Elvenore: A Revolução Das Marés escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 14
Capítulo 13




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O Cintilar do Pó de Prata

Minha mente parecia um turbilhão de pensamentos e lembranças, um tsunami de sentimentos que me deixava tão perdida e confusa que precisei parar de andar. Me apoiei em uma das colunas de mármore do palácio e tentei controlar a minha respiração. Tudo estava turvo e nebuloso, não só por conta das lágrimas que escorriam pelo meu rosto como uma cachoeira, mas também por causa da terrível enxaqueca que assolava o meu cérebro.
Algo dentro de mim me dizia que precisava falar com Dominic, ter certeza de que Zya não estava mentindo para mim, mas meu corpo se recusava a funcionar.

— Milady! — Escuto Phyx gritar, segurando os meus braços — O que houve?

— Me leve para o meu quarto… — Peço, enxugando as lágrimas rapidamente.

— Sim, milady.

Phyx coloca um de meus braços sobre seus ombros, me dando estabilidade o suficiente para cambalear até os meus aposentos. Me jogo na cama, cobrindo meu rosto com o travesseiro. O rosto de minha mãe ainda era uma incógnita, mas sua voz, tão serena, porém firme, ecoava na minha cabeça como uma lembrança constante de que estava sozinha.

A minha dama de companhia tenta falar comigo, mas a ignoro, minha cabeça ardia demais para eu pensar em responder alguma coisa. Choro, deixo as lágrimas rolarem como nunca antes. Sentia-me devastadoramente sozinha e foi assim que eu escorrei entre a lucidez e o onírico, sendo levada a um sono conturbado.

 

✵ ✵ ♔ ✵ ✵

 

Não era exatamente um sonho, e sim uma lembrança da minha infância. Eu estava na parte de trás da minha casa, onde o espaço era aberto e o suficiente para treinar mira com arco e flecha. A floresta de pinheiros, com seus galhos cobertos por neve, rodeava tudo em Elfdale e pelo silêncio, sabia que os animais estavam distantes.

— Não devia estar aqui, Kya — Minha mãe me repreendeu, amolando seu machado brilhoso — Mal sabe andar e já quer se aventurar na neve…

Sua face estava coberta pelo seu cabelo castanhos espetado, porém algo em seu rosto me chamava atenção. Uma cicatriz, vermelha e viva, que lhe cortava o canto do lábio, subindo até sua bochecha e desaparecendo no emaranhado de fios que viva soltos e rebeldes.

— Queria treinar — Minha voz infantil corta o frio.

— Não tem idade para isso, minha querida — Sorriu, exibindo um canino inferior prata — Acabou de fazer quatro anos.

— Sou grande — Insisti, aproximando-me dela.

Ela riu, um som ardente e gostoso, que ruborizou minhas maçãs do rosto.

— Realmente, muito grande — Sua voz mesmo rouca, era doce e sutil, como ondas nervosas do mar — Quando eu tinha a sua idade eu mal conseguia levantar um machado. Venha, filha, vamos ver se consegue.

Ela me chama com suas mãos, entregando-me se machado de madeira branca e lâmina dupla prateada como seu dente. Havia um coração perfeitamente entalhado, com as veias e aortas descendo pelo cajado até formar a árvore rodeada pelos próprios galhos, simbolizando a união dos Liadon com os Blysinth.

A arma é pesado e robusta em minhas mãos e não consigo o levantar.

— Precisa de um pouco mais de músculos se quiser usá-lo.

— Mas, mãe…

— Discorda comigo, Kyan?

Suspiro, acariciando os brasões.

— Você é a união desses nomes, pequena — Falou, tocando a minha orelha e fazendo carinho — Uma ponte entre duas grandes famílias.

Balanço a cabeça positivamente. Naquela época eu não sabia o que ela estava dizendo, mas agora eu acho que comecei a entender. Precisava descobrir mais sobre a minha mãe, já que mal sei como ela se parece e, acima de tudo, não sabia seu nome. Sempre a chamei de mãe e nada a mais. Quando ela desapareceu da minha vida, ela não tinha nenhum outro nome.

