Elvenore: A Revolução Das Marés escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 9
Capítulo 08




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Um Homem na Taverna

 

Não demorou muito para eu perceber que a personalidade doce e serena que a rainha Evangeline usou quando cheguei era uma farsa. Assim que pisei no terreno da Alta Corte ela se aproximou de mim com um sorriso materno, sua voz era gentil como a brisa e ela fala com tamanha elegância que me fazia questionar todos os meus modos.

Porém, tudo isso era uma mentira.

Quando eu errava o talhar para comer a tartelete de morango no prato ela me reprimia com um olhar felino. Quando andava ao seu lado com uma postura mais relaxada, Evangeline rapidamente batia seu leque contra as minhas costas. Quando escolhia a taça errada para o vinho, sua voz severa me interrompia. Era importante lembrar que tinha passado um pouco mais de cinco horas com ela e não conseguia recordar algum momento que passei sem levar uma bronca.

Entro em meu quarto e desabo na cama, estava exausta e não tinha feio nada que exigisse de meu físico, mas, ainda assim, minhas pernas doíam, meus ombros pareciam carregar cinquenta quilos de areia e minhas mãos estavam frágeis de tanto bordar. Eu estava destruída, física e mentalmente.

Hoje precisei reunir uma força dentro de mim que era desconhecida para não retrucar todo comentário de escárnio que Evangeline dirigiu a mim. Ela queria que eu fosse uma princesa, mas esqueceu que cresci em Elfdale, onde modos de etiqueta são mais inúteis do que peneirar água.

— Kyan? — Phyx me chama, abrindo a porta do banheiro — Seu banho está pronto.

— Não sei se tenho forças para isso — Suspirei, encarando o teto branco — Nunca achei que poderia ficar tão cansada de escolher talheres…

Ela ri, um som sutil e suave, como o vento da primavera.

— Temo que nunca vou escolher a colher certa para a sobremesa e a faca certa para o peixe — Resmungo, me sentando na cama — Como pode existir tantos talheres?

— São os modos da realeza, Kyan — Falou, abrindo a janela ao meu lado — Aqui fazem tudo diferente, com muito mais luxo…

— Não sei se chamaria isso de luxo… Para mim parece besteira — Me levanto com certa dificuldade.

Se Novak estivesse aqui, com certeza, riria de mim, diria que estava sendo fraca, pois os seus treinos sempre exigia o meu limite físico. Ele era responsável pela minha educação quando meu pai estava fora, me ensinou a pescar e a construir minhas próprias flechas e meu arco com os materiais disponíveis na natureza. Quando decidia que treinaria o meu corpo, eu voltava destruída para casa.

Subia em árvores, treinava meu equilíbrio em linhas suspensas, corria quilômetros e ia ás caçadas durante o degelo. Em um ano Novak e meu pai decidiram que eu seria responsável pela carne, deixando-me armada, porém sozinha na floresta. Passei dois dias no frio, sem comida, caçando esquilos e os assando na fogueira. Depois de duas noites invernais eu encontrei um belo cervo e o abati, levando-o de volta para a aldeia e sendo recebida com uma comida quente e abraços apertados.

Apesar de não ser o método mais saudável, Novak e meu pai me ensinaram a sobreviver, a saber me virar em situações adversas e, enquanto eu estivesse nesse palácio, tudo isso não me serviria para nada. Aqui eu não era uma elfa, uma Liadon, a filha de Draiko, eu era uma criatura que precisava ser domada para se encaixar na vida na corte.

— O que acha de irmos para a vila dos súditos hoje? — Ousei, precisava sentir algo que não fosse a minha inferioridade nesse lugar.

— Hum, nem um pouco transparente…

— Do que está falando? — Reviro os olhos, encarando-a logo em seguida.

— É obvio que quer escapar de sua vida aqui no castelo — Disso, revirando algumas das minhas roupas no armário — Imagino o quanto vai durar sem destruir esse lugar, com o poder que há dentro de você e…

— Não posso simplesmente explodir e… Espere um pouco, o que disse? — Perguntei, observando seu olhos se arregalarem.

— Nada — Soprou, desviando o olhar, voltando sua atenção para as roupas que organizava.

— Phyx, você disso algo sobre poder… — Instiguei mais uma vez, com a minha mente dando cambalhotas.

