A Imperatriz do Mar escrita por Tord


Capítulo 7
Duas versões de uma história


Notas iniciais do capítulo

E AI MEU POVO? SUAVE? EU TO VIVO *Rindo de nervoso*
Como vocês estão? Curtiram bem as férias porque eu sim, principalmente porque eu entrei em coma e dormi o mês inteiro. ♡\( ̄▽ ̄)/♡
Na verdade eu voltei de férias já tem uma semana. Eu não atualizei nenhuma das minhas fanfics durante as férias porque eu percebi que eu tava realmente MUITO cansado e simplesmente não conseguia formular algo bom. Eu até escrevi um pouco mas não cheguei a terminar nenhum capitulo, embora no meio disso, incentivado pelo filme do Invasor Zim eu tenha começado uma nova aushaush (Alias, atualizações em breve!) Além disso nessa ultima semana, que parece que durou um mês em 7 dias eu trabalhei igual um condenado. (ಥ﹏ಥ) Parece que me fizeram compensar tudo o que descansei nas férias, mas anyway.
Ahem, sobre Imperatriz do mar, eu sei que já faz mó tempão que eu não atualizo. Bem, além do cansaço fisico e mental eu estava com um mega bloqueio criativo para essa história e quem já teve bloqueios sabe que não tem o que fazer, é sentar e esperar passar e as vezes demora um pouquinho. Mas, finalmente eu consegui ter ideias e aqui está o capitulo!
Caso esteja se perguntando o porque dos emojis de carinhas? Bem... Eu achei um site dessas coisas e achei bonitinho. *risos*
Bem, sem mais delongas, vamos ao capitulo! Espero que gostem e boa leitura!!

—Tord



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Após terem recebido as novas informações sobre Lisa, todos naquela casa não sabiam bem como deveriam agir. Ela ter feito parte do clã Foot já era algo que gerava burburinhos entre eles, mas ela ser filha de seu arquinimigo deixava tudo ainda mais conflituoso. No entanto, as relações dela com o Clã Foot também tornavam as coisas um pouco mais simples de compreender, afinal, sabiam que após ser traída daquela forma, Lisa dificilmente manteria a mesma lealdade de antes.

Depois de se abrir com os demais, Lisa estava um pouco mais reclusa novamente, afinal, sabia perfeitamente que o nível de proximidade que possuía com o Destruidor poderia afetar sua relação com eles, mas seria paciente em reconquista-los novamente caso fosse preciso.

Ficou feliz que mesmo com a nova noticia, Leonardo não desfez o acordo das duplas entre eles e Donnie também não se opôs em continuar junto a ela ao longo daquela semana. Ao ver de Lisa, apenas Raphael parecia ter criado mais desafeto e desconfiança por ela, mas bem... Isso lhe parecia ser algo mais relacionado ao próprio Raphael do que a si. Além disso, logo seria dupla dele também, então em breve veria sua teoria com seus próprios olhos.

Naquele momento estava novamente junto a Donatello, desta vez na sala do esconderijo subterrâneo. Ele estava entretido fazendo algumas modificações em seu robô Metal Head e Lisa estava mexendo no computador, com um pouco de dificuldades.

—Hm... Donnie, como eu volto pra página anterior?

Desviando o olhar do que fazia, Donatello levanta seus óculos de proteção para o alto de sua cabeça e se estica para perto dela, espiando a tela.

—Aqui. – Aponta, observando ela fazer o que ele dizia e soltar um “Hmmm” num ar de “Entendi”. – É mesmo a primeira vez que mexe em um computador?

—Uhum! Eu fui criada nos moldes tradicionais, então eu nunca tive muito acesso à tecnologia. – Responde concentrada no que lia.

—O que isso quer dizer? – Curioso.

—Quer dizer que além treinar, eu aprendi literatura japonesa, postura, bons modos... – Suspira. – Boa ninja, obediente esposa.

—Oh... – Meio surpreso. – Hm... Não parece divertido.

—Não era! – Leve riso. – Mas... Queria agradar meu pai.

O olhar e sorriso de Lisa ficam distantes novamente enquanto continuava lendo a página na tela do computador. Vendo aquela mudança de humor, Donnie decide trocar de assunto.

—E o que está pesquisando? – Espia a tela novamente, ficando curioso ao ver a imagem de um tipo de flor cor de rosa. – Flores?

—Isso é um Oleandro. É um tipo de flor também conhecida como Espirradeira. É uma planta tóxica.

—Oh! Venenos! – Lisa acena com a cabeça. – Quer produzir veneno com isso?

—Sim! Com essa planta posso fabricar venenos de vários espectros, dependendo da concentração. Quero fazer um paralisante.

—E como vai achar isso?

—Na verdade é uma planta bem comum nas casas das pessoas. Muitos nem sabem o quanto elas são venenosas.

—Eu também não saberia! Parece inofensivo olhando assim.

—A botânica é um universo interessante, Donnie!

—Estou vendo!

Donnie voltou a trocar os circuitos elétricos de Metal Head, recolocando seus óculos de proteção para soldar as placas e fios em seus devidos lugares, enquanto isso, Lisa voltou a ler as páginas do PDF de um livro de botânica que havia encontrado online. Seria divertido voltar a cultivar plantar e produzir venenos a partir delas, afinal, já havia um bom tempo que não fazia aquilo. Iria precisar de material para isso, mas nada que não encontrasse por aí ou que não pudesse pegar emprestado de Donnie. Além disso, assim como podia criar venenos, também sabia como criar medicamentos e isso poderia ser útil dado que eles viviam isolados em um esgoto e caso precisassem, não poderiam ir ao médico. (Ou a um veterinário).

Queria poder ser útil para eles, afinal, havia observado que cada um parecia ter uma função clara ali. Donatello era inteligente, Mikey era veloz, Raphael era forte, Leonardo era disciplinado e Mestre Splinter era um mentor para todos eles. Queria também ter algo que a destacasse dos demais.

—Hãn... Olá?

