Between Lovers escrita por SaaChan


Capítulo 7
Capítulo VI




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Ga Yeong se sentia um pouco tonta. Nunca fora amante de bebidas e já havia tomado mais copos de cerveja e soju do que conseguia aguentar. Assim que conseguiu fugir da mesa onde a equipe de publicidade participava de um animado jantar, a mulher logo correu para fora do restaurante para tomar um pouco de ar, sentando-se em um banquinho solitário que havia encontrado na calçada. Sentia seu rosto aquecido apesar da brisa fria que varria as ruas de Seul. A bebida, no entanto, não havia sido o real motivo para que se sentisse assim tão quente. O momento de alguns minutos atrás haviam a deixado pensativa e acanhada. Enquanto seus superiores faziam uma de suas brincadeiras típicas de noites de bebedeiras, Ga Yeong havia perdido mais uma rodada e sua punição era beber um copo de cerveja com soju. Observou um pouco ansiosa um colega preparar um copo cheio da bebida e colocar à sua frente.

— Prontinho... – O homem parecia até bastante animado quanto a deixar Ga Yeong bêbada. – Uma punição saindo no capricho.

Ga Yeong olhou para o copo um tanto receosa. Não sabia se conseguiria tomar um copo tão cheio, na realidade, achava até que o que já tinha colocado para dentro poderia sair a qualquer momento.

— Acho que eu não consigo beber mais... – A confissão da mulher pareceu deixar os homens na mesa frustrados.

— São as regras, você perdeu, precisa beber. – Insistiu. Como um coro, os colegas se juntaram para cantar uma música animada, incentivando-a a colocar a bebida para dentro.

Ga Yeong suspirou, contrariada. Tomou o copo em mãos ponderando se realmente deveria beber seu conteúdo. Sentia o estômago embrulhar apenas com a ideia. Os silvos e a cantoria a deixavam desconfortável, seus superiores provavelmente pegariam em seu pé no dia seguinte caso se recusasse a ingerir tudo e não queria ter mais um empecilho para construir uma boa relação com todos. Respirou fundo preparando-se para beber quando ouviu uma voz masculina se oferecer como seu cavaleiro negro. O dono da voz era ninguém menos que o CEO da CS Publicity, Hwa Kyung Soo. Os funcionários pareceram surpresos com a interrupção do chefe que agia com bastante naturalidade.

— Eu bebo. – Afirmou novamente Kyung Soo. – A senhorita Cha parece estar no seu limite, como chefe eu devo prezar pelo bem estar dos funcionários.

Apesar da justificativa inusitada, os demais não pareciam ter estranhado o comportamento atípico do CEO. O copo foi direcionado ao rapaz que virou o conteúdo em um único gole, voltando a animar os demais na mesa. O clima de festividade continuou por bastante tempo, a maioria dos que estavam na mesa pareciam estar bêbados o suficiente para nem se darem conta da ausência repentina de Ga Yeong. A menina nunca havia visto Kyung Soo alguma vez se importar com o bem estar de outras pessoas, na realidade, desde que se lembrava, o rapaz sempre colocava seus próprios interesses acima do de outras pessoas. Perguntou-se se alguma vez havia sido alvo de alguma gentileza do mesmo, mas não havia nenhuma lembrança como tal em sua mente. Nem mesmo depois que haviam começado a namorar – um namoro sem toques, sequer um beijo, uma conversa mais íntima ou um tempo juntos – não se lembrava de ver uma faceta tão gentil vinda de Kyung Soo. Isso a fazia se questionar sobre o porquê o rapaz havia pedido para se tornar sua namorada.

Dispersou os pensamentos, checando o horário em seu celular. Havia passado das dez da noite, mas não era tão tarde. Pensou que talvez fosse um bom momento para ir embora, uma vez que já não conseguia mais ficar em pé por conta do álcool no sangue. Antes que ficasse em uma posição ruim com seus colegas, era melhor ir para casa. Assim que se levantou, sentiu a cabeça girar, cambaleando. Antes que pudesse cair, foi envolvida por um par de braços fortes. Um perfume de cítrico e levemente picante a atravessou, arremetendo-a com lembranças familiares. Qual não foi sua surpresa ao constatar que o dono do perfume era Kyung Soo?

— Você está bem, senhorita Cha? – O tom rouco vindo do rapaz causou leves arrepios em si. Percebendo finalmente a proximidade em que se encontravam, a mulher se afastou e agradeceu com leve manear de cabeça.

— Sim, estou bem. – Ga Yeong abraçou o próprio corpo, um pouco tímida. – Obrigada por... Ter se oferecido para beber no meu lugar.

O rapaz apenas balançou a cabeça, relevando o assunto.

— Tudo bem... Mas acho que tenho que controlar um pouco essa tendência a ser intrometido. Acho que posso ter passado um pouco do meu limite – Kyung Soo deu uma risada leve, se recostando na parede. A face avermelhada denunciava que seu corpo já não conseguia lidar com a quantidade de álcool que havia ingerido. Entretanto Ga Yeong não conseguia concordar com a visão do mesmo. Kyung Soo nunca havia se mostrado “intrometido”, ela desconfiava que o rapaz nunca houvesse um dia sido o cavaleiro negro de alguém, então porque se mostrava assim com ela? – Vim aqui para tomar ver se ficava um pouco mais sóbrio.

