Contraste escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 6
Capítulo 6




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Harry não morava longe e não foi difícil encontrar o endereço que ele me enviou. Ele já estava na calçada quando eu cheguei, assim que me avistou caminhou tranquilo até o carro e jogou uma mochila no banco de trás antes de se acomodar do meu lado, exalando um cheiro gostoso de banho recém tomado e usando uma camiseta cinza que lhe caiu muito bem em conjunto com o jeans mais claro e o tênis escuro.

—Você está bonitinho. - Elogiei quando ele terminou de afivelar o cinto de segurança.

—Obrigado, você também está muito bem.

Durante os primeiros minutos de percurso não falamos mais nada, então quebrei o silêncio:

—Você não vai perguntar aonde estou te levando? Que imprudente...

—Não, você me parece ser uma louca confiável.

Ri da sua resposta, ele parecia estar se divertindo com isso também. Continuei cruzando as ruas tranquilas da cidade, quando saí de uma avenida principal para a rua de acesso ao bairro de destino o cenário à nossa volta começou a mudar de prédios e casas para galpões inteiramente pichados, todos de aparência abandonada.

—Acho que agora talvez eu queira saber aonde vamos... - Falou olhando em volta com desconfiança quando passamos por uma rua sem nenhuma iluminação.

—Já estamos chegando. - Tranquilizei e estacionei o veículo rente ao meio fio poucos metros depois.

Ele olhou em volta para os prédios velho com as janelas escuras e soltou o cinto de segurança com cautela. Quando estávamos os dois do lado de fora do veículo eu me aproximei dele com a chave do carro e o celular nas mãos.

—Você pode guardar no seu bolso, por favor?

Harry confirmou com um aceno e escorregou cada um dos meus pertences para dentro de um dos bolsos frontais da calça jeans, ainda sem falar nada. Ele me acompanhou quando comecei a caminhar em direção a uma porta a alguns metros dali, sua apreensão era notável. Bati duas vezes e um homem maior do que a entrada perguntou meu nome e o dele antes de nos deixar entrar frente ao pagamento de duas libras para cada um.

Cruzamos o primeiro andar até chegar a uma escadinha de ferro, passamos por uma sala ampla e completamente deserta e subimos mais dois lances de escada até cruzar mais uma sala abandonada e abrir a porta que nos levou ao espaço amplo e praticamente sem móveis onde uma quantidade grande de pessoas se balançava ao som de um rock pesado.

—Meu Deus do céu... - Harry sibilou baixinho atrás de mim, com o que me parecia algo entre descrença e vontade de ir embora.

Tudo o que se via ali eram cabelos coloridos, tatuagens de todos os tipos e tamanhos e uma infinidade de piercings nos lugares mais inusitados. Nós dois destoávamos do resto das pessoas, a maioria dentro de seus trajes pretos e cheios de pontos metálicos, mas ninguém nem nos olhava.

Olhei para trás divertida:

—Esse é o pior que eu conheço, mas se procurarmos vamos encontrar algo mais suspeito ainda.

—É suficiente, vamos ficar por aqui mesmo.

Ele não estava muito a vontade, olhando em volta o tempo todo e parecendo mais deslocado do que eu jamais tinha visto, mas logo entenderia que as pessoas naquele ambiente estavam ali única e exclusivamente para se divertir. Com um pouco de sorte ele acabaria fazendo o mesmo.

O sistema de som era bem ruim, então conseguimos um canto mais afastado onde a música não era tão alta e nos permitiria conversar.

—Eu nunca mais vou duvidar da sua capacidade de chegar ao fundo do poço. - Prometeu, encostado na parede de frente para mim.

Ri com vontade, jogando a cabeça para trás, e ele me acompanhou.

—Eu só não consigo entender o que te atrai aqui, porque nada nesse lugar é parecido com você.

—Cursos e equipamentos profissionais de fotografia são muito caros, não dava para pagar trinta e cinco libras toda semana para ir num lugar legal. - Dei de ombros e apontei o lugar voltar. - Aqui era uma opção que eu conseguia bancar e você vai ver que só é ruim à primeira vista.

—Não sair também estava fora de cogitação?

—Minha vida era muito chata naquela época, se eu não me divertisse um pouco iria morrer de tédio.

—Não imagino que sua vida um dia já tenha sido chata.

—Fico feliz em passar essa imagem por aí. Hoje mesmo eu estava fazendo uma coisa bem chata antes de vir para cá, aprovando a edição das fotos da próxima capa masculina.