Aquela voz era nova para Lisa, mas muito familiar para Donnie, fez com que ambos olhassem para as catracas que ficavam na entrada do esconderijo. Donnie imediatamente abriu um sorriso e Lisa encarou aquela pessoa curiosamente enquanto ela lhe encarou da mesma forma.

—April!

“April”? Cabelos ruivos, olhos azuis, Donnie com cara de besta... Então era ela! Lisa também abriu um sorriso divertido ao encarar a expressão tão óbvia do maior e em seguida sorriu à recém-chegada.

—Oi, Donnie! – Os olhos dela ainda estavam fixos em Lisa, custando a acreditar no que via. – O-Oi...

—Olá, April. – Lisa cumprimenta.

Um pouco atordoada com o tom de quem parecia saber exatamente quem era, April olha para Donnie confusa, enquanto Lisa ria de levinho.

—É uma longa história. – Donnie coça a nuca. – Ern... Essa é Mona Lisa, ela faz parte do time agora.

—x-

Já faziam alguns minutos desde Lisa e April haviam sido apresentadas uma a outra e após uma sugestão de Donnie, agora os três se encontravam no dojo e April não parecia muito feliz.

—O que foi? – Donnie questiona.

—É só que... eu era a Kunoichi aqui e os Tessens eram minha coisa. – Resmunga meio mal-humorada. – Além disso ela veio do Clã Foot então... Bem, eu não sei.

—É, eu entendo que possa ser meio estranho, mas... Quando a conhecer melhor vai ver que ela é uma garota legal! – Abre um sorriso. – E sobre ela usar Tessens, bem, isso pode ser algo bom! Tem que vê-la lutando, ela é ótima com eles! Poderá te ensinar muitas coisas! Por isso sugeri que treinássemos um pouco! Legal, uh?

—É...

Ao ouvir a resposta não muito animada de April e ver que tinha falhado em suas técnicas refinadas de conquista, Donnie ri nervosamente, ficando todo vermelho. Lisa, que discretamente observava a cena enquanto se preparava, tem que segurar o riso com a falta de jeito do mais velho.

—Você devia legar isso de forma mais positiva, April. Eu ficarei feliz em ensina-la.

—L-Lisa é uma mestra de Tessens! – Donnie ainda tentava consertar as coisas.

—M-Me chamar de mestre é um pouco demais. – Riso sem graça.

—É, há quanto tempo você treina afinal? – April questiona um ar emburrado. – Dez anos?

—Isso!

—Quê?

—Eu uso Tessens há 10 anos.

—Mas daí você teria começado com 3 anos de idade! – Donnie afirma surpreso.

—É-É, foi quando meus treinos começaram.

—Não é à toa que é tão boa!

Novamente, a cara emburrada de April faz Donnie murchar e Lisa rir baixinho.

—Vamos começar.

April saca seu Tessen, se posicionando em posição de batalha. Em seu rosto uma feição série e determinada a não perder.

—Hooh! Um Tessen pequeno. Clássico e bonito! Eu gosto! – Comenta enquanto também pega seus próprios Tessens, instantaneamente fazendo com que o olhar de April se tornasse um olhar curioso.

—Qual a diferença entre o meu e o seu?

—O tamanho, peso e material do Tessen significa muito na forma de manipula-lo. Os menores são leves e não tem tanta resistência ao ar. Os maiores exigem mais força para move-los, os menores mais destreza. Se são inteiros de metal, se possuem tecido mesclado, com ou sem pontas... Tudo faz diferença na hora de usá-lo. – Seu sorriso aumenta. – Eu posso te mostrar tudo o que quiser.

—Eu acho que me garanto sozinha. – Sorri também.

—Tudo bem.

Com um sorriso no rosto, Lisa saca seu próprio par de Tessens, atraindo o olhar de April. As duas jovens começam a lutar entre si e logo fica perceptível a quem assistisse diferença de habilidades entre as duas.

Lisa movia seu corpo de forma instintiva e automática, sem dificuldades bloqueando todos os ataques dela, forçando-a a recuar cada vez mais, enquanto April tentava ao máximo se defender e revidar os ataques, porém, suas tentativas se encerram quando é encurralada contra a parede sem brechas para revidar mais um ataque.

Os olhos azuis como o céu de April e os azuis esverdeados de Lisa se encaram por alguns segundos.

—Está muito ansiosa. – Lisa explica calmamente. – Quando segurar sua arma nas mãos não pode deixar se levar pelas suas emoções. Além disso, está manuseando seu Tessen de forma errada.

—Mas foi o Mestre Splinter quem me ensinou assim.

—Bem, então ele também está lhe ensinando errado. 

O sorriso de Lisa aumenta enquanto estende sua mão a ela, silenciosamente lhe pedindo para que entregasse seu Tessen. Ela, ainda um tanto desconfiada atendeu ao pedido dela.

Tornando a fechar seus próprios e os prendendo novamente nas faixas amarradas em seu casco, segurou o Tessen de April, o abrindo e fechando algumas vezes, observando-os atentamente.

—O que está fazendo?

—Vendo como esse funciona. – Responde com um leve sorriso. – Seu Tessen é leve, pesa em torno de meio quilo e tem uma lâmina de metal. O que quer dizer que a forma correta de usá-lo é redirecionando a energia do oponente.

Lisa faz um sinal para que April a ataque e um pouco mais confiante, a ruiva faz o que ela lhe pede. Todos os socos e chutes que April deferia eram bloqueados e re-canalisados pelo Tessen nas mãos de Lisa, que usava dos próprios movimentos dela para realizar os seus.

—Grandes ou pequenos, Tessens devem ser tratados como uma extensão de seu corpo, deve ser visto como um só com você. Mas os pequenos não são bons como uma arma ofensiva, são armas para estrategistas. – Novamente April é encurralada. – No entanto, este tem uma lâmina. Eu recomendo usa-la só em casos restritos, quando estiver sem saída. Mas você pode descobrir novas formas de usar. – Sorri. – Há certas regras, mas nada que lhe impeça de buscar novas possibilidades.

Admirada com as habilidades dela, April deixa de lado sua birra inicial e se permite aprender como ela estava disposta a ensinar, afinal, Lisa era uma ninja especialista naquele tipo de arma e se queria aprender a usa-las, aquela era uma ótima oportunidade. Agora, a expressão emburrada de antes, é substituída por um sorriso interessado.

