Elvenore: A Revolução Das Marés escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 26
Capítulo 24




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Ataque em Alto-Mar

O aposento de Dominic é a parte mais escura e fria de todo o navio. Mobiliada completamente com peças de mogno, desde de estantes até a mesa de cabeceira. Sua cama era grande e bem-arrumada com tecidos grossos e pesados. Me aconchego entre os travesseiros e as mantas quentes, observando o príncipe andar de um lado para o outro, vasculhando centenas de frascos.

— E-Eu estou melhor, Dominic — Falei, quebrando o silêncio desconfortável entre nós dois.

— Quero só… — Ele respirou fundo, apoiando-se na mesa, incapaz de me olhar nos olhos — Estou vendo se tenho tudo que preciso do boticário caso sinta um declínio na sua saúde.

— Estou bem — Reafirmei, puxando seus cobertores até cobrirem a minha cintura.

Deixo-o trabalhar, sabia que quando Dominic tinha algo na cabeça era quase impossível convencê-lo do contrário. Olho o meu arredor, prestando atenção em todos os detalhes, cada livro e caderno na estante, cada mapa enrolado e pergaminhos abertos. Cada papel de carta e cera para fechá-las e o cortador para abri-las, mas no momento em que meus olhos encontram o espelho, meu corpo trava.

Foi nesse momento que percebi que estava usando uma camisola levemente transparente de linho. Seu corte era em formato coração, o qual meus seios não conseguiam preencher, mas felizmente suas mangas eram compridas. Engulo em seco ao perceber que ficaria apenas de pijama nos aposentos do príncipe, afinal, minhas roupas não deveria passar de um punhado de trapos.

— Está vermelha — Ele falou, fazendo eu esconder meu rosto com o travesseiro — Está com febre?

— Eu… Não! — Pigarrei, fechando os olhos e rezando para o rubor passar.

Escuto seus passos pesados se aproximarem da cama.

— Preciso que me diga o que está sentindo, Kyanite — Pediu e pela primeira vez ouvi um tom doce em sua voz.

Sua mão levanta o travesseiro e nossos olhos se encontram, fazendo um sorriso tímido surgir em seus lábios..

— Acho que não está com febre — Brincou, me entregando o meu lenço — Está com calor? Posso abrir a janela um pouco, mas não por muito tempo.

— Não… — Soprei, respirando fundo na tentativa de acalmar o meu coração — Minhas roupas…

— Dano total, mas conseguimos recuperar seu cinto.

Cerro a minha boca em uma linha fina, enquanto me sento na cama. Faço uma trança única e rápida, prendendo a ponta com o lenço verde. Os olhos de Dominic pairavam em mim, mas havia uma distância respeitosa entre nós, o que me dava espaço para respirar e me tranquilizar.

— Kyan… — Ele começa a falar, mas para, se levantando logo em seguida.

Seguro sua mão, fazendo-o se sentar novamente,

— É a segunda vez que fala isso — Falei, apertando de leve sua palma fria — Diga.

Sua língua caminha pelo seu lábio superior enquanto uma nuvem de dúvidas vagueia pelos seus olhos. Parecia incerto e perdido ao mesmo tempo que lutava contra si mesmo para se manter rijo e inabalável.

— Dane-se — Proferiu, revirando os olhos — Quer ouvir a verdade, Kyanite?

Havia um certo tom de fúria em sua fala.

— Sim.

— Quando o maldito do Skander disse que você tinha desaparecido depois de ter se encontrado com as sereias, eu quase o matei — Rosnou, socando a cama — Soquei aquele desgraçado até deixá-lo inconsciente… Deveria tê-lo matado!

— A culpa não foi dele, Dominic…

— Mas ele não deveria ter deixado você entrar sozinha! — Esbravejou, tomando meu rosto em suas mãos.

— Mesmo que ele quisesse, não conseguiria, por que… — Tento falar mas ele me interrompe.