— Não disse nada, Kyanite — Ela deu um sorriso amarelo, ainda incapaz de me olhar nos olhos — Você está ouvindo coisas… Vamos, tome um banho e escaparemos pelos fundos.
Sorrio, apesar de meu coração palpitar em meu peito. “Poder que há dentro de mim…”, pensei enquanto entrava na banheira “Do que diabos ela está falando?”.

 

✵ ✵ ♔ ✵ ✵

 

Depois de um banho morno, me visto com uma calça escura de cintura alta e uma camisa larga de linho, seguindo pelas minhas botas velhas de montaria. Phyx disse para que eu usasse um de seus casacos para que eu passasse despercebida pelos criados, ele era quente e tinha um capuz, que escondia perfeitamente meu rosto.

Phyx, que usava um vestido verde-escuro de corte reto, me guiou pelo castelo e sua imensidão de corredores, até a parte da cozinha, ondo fui capaz de ignorar o cheiro doce que preenchia o local. Era de frutas, bem doces, e também de massa, meio açucarada e amanteigada.

— Estão fazendo torta — Ela falou apontando para o forno de metal que estava ligado — Dominic foi quem pediu.

— Eu não sabia que ele gostava desse tipo de coisa… — Resmunguei, arrumando o capuz. Ele sempre foi alguém tão amargo que o imaginei sendo incapaz de gostar de algo doce.

— O príncipe adora quitutes, de todos os tipos — Phyx murmurou, apoiando-se na patente da janela, analisando o gramado da área externa do castelo.

A grama estava escura, mas ainda brilhava sob a luz da lua, dançando com o vento refrescante do mar. Tochas e lamparinas iluminavam os caminhos de rochas brancas que serpenteavam pelo gramado e seguiam até a cerca pontiaguda que protegia o castelo.

Phyx parecia insegura, seus dedos saltitavam na bancada, fazendo com que suas unhas curtas batessem contra a madeira formando uma melodia incerta e desequilibrada. Após alguns minutos de silêncio, ela acenou com a cabeça, apontando para uma porta de madeira escura ao seu lado. Arrumo o capuz, apesar dele não precisar ser arrumado, e sigo até a maçaneta, a abrindo logo em seguida.

O vento da noite toca a minha face com cuidado, um beijo da noite era como o meu pai chamava. Avanço pelo caminho, fazendo o meu melhor para não pisar forte o suficiente no cascalho, evitando que meu barulho me denunciasse.

— Siga até o portão e vá até o poço — Ela ordenou baixinho — Há uma parte da cerca que está enferrujada. Pule.

Assenti, mantendo meu olhar atento a qualquer movimentação suspeita. Porém, me surpreendo com a calmaria que era o castelo da Alta Corte a noite, tão silencioso que poderia ser considerado um cemitério, uma falta absurda de barulho que nunca, em hipótese alguma, aconteceria em Elfdale. O Rio Branco, majestoso por suas águas cristalinas, sempre ocupava a noite, embalando o sono de todos os elfos, era a nossa certeza de que a natureza era nossa aliada.

Debaixo na lua eu podia ver as características de ninfa de Phyx. Sua pele apresentava detalhes singelos de sua origem dríade, seus braços pareciam troncos de árvores, com as superfícies em alto-relevo que refletiam a luz lunar. Seus cabelos não era mais tão escuros, e sim de um verde-escuro e poderoso, seus cachos, agora soltos por conta de nossa corrida, pendiam um pouco acima de seu ombro, balançando com o vento.

Não demorou para chegar ao poço, ele era de pedra escura, provavelmente mais antigo que o próprio palácio, as vinhas me diziam isso.

— Por aqui — Phyx disse, apontando para a parte velha da cerca, que estava caída — Vamos.

Pulei, sentindo o meu coração vibrar. Finalmente estava longe de Dominic sua postura militar, afastada de seu perfume amadeirado e de sua necessidade de sentir-se superior a tudo e a todos. Estava longe de toda a família Drogomir.

Quando meu pés encontram a grama não cortada do outro lado do perímetro protegido do castelo, minha alma grita. Era bom sentir algo que se parecia com Elfdale, mesmo estando tão longe de casa. “Pelo menos não é o mármore frio do castelo”, pensei.

Escuto Phyx respirar fundo, seu rosto estava levantado, encarando o céu e suas mãos repousavam confortavelmente em seu pescoço. Imagino que ela deva sentir o mesmo que eu, talvez até mais por ela ser uma dríade, uma ninfa das florestas.

— Ar puro… — Sussurrou, sem me olhar — Ás vezes me esqueço do cheiro de mato…

— É bom estar longe do castelo… — Falo, encarando a caminho a nossa frente — Mesmo ele estando atrás da gente.