—E os grandes?

—Os Tessens grandes podem ser usados de forma mais ofensiva e também como defesa. – Devolve a arma para April. – Se grande parte dele é de metal, pode ser usado como escudo. O importante é conhecer bem sua arma para saber o jeito certo de usa-la. Trabalhar suas habilidades sem ela também é útil, afinal, principalmente no início do treinamento é fácil deixa-lo escapar de suas mãos.

São observações interessantes, Mona Lisa.

A voz grave do mestre ressoa pelo local e seus três alunos voltam-se a ele. Lisa é a primeira a se curvar respeitosamente, cumprimentando ao sensei. Os outros dois a acompanham e também se curvam. Vendo aquela reação tão espontaneamente educada da menor, Splinter sorri levemente. Sempre que observava o comportamento reverente de Lisa se perguntava como ela seria filha de seu velho amigo. Será que Lisa havia herdado todos seus poucos genes bons? Ou teria puxado a maior parte de sua mãe?

—Está compartilhando o que sabe com a Srta. O’nell?

—Sim, Sensei. Donnie sugeriu que fizéssemos isso. – Sorri. – É divertido ter alguém para ensinar.

—Êi! Eu não tenho tanto o que aprender assim! – Reclama April num tom brincalhão.

Vendo a interação das duas, Donnie também sorri, suspirando aliviado por elas estarem se dando bem, mesmo com as leves bicadas do começo.

—Então... – O mestre começa, arqueando a sobrancelha. – Eu estou ensinando a Srta. O’nell da forma incorreta?

—A-Ah! – Instantaneamente travando pelo mestre ter ouvido aquela parte. – A-Aquilo... Hm... E-Eu estava... Sendo um pouco metida. – Cora. – É a primeira vez que ensino alguém. D-Desculpe, Sensei.

—Não se desculpe, Mona Lisa. – Sorri suavemente. – Não me surpreenderia se eu estivesse mesmo a ensinando de forma ineficaz. Afinal, por vários anos abandonei o uso desta arma. Apenas voltei a tocar nelas quando o passei a ensinar a Srta. O’nell. Talvez eu esteja um pouco enferrujado. – A encara. – Será valioso para mim e para ela que possa auxiliar a polir meus ensinamentos.

Lisa encarava ao Sensei com os olhos grandes e surpresos que logo são acompanhados de um sorriso contente e bobo. Não estava esperando um elogio como recompensa para sua ousadia em questionar os ensinamentos dele.

—S-Será uma honra, Sensei.

—Eu gostaria de conversar um pouco com você, Mona Lisa. Me acompanhe.

Um pouco surpresa novamente com aquela fala, Lisa por um momento olha para Donnie, se perguntando com o olhar o que aquilo poderia significar. O mais velho apenas sorri e lhe faz um gesto de “xô” para que ela andasse logo.

Direcionando um sorriso para ambos, Lisa o acompanhou até seu quarto. Se as roupas e forma de agir já não denunciassem completamente suas origens, com certeza o estilo de seu quarto gritava que Splinter tinha descendência japonesa. Do piso de tatame às pinturas tradicionais nas paredes, tudo demostrava como Splinter parecia se orgulhar de seu sangue. Sem conseguir evitar, abriu um sorriso.

Nante Natsukashi... (Que nostálgico...) – Murmura.

—As vezes eu também sinto falta de minha terra.

Splinter se senta à frente à pequena chabudai* presente no quarto e faz um gesto para que Lisa faça o mesmo. Ainda com os olhos curiosos percorrendo o local, Lisa se senta a sua frente, se perguntando sobre o que seria aquela conversa.

—Como você está?

—Eh?

—Gostaria de saber como está depois do que houve.

—Oh... – Desvia seu olhar. – Estou me recuperando.

—Não se force a ser forte nesse momento. Caso sinta vontade de chorar, ou queira ficar sozinha por um tempo, sinta-se livre para isso.

—Na verdade... Acho que eu já chorei o bastante, Sensei. Nesse momento... – Suspiro. – Eu só quero tentar entender o que houve e seguir em frente. Por mais que seja mais fácil falar... Nada vai mudar o que sou agora. Bem, talvez se o Donnie algum dia conseguir completar o Retromutagenico dele, quem sabe. – Leve riso. – Eu só... só espero que os meninos não se sintam mal por eu estar tão mal com isso. Eu... Eu não acho que eles sejam monstros ou coisa assim. Mas... Isso não é o que eu sou, bem... O que eu era.

—São circunstancias diferentes, Mona Lisa. Meus filhos são capazes de entender isso, então não se preocupe. – A encara profundamente. – No entanto... Algo ainda parece estar a atormentando.

Lisa levanta seu olhar para o sensei, uma tanta surpresa por ele ser capaz de lê-la daquela forma tão clara. Bem... ainda era só uma pirralha de 13 anos enquanto Splinter era um ninja sábio e inteligente de... Uns 50 anos também? Franze o cenho levemente. Era difícil estimar idade com todo aquele pelo, mas estimando pela idade de seu pai... Devia ser por aí.

—Mona Lisa?

—A-Ah! P-Perdão! – Acordando de seus devaneios. – E-Eu... só estava surpresa pelo senhor ter percebido. Na verdade... Eu também gostaria de conversar com o senhor, sensei. Eu queria poder... Saber um pouco mais sobre sua relação com meu pai. O... O senhor o conheceu antes dele ser, sabe, “O destruidor” e... Eu queria saber um pouco mais sobre ele também.

—Compreendo... – Alisa sua barba. – Na verdade, desde que a conheci eu estive me perguntando se realmente conheci alguma parte dele.

—Eh?

—Você. Custo a acreditar que tenha sido fruto de uma criação ele, diferente do pouco que pude conhecer sobre Karai. Ela sim... Parece lembra-lo muito.

