O almoço transcorreu bem, logo os assuntos que incomodavam Gilbert como Virgínia e a imprensa deu lugar a assuntos mais divertidos que o distraíram. Pode rir por muitas vezes durante a ótima conversa que tinha com Sara. Ela era inteligente, decidida e muito independente, bem o contrário do tipo de mulher que havia saído nos últimos tempos. Mesmo que inconscientemente a comparou com Virgínia um par de vezes. Talvez por que seu sentimento por ela fosse ficando tão forte que já pudesse ser comparado ao que sentia por Virgínia. Não! Não podia pensar nisso, logo ela estaria muito longe. Doía-lhe pensar isso, mas ela já havia demonstrado várias vezes sua vontade de voltar ao Brasil, não estava nos planos dela mudar de país, e nem nos dele.

— Então o que mais sabe sobre mim? – Ele riu enquanto enrolava para comer, estava satisfeito já, mas queria prolongar mais a conversa que estava muito mais interessante do que sair novamente a rua com aqueles loucos famintos por uma nova notícia.

— Você não iria querer saber. Não te quero assustar. – Piscou.

— Nada mais me assusta, recorda-se? – Ele piscou de volta. – Fale-me.

— Bem, sei que nasceu prematuro no dia 17 de agosto de 1956, que sonhava em ser piloto, que começou a carreira em 1981, e que sua carreira decolou em 2000.  Também sei que adora baseball, que tem dois irmãos, que morou com sua mãe e irmão em San Francisco durante a infância, que possui duas tatuagens e uma delas é por Virgínia. Enfim, sei muita coisa, todos os fãs que acompanham sua carreira sabem.

— Vocês são assustadores. – Confessou.

— Por que sabemos de você, e tatuamos isso em nossa pele?

— Sim. – Afirmou.

— Você não sabia tudo sobre Virgínia, não tatuou isso na pele? Amor é amor Gilbert, não importa o estilo. O sentimento é tão forte como. Sabe quantas morreriam por estar no meu lugar? Quer dizer, depois de The Sense, não só quantas, quantos seria o termo mais apropriado.

Gilbert não pode segurar a gargalhada, chamando atenção dos demais clientes do restaurante.

— Entendo, mas ainda sim isto é confuso. – Piscou. – E você?

— E eu o que?  - Sara não havia entendido a pergunta.

— Você trocaria de lugar com algum deles?

— Depende. Se eu ainda estivesse no patamar de fã que foi conhecer o ídolo ganhou um autografo e tirou uma foto, com certeza. Seria muito legal se todas as fãs tivessem essa oportunidade, tu não tens noção de como isso é único. – Sorriu. – Mas já estamos em outro patamar que já ultrapassou da fronteira fã e ídolo e não, eu não gostaria de ver nenhuma outra fã com você, não com toda essa intimidade. – Piscou.

— Vejo aí uma pequena pitada de ciúmes? – Sorriu malicioso.

— Veja como bem entender. – Piscou novamente. – E você por que ficou com uma fã?

— Quando te ajudei no bar não sabia que era uma fã. Sabia apenas que era uma brasileira. Confesso que não a levei direto para um hospital por que fiquei com medo de alguém ver e isso parar nas mídias, seria algo ruim para você e para mim também. Porém depois já não importava se era minha fã ou não...

Gilbert se calou e Sara olhou como se pedisse para ele continuar. Ele não continuou.

— Por quê?

— Não sei se devo.

— Gris, deixa disso. Abri toda minha vida para você e você fica fazendo-se de rogado. Por favor. – O tom de Sara tinha uma leve indignação. – Me diga, por que não importava mais?

— Por que você era linda, formosa, arrebatou meu coração. Tive de segurar-me para não te agarrar em meus braços quando estava dopada, e ainda depois quando fui dormir na sala sonhei comigo sobre seu corpo. Não podia, você estava dormindo. Quando acordou de manhã e disse que era minha fã pensei em desistir de tudo...

— Porém?

— O que você acha Sara? Desejei você desde quando te vi lá no bar. Necessitava de seu corpo e de sua alma, confesso que fiquei feliz ao conseguir. – Respirou fundo, não sabia se deveria dizê-lo, mas disse.  – Hoje necessito apenas de mais uma coisa?

— Do que?

— Do seu coração.

Sara podia beijar-lhe naquele momento e dizer que seu coração era dele, sempre havia sido. Porém estava louca. Voltaria para o Brasil em algumas semanas. Todo esse sonho logo acabaria. E daí voltava a pensar “seu coração”, ele queria seu coração. Já era dele, e com mais certeza do que nunca tinha certeza que sempre havia sido dele. Ela sempre havia esperado por esse momento. Sua cabeça dava outra volta, pois pensava que poderia sofrer. Gilbert já havia traído tantas vezes. Mas ela o amava. Merda! 

Respirou fundo. A este momento já haviam terminado de comer, aliás, já havia terminado há uma meia hora.

— Já é seu. – Sorriu. – Mas... – Baixou o olhar.

Gilbert ficou radiante. Sara também o amava, também tinha suas confusões internas, mas estava decidido, ou pelo menos mais decidido do que Sara.

— Mas?

— Mas você já ficou com tantas mulheres, e o pior, já traiu tantas. Também tem a distancia, tenho mesmo de voltar ao Brasil. – Respirou pesadamente, tão pesadamente que sentiu seus pulmões encherem até não caber mais ar. Soltou o ar sem pressa. – Eu não quero me iludir Gris.

— Ei... – Disse sussurrante pegando sua mão. – Você sabe de toda minha vida, me seguiu por anos como fã, tem minhas iniciais tatuadas em sua pele, e não pode confiar em mim? – Fitou-a nos olhos.

Sara respondeu apenas com um sorriso aberto.