Uma Vez Mais escrita por kaumalade


Capítulo 3
Capítulo II - Segunda vez




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"Eu não sei o que devo fazer, estou obcecado pelo seu fantasma, leve-me de volta à noite em que nos conhecemos"

—The Night We Met, Lorde Huron.



Na segunda vez que se encontraram, eles não se reconheceram. Pelo menos, um deles. Porque o destino faz planos, mas a vida pode pregar peças. — Há quem acredite que alma gêmea somente aparecem em momentos de necessidade, ficam o suficiente, e vão embora. 

Violeta pensava o contrário. Ela queria lutar por ele, ou ter somente um segundo, era o suficiente.

Na primeira vez que o viu, ela estava acompanhando Rosa, a princesa do reino vizinho chamada Rosaceae, conhecida por suas enormes plantações de rosas e seus campos cheios de flores na primavera e no verão. — Rosa talvez seja a planta mais difícil de ser cultivada na época. Violeta vinha de uma família rica, que com o tempo e falta de esforço acabou se perdendo e falindo. 

Como dama de companhia, ela estava atrás da princesa encarando o chão, rindo de alguma coisa que antes estavam conversando. O cabelo de vossa alteza era claro, quase tão branca como a neve, mas puxado para o tom de loiro. Ela sabia que a cor favorita de Rosa era amarelo, por isso sempre usava alguma coisa dessa cor, como o lindo vestido de bordado que agora estava usando. 

— O que aconteceu para está tão calada, Leta? – perguntou a loira, parando de andar um pouco, para acompanhar seus passos. Violeta sorriu discretamente, ela levantou a cabeça para olhar a princesa. Seu rosto era redondo, nariz pequeno e lábios finos, sua pele era tão limpa que ela poderia dizer que foi esculpida por anjos como as maçãs do seu rosto era vermelho.

— A rainha não gosta que eu converse com você trivialidades, Vossa alteza. Mas, não está contente em conhecer seu futuro marido?– Violeta continuou ereta, com as mãos na frente do corpo quando chegaram a uma outra sala do castelo. Estavam no reino vizinho, para estabelecer uma aliança.

Rosa odiava a ideia, mas faria tudo pelo povo que dependia dela. 

— Você me conhece melhor do que ninguém, sabe que não estou.— ela caminhou até se sentar. — Além disso, você me criou.

Violeta franziu a testa. Era verdade, poderia ser considerada quase como uma segunda mãe.

Era a maior sala de jantar do castelo, a mesa do cômodo era retangular, com doze cadeiras, um enorme lustre no centro, as paredes tinham a cor bege e com padrões de espirais seguindo até o teto em formato de cúpula, contrastando com o chão de mármore branco. Toda a sala tinha um ar aconchegante, ela não poderia dizer o mesmo do clima lá fora. A mesa de madeira, e cadeiras esculpidas tão bem como estátuas, muito bem enfileiradas e acolchoadas a travesseiro da cor vermelha, dando um certo destaque. Os guardas e os criados deram uma breve reverência para a Princesa de Rosaceae antes da mesma sentar na cadeira da extremidade.

Era um dia como qualquer outro da semana, mas Violeta não conseguia desviar o olhar da porta, geralmente nunca fora tão avoada e sempre bem centrada, por esse motivo foi designada para ser dama de companhia da princesa e da futura rainha. Ela se posicionou atrás do assento de Rosa, respondendo as perguntas que ela lhe dirigia.

Em partes, ela entendia bem porque a princesa não queria se casar. — A diferença da idade do príncipe e da princesa não era tão grande, mas era um número questionável visto que Rosa tinha ainda o vislumbre da infância, era tão inocente como as flores do seu jardim, e o príncipe já havia participado de guerras. — Com apenas 17 anos, deveria se casar até seus 18. Violeta ouviu rumores sobre a idade do príncipe, que se aproximava dela, com 25 anos. 