— “Apenas virgens conseguem caminhar pelo caminho de pedras opalas” — Sibilou, sentia a raiva pulsar em cada palavra — Aquele miserável não serve nem para isso.

— Não pode falar assim dele, Dominic — Me prontifiquei, afastando-me de seu toque hipnotizante — Ele é meu amigo e por mais que não goste dele…

— Não goste dele… — Praticamente cuspiu as palavras, se levantando abruptamente — Ele arruinou minha vida duas vezes, Kyanite. O que sinto por aquele verme ultrapassa o ódio!

— Duas vezes? — Indaguei, encarando-o, incerta se estava falando de Aysel.

— Esqueça! — Ordenou, cruzando os braços — Apenas… deixe isso de lado — Seus dedos finos apertam seu nariz, como se estivesse com uma forte enxaqueca — Descanse, Kyanite.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Dominic sai do quarto a passos pesados, o cheiro meio almiscarado o ódio em seu coração permanece no cômodo, sendo muito único companheiro até o anoitecer enquanto sou envolta por mais dúvidas.

 

✵ ✵ ♔ ✵ ✵

 

Caminhava devagar pelo quarto, precisava me movimentar, meu corpo pedia por aquilo. Andava com cuidado para não estressar as suturas feitas pelo doutor Jasper, elas beliscavam minha pele as vezes, mas nada que me incomodasse muito. Exploro as prateleiras e analiso alguns livros de navegação. As contas e as coordenadas me deixavam com dor de cabeça e me sento na poltrona macia de veludo vermelho para tentar entender onde estávamos no meio do oceano infinito de Elvenore.

De acordo com os meus cálculos, o que não me trazia nem um pouco de tranquilidade, deveríamos chegar em Guenivere em um pouco mais de doze horas. Um calafrio percorre a minha espinha ao pensar que passaria muito mais tempo no navio, a mercê das ondas nauseantes. Fecho o livro e enrolo o mapa perto de mim, apoio meu rosto em minhas mãos e fecho os olhos. O cansaço estava começando a ganhar o melhor de mim, mas Dominic ainda não tinha volta e pretendia confrontá-lo sobre o que disse.

Aysel é um dos motivos de Dominic odiar Skander, mas qual seria o segundo?

Escuto a maçaneta roda e levanto o meu rosto, encontrando o príncipe Drogomir com uma bandeja de madeira em mãos. Ele caminha até a mesa no centro do cômodo, deixando uma tigela de sopa de um lado e a segunda no outro extremo. Suspiro, me levantando.

— Coma.

Frio e cortante era a sua voz.

— Dominic…

— Está esfriando — Ele devia o olhar, sentando-se na mesa e colocando pergaminho em sua frente.

Estava ocupado demais lendo para perceber o momento em que me sentei em sua frente. Como em silêncio, observando as ondas se chocarem contra as janelinhas que tinha em seu quarto. Percebi que estava faminta quando coloquei a primeira colherada na boca e mesmo depois de terminar o prato, meu estômago ainda roncava por mais.

— Pode ficar com a minha — Dominic falou em um tom sombrio e distante, empurrando sua tigela na minha direção sem ao menos olhar para mim.

— Você também tem que comer — Observo seu prato ainda cheio — Comi bastante e…

— Por favor, Kyanite — Meu nome em sua boca tinha um tom triste e amargurado.

Calo-me e trato de não irritá-lo novamente. Sabia que provavelmente estava muito infeliz por ter que cuidar de mim. Apesar de falhar ao tentar não expor suas emoções, podia lê-lo como um livro aberto. O cenho franzido e o maxilar rijo me diziam que Dominic estava se contendo para não explodir na minha frente e ir dormir com o resto dos soldados. Seu pai deve ter dito para me tratar com respeito e atenção e isso fazia a alma do príncipe arder de raiva.

— Meu quarto tem apenas uma cama — Disse, me afastando de meus devaneios — Ficarei com o sofá…

— Podemos dividi-la — Ousei, por mais que a nossa inimizade fosse palpável, não o deixaria adormecer em uma sofá desconfortável.