Um riso rápido escapa de seus lábios e Phyx me olha, seu sorriso poderia iluminar uma cidade inteira. Porém, algo nela me chama atenção, seus olhos… Pareciam pedras de âmbar, tão amarelos que poderiam ser confundidos com o próprio sol.

— Ah! Me desculpe! — Exclamou, balançando a cabeça e fazendo toda a sua beleza de dríade desaparecer — Isso acontece quando fico muito perto de natureza intocada…

— Não, Phyx — Me prontifiquei, tirando o capuz e mostrando minhas orelhas pontudas — Não precisa se esconder… Não sou humana.

Ela sorri, deixando sua parte ninfa transparecer novamente.

— Eu esqueço que você é uma elfa — Disse enquanto encarava minhas orelhas — São muitos anos trabalhando com humanos… Faz a gente esquecer que há outras criaturas como eu.

— Imagino como deve ser difícil… Mal cheguei e a rainha Evangeline já quer que eu decore todos os cinco pares de talheres que colocam na mesa — Bufei, revirando os olhos.

— São seis — Ela falou, com um sorriso jovial no rosto.

— O que?

— São seis pares.

— Está vendo? — Resmunguei, avançando pelo mato com ela ao meu lado — Isso dá doze talheres para uma refeição… Nunca pensei que fosse ficar tão estressada com esse tipo de coisa. Sabe, em Elfdale, só usamos colheres e as vezes garfos — Desabafei, ouvindo os animais ao meu redor farfalharem, pássaros cantavam, grilos entoavam sua música de sempre e alguns sapos pulavam de lá para cá — Estou acostumada com dois talheres e não, doze…

— A coisa que mais estranhei quando vim trabalhar aqui foram os banhos — A voz de Phyx soava tão melódica que eu não sabia dizer se ela estava cantando ou não, mas de uma coisa eu estava certa, talvez estivesse fazendo uma amiga — Estava acostumada com a água fria dos rios, lagos e cachoeiras da floresta… Daquelas que quando você entra é insuportável, mas sair é muito pior.

Sinto um calafrio percorrer o meu corpo ao pensar.

— Sempre odiei água frio — Vejo um sorriso tímido formar em seus lábios — Em Elfdale precisávamos sempre aquecer a água antes de tomar banho.

— Água quente é horrível — Falou, observando o caminho.

— Não quando se mora no gelo — Sorrio, captando alguns sons da aldeia.

— Estamos perto —Avisou, apontando para uma rua de terra batida.

Meu coração acelera ao sentir o cheiro da comida local, nada de especiaria e carnes finas que serviam no palácio, e sim uma comida caseira e familiar. A música preenchia as ruelas da vila com um ritmo alegra e folclórico, diferentemente dos corredores de mármore frio e etéreo do castelo dos Drogomir.

A vida pulsava ali, nascia e morria, enchendo-me de um sentimento de pertencimento.

Apesar de não ser humana como eles, eu me sentia em casa.

— Vamos, por aqui — Phyx falou, com sua aparência normal, segurando o meu braço, levando-me por um túnel de tijolos vermelho — Tem uma taverna muito boa não muito longe daqui…

Apenas assinto enquanto ela me guia pelas ruas festivas da aldeia. Observo jovens meninas, com seus cabelos ao vento, rodopiando como tornados de felicidade. Há homens também, alguns bem-vestidos, de ternos castanhos e cabelos penteados, e outros com suas roupas mais humildes e gastas. Havia também senhoras e senhores, cada um aproveitando a noite como bem entendem, dividindo sua atenção entre os jogos de mesa e petiscos coloridos.

Uma música sutil e animada ecoava pela rua, penetrando minha alma como uma carícia materna. A melodia parecia tão familiar que fez o meu coração parar de bater por um momento.

Meu pés travam enquanto minhas orelhas tentam captar de onde a música vinham, aquele som era tão estranhamente nostálgico que mais parecia…

— Uma canção da minha mãe…

— Kyan? — Phyx me chamou, mas eu não queria ouvir.

A melodia dançava pela noite, embalando os meus passos incertos pelo caminho até uma taverna no fim da rua. Se chamava “Cova dos Pescadores” e era feita de uma pedra escura, diferentemente das outras casas e lojas da região. Sua porta era redonda, feita de uma madeira enegrecida pelo tempo, que se encontrava semiaberta, deixando todos os odores e sons escaparem por suas brechas.