Rosa continua a tagarelar. Sobre nada em particular, — "Como as cores das paredes são tão brancas, como não congelamos quando chegamos aqui, ou porque não poderíamos ficar no castelo, escondidas de todos."

Violeta não estava ignorando de propósito, ou talvez estivesse. Mas hoje em especial, algo estava incomodando.  No mesmo momento que desviou o olhar para responder à princesa, a porta principal abriu. Um homem entrou, seguido de outro que ela presumiu ser o responsável por anunciar sua chegada.

O primeiro, era alto, tinha os cabelos encaracolados da cor loira, puxado para o castanho. Seus olhos eram verdes, as linhas de expressão no seu rosto eram marcadas, mas ele deu um breve sorriso ao se aproximar da princesa. Ele usava uma roupa simples,  usando uma blusa folgada da cor branca, calça por dentro das botas e luvas de couro. Talvez fosse o príncipe, presumiu, para se referir a princesa nessas condições.

Algo ainda incomodava Violeta, eram os olhos que  rapidamente foram-lhe dirigidos, brevemente, em menos de um segundo. — Desculpe-nos por demorar, eu sou o Príncipe Louis.

Seu coração deu um pulo, e sua respiração foi cortada. Ela já o tinha visto?

(...)

Era dia do último baile da estação de primavera, e por algum motivo estava chovendo, o céu estava fechado com nuvens densas, o frio batia nas janelas do palácio, deixando-o uivar de longe. Ela estava encarando de longe, perto da porta, com as mãos cruzadas atrás das costas. Seu comportamento era suspeito e acusador, ser criada às vezes levava o melhor dela. Como alguém acuada, se recusando a levantar a cabeça e olhar nos olhos dos outros nobres. Suas roupas eram diferentes. Ao invés de um traje marrom e branco como de costume, com o cabelo amarrado em uma touca igualmente branca, seguindo sua senhora para todos os cantos possível, atentando às suas necessidades. 

Violeta não parecia uma criada, talvez devesse mudar sua postura rapidamente para se misturar. Seu vestido da cor azul claro, de mangas compridas e detalhes de rosas brancas, longo e estufado, mas também simples e também modesto. Seu cabelo estava em um coque, era tão escuro como o céu lá fora, alguns cachos caiam em seu rosto e em sua nuca, sobre a máscara, os mesmos olhos lilases que facilmente poderiam incriminá-la ao olhar diretamente.

Tomando uma respiração profunda, ela começou a andar levantando levemente o vestido. — Tudo foi uma ideia da sua senhora, quando a própria garota lhe contou que acreditava fiel em sua alma gêmea. — Tola, tola por pensar assim. Violeta talvez não lhe contou tudo, pois estava se encontrando com o mesmo fazia alguns meses. E ela só estava aqui, porque precisaria de um segundo com ele.

A vida não foi tão boa com ela. E provavelmente não seria diferente agora. Rosa lhe entregou o vestido e a máscara que escondia seu rosto, para se passar por alguém nobre. A princesa era uma romântica incorrigível, e se isso mudasse o destino pelo menos uma vez, ela também estava disposta a arriscar. Violeta não era otimista.

Fora uma péssima ideia, pensou novamente. Lembrou-se de seu plano.

Os instrumentos começaram a tocar novamente, atiçando seus ouvidos. Procurando freneticamente alguém quando as pessoas começaram a se mover. Esperou a noite toda somente por uma valsa, depois de quase um ano. O aniversário da Princesa estava próximo, e ela deveria se casar em breve, como também poderia estar em qualquer lugar nesse salão. Lentamente ela entrou no círculo que foi formado, ficando de frente para um homem qualquer que estava dançando.

Quase convencida que a noite foi perdida e que seu azar tomou o melhor dela. A dança começou. A mulher iria embora quando tudo acabasse, enfiando as únicas esperanças que tinham no peito para um lugar mais fundo em sua consciência. Ela deveria acabar com tudo isso. Dando a primeira reverência para começar a dançar, levantou sua mão para poder girar o corpo. 

