Uma Vez Mais escrita por kaumalade


Capítulo 2
Capítulo I - Primeira vez




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Eu não tenho você aqui comigo, mas pelo menos eu tenho a memória -

Thinking Bout You, Ariana Grande.



Há muito tempo, mas nem tanto, na primeira vez que duas almas se encontraram, mas não se conheceram, era um dia como qualquer outro. Estava chovendo. A primeira chuva de verão. A estrada de barro, com uma trilha mal acabada sob a grama, em meio a um campo, logo depois de uma floresta. A chuva caia forte, salpicando terra para o ar e formando pequenas poças em grandes lagos barrosos. Um menino correu pelo chão, com as mãos na frente de seus olhos para conseguir enxergar a direção.

Seu cabelo, da cor loira estava grudado na testa, as roupas velhas, quase tão sujas como o barro do chão em seu corpo estavam encharcados, e lhe faltava uma bota, a outra estava em situação deplorável, com um buraco na ponta onde a água entrava, o menino não sabia o próprio nome, mas sabia que começava com L. Ele parou no alto de um morro, olhando ao redor. 

O céu estava escuro, as nuvens não dariam trégua até amanhã de manhã, mas o menino não sabia ver horas ou que dia era aquele. Também não se importava, não tinha para quem voltar ou para onde ir. Vivia de favores, e de almas bondosas que às vezes jogavam pão no chão, ou deixavam pratos na entrada de sua porta para que ele pudesse comer. Ele poderia sentir o gosto de leite quente, ou o cheiro de um pão fresquinho. Entretanto, no momento estava faminto. G tropeçou em alguma pedra, antes de avistar uma árvore solitária no meio da clareira, enorme e densa. A criança não tinha outra escolha a não ser correr até lá.

Seus pés deslizavam no chão por causa do lodo, as roupas pesavam em seu corpo, mas conseguiu com um pequeno esforço cair sentado perto das raízes. Ele engatinhou até encostar no tronco, feliz, visto que finalmente não estava mais se molhando. Com um longo suspiro, olhou ao redor. A chuva estava tão grossa que era difícil enxergar o que mais tinha no campo.

Era frio, o vento estava forte. E ele estava sozinho, ou era isso o que ele achava. Um som fungando chamou sua atenção, era alto e estava perto. Talvez algum animal estivesse ferido. — Não, o som não era de bicho, de um animal ou da própria água, era de uma pessoa.

Ao se levantar com cuidado, ele caminhou segurando o tronco, a ponta de seus dedos arrastavam sob a madeira irregular e úmida, até ver algo encolhido entre as grandes raízes. Franzindo a testa. — Quem está aí?

O que é que fosse, se encolheu ainda mais, mas ao levantar a cabeça, viu que se tratava de outra criança.— Vá embora!

O primeiro menino não gostou do seu tom, ele marchou suavemente até perto, pisando fortemente no chão até segurar o braço do menino. — O segundo, diferente do primeiro, tinha roupas intactas da cor lilás, claro e branco, sapatos e meias grossas, seu cabelo era bem cortado e grande, de cor escura, mas estava quase negro por conta da chuva, amarrado em uma fita da cor igualmente preta. — Um filho de alguém nobre, presumiu.— O que faz na chuva?– reclamou quando o outro puxou a mão.

— Não lhes devo satisfação.— com um olhar afiado, o primeiro percebeu. Havia algo diferente nos seus olhos, eram de uma cor incomum, talvez fosse por isso que fugiu. Mas rapidamente percebeu. — O que está olhando!?

— Seus olhos. — resmungou, L não conseguia parar de olhar, apesar de ambos estarem sujos de lama, da chuva e das terríveis e crucial diferença de destino, ele notou que ao olhar, lhe dava tranquilidade. — São de lavanda? Você colocou lavandas nos olhos?

O moreno, tampou a visão assustado. Com medo, de que o menino fosse como seu pai, e o visse como uma maldição ou que achasse que sua mãe cometeu o adultério, ninguém nasce de olhos lilases e principalmente seu filho. Mas depois de um tempo, percebeu que tudo ficou em silêncio, quieto, que o primeiro não fez nenhum movimento para lhe repreender ou machucar. Afastando os dedos de sua visão, ponderando se deveria espiar ou não, sua curiosidade foi mais forte do que o medo que atormentava seu coração. 

Ele olhou. O outro estava sentado à sua frente, ainda calado observando o outro garoto. — S-sim, eu nasci assim.

Silêncio. — O que é? diga que eu sou uma aberração, ou abençoado por Deus.

— É diferente, só isso. — disse, foi a última palavra que trocaram depois que se sentaram um ao lado do outro, olhando a chuva. O moreno o observava de canto, com o coração batendo forte em seus ouvidos, não era mais de medo, pavor, terror ou incerteza. O louco virou a cabeça bruscamente para olhar o outro garoto. Um sentimento surgiu no seu peito, era diferente de tudo o que havia experimentado antes, mas sentiu que deveria confiar na alma e coração do menino que nunca havia visto. Mesmo tão diferentes, tanto socialmente como de aparência, o garoto que parecia pobre e sem bens materiais foi a primeira pessoa a dirigi-lo uma palavra gentil, mesmo que implicitamente. 

Como ele, o primeiro nobre a lhe olhar nos olhos. Eram dois opostos improváveis. 

Na quietude, ficaram assim por um bom tempo apenas olhando a chuva cair no campo. Alguns cavalos passaram correndo, podiam ouvir seus relinchar de longe, livres e soltos como almas puras devem ser. Até que o impossível se torna possível.

A precipitar cessou de repente, diminuindo até que somente as gotas de orvalho caíssem no chão, a chuva parou devagar, deixando as nuvens carregadas passarem por sua cabeça e do meio do campo, o sol apareceu tímido per meio às nuvens, lentamente se aproximando das árvores e dos pés das crianças. Eles ainda permaneciam quietos, observando a luz ao longe tocar seus dedos, e o frio foi substituído por uma aura quentinha, como um abraço. 

Voltaram a assistir um ao outro. Sem ao menos uma palavra. L queria tentar dizer alguma coisa, mas, o que poderia dizer a um desconhecido? Quem era ele? Então apenas deslizou para perto dele para chamar sua atenção, mas antes que seus ombros se tocassem, ele parou.

Mas antes mesmo de abrir a boca, outra voz foi ouvida. De longe, era apenas uma mulher com roupas igualmente caras a do outro menino, o cabelo dela era castanhos, estava trançado para trás acenando para onde eles estavam. O outro rapidamente se levantou, e correu para longe, dando apenas um último olhar para trás, os olhos lilases pareciam brilhar sob o sol que penetravam em sua alma. 

Seria a última vez nessa vida que se veriam.


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