Sinto meu corpo se movimentar sozinho, como se a melodia envolvente fosse quem comandasse o meu corpo. Me encosto em uma das paredes levemente arredondada da taverna, um pouco depois do bar, para olhar tudo ao meu redor.

O ambiente era claro, apesar de ser apenas iluminado por velas amarelas e gastas, era limpo, mesmo servindo cerveja com um cheiro duvidoso e peixe frito, o que, por si só, era uma surpresa.

A cozinha parecia funcionar sem parar, com as panelas tilintando e o óleo, irritado em uma bacia funda, fritando sem piedade. Homens com roupas de pescadores se sentavam em mesas de madeira de bordo, alguns com bebidas e outros com mulheres de roupas justas e corpetes chamativos. Na mesa longa do bar havia mais homens, vestidos de diversas formas, falando alto e jogando conversa fora.

Havia um homem em cima de uma mesa obviamente bêbado cantando a música que eu conhecia. Seus cabelos eram tão escuros quanto sua pele, enrolado em dreads rebeldes e presos atrás de sua nuca. Não era seu cavanhaque e seu porte atlético me diziam que ele era um homem do mar, e sim seu pé direito, ou melhor, a falta dele e como ele era substituído.

Madeira.

Um pé de pau.

Ele cantava a música com uma alegria contagiante que me fez sorrir.

Oy, não temam companheiros

Os ventos estão do nosso lado

— O que está fazendo, Kyan? — Phyx me reprimiu, segurando o meu braço.

— Shh — Murmurei, encarando-a — Eu conheço essa música…

Oy, não temam companheiros

Os ventos estão do nosso lado

O navio partirá acompanhado do amanhecer

Regado de rum, suor e bem-querer

Meu coração foi invadido por uma onda quente de calmaria, me sentia, de alguma forma, em casa. Era uma melodia que minha mãe costumava cantar, não para me colocar para dormir, e sim quando estava fazendo atividades em casa, sua voz era tão doce que mais parecia mel.

Oy, não temam companheiros — Cantei junto com o homem em cima da mesa e os outros pescadores do local. Minha voz, mais fina do que todas as outras, destacava-se na multidão — Os ventos estão do nosso lado…

Uma outra voz, essa mais rouca e grave, se junta a minha em perfeita harmonia.

Voltaremos com a pesca… — Cantei, voltando o meu olhar para um canto escuro do bar, de onde saia a voz masculina.

Nosso ouro e prata ganharemos — Ele cantou, sem tirar seus olhos castanhos esverdeados de mim — Em camas quentes dormiremos, ao lado de nossa amada.

Sinto um sorriso tímido se formar em meu lábio e, ao ver isso, o homem levanta sua caneca de cerveja em minha direção. Seu cabelo era marrom claro, um tom de areia queimado, e sua pele era bronzeada.

Era um pescador e usava um colete de couro em cima de uma camisa marrom, algo na peça brilhava e eu não sabia dizer o que era. Talvez fosse um cordão ou só o suor provocado pelo ambiente úmido e abafado da taverna. Ou talvez uma arma…

— Kyan… — Phyx tentou falar, mas foi interrompida pelo homem misterioso.

— O que uma bela dama faz em uma caverna de homens bêbados? — Perguntou, levantando-se.

— Está falando mal de seus companheiros? — Indaguei, arqueando minha sobrancelha.

— Observadora — Sorriu, mostrando um canino dourado.

— Kyanite — O cumprimentei, erguendo minha mão em sua direção.

— Skander — Ele sorri maliciosamente ao me segurar.

Seu toque é firme e seguro, e com uma puxada ele me cola ao seu corpo, me levando até o centro de uma roda de dança.

Pessoas batiam palmas, homens riam e alguns músicos tocavam seus instrumentos com destreza, fazendo a música festiva ecoar pela taverna e pela minha alma.

Estava sendo embalada pela sinfonia de barulhos enquanto Skander me segurava pela cintura e me rodopiava. Meu coração batia feliz e eu ria como uma criancinha. Dançar com ele parecia saltitar ao redor da grande fogueira de Elfdale com outras elfas da aldeia.

— Seus olhos estão amarelos — Falou, diminuindo cada vez mais o espaço que nos separava.

Meu corpo aquece, das pernas até as bochechas, podia todos os seus músculos, do abdômen até o peitoral. Skander passa sua mão quente pela minha coluna, me levantando no ar e assim que me desceu, me girou e me colou em si.

— Uma elfa! — Sussurrou no meu ouvido.