Colocando-se de frente para o homem, ela percebeu duas coisas. Sua roupa, e o insistente olhar. — Não me reconheceu?— perguntou uma voz familiar. 

Violeta bruscamente virou o rosto, olhando para o rosto do não tão desconhecido, uma respiração ficou presa em sua garganta, e como o mundo havia parado de girar, somente seu coração conseguia ser ouvido e a respiração de ambos. Eles estavam no meio do salão, ignorando todas as pessoas a sua volta eram insignificantes comparados aos dois. A mulher segurou seus ombros fortemente, tentando ignorar a pequena parte dela que dizia como era errado. — Você.  — Lembre-se do plano, lembre-se do plano.


      — Sim.— sorriu Louis. Não era o primeiro encontro deles, mas as circunstâncias davam entender que era o último. Leta não queria nada disso, mas de toda forma, ela deveria dar o fim disso. O olhar em seus olhos verdes eram com tanto amor, todo amor que ela experimentou nessa vida, e isso deveria ser o suficiente. 

Mas não era para nenhum dos dois, tão egoístas. Louis segurou sua cintura, guiando-a pelo salão, passando por diversos casais enquanto apenas não trocaram nenhuma palavra. Havia tanto a ser dito, tanto a ser sentido e ser compartilhado, mas não era o momento certo, a vida certa. — Eu tenho algo a dizer. — Violeta suspirou, ela chamou atenção dele segurou seus ombros. Era tão difícil ser franca nos seus braços, era difícil de respirar e de pensar corretamente. — Recuso o seu pedido, Vossa Alteza, a acabar com a história do seu reino, acabar com a linha e o povo, porque você quer fugir comigo.

Louis permaneceu em silêncio.

Ele procurou em seus olhos, desde o momento que a olhou, ele sentiu que a conhecia, de algum lugar, e agora ela simplesmente estava dizendo ‘não’ a toda uma vida. O provável amor de sua vida estava o recusando bem debaixo de seu nariz.— Você está dizendo que vai me deixar? Não tivemos nem o começo, quem dirá o final, que já esta se aproximando, quer dar um fim a nós.

A mulher encarou a costura da sua roupa, sorrindo para si mesma.— Mesmo que eu seja sua, você não é meu, não agora.— suas mãos tremiam e a palma transpirava debaixo da luva, inalou bruscamente ao erguer a cabeça novamente. Os passos eram fluidos, como a água caia lá fora, a chuva em algum momento começou novamente, pareciam quase flutuar atraindo a atenção dos outros que estavam ao redor. Seu coração doía para dizer tais palavras tão ofensivas, pela expressão no seu rosto, ele sentiu dor quase física.— Tivemos um começo, mas esse não é o fim.

A dança parou, e a música também. Violeta fechou os olhos, mesmo com as lágrimas ao lado do seu rosto, ela levantou a mão para passar a ponta dos dedos pelo rosto de Louis. Talvez ela estivesse fazendo a coisa certa, ou errada, mas somente o tempo poderia dizer. Ela queria sentir a pele debaixo de seus dedos, Louis fechou os olhos para sentir a carícia, e a encarou novamente quando ela deu um passo para trás. Sua mão agarrou seus dedos para mantê-la no lugar. — Porque eu sinto que será a última vez que eu verei você.

— Você não está totalmente errado. — disse Violeta uma última vez, dando uma breve reverência antes de passar por ele e ir embora. Louis não teve coragem de olhar para trás e nem de segui-la. O que eles tinham era proibido aos olhos da sociedade, mas pareciam tão certos e seguro, agora, novamente, metade dele simplesmente disse adeus e partiu. 

Louis se casou e unificou os reinos, mas nunca mais encontrou Violeta.

Talvez essa história simplesmente tivesse um final feliz, mas por agora, não. Aquela foi a última vez que se viram nesta vida, em um dia chuvoso de primavera. 

 


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