite balançava suavemente as pontas de suas máscaras enquanto observavam a cidade ainda tão movimentada, mesmo já sendo tão tarde.

—Acha que ela vai aparecer?

—Bem, eu sempre a encontrava por aqui. Se ela estiver atrás de mim também, talvez apareça. – Olha para ela. – Nunca imaginei que a Karai teria uma irmã. Ela nunca me disse nada... Bem, ela não me diz muita coisa mesmo. Como é a relação de vocês?

—Eu não sei dizer. Olhar para ela vai me dizer se tudo o que sei sobre ela é verdade... ou mentira.

Leonardo não compreende a resposta dada, mas antes que pudesse questiona-la, os aguçados sentidos de ninja de ambos captam uma presença alguns metros atrás. Direcionam um rápido olhar um para o outro antes de se virarem já em posição para se defenderem de um possível ataque. Parece que estavam com sorte.

—Faz tempo que não o vejo.

Aquela voz faz ambos reagirem por a reconhecerem no mesmo instante. Aquele tom firme e debochado seria reconhecível para qualquer um dos dois há quilômetros de distância. Saindo das sombras dos prédios ao redor, Karai caminha elegantemente, parando alguns passos à frente com uma de suas mãos na cintura, assumindo sua habitual postura confiante.

—Karai. - Diz num tom sério.

—Oh. Não está contente por me ver? – Arqueia uma de suas sobrancelhas.

Leonardo não responde. Embora a visão dela fizesse seus sentimentos joviais remexerem em seu peito ingênuo, seu lado que ainda podia raciocinar o relembrava constantemente que não podia confiar nela, não importando o quanto sua intuição insistisse que algo dentro daquela garota não fosse tão perverso quanto seus irmãos insistiam em dizer.

—Oh. – Encarou Lisa. – O que é isso? Uma namorada? Que gracinha.

Não se amedrontando com o tom sarcástico dela, Lisa se aproximou sem hesitação.

—L-Lisa– Leonardo tentou para-la, mas um gesto da mão dela o fez parar e apenas continuou observando-a enquanto esta se aproximava da outra garota.

Karai fica curiosa com aquela aproximação, mantendo uma sobrancelha erguida enquanto via a tartaruga se aproximar sem medo até estar à apenas um metro de distância.

—Posso ajudar com algo?

—Karai.

—Eu a conheço?

A pergunta dela a faz arregalar levemente seus olhos, ficando estática por alguns segundos. A expressão tão preocupada que havia se instalado no rosto de Lisa desde o momento que ouviu falar o nome dela naquela manhã, finalmente se suaviza. Aos poucos a tensão de seu rosto vai se esvaindo e solta o ar de seus pulmões que nem havia percebido que estava prendendo até então.

Lentamente, um sorriso aliviado se forma em seu rosto e o brilho retorna ao seu olhar.

—Que bom...

Após sua fala, Lisa simplesmente dá as costas para ela, deixando uma Karai confusa para trás, assim como Leo que observava toda a cena. Continuou caminhando mais alguns passos até parar alguns metros à frente. Mas, de repente, apesar de tentar controlar seus sentimentos e impulsos conforme foi ensinada durante toda sua vida, uma raiva imensa se apossa de Lisa e ela trinca seu maxilar, apertando seus punhos com força. Deixando-se levar pela impulsividade, girou seu corpo novamente na direção de Karai, desta vez para ataca-la.

Com seus reflexos em dia, a ninja do Clã Foot bloqueia o soco que lhe foi deferido e desvia do próximo, se esquivando para o lado.

—Desculpe... Eu não estou com raiva de você, mas seu uniforme me deixa irritada... – Diz com um sorriso dolorido em seu rosto.

Mais ataques se seguem a partir dali, a velocidade de ambas era equivalente, bloqueios e contra-ataques se combinavam numa perfeita sincronia, onde nenhuma delas tinha tempo para hesitação. Mas então, um segundo, uma brecha se surgiu dentre o confronto e isso foi o suficiente para Lisa desempatar o placar de chutes e socos e derruba-la no chão com uma rasteira.

Ofegantes, as duas jovens se encaram por um longo período. Karai mantinha ainda um olhar confuso de quem ainda não tinha todas as peças disponíveis para montar a resposta daquele quebra cabeça sem sentido que se iniciou no momento que conheceu aquela nova tartaruga. Já Mona Lisa, mantinha um olhar distante enquanto encarava o rosto dela de cima, parecendo perdida em seus próprios pensamentos.

—Eu sempre ganhei de você nas batalhas, Nee-san.

Aquele chamamento faz Karai arregalar seus olhos no mesmo instante e ainda sentada no chão, encara ela de cima a baixo, incrédula.

—O... O que?

Abrindo um mínimo sorriso, Lisa a encarou por mais alguns segundos e dá as costas para ela novamente, correndo até Leonardo.

—Eu já fiz tudo o que tinha para fazer! Vamos embora!

—M-Mas-

—Vamos, Leo! – O encara suplicante, um brilho de pequenas lagrimas que tentava conter reluzindo em seu olhar.. – Por favor.

Com o olhar que ela direcionou para si, Leonardo para de questiona-la e a segue. Antes de saltar para o prédio à frente, direcionou mais um olhar para Karai, que ainda os encarava com uma feição perturbada.