— Volte para dentro, pequena — Pediu pegando o machado de volta — Seu pai logo deve chegar.

 

✵ ✵ ♔ ✵ ✵

 

Meu olhos são incomodados pela claridade artificial. Phyx estava ao meu lado, com uma vela em suas mãos e preocupação estampada em seu rosto de uma forma levemente cômica. Quando viu eu me remexer na cama, se levantou tão rapidamente da cadeira que quase derrubou cera em si mesma

— Você quer me matar de susto? — Exclamou, irritada — Achei que tivesse morrido!

— E-Eu estou bem — Murmurei, tapando os meus olhos com o travesseiro — Só não tive boas notícias hoje.

— Não devia ter ido falar com Zya — Disse, arrumando a mesa ao lado da minha cama, era o meu jantar, sabia por conta do cheiro — Sei que ela é uma pessoa do bem, mas…

— Ela não fez nada — A interrompi, respirando fundo — Quanto tempo dormi?

— Quase doze horas, Kyan — Falou, tirando empurrando o travesseiro para me olhar — O que aconteceu?

Me sento na cama, dando espaço para que Phyx fique mais perto de mim. Puxo minhas pernas até ficarem colado ao meu peito, apoio minha cabeça em meus joelhos e a encaro.

— Zya não sabe o que aconteceu naquele dia — Explico, tentando colocar tudo em ordem na minha cabeça — Teve uma visão nem um pouco clara e decidimos trabalhar juntas para entender o que diabos aconteceu.

— Não parece tão ruim…

— Ela me contou sobre Aysel, uma noiva de Dominic, ou melhor, sobre um noivado que não deu nem um pouco certo.

Meu peito aperta e Phyx pigarreia.

— É a menina que fugiu com um pirata, não é? — Perguntou, passando a mão em seus cachos — Fiquei sabendo dessa história quando comecei a trabalhar aqui.

— Sim… Ela deixou Dominic sem mais nem menos — Suspiro — Mas essa não foi bem a parte que me deixou em choque…

Meu olhar se volta a porta, me lembrando da vez que ele entrou em meu quarto e eu estava de camisola. Insignificante foi o que ele disse, mas a verdade era que eu não era isso, muito pelo contrário. Havia algo em mim que Dominic odiava e eu não sabia o que era.

— Zya disse que cristais explicam a nossa energia, atraem a gente de acordo com o que estamos sentindo — Falei, apertando ainda mais as minhas pernas contra meu peito, esmagando o meu coração que batia de formar desregular — Dominic sempre escolhia uma única pedra… O mesmo cristal em todas as suas variantes de cores.

— Isso soa monótono… — Ela bocejou, revirando os olhos logo em seguida — Agora intendo por que ele é tão… triste.

— Kyanite — Soprei, sendo incapaz de encará-la — Ele sempre escolhia Kyanite.

Phyx se cala, boquiaberta. Meus lábios formam uma fina linha e aproveito o silêncio para aproveitar a brisa refrescante que adentrava pela janela.

— Isso não significa nada — Disse, tocando a minha mão — É só uma pedra!

— Eu não sei…

— É um cristal, Kyan… Talvez não significa outra coisa senão precisar urgentemente de algo — Resmungou — O que significa?

— Conexões pessoais — Mordo o lábio inferior, encarando-a — União.

— Ele realmente precisa disso — Ela sorriu, tocando o meu ombro — E, do jeito que ele é teimoso, nunca vai conseguir… Não se preocupe com isso, Kyan.

Afirmo positivamente.

— Certo, coma alguma coisa e volte a dormir — Sua voz é gentil e seu toque me meu ombro é quente e reconfortante — Amanhã terá o dia com Zya e poderão conversar sobre o que quiserem.

— Sim…

— E não quero mais ouvir o nome do príncipe, combinado? — Sorriu como Novak costumava sorrir para mim — Exceto quando for duelar com Dominc e acabar com a raça dele.

Um riso rápido escapa de meus lábios.

— Combinado.

— Ótimo! — Ela se levantou, desejando-me uma boa noite — Durma bem.