—Bem... Eu não sei lhe dizer muito sobre quem puxou o que de quem. Afinal... Eu mesma não sei muita coisa sobre ele, mas... talvez a Karai seja mais parecida com ele porque ela sempre foi mais próxima dele do que eu. Sabe, ela é “a favorita.” – Leve riso sem graça. – A Nee-san sempre foi melhor em ser uma ninja do que eu e acho que por isso ele dava mais atenção a ela.

—Mas suas habilidades são impressionantes.

—Eu luto bem, eu sou mais forte do que a Nee-san, mas... de acordo com ele, eu era muito... Tola. – Desvia o olhar. – Ele dizia que faltava raiva em meus ataques, que eu hesitava demais, que não era fria o bastante. Tentava impulsionar nossa força nos fazendo odiar ao senhor, mas acho que isso funcionou mais com a Nee-san do que comigo. Eu... Só tentava agrada-lo. Ele queria que eu fosse mais forte que a Karai, mas se frustrava quando via que eu não seria. Não por ser uma boa lutadora, mas por não ser uma boa... Ninja.

Após seu desabafo, Lisa olha para Splinter que ainda a encarava atentamente. Por um momento, percebeu o quanto havia falado e seu rosto corou.

—A-Ah! M-Me desculpe! E-Eu... acabei falando demais.

—Pode falar o quanto quiser, Mona Lisa. E devo dizer... Não creio que você seja uma má ninja. Porque eu acredito que “ser um ninja” não é o que ele estava ensinando a você. – Lisa o encara. – Eu levei muitos anos para compreender que se tornar um ninja não se trata apenas de força bruta, mas sim do equilíbrio entre esta e a força espiritual. Infelizmente... Parece que ele ainda não aprendeu esta lição. – Lisa baixa sua cabeça novamente. – Mas quando a vejo lutar eu consigo perceber que você tem um ótimo controle deste equilíbrio. Talvez por isso tenha vencido meus filhos tão facilmente. – Leve riso. – É raro alguém de tão pouca idade ter isso. E não sei se esta habilidade foi uma aquisição que lhe trouxe mais benefícios do que dores, mas... Como você a tem, espero que possa me ajudar a compartilha-la com os garotos. Você será uma valiosa influencia para a equipe.

Ouvir as palavras de Splinter faz com que Lisa leve alguns segundos para conseguir esboçar alguma reação, surpresa com aqueles elogios repentinos vindos dele. Era impossível para ela não comparar o tempo todo a orientação de Splinter com a que recebeu de seu pai, coisa que a cada segundo passado com ele a fazia questionar ainda mais tudo o que havia aprendido sobre o mestre na vida.

—O senhor é tão diferente de tudo o que imaginei... – Aperta seus punhos repousados sobre suas pernas.

—O sentimento é recíproco. – Fala calmamente. – Jamais imaginaria que a filha do Destruidor seria alguém tão diferente dele. – Fecha seus olhos. – Mona Lisa, assim como não existe uma única forma de manusear um Tessen, não existe uma única forma de ser um ninja. E agora que está aqui, espero ser capaz de ajuda-la a se desenvolver em seu próprio caminho.

Aquela fala, além de aquecer seu peito, trás a Lisa uma memória que havia atiçado sua curiosidade minutos atrás e por um momento encara o tampo da mesa pensativa. Tal atitude não passa despercebida pelos olhos atentos do mestre, mas ele continua em silêncio, deixando que ela mesma iniciasse o assunto.

—Mestre, porque o senhor abandonou o uso do Tessen? –Ele a encara diretamente, e seu olhar a faz desviar o próprio.  – D-Digo, eu sei que o senhor não precisa ser um mestre em todas as armas e eu entenderia se você simplesmente não gostasse de Tessens, mas... Mesmo sendo uma iniciante, consegui perceber que April já possuía vários conceitos de técnicas de uso dos Tessens. E... E pro senhor treina-la com eles, pelo menos já deveria saber uma base do uso, senão lhe ensinaria com outra arma.

—Sim... – A incentivando a continuar.

—E quando disse que havia abandonado os Tessens... O senhor soou diferente. Além disso, foi meu pai quem me incentivou a usar esta arma... Isso... Isso tem alguma relação?

Splinter suspira.

—Possivelmente.

Splinter se levanta da almofada onde se sentava, caminhando calmamente até uma parte especifica do quarto e parando em frente a uma pequena cômoda de roupas. Ficando ali em silencio, com o olhar fixo em algo, aguardou que Lisa imitasse seus movimentos e viesse até si. Ela, levou alguns segundos o encarando de forma confusa até compreender o que ele queria.

Ainda sem entender, Lisa também se levanta e caminha até seu lado, acompanhando o que ele observava e também encarando a cômoda, onde seu olhar logo se focou em um retrato acima dela.

Por longos segundos encarou aquela foto que mostrava um casal e em suas mãos um pequeno bebê, que para Lisa, pareceu estranhamente familiar.

—... Estes...?

—Este sou eu quando ainda era um humano. E estas... Esta é a família que eu perdi porque tomei muitas decisões erradas. Esta, é minha amada, Tang Shen. – Lisa arregala seus olhos. – E esta... – Splinter hesita por um momento. – Esta é Miwa, nossa filha.

—O-O... O que?

—Vejo que parece conhecer essa história. – Splinter mantinha sua atenção nela.

—S-Sim! T-Tang Shen! M-Meu pai já falou sobre ela. Ele... – Hesita. – Ele disse que o senhor a roubou dele.

Splinter suspira.

—A história não foi desta forma. É verdade que ambos nos apaixonamos por esta mesma mulher, mas... Bem, é uma longa história.

—Me conte!

O repentino e aparentemente afobação de Lisa para saber daquela história atrai a atenção de Splinter. Bem... podia ver que seu velho amigo havia transformado a verdade em algo que o favorecesse, provavelmente para alimentar o ódio de suas filhas em sua pessoa, como Lisa havia dito anteriormente. Podia entender o porquê saber daquilo havia a deixado tão agitada.

—Muito bem... – Suspira. – Sente-se.

—x-

Parecendo profundamente imersa em seus pensamentos, Lisa deixa o quarto de Splinter e caminha em direção a sala, com mais questionamentos do que quando havia entrado ali.

