Elvenore: A Revolução Das Marés escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 34
Capítulo 32




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Dois lados de uma mesma moeda

Dominic

Uma semana se passou desde de que Nicholas desapareceu do castelo, em sua missão de agradar ainda mais o meu pai, eu me encontrava no ponto mais alto de Guenivere, o farol. Alto, imponente, feito de pedras maciças e negras. Um monumento tão antigo quanto a própria cidade de Guenivere, construído anos antes da instalação da monarquia Drogomir. Um símbolo de que antes de minha família havia uma Elvenore livre.

Bufo, me jogando na cadeira atrás de mim. Minha mente estava a mil, precisava entrar em contato com Kyanite de alguma forma, mas eu não sabia como. Não podia enviar uma carta, era capaz de alguém queimá-la antes de chegar em suas mãos. Não podia pegar um navio e entrar em Acqua sem mais nem menos, me jogariam nas masmorras caso eu fizesse, ou pior, avisariam meu pai e…

Um calafrio percorre a minha espinha e balanço a cabeça para tentar esquecer os momentos que passei sozinho com o meu pai. Todos os músculos das minhas costas se contraem, eles sabiam o que os esperava caso eu falhasse, caso eu fosse pego ajudando Kyanite. Eu sabia que se usasse um pouco mais a cabeça, desistiria de ir contra a vontade do rei de Elvenore, mas meu coração falava bem mais alto e se eu não o seguisse, era provável que eu morreria de desgosto de mim mesmo.

Por anos vi meu pai como o homem mais correto e brilhante do mundo. Evander era como uma rocha continental, firme e inabalável. Nada nele exalava insegurança ou medo, um homem tão resoluto e determinado que sempre conquistou tudo o que quis, mesmo quando a sorte não estava a seu favor. Porém, aos poucos, sua máscara foi caindo, ele não era esse herói que eu tão cegamente seguia. A verdade era que eu não tinha forças para ir contra ele, todo plano parecia estúpido e falho, até que…

Até que ele me disse que iríamos abrigar Kyanite Liadon em nossa casa.

— Argh, você está deplorável — A voz de Casper ecoa pelo cômodo vazio, arrancando-me de seus pensamentos — Pior do que quando Aysel sumiu com um homem do mar.

— Calado! — Sibilei, arrumando a postura.

— Você tem mais azar no amor do que eu, meu amigo — Ele, como sempre, continuou — Isso porque eu já me apaixonei por uma sereia. Sabe o que elas fazem quando descobrem que alguém as ama?

Fechei os olhos, na esperança de não poder ouvir suas lamentações.

— Elas matam a gente, cara! — Casper não cansava fácil, por isso arrastou uma cadeira para o meu lado — Arrastam a gente para o fundo do oceano e comem a nossa carne até sobrar só o osso!

— Você sabe muito bem que não são todas as sereias… — Murmurei, passando a mão pelo meu cabelo. Estava desgrenhado por conta das noites acordadas.

— Ah, sim! É claro que não são todas as sereias — Mesmo com os olhos fechados eu podia sentir um sorriso malicioso formar em seus lábios…

— Nem pense…

— Há sereias que comem metade de seu coração e depois partem — Ele sacode o meu ombro, brincalhão — Como a Kyanite.

— Ela é metade sereia, seu idiota — Resmunguei abrindo os olhos e o fuzilando com o olhar — E você sabia muito bem que não deveria se meter com… Espere um segundo — Eu era um completo idiota por não ter pensado nisso!

— Ai não, cara… — Casper choramingou a medida que eu me levantava da cadeira — Odeio esse sorriso… Significa que eu vou me ferrar.

— Ah, e vai mesmo — Suspirei, virando-me para ele, que se afundava na cadeira — Vamos! Não temos tempo a perder!

— Não quero ir…

Cruzo os braços, fuzilando-o com o olhar.

— Agora que eu não quero ir mesmo! — Apesar do biquinho medíocre, Casper não conseguiu arrancar nenhuma gota de misericórdia de mim — Ah, cara, da última vez que sorriu assim, eu tive que dormir com os porcos por uma semana.

— A culpa não foi minha que você foi pego — Retruquei, esperando ele se levantar.

— A culpa foi sua, sim! Queria passar aquela noite com a Aysel e me fez de bobo da corte… Achei que o rei ia me degolar — Seguro seus braços o levantando com força.

A menção do nome de Aysel deveria doer, quer dizer, costumava doer, mas não doeu. Eu tinha outras coisas em mente, na verdade, uma coisa só. Kyanite Liadon.

— Vamos!

Arrastei Casper para fora do farol e caminhei pela trilha que eu conhecia muito bem. Eu tinha um plano!

