Contraste escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 5
Capítulo 5




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A festa de aniversário de Izzie aconteceria no próximo final de semana, e eu estava tão empolgada quanto Luna e Nev. Minha agenda estava calma o suficiente durante a semana, então me ofereci para acompanhar minha amiga em todos os preparativos e passamos todas as tardes da semana correndo por Londres com um bebê tão feliz que parecia entender que era tudo para ela.

Na sexta-feira eu estava sentada no jardim da casa dela me dividindo entre encher bexigas e me certificar de que Izzie continuasse brincando apenas com seus brinquedos e não tentasse engolir nada indevido. Luna havia contratado alguém para montar uma decoração com os balões, então todos precisavam estar cheios antes que a pessoa chegasse no sábado pela manhã.

—Ron pediu para avisar que ele não vai poder vir porque já havia marcado de ir com a Mione visitar os pais dela. Ele ainda não os conhece então não quer desmarcar, mas falou que passa aqui durante a semana para deixar o presente dela e dar um beijo em vocês.

—Fala pra ele não se preocupar com isso, seria muito legal se ele pudesse vir e trazer a namorada também. Como ela é?

—Ela é muito legal e os dois combinam de um jeito engraçado. Você sabe como é o Ron, meio nem aí pra nada, e ela é toda mandona e eloquente, então combina. E ele está super feliz, que é o que importa.

—Seus pais gostam dela?

—Claro que gostam, mas você sabe que eles muito provavelmente gostariam de qualquer pessoa que o Ron trouxesse para casa. Aliás, eles não vêm, como eu te disse que não viriam, mas agradeceram o convite.

Ela dispensou o agradecimento com as mãos e chacoalhou a cabeça.

—Pelo menos eles te dispensaram do almoço de domingo, já é alguma coisa.

Eu ri com vontade, porque era mais ou menos assim mesmo que as coisas funcionavam desde que eu e Ron saímos de casa para morar sozinhos em Londres. O que aconteceu assim que conseguimos um emprego que nos permitisse tal feito, porque nenhum de nós dois aguentava mais, embora eu fosse a única que verbalizasse o sentimento.

—Estavam se sentindo muito benevolentes quando eu avisei que não ia, nem reclamaram.

—Nunca vou entender essa implicância com você, honestamente.

—Nem tente Luna, eu já desisti também. Acho que eles só queriam que eu quisesse uma vida mais tradicional, sabe? Uma vida que eles acham correta. Tenho certeza absoluta de que eles estariam nas nuvens se eu estivesse comemorando o aniversário da minha filha, nos jardins da minha casa num bairro residencial e cozinhando maravilhosamente bem todas as refeições da família.

—Incrível como eles conhecem a própria filha. - Luna ironizou e eu ri.

Ela ia dizer algo, mas se interrompeu quando meu celular tocou e me deu tempo para checar do que se tratava. Quando vi a notificação, meu rosto se abriu num sorriso de canto involuntário.

“Olá Ginny, como foi sua semana?”

Luna só demorou dois segundos para querer saber de quem se tratava, e eu deixei meu celular de lado para responder quando não estivesse mais ocupada.

—Se trata do cara mais peculiar que me lembro de já ter encontrado.

—Peculiar bom ou peculiar ruim?

—Peculiar bom, eu acho, ele é divertido e meio frustrante. Primeiro ele não queria me dar o telefone dele ou ir a um encontro porque achou que eu tivesse dezessete anos. - Luna riu, chamando a atenção de Izzie que riu também. - Sério, essa foi nova para mim, as pessoas normalmente chutam algo como vinte e dois, vinte e três, mas ele foi mais longe.

—Mas no fim vocês saíram?

—Sim, nos encontramos no sábado e foi um primeiro encontro no mínimo curioso.

Narrei para ela como nos encontramos no parque, migramos para um café e acabamos a noite na primeira balada da vida dele. Contei a ela sobre como não havíamos nos beijado, mesmo que houvesse uma química enorme entre a gente.

—Ah ele é fofo.

—Sim, eu não estou dizendo que não. Só que não é comum e me deixa dividida entre achar que ou ele não faz ideia do que está fazendo, ou está fazendo tudo bem até demais.

—Em qual das duas opções você aposta?

—Acho que está fazendo tudo bem até demais, porque eu to super curiosa pra descobrir o que tem por baixo daquele cavalheirismo todo. O cara estudou em Oxford, tem no mínimo que ter aprendido coisas maravilhosas lá.

