Elvenore: A Revolução Das Marés escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 10
Capítulo 09




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O Porto e um Encontro

 

O amanhecer no dia seguinte foi estranho, o céu estava escuro, nebuloso e sombrio. Os raios de sol mal ultrapassavam as nuvens escuras, deixando a praia e o terreno do palácio com uma sombra bruxuleante tenebrosa. O dia estava como eu, triste e raivosa ao mesmo tempo.

A memória da dança com Skander não saia da minha cabeça, parecia fixa, em um filme infinito de nossos momentos ontem. Suspiro e me levanto da cama, meu pés doíam um pouco e, assumo, estava cansada.

Sigo até o banheiro para lavar o meu rosto, precisava deixar ele para trás, Skander tinha uma companheira e eu estava no meio do relacionamento deles.

Visto-me com as roupas de caça de sempre e sigo pelo castelo, atravessando os corredores de pedra polida e mármore até a sala do trono. Rei Evander estava com seus conselheiros mais uma vez, mas analisavam livros e mais livros, e não o mapa de Elvenore.

Me curvo perante ele, um cumprimento que a rainha Evangeline fez questão de me ensinar.

— Bom dia — Ele falou erguendo seu olhar do livro até mim.

— Bom dia, majestade — Chamar ele assim tão educadamente parecia tão errado — Posso perguntar o que está fazendo?

— Burocracia — Nicholas disse, saindo de uma das portas, usando uma roupa mais descontraída do que os ternos reais — Bom dia, Kyanite.

Assenti, sorrindo gentilmente em sua direção.

— São todas as trocas e vendas do porto de Guenivere, a cidade perto deste castelo — Evander entregou-me o livro apontando para um navio de nome estranho: Sirena Vermelha — Esse navio está devendo vinte e quatro moedas de cobre e doze de prata para a corte.

Engulo em seco. Quem quer que seja o capitão desse navio estava afundado em dívidas… Dever mais do que dez moedas de cobre já era uma dívida alta demais para um pescador, agora vinte e quatro de cobre mais sete de pratas era quase que uma sentença de morte certa.

— Quero que você e Dominic sigam para o porto essa manhã, coletar os impostos — Ordenou, apontando mais três nomes no livro de páginas amarelas.

Afirmei com a cabeça, analisando os nomes. “Bota de Couro”, sete moedas de cobre; “Pérola de Marfim”, quatro moedas de cobre; “Rainha Marinha”, duas moedas de prata. Vasculho com o olhar a sala, a procura de Dominic, mas ele não estava ali. Aquilo era mais estranho do que o céu de hoje.

— Vá atrás dele, Kyanite — A voz do rei é mais severa do que desapontada — Jogue um balde de água fria nele se precisar.

Contraio o maxilar e me curvo mais uma vez, saindo do cômodo logo em seguida. “O que há de errado com você, Dominic?”, pensei, andando a passos firmes e pesados até os seus aposentos.

 

✵ ✵ ♔ ✵ ✵

 

Depois de cruzar dois corredores e subir dois andares de escada, eu estava parada à frente da porta de Dominic, com uma mão cerrada em um punho bem fechado, solta no ar, incerta se deveria bater ou não. Me sentia ridícula por conta desse nervosismo tosco.

Respiro fundo e atinjo a porta uma vez. Nada. Nenhuma resposta.

Bato mais uma vez e escuto vidro se quebrar.

Meu coração acelera e viro a maçaneta sem pensar duas vezes.

Avanço pelo quarto escuro e abafado de Dominic, vasculhando todo centímetro do lugar. O cômodo dele, diferentemente do meu, era preto, com várias estantes de madeira escura repletas de livros, uma escrivaninha de bordo imponente na frente de uma janela, bloqueada por uma cortina pesada de veludos, e sua cama, com um dossel largo que segurava um tecido marsala drapeado.

