Elvenore: A Revolução Das Marés escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 13
Capítulo 12




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A Pedra para Sempre Escolhida

 

Depois de um banho frio em meus aposentos, eu sigo para a torre de Zya, a essa altura ela deveria estar de volta ao castelo e estava me devendo uma sessão de respostas. Havia tanta coisa em minha mente que mal percebi o caminho que tomei até o aposento da maga e quando parei à sua porta, a encontrei sentada ao lado do vitral, lendo alguns pergaminhos.

— Estava esperando você — Ela falou, sem tirar os olhos das páginas amarelas de bordas douradas — Temos muito para conversar e…

— O que diabos colocou no chá? — Exclamei, fuzilando-a com o olhar.

Meus sentimentos estavam tão confusos que quando a chama de raiva reanimou dentro de mim, eu tinha alguma coisa para focar. Não precisaria ficar remoendo o que Dominic me disse, poderia canalizar minhas forças para obter as respostas que eu tanto quis.

— Nada — Falou, finalmente me olhando nos olhos — Exceto água quente e camomila.

— Mentira.

— E eu não te diria a verdade porque? — Indagou, repousando os pergaminhos em suas coxas. Me calo, observando cada movimento seu — Acredite, tudo o que sentiu, eu também senti. O fogo frio que queimou no seu estômago… — Ela arqueou a sobrancelha apontando para a minha barriga — A sensação de imponência estranhamente familiar, o medo e o pavor de derreter em trevas amigas.

Engulo em seco, sentindo minhas pernas falharem.

— Eu sei o que passou, Kyanite e também busco respostas — Seus olhos de um amarelo enferrujado me encaravam com ferocidade, eu sentia que se eu desviasse, ela me atacaria — Tem alguma coisa que não está nos contando?

— O que? — Guinchei, dando um passo para frente. “Ela foi longe demais”, pensei — Se eu não me engano, fui arrastada para morar na Alta Corte. Meu lugar é em Elfdale, mas o rei Evander me quer ao seu lado por algum motivo que eu ainda não sei — Sentia a raiva crescer dentro de mim, como um fogo descontrolado, queimando cada dúvida e incerteza dentro de mim, até não sobrar nada além de puro ódio — Eu sou uma elfa, uma Liadon. Meu lugar é com o meu povo, liderando eles, pois fui criada para isso!

— Kyanite…

— Estou presa aqui sobre a esperança de aprender a ser uma boa líder, pois Evander não acredita, ou melhor dizendo, nunca acreditou nas habilidades de meu pai — Rosnei e, pelo olhar amedrontado de Zya, ela me temia — Ele quer me treinar para que eu seja igual a Dominic, uma marionete da coroa e…

— Se acalme, elfa — Ela sibilou, levantando-se — Não é habilidosa o suficiente, pois seus olhos ainda mudam de cor.

Sua fala me atinge como um soco no estômago. Brutal e friamente.

— Eu consigo imaginar como deve se sentir — Sua voz se tornou mais leve e sutil, porém a raiva ainda fervilhava em mim — Acha mesmo que sirvo o rei por que eu quero?

— É uma maga, pode simplesmente abandoná-lo e se refugiar nas florestar perto do Mar do Oeste — Retruquei, me apoiando na pedra fria — Nada a prende a ele.

— Está enganada — Sinto uma tristeza sutil tomar conta de seus lábios quando ela os abriu e os fechou logo em seguida.

— Você não me entende — Falei em um suspiro, desviando o olhar — Meu pai morreu pelo rei e pela coroa e, ainda assim, Evander não parecia nem um pouco satisfeito.

— Kyanite…

— Ele nunca vai parar — Senti o choro se formar em minha garganta — Ele é um humano e tudo o que humanos sabem fazer é tomar e destruir…

— Está falando do rei ou de Dominic?

Meu coração para. Viro-me rapidamente para ela, franzir o cenho não seria o suficiente para demonstrar o meu nojo com sua acusação.

— É só uma pergunta.
Uma expiração de escárnio escapa os meus lábios.