— E você um pirata — Ousei, encarando-o.

— Haha! — Ele riu, jogando a cabeça para trás, segurando meu queixo logo em seguida para que eu não desviasse o olhar — Um pescador, elfa. Estou longe de ser um homem como eles…

— Então o que carrega no colete não é uma arma?

A melodia se torna mais intensa, uma mulher assume comando da cantoria. Sua voz é quente e sensual, acelerando o ritmo dos pandeiros e baterias, fazendo Skander acelerar suas passadas. Me sentia deslizar pela madeira do chão da taverna, como se existe apenas eu e ele naquele lugar.

— É um colar — Falou, afundando seu rosto em meu ombro.

Meu pelos arrepiam a medida que sua respiração toca a pele nua de minha clavícula.

— Um medalhão de boa sorte — Sua voz se torna cada vez mais rouca contra o meu ouvido — Para que eu volte à terra são e salvo.

— Skander… — Tentei falar, mas suas mãos foram mais ágeis.

Ele me afasta de si me segurando apenas por apenas uma de minhas mãos. Seu sorriso malicioso e convidativo permanecia em sua face, enquanto me dava liberdade para dançar sozinha, como era pedido pela coreografia dessa dança de roda. Meu pés se movem magicamente, algo em mim clamava por aquele tipo de expressão, uma forma de agir que não exigisse os modos de etiqueta da Alta Corte.

— O que uma elfa faz aqui? — Perguntou quando me puxou para si.

— Passeio — Não estava mentindo, de certa forma estava passeando, fugindo da vida no palácio.

— Devo acreditar em você? — Murmurou passando as palmas de suas mãos pelos meus braços, deixando uma sensação de formigamento confortavelmente quente em minha pele.

— Elfos não mentem.

— Vou aceitar isso como um não…

Sorrio, envolvendo seu pescoço com os meus braços.

— Estou realmente a passeio, conhecendo a vila.

— Não a nada pior aqui do que a “Cova dos Pescadores” — Seus cabelos castanhos começavam a colar em sua testa por conta do suor.

— Entrei porque reconheci a música.

— Uma cantiga antiga de pescadores… — Nossos corpos dançavam tão grudados que difícil diferenciar ele de mim — Normalmente é uma boa música, mas não quando Lycan canta.

Esse era o nome do homem com o pé de madeira. Lycan.

— Conhece ele?

— É um dos meus marujos — Explicou, me olhando nos olhos — Meu braço direito, na verdade.

Seus olhos eram de um tom verde amarronzado tão penetrante que, por um momento, senti como se ele pudesse ver toda a minha alma. Seu corpo é tão quente que transmitia seu calor para mim, deixando-me levemente suada. Tudo nele me fazia sentir estranhamente bem, sua boca carnuda, as maçãs de seu rosto altas, seu maxilar marcado e seu toque eletrizante.

— Skander! — Alguém o chamou, mas ele pareceu não ouvir — Skander, querido!

Era uma mulher de cabelos ruivos como fogo e olhos verdes como os meus, nebulosos por conta das lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Ela usava um vestido decotado verde-escuro, com um espartilho preto por cima. Seus ombros estavam a mostra, assim como suas pernas grossas.

— Skander! — Exclamou mais uma vez, fazendo eu me afastar dele rapidamente.

— O que quer, Delilah? — Indagou, sem tirar os olhos de mim.

Ele parecia triste… Talvez estressado…

— Não me disse que seu navio tinha atracado… — Sua voz agora era doce, como se, a poucos segundos atrás, não estivesse gritando por ele — Achei que pudesse te satisfazer essa noite.

— Já tenho companhia — Seco e ríspido, aproximando-se de mim como um lobo de aproxima de sua presa.

— O que vai fazer com esse tronco de árvore? — Ela me olha de cima a baixo, revirando os olhos logo em seguida — Não quero te magoar, querida, mas é magra demais para homens como Skander.

Passo a língua pelos meus dentes e engulo em seco, cruzando os braços.

— Pode ficar com ele, querida — Disse, me afastando do pescador — É todo seu.

Saio sem nem olhar para Skander, segurando Phyx pelo braço quando a encontrei no bar. Meu corpo fervilhava de raiva, estava começando a pensar que nunca teria um momento de paz. Viro meu pescoço, precisava ver como ele estava.

Seus olhos piscavam um verde-escuro e poderoso.

— Kyanite! — Chamou e eu o dei as costas, saindo da taverna em silêncio.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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