—Sei lá, eu ficaria preocupada com essa parte da história, porque se ele de fato se formou provavelmente não teve nenhuma vida social, imagina então uma vida sexual.

Explodimos em uma risada que chamou novamente a atenção da Izzie e ela se mudou de onde estava para o meu colo.

—Acho que eu vou pagar para ver, vai que Oxford sobe no meu conceito? Imagina se é tão incrível que eu chego no almoço da semana que vem dizendo que quero estudar lá também? Meus pais não se aguentariam de felicidade, capaz de eu enfartar os dois.

—Aí você conta pra eles como foi que tomou conhecimento dos talentos da instituição que tudo volta ao normal.

—Com certeza, porque eu nem saberia como me comportar se essa relação de repente assumir outra dinâmica. Eu ia precisar de terapia ao contrário agora, ia precisar aprender a lidar com a aceitação.

Era bom poder rir disso tudo com Luna, porque foi com ela que eu sempre conversei sobre tudo. Minha melhor amiga sabia como havia sido conturbado tentar balancear a relação com meus pais e o meu estilo de vida, o que no fim eu não consegui fazer, apenas aprendi a conviver com o desequilíbrio.

—Você tem uma foto? - Ela mudou de assunto subitamente.

—De quem?

—Do moço de Oxford.

A descrição me arrancou uma risada.

—Não, a menos que ele tenha aceitado minha solicitação para segui-lo no Instagram.

Puxei meu celular novamente e abri o aplicativo, onde vi com surpresa que ele tinha de fato aceitado minha solicitação quase uma hora atrás, mais ou menos quando me enviou uma mensagem.

—Olha, ele aceitou. Então agora eu acredito que eu tenha uma foto.

Luna se levantou de onde estava e veio se sentar do meu lado. Rolei a tela pelas fotos dele e não me surpreendi ao notar que não haviam muitas e eram todas muito discretas. A maioria eram fotos de paisagens, duas ou três delas eram de grupos de pessoas onde ele estava visível, mas muito longe para que minha amiga pudesse matar sua curiosidade. A única foto em que Harry aparecia perto o suficiente na verdade era perfeita, porque apresentaria à Luna duas pessoas que ela queria ver.

—Aqui, Harry e Hermione, a namorada do meu irmão.

Ela franziu o cenho confusa, apanhou o celular da minha mão e olhou para a foto com atenção.

—Eles dividiram a mesma acomodação estudantil quando estavam em Oxford, porque é claro que ela estudou em Oxford também.

—Mas é claro que sim.  Ele é bem bonito.

—Sim, ele é. Tomara que ele faça jus a essa aparência toda que ele tem.

—Ela também é linda, olha esses cachos.

—Sim, ela é. Esses cachos foram a primeira coisa que eu comentei com ela quando a vi. Imagina essa mulher numa sessão de fotos comigo? Eu trabalharia mais feliz ainda.

—Sonha mais baixo, amiga. - Luna me deu um tapinha de piedade nas costas e devolveu meu celular.

Quando saí da casa dela todas as bexigas estavam cheias e parte da decoração concluída, como resultado eu estava acabada de cansaço. Tomei um banho relaxante quando cheguei em casa e me deitei entre os lençóis macios da minha cama, sentindo meu corpo relaxar.

Puxei meu celular e abri a mensagem que havia recebido horas atrás, o aplicativo de mensagem instantânea me mostrava que Harry estava online.

“Hey Harry, semana corrida, acabei de chegar em casa. E a sua semana?”

 Minha mensagem foi visualizada quase imediatamente. Ele respondeu como havia sido sua semana e trocamos mais algumas amenidades até que ele foi direto ao ponto daquela conversa:

“Eu estava pensando se você não gostaria de fazer alguma coisa no final de semana, não sei, jantar talvez?”

Sendo bem honesta eu adoraria, mas por mais que a ideia me animasse em muitos sentidos, minhas prioridades para aquele final de semana estavam muito bem estabelecidas.

“Desculpe, esse final de semana não posso. Tenho uma festa de aniversário no domingo e vou ajudar com a decoração amanhã.”

“Tudo bem, quem sabe outro dia. Divirta-se na sua festa.”

O assunto acabou morrendo depois disso e eu não demorei muito a cair no sono, pois sabia que meu sábado seria longo.