— Obrigada, Phyx.

Ela assentiu, saindo de meu quarto. Tomo a sopa de legumes e me deito novamente, apagando em poucos segundo, caindo em um sono sem sonhos.

 

✵ ✵ ♔ ✵ ✵

 

Ao acordo no dia seguinte, eu sentia minhas pele formigar, como se as ondas estivessem me chamando. Elas se chocavam contra a areia abaixo da minha sacada, sutil e delicadamente. O céu estava tão azul quanto o mar, sem nuvens e com os raios solares brilhando alto. Troco de roupa rapidamente, algo em mim dizia que a água me ajudaria a lidar com o resto do dia.

Acelero pelo castelo, desviando de todos os empregados para não levantar nenhuma surpresa. Quando meu pés descalços encontram a areia morna, meu corpo vibra com uma calmaria tropical. Sigo ate as ondas, permitindo que a água fria lave as minhas pernas.

Era estranho pensar que o calor e o mar pareciam mais familiares do que o inverno e o gelo. Ficar na areia da orla era muito mais reconfortante do que brincar com bolas de neve em Elfdale. Suspiro, tudo estava tão devastadoramente confuso.

Primeiro, Evander ainda não tinha me explicado por completo o que pretendia fazer comigo enquanto eu estivesse na Alta Corte. Segundo, Zya e eu tínhamos tanta coisa para resolver, mas nada substancial para nos agarrar, exceto sua visão turva sobre uma caverna. E, em terceiro lugar, Dominic, minha maior inimizade nesse lugar.

Tudo o que eu sabia era que teria aulas de luta, magia e bons modos.

— Fico feliz por conseguir um tempo com você — Uma voz doce e serena falou.

— Nicholas — Murmurei, virando-me para ele.

Diferentemente de Dominic, Nicholas sempre se vestia de forma mais casual, uma calça cáqui e uma manta branca, leve e confortável, e, acima de tudo isso, um sorriso genuíno em seu rosto. Seus cabelos castanhos brilhavam ao sol, variando de um tom terroso até mechas levemente douradas.

— Vi você escapando de fininho pelo portão lateral… — Disse, ficando do meu lado, respirando fundo assim que a onda atingiu seus pés despidos — Dominic fez alguma coisa?

Franzo o cenho, encarando-o.

— Estava correndo… Pensei que estivesse fugindo de alguém — Sorriu envergonhado, passando a mão em seu pescoço.

— Estava fugindo do castelo — Retruquei, voltando meu olhar para o horizonte.

— Justo.

— E você? — Indaguei, sorrindo discretamente — Porque estava me perseguindo?

Nicholas ri alto, uma risada grave e gostosa.

— Quando uma convidada nossa corre pelo castelo, desviando de todos os funcionários como se sua vida dependesse disso, eu vou ficar preocupado — Ele atinge meu ombro com um soco leve — O que aconteceu?

— Queria ficar perto do mar — A verdade escapa pelos meus lábios.

— Achei que não fosse gostar daqui — Ele apoia suas mãos na cintura — Por ter vindo da neve…

— Na verdade, acho que prefiro o calor — Sorri, sentindo as gotículas de suor se formarem em minha testa — É mais… familiar.

— Familiar?

— É estranho, pois nunca estivesse em nenhum lugar quente até ter que mudar para o castelo — Suspiro, dando dois passos para frente, molhando minha calça.

— Nunca saiu de Elfdale?

— Saí… Fui caçar alguns animas na Floresta de Galodonel — Expliquei, sentindo a água fria tocar a pele quente das minhas mãos.

— Então nunca saiu de Elfdale — Um riso fraco escapou de sua boca — Confia em mim?

— Eu mal te conheço, Nicholas! — Sorrio, revirando os olhos.

— Isso é um sim ou um não?

— Não posso confiar em alguém que mal conheço…

— Vou aceitar isso como um sim!

Antes que eu pudesse retrucar ou até mesmo respirar, sinto suas mãos agarrarem a minha cintura com firmeza, levantando-me com facilidade. Seu riso era tão contagiante, que uma risada sutil, mesmo estando irritada, desliza pela minha boca com tranquilidade.