— Você não sabe do que está falando — Murmurei, minha voz saiu fria como gelo.

— Kyanite, por mais que ache que não estou do seu lado… — Ela suspirou, servindo duas xícaras de chá — Estou aqui para te ajudar e não é só porque o rei pediu… Vejo algo em você que via em seu pai.

Engulo o choro. A memória de meu pai ainda doía, não tê-lo ao meu lado era a razão de toda essa confusão na minha vida. Ele era a minha rocha e meu porto seguro, minha estabilidade e meu ombro amigo, meu ar e minha terra.

— Os dois acreditam em um futuro melhor — Ela continuou, erguendo a xícara na minha direção. Balanço a cabeça negativamente, não seria louca de provar nada dela — Eu entendo que começamos com o pé errado, mas quero que saiba que estou aqui para te ajudar.

Cerro o maxilar, desviando o olhar.

— Como faço para ganhar sua confiança? — Perguntou, podia escutar o cansaço em sua voz.

— Me diga o que aconteceu aquele dia.

— Se eu soubesse, você seria a primeira a saber…

— Do que está falando?

— Naquele dia, eu vi uma imagem nebulosa se formar diante dos meus olhos — Explicou, encarando o chá — Uma caverna… Poderia ser uma casa… Não sei dizer.

— Teve uma premonição? — Indaguei, sentindo meu corpo gelar.

— Uma visão, talvez — Murmurou, se levantando da cadeira, seguindo para a mesa de cristais — A magia antiga age de formas… De formas inconvenientes — Um sorriso amarelo se formou em seus lábios — Diferentemente de outros magos, eu deixo o poder me guiar, e, por conta disso, às vezes as mensagens não são claras… Escolha um cristal.

Não me movo, apenas analiso a mesa.

— Preciso do máximo de informações que eu conseguir, Kyanite — Pediu, me olhando nos olhos — Por favor.

— Qualquer uma? — Me rendi, Zya era única pessoa aqui que poderia ser útil, pois, além de ser uma maga, estava disposta a me dar respostas.

— A que te chamar.

Respiro fundo e encaro a mesa. Vasculho os cristais, mas todos eles pareciam tão tristes e monótonos, como os olhos de Dominic quando mencionou o nome Aysel.

— Quem foi Aysel? — Perguntei sem mais nem menos.

Zya se cala.

— Me diga quem ela foi e eu digo o cristal que me chamou — “Uma troca justa”, pensei, sorrindo mentalmente.

— É um acordo nem um pouco vantajoso, mas preciso de clareza — Ela respira fundo, balançando a cabeça positivamente — Combinado.

Uma pedra meio verde e meio azul-claro brilha, captando o meu olhar. Tinha um formato meio geoide, torto, porém belo. Possuía umas estrias roxas e cintilantes, como se o tempo tivesse a marcado com a beleza da durabilidade e a imortalidade fria.

— Aquela, mais à direita — Apontei.

— Crisocola… — Zya sussurrou — Interessante.

— Agora me diga quem foi Aysel.

Zya segura o cristal em suas mãos, acariciando a superfície fria como se fosse um filhote de um animal. Observo ela se sentar atrás de sua mesa de poções, colocando a Crisocola ao lado da Água Marinha que escolho no primeiro dia em que nos vimos.

— Aysel foi uma jovem nobre, filha do meio do duque de Billmot — A maga lava ambos os cristais com água, deixando-os em uma tábua de madeira — Ela e Dominic eram próximos.

“Está me dizendo que o príncipe tem sentimentos?”, gritei mentalmente. Aquilo, sem sombra de dúvida, era a coisa mais absurda que ouvi desde que cheguei na Alta Corte.

— Podemos dizer que eram amigos muito próximos — Ela continuou, enquanto lia pergaminhos — O duque e o rei marcaram o casório, seria uma boa união até que…

Ela suspirou, fechando um livro e me encarando.

— Até que ela fugiu com outro homem.

— Skander Valir — Sussurrei, caindo sentada em uma cadeira.

— Não! — Zya exclamou, balançando a cabeça — Certamente o capitão Valir ajudou, mas não foi com ele.