Quando cheguei em casa no domingo eu estava num misto de cansaço e satisfação que me fez sorrir o tempo todo enquanto repassava as fotos que tirei durante o dia. Izzie estava tão feliz que contagiava, e esbanjou simpatia e sorrisos para todos os poucos familiares e amigos mais próximos que fizeram questão de prestigiar o seu dia.

Ri das fotos em que ela aparecia maravilhada aproveitando o único dia do ano em que tinha permissão para comer doces e comecei a selecionar minhas preferidas para edição. Eu não gostava muito de editar, então só fazia isso em ocasiões e para pessoas muito especiais.

O meu ensaio agendado para a semana precisaria de três sessões e, para minha infelicidade, todas elas precisavam de luz natural do amanhecer. Colin e a equipe de cenografia haviam recebido carta branca da agente da modelo para criarem o tema do ensaio, então não surpreendentemente o que encontrei quando cheguei ao local do ensaio me surpreendeu positivamente.

O local escolhido foi as ruínas de um mosteiro franciscano do século XII, as paredes rústicas de pedra, parcialmente destruídas pelo tempo, e a luz fazendo contraste com a grama muito verde que já tomava partes do chão. O figurino consistia em apenas algumas jóias que remetiam à idade média e uma echarpe vinho de seda.

Essa era uma das melhores partes de trabalhar com a minha equipe, eles também tinham um estilo minimalista e de bom gosto. Como eu sempre dizia quando os agentes pediam minha opinião sobre temas, já tem uma pessoa nua na foto, então para todo o resto menos seria mais.

Quando a sexta-feira chegou eu já sentia o cansaço acumulado da semana, e o fato de precisar acordar as três da manhã não ajudava. Quando concluímos o último dia de ensaio, por volta das sete da manhã, eu sentia meus olhos pesados de sono e cansaço.

Me sentei entre a modelo e seu agente e mostrei a eles as prévias das fotos, anotei as que eles mencionaram como suas preferidas, a parabenizei pelo trabalho e comecei a me preparar para ir para casa. Colin havia ido de carona comigo e eu o deixaria em casa, então o aguardei antes de pegar a rodovia de volta para Londres.

Estávamos tão cansados que mal conversamos durante o percurso, que durou pouco mais de quarenta minutos. Colin se esticou para me dar um beijo e saiu do carro. A casa dele não era longe da minha, mais dez ou quinze minutos e eu estaria a caminho da minha cama. Quando parei no semáforo na avenida principal do meu bairro notei que havia uma vaga livre bem em frente à Starbucks, e a ideia de uma bebida quente e um muffin de morango fez meu estômago roncar, então decidi que uma parada de cinco minutos talvez fosse uma boa ideia.

Desci do carro e parei atrás da última pessoa da fila, aguardando enquanto minha vez não chegava. Peguei o celular do bolso e rolei a página do meu Instagram sem realmente prestar atenção, apenas para ter algo mais em que focar além da minha vontade de ir para casa iniciar meu final de semana, totalmente distraída do que se passava ao meu redor.

A fila caminhou e eu dei um passo a frente também, mas quando abaixei novamente o rosto para a tela do meu celular, um copo surgiu na minha frente e me sobressaltou. Levantei a cabeça e encontrei Harry me olhando com um sorriso de canto, um copo estendido na minha direção.

—Bom dia Ginny.

Aceitei o copo que ele me entregou e vi que ele havia pedido para o barista escrever “Garota”. Sorri de volta e beberiquei com suspeita, mas eu já sabia que encontraria meu chai latte ali dentro. Harry não precisava saber ainda, mas eu gostava de como a palavra garota soava na boca dele.

—Bom dia Harry, e muito obrigada.

—É um prazer, disponha. - Ele lançou uma olhadela rápida no relógio e se voltou para mim novamente. - Preciso ir, só queria fazer essa gentileza.

—Muito obrigada mais uma vez e aproveite seu dia. - Sorri e pisquei para ele, assim como todas as outras vezes suas bochechas coraram um pouco, mas dessa vez ele retribuiu ambos os gestos.

—Você também, até mais.

—Até.

O observei se afastar apressado em direção à estação de trem com um sorriso satisfeito. Aparentemente eu não era a única com a sensação de assuntos inacabados, o que era ótimo.

Continuei na fila tempo suficiente para comprar o meu muffin e dirigi para casa. Terminei meu café da manhã rapidamente, tirei a roupa que havia usado para trabalhar e me acomodei entre os lençóis da minha cama sem intenção de sair dali tão cedo, o cansaço me fez cair no sono poucos minutos depois.