— Não acho que seja uma boa ideia — Nosso olhos se encontram, respiro fundo para controlar o calor que ardia em mim.

— Não seja tão teimoso, Dominic — Continuei, levantando-me — É por apenas uma noite e tenho certeza que já foi para cama com outras mulheres por muito menos.

Percebo ele engolir em seco, quase se engasgando com sua própria saliva. Um tom rosado toma conta de suas bochechas, não sabia ao certo se era por conta do vinho que estava tomando, o calor do quarto ou vergonha. De toda forma, antes que eu pudesse analisar melhor a situação, ele desvia o olhar, pigarreando.

— Sua língua afiada não foi domada durante sua aventura com o povo sereiano — Sibilou, arrumando o casaco escuro que usava — Uma pena.

Mordo o lábio inferior para evitar falar algo do qual me arrependa depois. Apenas reviro os olhos e me sento na cama, montando uma barreira que dividia o meu espaço do dele.

— Acho que se sentirá mais confortável assim — Retruquei, mas antes que pudesse continuar, meu olhos encontram as costas largas e danificadas de Dominic.

Sua pele branca e brilhosa como mármore é marcada de vergões, alguns pálidos e outros um pouco rosados. Cicatrizes verticais e horizontais que se cruzavam em alguns pontos cobrindo desde seus ombros subindo nos cós de sua calça. Perco fôlego no momento em que percebo o único instrumento que deixaria esse tipo de marcas: um chicote.

Desvio o olhar no momento em que ele se vira para cama.

— Montou uma barreira de travesseiro entre nós — Havia um tom de descrença e jocosidade em sua voz — Muito maduro da sua parte.

— C-Como eu disse… — Recupero a compostura para fuzilá-lo com o olhar — … Não devo ser a primeira mulher com quem se deita e não quero ser a próxima — Dou dois tapinhas na muralha — É apenas por precaução.

Ele se senta do outro lado da cama, passando as mãos em suas madeixas negras. Um sorriso fino estampava um pouco de alegria em seu rosto sério.

— Não sei de onde tirou essa ideia, mas nunca “me deitei com uma mulher” — Sua voz é baixa e um pouco áspera — Sou um príncipe e tenho uma reputação a zelar.

— Eu a-achei que… — Engulo as minhas palavras, encarando as minhas mãos, que repousavam em meu colo.

— Bem, achou errado, Kyanite — Dominic se deita, sumindo do meu campo de visão — Boa noite.

Murmuro um “boa noite” e me cubro com suas cobertas macias, na esperança de que o conforto fosse apaziguar a vergonha que me consumia por inteiro. Naquela noite eu não pego no sono, algo em mim estava agitado demais para que eu conseguisse fechar os olhos. Meu coração batia em um ritmo estranho, repassando tudo o que Dominic disse e fez nos últimos dias.

Escuto-o roncar pesado ao meu lado, seu som embalava o meu nervosismo. Estava sendo uma completa idiota ao presumir esse tipo de coisa sobre ele. Dominic era um príncipe, não podia se portar como um marujo, como Skander. Precisava zelar não só por sua reputação, mas também pelo nome Drogomir.

E suas costas, cheias de cicatrizes fazia meu coração despencar até o estômago toda vez que repassava a imagem na minha mente. Não havia reparado nelas quando o encontrei em seu quarto no dia em que perdeu o horário e me sinto estúpida por nunca ter visto suas marcas. Deve ter doído tanto o processo de punição quando o período de cicatrização. Arrepio só de pensar.

— Não… — Ele murmurou, mexendo-se abruptamente do outro lado da barreira.

— Deve estar sonhando… — Sussurrei, me enrolando um pouco mais na coberta.

Respiro fundo, tentando cair no sono.

— Não! — Dessa vez ele grita, acertando com seu braço os travesseiros que nos separavam — Chega!