 

Kyanite

Foram necessários dois dias para arrumar tudo. Skander tinha conseguido uma carroça coberta e dois cavalos para transportar Nicholas, Phyx e eu para o interior de Acqua. Havia combinado com Maren um esquema de treinamento para seus homens, onde treinariam resistência de manhã e durante a tarde lidariam com arco e flechas do jeito que Novak havia me ensinado (treinar o equilíbrio em toras altas de madeira, a mira seria treinada com alvos móveis e a força e resiliência para segurar o arco seriam colocados a prova em caçadas).

— Não pode ir embora — Maren protestou, apoiando-se em um dos cavalos — Você tem que treinar eles…

— O cronograma está em suas mãos e já te ensinei tudo o que sei nesses últimos dias — Falei, observando seus olhos, havia um tom de mágoa neles — Não estou te abandonando. Preciso manter os dois longe daqui e mandarei cartas todos os dias, para acompanhar o avanço de seus homens.

— Não é a mesma coisa quando você está com eles…

— Maren — Suspirei, aproximando-me dela.

— Eu sei. Eu sei — Rosnou, revirando os olhos — Mas nem pensei que vai se livrar de mim tão cedo. Mandarei relatórios diários.

— Estava contando com isso — Sorri, tocando seu ombro — Responderei todos eles o mais rápido possível e trate de dar aos seus homens um descanso. Eles não são feitos de ferro, sabe…

— Mas você é.

Cerrei os lábios, Maren não queria que eu fosse, pois queria impressionar minha mãe com seu batalhão.

— Está tudo pronto — Draven falou, se intrometendo na conversa — Vamos?

— Preciso ir, Maren — Digo, dando um leve aperto em seu ombro, uma despedida.

— Responda meus relatórios, princesa, ou eu mesma vou atrás de você.

Assinto positivamente com a cabeça e me encaminho para a parte de trás da carroça, Phyx estava sentada assim como Nicholas, mas ela parecia mais confortável e alegre do que seu companheiro.

— Confortáveis?

— Precisamos mesmo ir? — Nicholas murmurou, franzindo o cenho — Eu… Eu ainda sinto muita dor.

— A caixa vermelha tem todos os remédios que você vai precisar durante seu processo de recuperação — A voz de Draven vem da parte da frente, tão autoritária quanto a da minha mãe — Há boticários perto da região para onde vamos, se faltar ou acabar alguma coisa, irei repor.

— Phyx também é muito boa com remédios naturais…

— Eu sei… — Ele chiou, sentando-se.

— Há um… — Draven pigarreou, desviando o olhar — Há um belo jardim.

— Ah, é verdade? — Uma luz surgiu em seu rosto — Que ótimo, majestade! Não vejo a hora de ver… Plantas saudáveis!

Sorrio, seria bom ficar longe da fortaleza por um tempo, afinal, tudo ali tinha cheiro de guerra e eu precisa de um lugar para acalmar minha menta para a tarefa que teria que fazer… Matar Dominic.

— Podemos ir? — Skander indagou, atrás de mim — O chalé é longe daqui e precisamos fazer bom uso do sol.

Olho para Nicholas e depois para Phyx, fazendo questão que os dois pudessem ver a certeza e determinação em meu olhar. Subo na parte de trás da carroça e escuto Skander ir para a frente, ao lado do meu irmão, eles seriam a nossa escolta. Aceno para Maren e depois para minha mãe, que nos observava da janela de seu quarto.

Os cavalos começaram a andar, me afastando de minha mãe e levando-me para um lugar distante e calmo, onde manteria meus amigos em segurança, poderia treinar meus poderes sem destruir a fortaleza de Acqua e me prepararia para matar…

 

✵ ✵ ♔ ✵ ✵

 

Três dias se passaram e eu não estava mais rodeada por casas, vilas e aglomerado de homens e mulheres. Estava no campo, onde a grama crescia alta e exuberante, o céu era tão azul que poderia muito bem ser falso. As árvores eram altas e cheia de folhas, que balançavam e dançavam junto com o vento ameno e tranquilo do interior. Draven me disse que estávamos perto do chalé, chegaríamos de madrugada, mas eu e Phyx estávamos cansadas de ficar sentadas, a verdade era que minha bunda estava ficando quadrada por conta do banco de madeira duro da charrete.

— Não podemos parar e descansar um pouco? — Ela indagou num suspiro.

— Por favor, irmão — Pedi, me apoiando na madeira que dividia a parte da frente da párte de trás da charrete — Só uma hora. Preciso esticar as minhas pernas ou elas vão formigar para sempre…

— E minhas costas estão me matando…

Draven e Skander se entreolham.

— Uma hora, nada mais — Meu irmão avisou, fazendo Skander sorrir.

— Obrigada! — Eu e Phyx guinchamos em uníssono, pulando uma em cima da outra para conseguirmos sair da charrete.