“Eu e Oroku Saki crescemos e vivemos juntos como irmãos. Sempre houve uma velada competição entre nós, mas nada que eu não julgasse saudável naquela época.”

Aquela história a história que sempre foi contada para si...

“Tang Shen era uma bela jovem que conhecemos ainda na juventude.”

Se o que Splinter havia lhe dito fosse verdade...

“Quando ela escolheu a mim, a rivalidade entre nós deixou de ser algo saudável e foi se tornando cada vez mais agressivo. Tolo, me deixei ser levado por isso.”

Então seu pai...

“Ela tentou me salvar quando nosso combate levou ao incêndio da casa em que vivia com ela e assim acabou perdendo sua vida junto de nossa filha.”

—LISA!

—E-EH?

Acordando repentinamente de seus devaneios, Lisa pisca varias vezes, recobrando a consciência do que havia acontecido à sua volta para encarar o rosto a sua frente.

—Leo..?

—Estava longe, hein? Eu estava falando com você!

—O-Oh! O... O que houve?

—TUDO! – Raph parecia irritado.

Leo Suspira.  

—Temos problemas.

Se reunindo todos na sala, inclusive Splinter, Leo, Raph e Mikey que haviam acabado de voltar da ronda diária (A qual Donnie não havia ido para fazer companhia a Lisa que ainda estava um pouco abalada) explicavam aos demais o que haviam visto e mostravam a eles algumas imagens que haviam conseguido capturar com seus T-phones, imagens estas que mostravam vários ninjas do clã Foot pela cidade.

—Eles estão por toda parte. – Leo explica. – Além disso, tem muitos deles.

—É! Tinha um montão! – Mikey balança os braços.

—Deu maior trabalho voltar pra casa. – Raph estava irritado, como sempre.

—Mas também... – Leonardo hesita.

—Diga, meu filho.

—... Eles nos atacaram quando nos viram mas... Foi como se... O foco deles não fossem nós. E quando nós escondemos pra observar, deu pra notar que eles pareciam estar procurando... alguma coisa.

Lisa arregala seus olhos.

—Estão atrás de mim.

—... Foi o que pensamos.

—Porque naquela hora a Nee-san me reconheceu. – Se levanta. – O clã sabe que estou aqui.

Por um momento todos ficam em silêncio, pensativos sobre aquela nova informação. Até que Splinter se pronuncia.

—Se isto é mesmo uma verdade, então devemos ser mais cautelosos com eles daqui em diante. Quanto a você, Mona Lisa... irei pedir que não saia de casa por algum tempo, até termos certeza se você é mesmo o alvo deles como pensamos.

—E-Eh? M-Mas...

—Alguma objeção? – A encara.

—... Não mestre. – Baixa a cabeça. – Ficarei em casa. – Suspira. – M-Mas se eles estão atrás de mim, não deveria ser eu à enfrenta-los?

—Por hora, eles não sabem ao certo qual sua relação conosco. Não sabem se estamos definitivamente no mesmo time e é assim que quero que permaneça até termos uma visão geral da situação.

—...Sim, mestre.

—Quanto aos demais, não entrem em confrontos desnecessários e tomem precauções para que não sejam seguidos quando voltarem para casa.

Enquanto o mestre dava suas orientações, Lisa volta a se sentar no sofá, encarando ao chão de forma aflita. Sua irmã estava lhe procurando... E agora não podia mais simplesmente voltar as costas a ela, não agora que sabia daquela história.

Splinter havia ordenado que permanecesse em casa, mas não podia simplesmente se calar. Não podia não contar a ela.

—x-

No meio da noite, Mikey dormia tranquilamente, enrolado em seu cobertor e abraçando um urso de pelúcia enquanto sonhava consigo mesmo sendo o salvador de toda a pátria, inclusive resgatando seus próprios irmãos.

No entanto, seus momentos de glória são interrompidos pelo som de batidas que o despertaram de seu sono. Ao abrir seus olhos, demora alguns segundos para conseguir reconhecer que aquelas batidas vinham da porta de seu quarto.

Ainda meio sonolento, se levanta de sua cama esfregando seus olhos e vai até a porta, ficando um tanto surpreso ao ver quem estava ali.

—Lisa...? O que está fazendo aqui? São três da manhã...

—Eu preciso de ajuda, Mikey!

—Não dava pra esperar amanhã..?

—Não, Mikey!

Só então, agora um pouco mais desperto de seu sono, Mikey consegue perceber o quanto Lisa parecia inquieta e preocupada, o que também o deixa assim.

—O que aconteceu?

—Eu preciso sair! Agora!

—O que? Mas o mestre disse pra você ficar em casa! O clã Foot está atrás de você! Se você sair, podem te encontrar! O que quer fazer lá fora?

—Se o clã está procurando por mim, a Karai também está! Eu preciso falar com ela! Eu preciso contar à ela o que o mestre me contou!

—O que? O que é tão importante que você TEM que falar com ela agora?

—.... Se eu te contar, você promete que vai guardar segredo?

—Que?

—Promete??

—Tá, prometo!

—Promete de dedinho?

—...Lisa, não dá! Eu-

—MIKEY! – Dá um passo adiante. – Você precisa me prometer! Se... Se você contar isso a alguém... Pode complicar tudo!

—Lisa, não dá para eu prometer de dedinho! Eu não tenho dedinho! – Levanta suas mãos, mostrando a ela.

—....Ah.

Instantaneamente Mikey começa a gargalhar ao vê-la compreender sua incapacidade de realizar aquela promessa.

—Oh... Eu também não tenho dedinho. – Lisa encara suas próprias mãos por alguns segundos, seu olhar ficando distante enquanto movia seus dedos lentamente. – Às vezes eu me esqueço de como meu corpo mudou. Bem... eu não tive tanto tempo pra pensar nisso.

Vendo a expressão dela e a forma como Lisa fitava as próprias mãos fez com que o outro deixasse suas piadinhas de lado por um momento.

—... Mas bem, eu posso te prometer de dedão se quiser.