— Dominic — O chamei, me sentando na cama.

Meu olhos encontram ele se remexendo na cama, uma fina camada de suor cobria sua testa, mas seu peito nu e definido estava encharcado. Seu grito ecoa pelo quarto, ricocheteando nas paredes de madeira e me acertando em cheio. Era um grito doloroso e de puro medo e desespero, fazendo um arrepio percorrer a minha espinha.

Um pesadelo.

— Dominic! — O toco, mas logo percebo o erro que fiz.

Com uma força surreal ele agarra o meu punho e me vira na cama, ficando em cima de mim. Suas mãos se fecham contra mim, cortando a circulação até as pontas dos meus dedos. Tento lutar, não ficar presa debaixo dele, mas sua ira e seu estado mental estando nebuloso por conta do sonho o deixavam ainda mais forte.

Dominic se encontrava em um transe de pura fúria.

Ele me domina por completo, me imobilizando debaixo de si, pressionando-me contra o tecido macio da cama.

— Dominic… — O chamo mais uma vez, mas ele parecia tão perdido em si mesmo que mal me escutava.

— Chega! — Ele urra, fazendo o medo se instalar ainda mais profundamente dentro de mim.

O que quer que seja que ele esteja sonhando, era capaz de me matar estando inconsciente do que estava fazendo.

— Por favor, Dominic — Supliquei, sentindo meus ossos começarem a arder — Está me machucando…

Nossos olhos se encontram e percebo ele ir acordando aos poucos. Seus dedos aliviam a pressão ao redor dos meus pulsos, permitindo oque meu sangue circule de volta para a minha mãos. Seu corpo relaxa e percebo o seu instinto assassino esvaecer na umidade do cômodo.

— Oh, não… — Sua voz é fraca e ferida, sua garganta provavelmente estava dolorida por conta de seus gritos.

Dominic sai de cima de mim, lágrimas enchiam seus olhos, deixando o tom azul que preenche sua íris um pouco mais claro, como a cor do céu quando está preste a chover. Ele cambaleia para fora da cama, desabando de joelhos no chão ao meu lado, o escuto soluçar, mas não podia mais ver seus rosto, pois estava escondido atrás de suas mãos.

Respiro fundo e me sento na cama, esticando minha mão na sua direção.

— Dominic…

— Não, Kyan… — Soluçou, empurrando minha mão com cuidado para a outra direção — Me perdoa… E-Eu não deveria ter…

— Foi só um pesadelo, Dommy — Era primeira vez nos últimos treze anos que eu usava seu apelido — Está tudo bem.

— Me perdoe, Kyan… P-Perdi o controle — Murmurou, incapaz de me olhar nos olhos.

Sinto meu coração se estilhaçar em milhares de pedaços. Me ajoelho na sua frente, cuidando para não ferir ainda mais os meus calcanhares. Afasto suas mãos de seu rosto e o olhos nos olhos. Havia arrependimento e amargura, fazendo meu peito doer.

— Olhe para mim, Dommy — Pedi, minha voz era gentil e doce, mas eu queria poder fazer mais por ele do apenas falar o clichê — Foi um pesadelo e não me machucou muito. Está tudo bem e…

Respiro fundo, usando toda a minha força para não fraquejar na sua frente.

Vejo-o abrir a boca para falar, mas o interrompo com um beijo. Era isso que eu precisava fazer e mentia para mim mesma o que eu sentia por ele. A verdade era que eu havia amado o momento que trocamos na sacada naquele baile e não queria ter parado depois daquele dia. Acima de tudo isso, meu coração sempre batia mais rápido quando eu o via, minhas bochechas não ficavam rosadas a toa.

Eu realmente gostava dele mesmo ele sendo um completo idiota na maior parte do tempo.

Minhas mãos se entrelaçam com seu cabelo e minha boca se delicia com os seus lábios. A conhecida corrente elétrica atinge o meu corpo, deixando todas as minhas células cientes do que eu estava fazendo. Não queria parar, mas minha falta de ar me forçou a me separar dele.