—Não é você que as edita? - Pareceu surpreso.

—Não, ficar trabalhando atrás de um computador não é para mim. Eu só fotografo e aprovo as edições.

—E quais são os critérios de aprovação?

—Vai do seu estilo, eu tento deixar o mais natural possível. Acho horríveis aquelas fotos que você olha e percebe na hora que foram mexidas.

—Por que gente nua?

Essa era uma pergunta que ninguém nunca tinha feito antes. Claro que já ouvi milhares de críticas e perguntas atravessadas sobre meu trabalho. Mas entendi assim que ele perguntou, que Harry queria saber a lógica por trás daquilo, do mesmo jeito que perguntamos a um médico por que ele se especializou em cardiologia ao invés de pediatria, por exemplo. Eu precisei de alguns segundos para pensar numa resposta que explicasse o que eu queria dizer, ele esperou pacientemente.

—Eu gosto de ver como as pessoas de transformam quando tiram a roupa. - Sua expressão me mostrou que ele precisava de um pouco mais de informação do que isso para entender. - Eles chegam vestidos como qualquer pessoa, sem nada que os diferencie de você ou de mim, por exemplo, mas com um figurino, maquiagem e algumas caras e poses certas, que na maioria das vezes eu indico, viram o sonho de consumo de toda a Inglaterra.

—É uma visão muito artística da pornografia.

—Aí é que está, você só vê pornografia, pornografia de qualidade pelo menos, porque eu faço a minha arte.

Ele ponderou o assunto um minuto, sem dizer nada.

—Faz sentido, eu acho.

—Claro que faz. - Pisquei para ele e arranquei mais um daqueles sorrisos de bochechas levemente coradas. Já que estamos aqui, vamos nos divertir um pouco.

Puxei sua mão enquanto caminhava para onde as pessoas dançavam.

—Eu nem sabia que rock era dançante. - Harry falou no meu ouvido enquanto caminhava a atrás de mim.

—Tudo é dançante se você tiver um pouquinho de criatividade.

Me virei de frente para ele antes de começar a me movimentar e o envolvi com os braços na altura da cintura.

—Ainda precisa de uma guia ou já se vira sozinho?

—Um pouco de ajuda seria ótimo. - Retribuiu meu abraço e me acompanhou.

Harry não tinha ritmo e nem desenvoltura, mas me acompanhou com as mãos espalmadas nas minhas costas, o corpo grudado no meu.

Com muita surpresa inclinei a cabeça para o lado e abri mais espaço quando ele encostou o rosto na curva do meu pescoço e aspirou meu cheiro numa respiração profunda e longa, fechei os olhos quando senti a língua dele deslizar pela minha pele e o aperto mais forte na minha cintura me fez ofegar.

Arranhei de leve sua nuca e deslizei a ponta das unhas até parar os dedos embaixo do seu queixo e puxá-lo na direção da minha boca, eu já havia esperado demais. Minha língua encontrou a dele assim que nossos lábios se tocaram, num beijo lento e quente que ele deixava ainda mais gostoso com os dedos enlaçados em meu cabelo. O gosto dele era tão bom quanto o cheiro e a química era perfeita para um primeiro beijo.

Infiltrei minhas mãos por dentro da camiseta dele e arranhei a base de suas costas, o arrepiando como estava fazendo comigo, e senti uma mordida inédita no meu lábio, que deixou minha expectativa ainda maior. Tomei o caminho inverso e deslizei meu toque para dentro do bolso traseiro do seu jeans, puxando-o para mais perto.

Quando Harry começou a fazer o mesmo, sentimos um empurrão que nos fez recuar um passo e quebrou nosso contato. Nos viramos a tempo de ver um homem já de meia idade e barba quase até o meio do peito se recompor do que provavelmente era um tropeço.

—Desculpa aí, irmãos.

Ele estava claramente bêbado e tinha uma tatuagem esquisita do lado do olho direito. O tamanho do sorriso que ele ostentava não deixava dúvidas de que a noite estava sendo muito animada. Acenamos indicando que estava tudo bem e o vimos se afastar meio cambaleante, cantando alto junto com a música que tovaca.

—Parece que alguém está tendo uma noite muito boa. - Comentei observando enquanto ele se afastava.

Meu contato visual foi quebrado quando Harry segurou meu rosto e o virou de volta para ele.