Lisa levanta sua cabeça e encara Mikey enquanto ele lhe abria um sorriso e movimentava o polegar de sua mão. Vendo aquela atitude, Lisa acaba abrindo um sorriso também, enquanto acenava suavemente com a cabeça.

—Tá... de dedão, então.

Sorrindo um ao outro, Lisa e Mikey entrelaçam seus polegares, o que faz com que a mais jovem sinta-se mais calma.

—Entra e me conta!

Dando passagem para que ela entrasse, Mikey deixa que Lisa entre em seu quarto e fecha a porta assim que ela passa por si. Enquanto isso, meio tímida, Lisa se senta na beira da cama e Mikey logo se junta a ela, a encarando curiosamente enquanto a esperava começar a falar.

—Hm... Você deve conhecer aquele retrato que o Sensei tem em seu quarto, não é?

—O que ele tem da filha e da mulher dele?

—Isso. O sensei me contou a história delas. Me contou sobre a Sra. Tang Shen e sobre sua filha Miwa. – Lisa baixa a cabeça.

—E porque isso é importante?

—Bem... Eu vou lhe contar a história que eu ouvi desde que nasci. – Suspira. – Tang Shen era uma bela jovem de descendência chinesa e japonesa, uma jovem que conquistou a afeição de dois rapazes: Hamato Yoshi e Oroku Saki. O amor deles por ela tornou-se o motivo da finalização da amizade destes dois rapazes.

Mikey ouvia atentamente. Apesar do jeito poético que Lisa recitava aquela história, a tartaruga laranja ainda tinha familiaridade no relato dela, era a mesma história que seu pai havia contado tantas vezes. Mas então, Lisa emudece por um momento enquanto suspirava outra vez e desviava seu olhar, parecendo perturbada.

—.... – Volta a olhar para Mikey. – Porque Tang Shen correspondeu ao amor de Oroku Saki.

No mesmo instante, Mikey arregala seus olhos.

—O-O que?

—Tang Shen escolheu Oroku Saki, e com isso, Hamato Yoshi não aceitou essa decisão e se revoltou. – Mikey se levanta, desacreditado. – Levado pela fúria de seu coração partido, o companheirismo se tornou ódio e os dois lutaram. Com isso... Tang Shen acabou perdendo sua vida, Hamato Yoshi sumiu no mundo, assim como Oroku Saki que jurou um dia vingar... A morte da mãe de sua filha.

Mikey que até então estava desconsertado com a distorção da história que conhecia, tem sua mente resetada com aquela última informação.

—Filha... Pera, você?

Lisa sorri suavemente, balançando a cabeça negativamente.

—Karai.

—Pera, pera, pera! – Mikey coça a cabeça, confuso. – O destruidor disse que a Karai é filha dele com a Tang Shen e que ela escolheu ele? – Lisa confirma com a cabeça. – Mas o mestre Splinter sempre nos disse que a Tang Shen escolheu ele! E que eles tiveram uma filha! Como que o seu pai teve uma filha com ela também?

Lisa fecha seus olhos, suspirando.

—Isso só pode significar que um deles está mentindo. – Lisa franze o cenho. – E... E se meu pai mentiu esse tempo todo...

Um pouco mais lento no raciocínio, Mikey leva alguns segundos para conseguir entender onde Lisa estava tentando chegar e quando finalmente compreende, seus olhos quase pulam para fora da orbita, assim como seu queixo cai.

—KARAI PODE SER A FILHA DO SPLINTER?!

Rapidamente Lisa salta nele, tapando sua boca com ambas as mãos, o olhando feio e sussugritando:

MIKEY, QUIETO! NINGUÉM PODE SABER DISSO ATÉ TERMOS CERTEZA!

MAS VOCÊ TÁ ME DIZENDO QUE EU POSSO TER UMA IRMÃ!!!

—Mikey! Esse não é o ponto!!

Não?!

—Não! – Se afasta um passo. – Eu e a Nee-san fomos a vida toda educadas para odiarmos Hamato Yoshi, passamos a vida sendo treinadas para matar ele! E... E talvez a Nee-san esteja esse tempo todo se preparando para matar o próprio pai! E... E talvez... Ela esteja sendo leal... A-A pessoa que matou a mãe dela. – Lisa leva suas mãos a cabeça, segurando o choro que se acumulou em seus olhos. – Eu... E-Eu não quero acreditar que meu pai foi capaz de ir tão longe... Mas... Mas se isso for verdade, a Karai precisa saber! E por isso eu preciso ir até ela! Mas...  Mas eu mal conheço Nova York, Mikey! Eu preciso da sua ajuda pra encontrar ela! Nenhum dos outros iria aceitar me ajudar!

—Ah. – Murcha um pouquinho. – Então quer minha ajuda por que eu sou o único que desobedeceria o mestre?

—Não só por isso Mikey, é porque você é o mais corajoso e ágil de todos! Hoje vamos precisar ser rápidos e sutis para não deixar que os ninjas do clã nos encontrem antes que nós encontremos a Karai. Você se move por instinto! Eu vi isso quando foi o único que me derrotou! Leo seria balançado pela Karai, Donnie pensaria demais e seria muito lento, Raphael jamais conseguiria andar nas sombras e não socar ninguém!

—Uau, nem parece que nos conhecemos a tão pouco tempo. Aprendeu isso tudo nos vendo lutar?

—MIKEY! – Irritada.

—Ai, tá bom!

—Mikey, eu preciso de você!

Mikey não podia negar que ouvir aquelas palavras era muito agradável! Afinal, não eram costumeiras as vezes que alguém precisava de si, especificamente de si, para fazer alguma coisa. Toda aquela história era intrigante e concordava com ela que se estivesse certa, Karai deveria saber de tudo aquilo. Além disso... Lisa era sua amiga.

—Tá. Eu te ajudo! Mas nós precisamos ser muito silenciosos!

—x-

Lisa e Mikey caminhavam juntos sorrateiramente pelos corredores de sua casa até chegarem próximos das catracas que demarcavam o fim de seu esconderijo e o começo do restante do esgoto. Porém, assim que Mikey salta por cima delas, percebe que Lisa não o seguia. Ao olhar para trás, vê a garota parada parecendo pensativa.