— Kya… — Ele sussurrou, segurando meu rosto com suas mãos macias e geladas — Tem certeza?

— Eu posso estar ficando louca, mas… — Falei, secando suas lágrimas com meus polegares — Sim, estou certa de que quero você, Dominic.

Um sorriso tímido surge em seus lábios, enquanto ele me ajuda a levantar. O príncipe me deita na cama, ficando em cima de mim, porém, dessa vez seu toque é gentil e cuidadoso, tocando o meu rosto devagar e acariciando as minhas bochechas até me beijar novamente. Sua boca é suave, tomando seu próprio tempo para aproveitar plenamente o nosso momento.

— Eu não me canso de tê-la assim, em meus braços — Ele falou, aproximando sua boca do meu ouvido — Minha.

Ele beija o meu pescoço com cuidado, fazendo um caminho de carícias que ia da minha clavícula até meu lóbulo esquerdo. Seus beijos faziam minha pele arrepiar, eu queria mais e me sentia completamente perdida toda vez que ele se afastava. Toco suas costas, sentindo a pele machucada. Os contornos avantajados de seus músculos definidos não eram capazes de esconder suas marcas, esconder as protuberâncias malignas de um passado, e possível presente, de dores e medos.

— Dominic… — Chamo-o, subindo meu toque até o seu rosto.

— O que quer de mim, Kyan? — Falou, selando nossos lábios juntos mais uma vez.

Sorrio, puxando-o para mim.

— Mais? — Indagou, incapaz de controlar a própria satisfação.

— Só se puder me dar mais — Murmuro, observando ele se deitar do meu lado — Imagino que não temos a mesma privacidade daquela noite na sacada.

Uma gargalhada escapa de sua boca, um som tão angelical que me sinto no paraíso.

— Não devo desonrar você, querida — Ele disse, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha — Por mais que não consiga me controlar vendo você assim… Fica linda de pijama — Dominic sorri, segurando a minha mão.

— Idiota! — Impliquei, sentindo o calor costumeiro tomar conta das minhas bochechas.

— Estou apenas sendo honesto e…

O calo com um selinho rápido e doce.

— Posso me acostumar com isso — Brincou, encarando-me com seus olhos azuis, podia sentir que ele analisava a minha alma.

— Quem diria que Dominic Drogomir se acostumaria comigo… — Ousei, tocando seu maxilar marcado.

Ele revira os olhos, sorrindo de leve. Estava tão descontraído que nem parecia ele mesmo. Tudo nele me mostrava que estava confortável, sua respiração tranquila, seu olhar sereno como uma manhã de verão e seu sorriso singelo, algo que nunca cansaria de ver. Até seu toque estava mais ameno, não tão frio quanto antes.

— Kya! — Uma voz conhecida me chama, adentrando no quarto como um furacão.

Me sento de supetão, sentindo meu coração bater contra minhas costelas como uma marreta ataca um prego, observando a figura grande e encharcada parada na entrada do cômodo.

— Skander? — Estava tão confusa que tinha certeza que poderia desmaiar — O que está fazendo aqui? Porque está encharcado?

Ele assobia alto e depois olha para mim, mais sério do que nunca. A medida que entra percebo um rasgo vermelho e ensanguentado em sua bochecha. Pulo da cama, correndo tropegamente até ele. Skander estava ferido seriamente em diversos lugares e sua boca estava cheia de sangue, cuspindo sangue como um marujo irritado.

— Não tenho tempo para explicar e… Ugh — Reclamou, segurando o próprio braço e mantendo-o perto do corpo — Temos que ir, Kya. Agora.

— Não estou entendo, Skander — Disse, analisando seus ferimentos horríveis — Sente-se. Deixe-me ver esses machucados e…

— Saia desse quarto, capitão Valir, antes que eu perca a paciência — Dominic levanta uma espada em nossa direção, seus olhos estavam concentrados em Skander.

