Ninguém disse que era fácil, é uma pena para nós nos separarmos - 

The Scientist, Coldplay.

Lysandre estava inquieto, para se dizer o mínimo.

Suas pernas cruzadas balançavam ansiosamente, enquanto não se concentrava no livro a sua frente, ele fechou os olhos, fechando também o livro de capa grossa, na cor verde musgo, com detalhes em prata, era um livro bastante caro que ele havia ganhado de presente e um que ele queria há um bom tempo. — E nada melhor do que ir até a biblioteca para lê-lo. Ele colocou o óculos acima de sua cabeça, afastando os cabelos compridos da cor branca para atrás de sua orelha e começou a encarar as pessoas à sua volta. 

Não fazia por mal, Lysandre simplesmente gostava de encarar e fazer notas mentais no qual ele não conseguia se lembrar mais tarde, mas era interessante tentar adivinhar seus dias.

Era uma tarde fria de outono, na França, todos estavam bem agasalhados quando entravam no estabelecimento com alguns livros debaixo do braço, às vezes com bolsas, suéteres de lã, gorros. — O céu lá fora estava escuro, cinza e nublado, dando sinais das chuvas rotineiras da estação quase tão fria como o inverno.

 Para Lysandre, era o dia perfeito. — Mas por algum motivo ele não conseguia se concentrar. — Talvez fosse o próprio suéter preto, de gola alta. Ou a iluminação da sessão onde estava sentado, seria o ar-condicionado potente para que fungos e umidade não cheguem aos livros, ou simplesmente, hoje não era seu dia. Seria uma ótima justificativa se esse sentimento não persistisse em sua mente há algum tempo. Como alguma pulga atrás da orelha, ou quando você se sente cansado.

Fazia algum tempo desde que isso começou, no início era apenas um coceira em sua barba, logo em seguida sua posição de dormir, os programas de tv exaustivos, suas composições, seus shows, e agora ele não conseguia se concentrar na simples tarefa de ler. As palavras pareciam confusas, embaralhadas e ilegíveis. Virando seu rosto, ele encarou o grande espelho na decoração, debaixo de seus olhos tinham bolsas escuras, sua testa franzida e uma carranca profunda.— Talvez Castiel estava certo, ninguém falava com ele por medo, ou sentiam pena de quebrar a pequena bolha que ele tinha formado.

Olhou mais uma vez para suas mãos, para ler a capa do livro: “Para a única Violeta no Mar de Rosas”*, virando a contra capa, ele leu novamente o nome do autor ‘Charles Brandonn’, um professor e escritor de romance mundialmente conhecido, na capa havia um desenho de várias violetas em forma antiga. — Pensamento bem, ele não lembrava de porquê queria tanto este livro em particular. — Mas seus tormentos foram interrompidos por um barulho mais alto. Uma pilha de livros foi derrubada em suas costas, e pela primeira vez ele notou que o céu lá fora não estava escuro por causa das nuvens, e sim pelo horário e consequentemente a chuva.

As pessoas progressivamente começaram a ir embora, deixando a biblioteca parcialmente vazia. Com um tom desesperado, a moça que derrubou os livros, começou a empilhá-los novamente. Ela se levantou para colocá-los novamente no carrinho de antes, e soltou um longo e alto suspiro. Lysandre sabia quem ela era.

Pelo menos ele achava.

Era a mesma mulher que vinha na sessão de romances, e logo depois caminhava para os artigos científicos em silêncio, algumas vezes no celular, e outras enquanto lia. O platinado a observou alguns vezes, os cabelos castanhos encaracolados, bem na metade de suas costas, um lindo cabelo volumoso, ele poderia notar que sua pele era escura, e que ela sempre usava casacos ao entrar na biblioteca, observou também seu rosto de longe, mas nunca viu perfeitamente suas feições, e muito menos seus olhos.

Os artigos científicos que procurava sempre seguiam um padrão, de biológicas e ecologia. Algumas vezes notou que ela carregava livros enormes, pesados, de capa dura e geralmente de ciência. Ele leu os títulos, ia de Fisiologia Humana à Invertebrados Inferiores, algumas vezes de química geral e outra vários papéis com trabalhos relacionados. Ela não parecia uma pesquisadora, mas isso atiçou a curiosidade de Lysandre ainda mais. Quanto mais olhava para ela, mais misteriosa e distante para sua mente, uma neblina diante de seus olhos que ele mal conseguia enxergar. O que era afinal? Não sabia dizer.

Com o espírito de gentileza e altruísta, ele se levantou para ajudar. Se abaixou para recolher os livros junto a misteriosa garota, um clima estranho se instalou no ar quando o bibliotecário se inclinou de onde estava para olhar o que tinha acontecido. Olhou os livros espalhados, e sim, ele estava certo, os livros eram da sensação de natureza e ciências naturais, pelo menos os que julgou ser dela.

Não foi a primeira vez que ele a viu. Ele tinha plena certeza disso. 

— M-me desculpe por atrapalhar você, geralmente eu não sou tão desastrada. — ele ainda estava recolhendo o material, e soltou uma risada curta ao perceber que a pilha de livros, novamente caiu a sua frente. A mulher bufou erguendo as mãos para não machucar seus dedos. Apoiando-se em suas coxas, ela inclinou a cabeça para o lado.— Ou sou, pode escolher. 

— Se me permite dizer, um pouco dos dois. - brincou colocando os livros em sua mão, mais trabalho de recolhê-los do chão. Olhando para frente, o cabelo ainda escondia seu rosto, e isso não deixou que ele conseguisse ver seu rosto. — Não se preocupe com isso, você não danificou nada.

— Isso é tão clichê, o que vai acontecer agora? vamos nos olhar e você vai me dizer se já nos conhecemos?— A risada dela o deixou calmo, ao mesmo tempo que fez seu coração dar um pulo. Lysandre continuou calado esperando que ela levantasse a cabeça para encará-lo.

 Assim ela o fez.

— Pode-se dizer que sim. — O sorriso do seu rosto se desfez, era como se o mundo parasse ao seu redor e um evento cósmico estivesse acontecendo, só havia lido em livros e efeitos especiais em filmes, mas ele poderia dizer que o mundo parou de girar. — Nós já nos conhecemos?

Lysandre a conhecia, mas, de onde?