—O que foi?

—... Mikey, seu T-phone!

—O que tem ele?

—Ele tira fotos?

—Fotos?

—É, fotos!

—Tira sim, mas por que? Não quer tirar uma selfie agora, quer?

—...O que é isso?

Mikey abre um sorriso divertido.

—Deixa pra lá, o que tem ele?

—Se a Karai não ver aquela foto ela pode não acreditar em mim. Mas se eu levar a foto para ela e o Splinter acordar, vai perceber que nós saímos! Mas poderíamos tirar uma foto da foto!

—Você quer entrar no quarto do Splinter?! – Assustado. – De jeito nenhum! Ele vai acordar!

—E-Eu sei que é arriscado, mas eu preciso! Minha Nee-san precisa saber disso! – Avança um passo na direção de Mikey, estendendo a mão a ele. – Me dê seu T-Phone e espere aqui! Eu estou me arriscando nisso, então se algo der errado, ao menos o mestre não irá saber que estava envolvido.

Mikey encara a mão estendida de Lisa por alguns segundos, um tanto surpreso com a coragem dela. Ele e nenhum de seus irmãos jamais cogitaria entrar no quarto de Splinter sorrateiramente porque na opinião deles isto seria totalmente impossível com o alto nível de treinamento de Splinter. Mas... Se tratando de algo tão importante, talvez valesse o risco e bem, Lisa era mais forte que eles, então talvez fosse possível para ela.

—Eu tô sempre me encrencando por causa dos meus irmãos! Não vai fazer mal me encrencar por sua causa também! Eu vou junto!

Mikey aumenta seu sorriso, enquanto pega seu T-phone e entrega nas mãos dela, a acompanhando até o quarto de Splinter. Lisa também volta a sorrir pela frase dita por ele, logo, abrindo um sorriso num ar divertido.

—Achei que você era o responsável por sempre encrencar eles.

—Nah! Detalhes!

Lisa ri da cara de pau do outro, tendo que levar uma de suas mãos a boca para abafar o som.

O mais silenciosamente possível, os dois seguem até o dojo, que ficava logo antes do quarto do mestre. Sentados no chão junto a porta, ouviam atentamente se havia algum som dentro do quarto que indicasse que Spliter estivesse acordado, mas aparentemente... Estavam todos dormindo.

—Parece que a barra tá limpa. – Sussura Mikey, enquanto Lisa acena com a cabeça. – Presta atenção. – Lisa volta seu olhar para ele, encarando a tela do aparelho. – Para tirar uma foto você vai apontar para o quadro desse jeito. E então, quando estiver uma imagem boa, você aperta aqui.

De repente, um considerável alto som de fotografia ecoa pelo local, fazendo com que os dois tivessem um sobressalto e se encolhessem imediatamente, com os olhos arregalados para a porta do quarto do mestre.

.........

Passados alguns segundos, relaxaram novamente. Parecia que ninguém havia acordado.

—...Puque vuxe tá taspano minha boca? – Mikey pergunta, falando todo torto.

Só então Lisa volta o encara-lo, percebendo que por reflexo havia tapado a boca dele no susto. Talvez já ter conhecimento de como Mikey podia ser barulhento havia motivado isso.

—E-Eu não sei. – Tira a mão da boca dele. – T-T-Tira o som disso!

—D-Desculpa! Eu esqueci do som!

Rapidamente, Mikey acessa as configurações do aparelho, retirando o som da câmera.

—Pronto. Vai lá.

Segurando o aparelho em suas mãos, Lisa suspira profundamente e então se levanta. Sempre foi confiante em suas técnicas furtivas, mas agora precisava ser mais confiante do que nunca para assim não deixar que seu nervosismo a fizesse cometer erros.

Ainda inseguro, Mikey a observava, ao mesmo tempo que mantinha sua atenção ao seu redor para que pudesse avisa-la caso algum de seus irmãos acordasse. Após o que pareceu ser meditar por alguns segundos, Lisa começa a marchar em direção a porta e Mikey ficou um tanto curioso ao ver a mudança em sua postura.

De repente, os passos dela se tornaram inaudíveis e até sua forma de respirar pareceu mudar, além de seu rosto se tornar completamente sério. A passos rápidos, porém suaves, Lisa chega até a porta de correr, onde fica parada por alguns segundos, com os ouvidos atentos a qualquer mínimo som.

Delicadamente encaixa seus dedos entre a junção das duas metades da porta e desliza a mesma lentamente à princípio apenas o suficiente para que um de seus olhos pudesse espiar o interior do cômodo. Tendo seu olhar fixo no corpo adormecido de Splinter, ela volta seu olhar para Mikey que apenas acena com a cabeça, a incentivando a continuar.

Seguindo com seus movimentos, sua mão desliza a porta novamente, enquanto seu olhar parecia analisar cada um dos próprios movimentos e materiais que tocava. Abrindo um pouco mais a passagem, adentrou o local, parando logo na entrada. Ainda com a atenção fixa em Splinter, Lisa fecha seus olhos por um momento, aumentando a capacidade de seus ouvidos.

A respiração dele era lenta e calma, uma respiração relaxada e profunda. Voltando a abrir seus olhos, permaneceu ali parada pelo período de 30 segundos, atenta a respiração dele. 7 vezes, Splinter havia inspirado 7 vezes naquele tempo. Aquela era a frequência respiratória de alguém que dormia, então parecia estar tudo bem.

Seguindo seu objetivo, marcha até o móvel onde estava o retrato, novamente seu olhar é preso pela imagem daquele bebezinho. Karai seria Miwa? Seu pai mentiu durante todo aquele tempo? Ele seria capaz... Capaz de mentir e manipular suas vidas daquele jeito? E se... E se ele fosse, então talvez...

Lisa encara suas próprias mãos, novamente sendo tomada por aquela sensação angustiante que a acometia sempre que notava a presença de 3 dedos no lugar de cinco e de pele verde no lugar da rosada. No fundo.... bem lá no fundo, ela sabia muito bem qual era a resposta, mas se recusava a acreditar.