— Mas…

— Aysel não queria se casar com o seu melhor amigo — Ela me interrompeu — E tinha se apaixonado por um homem do mar, um aventureiro. Largou toda a estabilidade da nobreza para ficar com um pirata.

Pirata… A palavra me atingiu como uma facada.

— Valir é um pirata? — Sussurrei, incerta.

— Não — A voz de Zya era firme como uma montanha — Mas ele foi muito bem pago por Aysel para transportar ela até o seu amado.

— Então Dominic o culpa? — Meu olhar estava fixo nos olhos dourados de Zya.

— Creio que sim… O rei ficou muito infeliz depois e culpou Dominic por não ser homem o suficiente para, nas palavras do rei, “segurar um rabo de saia”.

Sinto uma ânsia tomar conta da minha boca. Rei Evander e sua mania nojenta de ver pessoas como peças de um jogo de tabuleiro, nada mais do que uma jogada estratégica para beneficiar seu império

— O príncipe, que já era muito amargurado, ficou ainda mais sombrio depois disso… Toda vez que ele vem me visitar, mesmo antes de ser prometido em casamento, escolhe a mesma pedra… Acho que Aysel sabia disso, lhe dando mais um motivo para fugir — Sua voz se torna tão baixa que mal fui capaz de escutá-la — Kyanite.

Meu coração disparou, como se estivesse querendo escapar de dentro de mim.

Sinto minha boca pender, deixando escapar um suspiro pesado. Meu nome não era só a espécie de rosa verde de Elfdale, mas também um cristal, um mineral que Dominic sempre escolhe, independente do que esteja pensando. A pedra que sempre chamou sua atenção, mesmo depois de perder o que eu presumo que seja o seu primeiro amor.

— Onde… Onde essa pedra está? — Gaguejei, tentando manter minha postura.

— Ele… Estilhaçou todos os meus exemplares — Ela falou, respirando fundo logo em seguida — Toda vez que vinha, escolhia o mesmo cristal, mas em cores diferentes.

— O que… — Expiro, tentando me recompor — Qual é o significado?

Zya se cala, como se estivesse lutando com uma quantidade absurda de informações em sua garganta. Seus dedos enrolam suas tranças castanhas escuras, estava nervosa, seu olhar me dizia isso, vasculhando cada movimento meu.

— V-Você disse que cristais dizem muito sobre a nossa energia — Falei, levantando-me.

— Kyanite é uma pedra de conexão — Murmurou, desviando o olhar — Um cristal responsável pela criação de pontes emocionais entre as pessoas. Responsável por tudo aqui que simboliza união, como lealdade e justiça, comunicação e habilidade de escutar e…

Sinto as lágrimas se formarem em meus olhos, uma memória de minha mãe se formava na parte de trás da minha mente. Ela estava perto do Rio Branco e eu estava sentada ao seu lado, tinha quatro anos de idade e perguntava sobre o motivo da escolha do meu nome. A risada da minha mãe é mais alta do que a correnteza, porém é leve e reconfortante.

Tudo o que Zya tinha acabado de dizer, era exatamente o que minha mãe disse a dezessete anos atrás.

“— Você se chama Kyanite não só por conta das flores verdes que nascem aqui, mas também por conta de sua incrível habilidade de se conectar não só com a natureza, como também com as pessoas, minha filha.”

— Kyanite? — Zya me chamou, me afastando de meus devaneios e da face nebulosa de minha mãe — Você está bem?

“— Está destinada a grandes feitos, minha querida. Acredite em mim quando digo que o sangue Liadon e o Blysinth lhe darão grandes poderes”

— Mais ou menos — Murmurei, andando a passos pesados e vacilantes até a porta, com a voz doce de minha mãe sussurrando na minha cabeça.

— Aceita uma água? Um chá? — Ela perguntou, levantando-se de supetão, fazendo as pernas de sua cadeira rangerem no chão de pedra.

— Não… — Minha voz soa tão fraca que tenho certeza que ela não foz capaz de ouvir-me — E-Eu preciso… ficar sozinha.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado!



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