Quando eu acordei já passava muito da hora do almoço e eu estava morrendo de fome. Me estiquei e fui até a cozinha ver quais eram as minha opções de cardápio antes de enfim começar o meu dia e resolver algumas pendências antes do final de semana começar.

No caminho de volta para casa, algumas horas depois, pensei na outra pendência que eu gostaria de resolver, e que envolvia um rapaz de olhos verdes e óculos redondos. A curiosidade realmente era uma coisa poderosa, mas eu deixaria ele se aproximar agora, como havia feito naquela manhã, e caso eu notasse que estava demorando demais mandaria uma mensagem nos próximos dias.

Assim que entrei em casa recebi um email do trabalho, informando que as fotos do último ensaio masculino estavam prontas aguardando minha aprovação, mas deixei o celular de lado,  guardei minhas compras e fiz uma refeição rápida, eu resolveria isso mais tarde.

Terminei meu banho e sem me preocupar em secar os cabelos me joguei na cama com o controle da TV na mão, sintonizando num canal de músicas. Puxei o computador para o meu colo e abri a pasta com as fotos. O modelo de pouco mais de vinte anos com um corpo que pelo amor de Deus, me encarou com um sorriso safado na tela enquanto eu esquadrinhava com atenção todos os detalhes da imagem agora sem nenhuma imperfeição. Não que ele tivesse muitas, Will era uma delicinha.

Avaliei todas as imagens com uma atenção que ninguém acreditaria ser profissional se me vissem concentrada daquela forma olhando para a foto de um homem nu, enviei minha aprovação para publicação, abandonei o notebook do meu lado no colchão e mudei de canal para o reality show culinário que eu acompanhava quando estava em casa na sexta a noite.

Durante o primeiro intervalo meu celular tocou com uma mensagem cujo remetente me fez rir com presunção, pensando que de fato a curiosidade era uma força considerável.

“Eu estava aqui pensando no que uma garota como você faz na sexta a noite."

"Como eu? Defina uma garota como eu.”

Ouvi a música que indicava que o programa havia voltado, mas ignorei e continuei com os olhos na tela do celular.

"Com uma vida social tão agitada e tão cheia de disposição, como você."

"Isso foi um elogio?"

"Talvez..."

"Estou em casa, deitada na minha cama e assistindo Master Chef."

"Estou surpreso, garota!"

Era engraçado ser chamada de garota aos vinte e sete anos de idade, e minha mente insistia em dar uma conotação totalmente pervertida àquele termo. Principalmente naquele tom todo cavalheiresco que ele tinha. Eu definitivamente gostava de como isso soava.

"O que você esperava de uma garota como eu na sexta à noite, Potter?"

"Que você estivesse esquecendo da vida naqueles seus lugares duvidosos."

"Você só conheceu o lado nobre dos meus lugares, os duvidosos te assustariam."

"Estou tentando imaginar como eles são."

A tela do celular me mostrava que era quase nove na noite, o que me deixava tempo suficiente para dar um fim mais animado à minha noite.

"Se arruma, vou te mostrar."

Ele ainda não havia respondido à minha mensagem, mas eu já sabia que ele aceitaria então pulei da cama e abri meu guarda roupa para procurar algo para vestir.

"Hoje não posso, preciso estar no aeroporto às três da manhã, vou viajar com meus pais.”

"Está com sorte, ganhou uma carona :) A menos que você não queira animar um pouco sua noite e ter mais coisas pra pensar durante a viagem."

Harry provavelmente estava muito curioso a respeito dos lugares estranhos, porque não demorou nada a me mandar seu endereço e me dizer que estaria me esperando na frente do prédio.

Puxei uma saia preta de cintura alta que se abria em um corte solto até o meio das minhas coxas e uma regata azul que combinava o suficiente. Calcei uma sandália preta sem salto e dei uma ajeitada rápida no cabelo com os dedos, era mais do que suficiente para o nosso destino da noite. Peguei apenas meu celular e a chave do carro e saí de casa, uma empolgação familiar já tomava conta de mim e não tinha nada a ver com o local aonde eu estava indo.


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Notas finais do capítulo

Então quer dizer que o Sr. Potter, que antes nunca nem tinha ido numa balada, agora já está topando ser levado para lugares duvidosos?
Quem mais está ansioso pra saber mais sobre como vai ser esse encontro? Não esquece de me dizer aqui nos comentários o que está achando da história.
Vejo vocês em duas semanas.
Beijos e até lá.