—Eu estou tendo uma noite muito boa. - Falou antes de voltar a me beijar, e isso acabou me arrepiando mais do que qualquer coisa que ele já tenha feito antes.

A intenção era ficar ali naquele beijo para sempre, se possível, mas mais alguns minutos e outro empurrão acidental e nós decidimos que seria mais inteligente voltar ao mesmo canto onde estávamos conversando antes.

Quando me virei de frente para ele, notei que seu olhar havia sido atraído por alguma coisa atrás de mim e eu me virei a tempo de ver uma mulher morena passar com um sutiã de couro extremamente pequeno para tudo o que ele tinha que guardar, um dragão tatuado em toda a extensão das costas e contornando também parte das costelas, o cabelo roxo caindo sobre o ombro com pontas extremamente ressecadas.

Quando me virei novamente para Harry ele estava com as bochechas um pouco coradas, o que eu achei fofo e engraçado na mesma proporção.

—Aquilo tudo não pode ser natural.

—É natural sim. - Garanti.

—Impossível.

—Harry, eu vejo silicone com muita frequência, te garanto que aqueles são naturais. - Me virei de frente para a pista de dança e me encostei em seu peito, os olhos varrendo a multidão. - Por exemplo... Aquela ali, de óculos e top branco, é silicone.

—Da pra notar só de olhar? - Ele perguntou curioso e enlaçou minha cintura em um abraço.

—Na maioria das vezes sim, e quanto maior mais fácil perceber a diferença entre o que é natural ou não.

—Nunca saí com nenhuma mulher que tenha silicone.

Me desvencilhei dos seus braços e virei de frente para ele novamente.

—Até agora.

Seus olhos desceram imediatamente do meu rosto para o decote em V da minha regata, a curiosidade e a vontade varrendo toda a compostura habitual por alguns segundos.

—Desculpe, foi mais forte do que eu. - Falou envergonhado quando me viu olhando para ele com um sorriso de canto. - Olhando não parece.

—Como eu te disse, gosto das coisas o mais naturais possíveis.

—Faz tempo?

—Uns quatro anos.

—Parabéns, são ótimos.

—Quer matar a sua curiosidade? - Coloquei os braços para trás, abrindo espaço.

—Talvez, posso? - Os olhos se desviaram para baixo outra vez.

—Não sei, vai ser um toque puramente clínico? Fins quase científicos?

—Totalmente! - Prometeu imediatamente.

—Então não. - Falei sugestiva e me encostei nele novamente.

Harry não disse nada, mas eu podia sentir sua frustração enquanto arranhava seu maxilar com os dentes, intercalando com beijos as pequenas mordidas. Subi a mão por dentro da sua camiseta, alisando seu peito lentamente, e senti o coração disparado, tão marcante quanto o volume que pressionava meu baixo ventre.

—Vem aqui.

Atravessamos a porta que nos levaria à saída e viramos à esquerda, lado oposto ao que deveríamos se estivéssemos indo embora. Olhei para trás para ter certeza de que não havia mais ninguém ali e abri a porta de aço que nos mostrou uma escada de concreto oculta a princípio.

Alguns degraus depois eu abri a segunda porta, ao topo, e saímos para o terraço, onde o vento nos recebeu jogando meus cabelos para todos os lados. Tomei o cuidado de me afastar da porta o mais rente possível da parede atrás de mim, as luzes noturnas de Londres eram visíveis daqui, tornando o cenário muito convidativo. Harry fechou a porta atrás de si e olhou em volta impressionado.

—Uau… - Comentou enquanto se aproximava da beirada do telhado, onde olhou para baixo tranquilamente.

Continuei onde estava, o mais longe possível da borda, mas só em vê-lo se inclinar sobre o pequeno parapeito que não chegava nem às suas coxas, senti um frio incômodo na barriga.

—Bonito daqui de cima, né?

—Não sei, nunca olhei para baixo. - Me aproximei o suficiente para esticar o braço e alcançar sua camiseta. - Sai daí, é muito alto.

—Você tem medo de altura?

—Sim.

Ele deu alguns passos para trás quando o arrastei de volta comigo para perto da parede ao fundo e virou de frente para mim quando me encostei a ela.

—Pronto, sem barulho agora.

Antes que ele dissesse algo puxei sua nuca para baixo e grudei nossos lábios num beijo quente e agora sem nenhum decoro. Eu sabia que a vontade dele era tão grande quanto a minha, porque se afastar estava fora de questão para nós dois.