— Me poupe, príncipe — Skander ri, segurando o meu punho — É apenas um garoto com uma espada. Não vai conseguir muita coisa contra mim — Me sinto ser levantada para cima e colocada no ombro bom do capitão Valir.

— O que? — Me remexo, tentado descer, mas falho miseravelmente — Me solte, seu idiota!

— Guarde a espada, menino — Skander rugiu, atirando uma adaga em Dominic, acertando cruelmente sua orelha, mas o príncipe mal se move — Viva a Rainha dos Mares!

Estava tão confusa, mas meus olhos analisavam Dominic. Sua orelha estava terrivelmente decepada, a parte superior aberta como se tivesse levado um tiro. Nossos olhos se encontram e ele avança na nossa direção, bradando sua espada.

Skander me solta e começa a lutar com o príncipe.

O capitão Valir era mais rápido e feroz, o máximo que Dominic conseguia fazer era escapar precariamente das investidas e mesmo com o ombro deslocado, Skander mostrava que anos no mar valiam mais do que qualquer aula de luta com os professores do palácio. Sabia que se eu não intervisse, Dominic não sobreviveria.

— Chega! — Gritei, correndo até o principe, que estava deitado no chão, usando toda a sua força para evitar que a espada de Skander decepe sua cabeça — Vocês dois! Parem!

Empurro Skander e ele mal se move.

— Deixe Dominic em paz e eu vou com você! — O fuzilava com o olhar.

— Iria comigo de um jeito ou de outro, Kya — Falou, ainda tendo sua espada apontada para nós — Estou aqui para te buscar.

— Me buscar?… — Balanço a cabeça, soltando o meu cabelo — Eu vou com você mas deixe Dominic em paz!

O príncipe tosse, cuspindo sangue. Cerro o maxilar e encaro Skander mais uma vez e ele relaxa, guardando sua espada, apontando para saída. Respiro fundo e me agacho perto de Dominic.

— Você não pode ir — Sussurrou, segurando a minha mão.

O entrego meu lenço e aperto sua mão.

— Eu quero isso de volta — Tento sorrir, mas falho miseravelmente.

— Kyan… — Não o deixo terminar.

— Adeus, Dominic.

Me levanto e cambaleio até Skander. O nosso caminho até o Sirena Vermelha não se passou de um borrão, cheio de figuras marujos sujos e soldados ensanguentados. Fogo, chuva e confusão tomavam conta do convés, uma mistura de corpos vivos lutando um contra o outro e homens falecidos jogados no chão em poses grotescas.

O capitão Valir me ajudava a andar pelos destroços, mas não conseguia esquecer a imagem de Dominic, no chão, severamente machucado. Pensar no que Skander poderia ter feito com ele me deixava nauseada. Pior ainda, quem diabos era a Rainha dos Mares?

Sinto uma enxaqueca invadir a minha mente de forma avassaladora. Meu corpo falha, fazendo eu cair na madeira do convés ao lado de um soldado real falecido. A sopa em meu estômago se revolta contra mim ao ver a cabeça do homem separada de seu corpo e algo nos olhos daquele infeliz me dizia que ele ainda estava vivo.

Estou louca…

O soldado me encara com seus olhos pálidos e sem vida.

— A líder Liadon! — Alguém grita, mas naquele momento eu não podia me importar menos.

— Me desculpa, Kya — Skander murmura, forçando um pedaço de pano contra o meu nariz — Mas assim vai ser mais fácil…

O odor ácido e pungente invade as minhas narinas, era como se eu tivesse inspirando o cheiro da própria morte. Tento lutar, mas em poucos segundos o meu corpo enfraquece e sinto um frio cadavérico adentrar a minha alma. A guerra ao meu redor se transforma em uma mistura de formas e sombras até sobrar apenas um escuro nauseante e assustador.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado! Até o próximo capítulo!



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