— Ah, bom saber… — Skander riu alto — Sua irmã é seu ponto fraco.

— Cale a boca, Skander — Draven vociferou, havia um largo sorriso no meu rosto — Agora desça e fique perto das duas. Não quero que me atrasar.

— Sim, senhor — Skander desceu, dando dois tapinhas no cavalo — Uma pergunta, se, hipoteticamente, a Kyanite perguntar…

— Hipoteticamente?

— Sim, hipoteticamente perguntar: “Ah, Draven. Dê dois meses de férias para o capitão Valir… Ele trabalha tanto e precisa de um descanso longo” — Ouvir os dois conversando era… interessante — O que você faria?

— Ah, o de sempre — Havia um tom de deboche em sua voz — Mandaria você para o quinto dos infernos!

Minha gargalhada ecoa, fazendo Phyx me puxar para longe do nosso meio de transporte. Corremos pelo campo, aproveitando o sol aconchegante em nossa pele e a grama em nossos pés. Havia um ar de liberdade e paz quase que tocável, nós duas ali, longe de tudo e todos, aproveitando a natureza… Era tudo o que eu precisava.

Ela rodopiava, aproveitando o vento de bagunçava seus cachos e o sol que reluzia sua marcas de ninfa. Phyx parecia feliz, seus olhos e seu sorriso me diziam que ela sentia falta dessa liberdade toda.

— Ah, não é magnífico? — Indagou, olhando para mim — Ah… É sim!

— Com certeza — Respondi, alongando-me. Meus músculos estavam rijos e cansados, mas, ainda assim, continuei o alongamento.

— As vértebras da minha coluna já estavam se deslocando de tanto ficar sentada — Ela reclamou, olhando para mim, havia um rubor em suas bochechas.

— E se deitar no piso da carroça não é nem um pouco confortável — Continuei, lembrando do que Nicholas havia me dito — Nick passou a noite toda reclamando do galope dos cavalos. Não sei como não ouviu ele choramingar…

— Tenho um sono muito pesado — Ela corou mais ainda, mas não era por conta do sol dessa vez — O príncipe não está nem um pouco feliz com essa viagem… Nunca o ouvi reclamar tanto, está até parecendo Dominic.

Trinco o maxilar sem nem perceber. A menção de seu nome faz o meu coração palpitar e as lembranças de seu rosto, sereno e feliz na noite que dividimos juntos, inundavam a minha mente. Eu precisava vê-lo como meu inimigo e não o homem que partiu o meu coração em milhares de pedaços, como o homem que eu amei… Não! Eu não o amei!

Meu coração palpita, um aviso de que estava mentindo para mim esse tempo todo.

— Kya? — Chamou, forçando-me a desviar o olhar — Não adianta virar o rosto, posso ler você como um livro, se esqueceu? O que há?

— Nada — Suspirei, balançando a cabeça — Acho que Nicholas está com dor, mas é um cavalheiro e não quer assumir.

— Draven e eu conversamos sobre isso… Os remédios que ele está tomando são fortes e ele não deveria sentir nem uma mísera gota de dor — A voz de Phyx é pensativa.

— Só um minuto… Você e meu irmão estão conversando?

— É claro, Kya! Eu não estou morta e sei conversar com outras pessoas — Resmungou, me reprimindo, brincalhona, com o olhar.

— E quando isso aconteceu?

— Nas vezes em que estava tão perdida em sua própria mente que é impossível te arrancar desse estado — Revirou os olhos, tocando o meu ombro com cuidado — Fica tão imersa que nem percebe quando te chamamos…

— Ah… — Havia um certo espanto em meu olhar, pois não sabia que eles tinham percebido…

Ficava em silêncio, pensando em milhares de planos para acabar com Evander e matar Dominic, mas nenhum deles se provava bom ou lógico o suficiente para ser usado. Eu não tinha muito tempo para pensar sobre isso e não ter nenhuma ideia do que fazer me deixava nervosa. Minha mãe contava comigo… Não podia falhar.

— O que está te deixando assim, Kya?

— Phyx…

— Eu sou sua amiga, Kyanite e estou aqui para te ajudar — Um sorriso de compaixão tomou conta de seus lábios — Sempre.

Engulo minhas dúvidas e me engasgo com a verdade, que trancafiava a minha saída de ar.

— Eu…

Recupero o fôlego, incapaz de olhá-la nos olhos.

— Eu preciso matar o Dominic e a verdade é que eu o amo…

Nunca foi tão fácil falar a verdade, saiu de forma tão simples e leve que me surpreendeu. Eu o amava, mal conseguia o odiar por conta disso. Me senti estúpida, um completa idiota por ter me apaixonado tão perdidamente por ele… E, acima de tudo isso, eu teria que matá-lo, precisava ter a vantagem na luta contra Evander…


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado S2



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