Desci as mãos por suas costas bem torneadas e parei na lateral do jeans, ao mesmo tempo em que ele apertava minha cintura, puxando-me de encontro a ele. Gemi contra seus lábios e levantei uma perna, prendendo-a atrás das coxas dele e o puxando para mais perto, mas ainda não era suficiente. Por reflexo, sua mão saiu de onde estava e prendeu-de imediatamente à pele agora exposta, ele apertou forte minha coxa e eu derreti um pouco mais.

—Ai garota, é tão difícil ser um cavalheiro com você…

—Injusto, você foi um perfeito cavalheiro em todas as vezes que nos encontramos.

—Mas olha agora. - Alisou toda a extensão da minha coxa, do joelho até perto do meu quadril.

—É porque essa não é hora para cavalheirismos.

Não precisei de mais nenhum argumento para convencê-lo, tão logo terminei minha frase a mão ainda na minha cintura subiu para minha nuca e se prendeu no meu cabelo enquanto a mão na minha perna completou a distância que faltava para se fechar sobre a minha bunda, por baixo da saia já um pouco deslocada. Fechei os olhos para finalmente senti-lo se soltar e não reprimi o gemido que me veio quando os lábios dele encontraram meu pescoço.

Harry voltou a me beijar com ainda mais vontade do que antes e alisou a lateral do meu corpo com toques decididos. Sem que eu esperasse, os dedos dele encontraram a barra da minha camiseta e mãos decididas se fecharam sobre meus seios em um toque delicioso de quem sabe o que está fazendo. O beijo parou imediatamente quando ele se afastou e me encarou com os olhos faiscantes.

—Esse toque é suficientemente não clínico para você? - Perguntou sério, pontuando sua frase com um toque mais decidido.

Ele não esperava realmente uma resposta, então meu sorriso foi confirmação suficiente para sua provocação. Os lábios voltaram para os meus enquanto suas mãos continuavam me excitando de um jeito gostoso. A pressão que eu sentia quando Harry encostava o quadril no meu mostrava que eu não era a única a achar isso.

Subi os dedos por seu peito levemente definido sob a camiseta e desci meu toque até chegar ao seu ponto mais sensível, ele se apertou contra minha mão enquanto um gemido profundo escapava por seus lábios, a testa encostada na minha e os olhos verdes me encarando. As mãos dele saíram de dentro da minha camiseta e desceram decididas até a parte de trás da minha coxa, para então subir sob o tecido leve da saia e apertarem minha bunda com a força certa.

Capturei seus lábios de novo num beijo que agora tinha muito mais de selvagem do que de carinhoso e prendi meus dedos em seus cabelos enquanto Harry se esfregava em mim, esquadrinhando com os dedos cada centímetro das minhas coxas e do meu quadril. Eu já sentia a minha excitação tão evidente quando a dele, e tenho certeza que ele também sentiu quando suas mãos alcançaram minha calcinha pequena. A mordida no meu lábio coincidiu com quando seus dedos deslizaram sem dificuldade por cima do tecido molhado e eu me apertei contra sua mão, aumentando o contato.

Havíamos chegado naquele ponto em que era muito difícil parar, e honestamente eu nem queria. As mãos já não tinham limites ou pudores, os beijos estavam mais fortes e longos, gemidos já não eram raros e eu não conseguia pensar em nada além do fato de que ainda não estávamos perto o suficiente. Desci as mãos dos seus ombros direto para o botão da calça, que foi aberto com pressa, assim como o zíper. Alisei sua ereção por cima da cueca e o senti estremecer sob meu toque, mas Harry segurou meu pulso quando me precipitei para dentro do tecido fino que nos separava.

—Não Gin, eu não vou conseguir relaxar aqui.

Ele tirou minha mão de dentro da sua roupa e me beijou outra vez antes de se afastar apenas o suficiente para que nossos corpos não estivessem mais se tocando. Respirei fundo para regular meu ritmo cardíaco e ajeitei toda a minha roupa enquanto ele fechava a própria calça. Olhei para baixo para arrumar meu decote e fui interrompida com outro beijo, aparentemente eu não era a única frustrada naquela situação.

—Quer ir para a minha casa? - Convidei puxando-o para mais perto outra vez.

—Quero. - Respondeu sem nem pensar, mas um segundo depois pareceu se lembrar de algo e apoiou a testa no meu ombro. - Porra, a merda da viagem.