Tem seus devaneios melancólicos interrompidos quando sente algo bater em sua nuca, imediatamente volta seu olhar para trás, se repreendendo mentalmente por ter esquecido de sua missão, mas fica aliviada ao ver que se tratava apenas de Mikey que havia lhe jogado uma bolinha de papel e agora gesticulava loucamente para que ela andasse logo.

Voltando a se concentrar, Lisa pega o T-Phone e rapidamente tira uma foto do retrato. Após checar a foto para ter certeza de que havia ficado boa, Lisa silenciosamente deixa o quarto, rapidamente indo com Mikey para fora do esconderijo.

Ainda dentro do quarto, alguns segundos após as portas de correr se fecharem num silêncio impressionante para si, Splinter abre seus olhos. Calmamente se sentou em seu futon** e encarou o retrato de sua filha e amada, numa expressão séria.

—Hm... – Lentamente alisou sua barba, enquanto se perguntava o que aqueles dois estavam tentando fazer.

—x-

Lado a lado, Lisa e Mikey percorriam os prédios da cidade, procurando manter-se escondidos nas sombras para evitar chamar atenção e ficando atentos a qualquer movimento estranho. Bem, na verdade Mikey estava cuidando do caminho e Lisa da vigília.

—Por que você demorou tanto lá dentro? Eu estava surtando!

—D-Desculpa. Eu... Eu m-me distraí.

—Quer me matar do coração, é? Poderia escolher viajar num lugar que não seja o quarto do me-

Subitamente, Mikey é empurrado para a sombras de um prédio e imediatamente fica em silêncio ao ver Lisa também ficar muda. Acompanhou o olhar dela até ver mais a frente, ninjas do clã foot.

—Precisamos ser cuidadosos. Se souberem que estamos aqui, teremos problemas.

—Por que só não cuidamos deles? Eu e meus irmãos já batemos em centenas deles!

—Mikey. – O encara pelo canto dos olhos. – Quantos de vocês eu já derrubei?

—Han... Três. Menos euzinho. – Todo metido.

—Se eles estão atrás de mim, acha mesmo que mandariam ninjas que perderam para vocês?

—Oh.

—Sem ofensa.

—Não ofendeu. – Bico.

—Precisamos encontra-la depressa.

—Como vamos fazer isso? É sempre o Leo quem encontra a Karai!

—Da última vez que a vi, Leo me levou à um prédio em um lugar chamado Chinatown. Você sabe onde isso fica? – Mikey concorda com a cabeça. – Então me leve até lá, por favor.

—x-

Guiando Lisa pelos prédios, as duas tartarugas finalmente chegam a Chinatown, tendo que vez ou outra interromper seu caminho para se esconderem dos ninjas que rondavam o local. Mantendo suas ansiedades contidas, tentavam ser pacientes e dar um passo de cada vez para que não fossem percebidos.

Ao chegarem lá, Lisa reconhece o prédio onde havia encontrado sua irmã pela ultima vez e para lá seguem. Ao chegarem em seu destino, percebem que o alto do prédio estava aparentemente vazio.

—CARA! ISSO É DEMAI-

No mesmo instante a empolgação de Mikey é contida pela mão de Lisa tapando sua boca novamente. Ela o encara com um sorriso divertido.

—Ainda estamos nos escondendo, Mikey. O que é demais?

—É a primeira vez que eu consigo ser furtivo pelo caminho todo! Eu sempre desconfiei mesmo que eram meus irmãos que atrapalhavam minhas habilidades!

Lisa ri do ar convencido do outro, mas então, seu riso de subitamente cortado e substituído por uma expressão séria assim que seus ouvidos capturam o som de movimentos próximos de si.

—Mikey, nos encontraram.

Assim que ouve essa afirmação, Mikey nem tem tempo de responder pois são de repente rodeados por ninjas do clã foot.

—Comemorei cedo demais?

—Um pouquinho.

Lisa pega suas armas, assim como Mikey e ambos instantaneamente ficam sérios. Seguindo a observação que Lisa havia feito mais cedo, não deveriam esperar que aqueles fossem ninjas fracos. Lisa percorre seus olhos pelo local, observando aos ninjas, em partes analisando a situação e em outras tentando reconhecer alguém debaixo daquelas mascaras pretas.

—Mikey, eu protejo suas costas, proteja as minhas. – Abre seus Tessens.

—Não precisava nem pedir. – Girando seus Nunchakus nas mãos.

—Isso não será necessário.

Aquela voz faz com que Lisa e Mikey tenham um leve sobressalto, especialmente a garota que estremeceu ao ouvir aquela voz tão conhecida para si e a qual sentiu tanta falta. Imediatamente virou seu rosto para a origem da voz, desta vez conseguindo conter um pouco mais suas emoções ao vê-la.

—Nee-san... – Murmura.

Karai mantinha um olhar sério, caminhando na direção deles calmamente.

—Eu cuido deles. – Um dos ninjas tenta argumentar. – Vão.

Com medo de a questionarem uma outra vez e sofrerem as consequências disto, os ninjas se dispersam novamente e Karai caminha até estar a apenas um metro de distancia deles. Lisa faz um sinal com sua mão, pedindo que Mikey não atacasse e este obedeceu prontamente, ficando apenas atento.

Karai e Lisa trocaram um longo olhar, um olhar que dizia muita coisa e que ao mesmo tempo não dizia nada.

—A voz é a mesma mas não consigo acreditar...

—Nee-san...

—....Ume, é-é você.

*Chabudai: Um tipo de mesa baixinha, normalmente usada para refeições pelos Orientais.

**Futton: Um tipo de manta grossa usada como colchão.


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Notas finais do capítulo

Você gostou do capitulo? Não gostou? Tem alguma sugestão, pergunta ou elogio? Se sua resposta a alguma dessas perguntas for "sim", por favor deixe seu comentário aí embaixo! Isso me incentiva muito a continuar com meu trabalho!
Dá uma conferida lá no meu instagram, onde eu posto o andamento da escrita dos capítulos e também posto umas coisas nada a ver e uns desenhos que eu faço as vezes. ;) https://www.instagram.com/tord_thewriter/
Até o próximo capitulo!

—Tord.



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