O corpo musculoso e sem camisa de Dominic estava largado no meio da cama, roncando como um leitão. Apoio minhas mãos na cintura e olho para cima. “Ele é um idiota”, pensei “Um completo idiota”. Um sorriso se forma em meus lábios, era engraçado vê-lo assim, tão sereno que mal parecia ele mesmo.

Percebo o machucado da loba em seu peito.

Estava irritado, com a pele rasgada ainda vermelha, inflamada. Ser tão severo era seu maior defeito. Sigo até o banheiro e molho um pano em água fria, pegando, logo em seguida, um frasco de pomada que dizia: “Aplicar três vezes ao dia por uma semana no ferimento”. Estava intocada.

Vou para a cama, desviando da garrafa de vinho quebrada e me sento ao seu lado. Limpo o ferimento com o pano úmido e passo o remédio com cuidado. Não deveria fazer isso por ele, mas também não o deixaria sofrer quando segurava a cura.

Dominic me irritava de tantas formas, mas essa era a pior de todas elas. Quando era tão teimoso que se recusava a admitir que precisava de ajuda.

Me lembro de um dia que estava em Elfdale com seu pai, fazendo uma visita de rotina. Ele tinha dezessete e eu, quatorze. Dominic fez questão de se exibir, alegando ser um grande conhecedor de ervas e pulou na parte do Rio Branco conhecida por suas algas urtigantes.

Assim que pulou, se arrependeu. Xingando alto, ele se arrastou para fora do rio, com as pernas vermelhas e purulentas. Precisei fazer uma troca com ele, Dominic levaria minha adaga se deixasse que eu passasse uma pomada calmante.

Suspiro, observando seu rosto.

O príncipe era bem diferente de Skander, tudo nele era mais rígido, menos feliz e despreocupado.

— Dominic — Chamei, balançando seu ombro.

Um resmungo escapou de seus lábios e me faz sorrir. “Uma criança”, pensei.

— Dominic, está na hora de acordar…

Seus olhos abrem de supetão, fazendo eu dar um pulo para trás, ficando de joelhos em sua cama. Ele se senta rapidamente, sem tirar seus olhos de mim. Toda a paz e tranquilidade do quarto estava prestes a desaparecer, pois seus olhos, de um azul-marinho nebuloso, pareciam fervilhar com a minha presença.

— O que diabos está fazendo aqui? — Rosno, cerrando o maxilar.

— O que acha que estou fazendo, seu idiota? — Retruquei, sentindo meu corpo aquecer de raiva — Te acordando porque perdeu o horário.

— Perder a hora? Ah, por favor! — Resmungou, revirando os olhos — Eu nunca perco a hora.

— Então veja por si mesmo — Minha voz soa desafiadora, ríspida.

Me levanto e abro as cortinas de veludo, deixando a luz azulada entrar no quarto.

Seu rosto sai de fera para presa, assustado ele seguiu para o guarda-roupa, vestindo-se com uma camiseta branca.

— Porque não disse antes?

— Mas… Eu… — Minha língua trava ao observar suas mãos fechando os botões com agilidade — Eu falei, seu idiota!

— Meu pai disse alguma coisa? — Rosnou, sem me olhar.

— Disse que vamos coletar impostos no porto — Expliquei, virando de costas.

Minhas bochechas estavam quentes, seu corpo musculoso fazia isso comigo.

— Coletar impostos? — Murmurou, respirando fundo logo em seguida — Quais são os nomes?

— Hum... Pérola de Marfim, Rainha Marinha, Bota de Couro e… — Observo o céu pela janela, escuro e triste — Sirena Vermelha.

— Sirena Vermelha… — Sibilou, tocando meu ombro logo em seguida, fazendo uma corrente elétrica correr pelo meu corpo como um raio — O que foi? Nunca viu o corpo de um homem?

Um sorriso presunçoso toma conta de sua face, sinto a raiva borbulhar no meu coração.

— E você, nunca perdeu a hora? — Retruque me esquivando do seu toque e caminhando até a porta — O que está esperando? Quer que eu mova o porto até você?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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