Eu achava que Harry nem sabia palavrões, então não aguentei e comecei a rir. Ele riu também e olhou as horas no relógio de pulso, com um breve vislumbre vi que os ponteiros indicavam pouco mais de duas da manhã.

—Gostaria de dizer que Oxford acaba de subir no meu conceito. - Comentei para descontrair e ele riu.

—Honrado em representar minha faculdade.

As mãos dele, até então pousadas sobre a minha bunda, subiram num carinho gostoso pelas minhas costas enquanto ele beijava meu pescoço e se prenderam cada uma de um lado do meu rosto, me fazendo olhar para cima e grudando a boca na minha em um selinho carinhoso.

—Desculpe, mas eu preciso mesmo ir.

Concordei com um aceno e abri a porta para descermos. O silêncio característico da madrugada nos envolveu quando cruzamos novamente a porta da entrada e caminhamos lado a lado até onde eu havia estacionado. Parei ao lado da porta do motorista para esperar que Harry me entregasse a chave, mas fui surpreendida quando ele me prensou na lateral do veículo em um mais um beijo faminto, que demonstrava toda a vontade que ele estava de sair dali para a cama mais próxima.

—Eu acho bom essa viagem valer a pena. - Falou sério, a chave estendida entre nós.

Os primeiros minutos de trajeto foram feitos em silêncio enquanto cada um de nós se perdia nos próprios pensamentos.

—Então, para onde você vai viajar?

—Polônia, minha mãe quer visitar Auschwitz de novo e vai arrastar meu pai e eu com ela. - O tom de voz demonstrava que ele não achava aquele programa empolgante.

—Não é o que eu chamo de interessante, mas nunca se sabe… - Tentei soar animadora, mas não convenci nem a mim mesma.

Chegamos na área de embarque do aeroporto, agora completamente vazia, dez minutos antes do horário que ele tinha que estar lá. Desliguei o motor e virei para me despedir, mas Harry me surpreendeu de novo com um beijo apressado, a mão deslizando perigosamente pela minha perna outra vez.

Encurtei a distância e me inclinei sobre ele, correspondendo à altura, um minuto depois eu já tinha abandonado meu banco e estava sentada em seu colo.

—Harry… - Chamei entre o beijo nada calmo que trocávamos. - Se você não quer mesmo deixar essa viagem de lado e voltar pra casa comigo é melhor ir logo, porque não foi suficiente para mim.

—Não foi nem perto de suficiente para mim também, garota.

Ele me beijou por mais alguns segundos e se afastou com alguns selinhos, me dando espaço para sair de cima de suas pernas. Voltei ao banco do motorista e arrumei minha roupa no lugar enquanto ele fazia o mesmo.

—Obrigado pela carona, foi muito gentil. - E lá estava novamente o tom educado que eu automaticamente já relacionava a ele.

—Sempre que quiser. - Respondi a cortesia.

Harry desceu do carro, pegou a mochila no banco de trás e acenou quando se virou para a porta de entrada, acenei de volta e fui para casa. Liguei o som e deixei a música da Beyoncé preencher o silêncio do percurso que levaria uns trinta minutos.

Estacionei o veículo quando cheguei ao meu prédio, desliguei o motor e olhei em volta sentindo falta de alguma coisa que eu não conseguia me lembrar o que era. Abri o porta luvas e apanhei a carteira com a minha habilitação e documentos, mas ainda não era isso. Deixei o pensamento de lado e saí do carro, eu me lembraria eventualmente caso houvesse mesmo alguma coisa.

Assim que entrei em casa eu me livrei da roupa que estava usando, prendi os cabelos num coque e só de lingerie fui até o banheiro me preparar para dormir. Me joguei na cama poucos minutos depois, o cansaço do dia e o horário já avançado me fizeram mergulhar na inconsciência quase imediatamente, onde sonhos nada inocentes me livraram pelo menos um pouco da frustração da minha noite interrompida.


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Notas finais do capítulo

Quando eu tenho a ideia pra uma fic, normalmente me vem uma cena ou um contexto geral e eu "desenho" a história ao redor disso tudo. Essa foi uma das primeiras cenas que escrevi de Contraste. Meus arquivos dizem aqui que foi escrita em 2016, quando eu planejei a história mas acabei deixando de lado porque não tive tempo de escrever.
Então imagina a ansiedade que eu tava de postar esses dois finalmente se pegando? Espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu gostei de escrever, não deixem de me dizer aqui nos comentários.
Beijos e vejo vocês em duas semanas.