Nicholas nos leva para o mar, até uma faixa de areia que o mar cobria meu corpo quase inteiro, deixando apenas meus ombros de fora.

— Nicholas! — Tentei parecer brava, mas minha voz sai fina, como um guincho de criança.

— Estava quente demais para ficar só na areia! — Ele disse, jogando um pouco de água na minha cara — Não seja chata como o meu irmão!

Trinco o maxilar, encarando-o. Movimento minhas mãos na água, formando uma onda pequena com as mãos e molhando seu rosto e cabelo por completo, calando-o.

O gosto salgado toma conta do meu paladar, uma sensação estranhamente reconfortante. Parecia que o sal grudava na minha pele, formando uma camada protetora contra o frio da água marinha. Mergulho antes que Nicholas pudesse me atingir com suas brincadeiras, aproveitando o abraço maternal do oceano.

— Kyanite — Uma voz fraca me chama, forçando-me a subir até a superfície.

Respiro o ar puro e levemente salgado, olhando ao meu redor procurando a origem da voz. Eu sabia que não era Nicholas, pois a voz era mais doce, feminina. Apesar de meu coração estar acelerado, e minha mente focada em encontrar quem me chamou, eu sentia como se pudesse explodir de felicidade.

— O que está procurando? — Ele indagou, de costas para mim

— Eu achei que tivesse escutado alguma coisa — Murmurei — Mas devo está ficando louca…

— Você escutou o que… — Nicholas falou, virando-se para mim, mas se calou assim que seus olhos se repousaram mim. Sua boca pendeu, parecia surpreso — Você…

— O que foi? — Perguntei, preocupada — Nick?

— Você… — Ele suspirou, segurando a minha mão, tirando-a da água — Você está brilhando.

Observo minha pele cintilar, como se uma das minhas damas de companhia tivessem passado um pó brilhoso em minha pele. Era um brilho sutil, uma mistura de azul-claro com branco, quase como… “Não… Isso não é possível”, pensei.

Nicholas segura minha outra mão, deixando meus dois braços para fora, cintilando sob o sol.

— Eu não sabia que elfos brilhavam — Soprou analisando as faíscas.

— Eu também não…

— Seus pais são elfos, não são? — Perguntou, fazendo meu coração parar de bater.

— Claro que são! — Exclamei, me afastando de seu toque — Deve ser a luz, só isso.

— Hey, vocês dois! — Uma voz nos chama, mas dessa vez eu sabia quem era — O que pensam que estão fazendo?

Era Dominic.

— Estávamos tomando um banho de mar — Nicholas gritou de volta, escondendo meus braços na água — Não consegue ver?

— Kyanite tem aula com a Zya — Resmungou, cruzando os braços — E já está atrasada.

Assenti com a cabeça, nadando até a margem. Assim que saio, sinto as mãos quentes de Dominic envolverem os meus punhos, observando a minha pele cintilar. Seu polegar massageia meu braço com cuidado, até que seus olhos azuis-escuros, iluminados por um tom diferente de azul, mais triste e temerosos, encontram os meus.

— Evite ficar perto de Nicholas — Ele sussurrou, aproximando sua boca de meu ouvindo, fazendo meus pelos arrepiarem — E não fale para ninguém sobre isso.

— Dominic — Tentei falar, mas ele me solta, se afastando de mim.

— Me ouviu? — Sua voz é grave, uma ordem e não uma pergunta

— Sim…

— Vamos, Kyan — Nicholas chamou, fazendo Dominic bufar e caminhar de volta para o castelo, com suas mãos enfiadas nos bolsos de sua calça — Zya odeia atrasos.

Apenas concordei, seguindo-o. Minha mente estava focada no que Dominic me disse e na voz que escutei no mar. O que faria Dominic não confiar em seu irmão? E, acima de tudo isso, porque eu deveria confiar nele? A voz que escutei, feminina e doce, era verdade ou apenas coisa da minha cabeça?

Talvez Zya pudesse me ajudar a colocar as peças desse quebra-cabeça em ordem.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado!



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