— Eu também... – Ga Yeong assentiu. – Eu não sou muito chegada à bebida, mas o pessoal parecia tão animado que não tive como não acompanha-los na bebedeira. Acho que deveria ter me resguardado um pouco.

— Se não estava se sentindo confortável, poderia ter passado suas bebidas para mim.

O olhar de Ga Yeong fixou-se nos de Kyung Soo. Nunca havia visto uma faceta tão gentil vinda do mesmo. Apesar de se sentir aquecida pelo rapaz ser tão acolhedor, lembrou-se da maneira tão fria que a tratava tempos atrás antes de sua mudança de aparência. Era como se não houvesse sido apenas ela quem havia mudado, mas o homem à sua frente também. Deu uma risada tímida e engasgada, quebrando o repentino silêncio que havia se instalado entre os dois.

— Você acabou de dizer que pode ter passado do seu limite. – Colocou uma mecha de cabelo que havia escapado do rabo de cavalo que usava atrás da orelha, desviando o olhar. A mecha escapou de sua orelha novamente, criando uma leve cortina entre a mesma e o olhar abrasador de seu chefe.

— Eu poderia ter feito esse pequeno sacrifício, apesar desse detalhe.

Sentiu as pontas frias dos dedos do rapaz em seu rosto, o mesmo colocava a mecha teimosa atrás de sua orelha novamente. Um arrepio percorreu a espinha de Ga Yeong, deslanchando uma corrente elétrica por sua coluna até explodir em sensações aquecidas por seus membros. A distância entre os dois havia diminuído consideravelmente, tanto que o hálito de álcool misturado à açúcar mascavo batia contra seu rosto e pareciam uma combinação interessante demais para não se provar. Analisou os traços masculinos, os olhos escuros e profundos, o rosto levemente corado pela bebida, a boca entreaberta que a instigava aos seus desejos mais profundos. Seus pensamentos foram cortados pela aparição de seus colegas de departamento. Kyung Soo se afastou de forma bastante discreta antes que os funcionários pudessem se questionar o que o CEO da agência fazia ao ar livre acompanhado de uma mera estagiária. Provavelmente estavam bêbados demais até mesmo para se lembrar do endereço de casa, pensou Ga Yeong. Antes que reparassem em si também, a mulher apenas se afastou, tomando o caminho para o ponto de ônibus que a levaria para casa.

Não havia dúvidas naquele momento que Kyung Soo tentara seduzi-la – e por pouco havia tido sucesso. O desejo que sentia pelo homem que povoara seus pensamentos desde a adolescência ainda a afetava, mas sabia que único motivo pelo qual o mesmo havia se aproximado era por conta de sua aparência. Se soubesse, um dia, que ela era a mulher que havia abandonado há seis meses, como será que reagiria? Ga Yeong não conseguia abandonar tal pensamento, mesmo que seu corpo ainda sentisse os efeitos da aproximação do outro. Podia imaginar a sensação dos lábios do mais velho sobre os seus, o gosto do beijo, a sensação das mãos fortes em seu corpo. Já se arrepiava apenas com sua imaginação fértil. Livrou-se de seus pensamentos ao tempo em que seu transporte chegava, embarcando no mesmo logo em seguida para ir para casa.

.

.

.

Eram dez e meia a última vez que Ji Soo olhou o relógio. O escritório já havia se esvaziado há algumas horas, deixando-o sozinho em meio à um mar de mesas. Tendo se atrasado mais cedo devido à ter levado sua filha e a esposa ao hospital para um exame rotineiro, foi repreendido pelo gerente do departamento e escolheu fazer hora extra para compensar as horas perdidas. Seus colegas bem sabiam como a rotina familiar e o resguardo delicado de sua esposa acabavam o atrapalhando no trabalho. Talvez por isso, até, seus colegas não pareciam cobrá-lo tanto sobre suas responsabilidades. Naquele dia, apenas se despediram formalmente do rapaz, deixando-o sozinho no escritório do departamento. A única pessoa além do mesmo que não havia saído do trabalho era a diretora executiva, a qual teria que entregar algumas das atualizações recentes antes de terminar seu expediente oficialmente. Terminou de preencher algumas planilhas antes de colocar para imprimir e desligar o computador, espreguiçando-se. Sentia-se mentalmente exausto, a extensa carga de trabalho que havia acumulado acabaram tomando mais tempo do que esperava para ser concluído.  Assim que a máquina terminou de expelir as folhas com gráficos e planilhas coloridas, organizou-as em uma pasta e rumou para o escritório de sua superiora.

Como sempre fazia, deu leves batidas na portas antes abri-la. Havia uma leve iluminação, diferente do habitual. Apenas alguns poucos pontos eram iluminados por uma luz fraca, proveniente de um dos abajures, o que possibilitava ter uma visão privilegiada das ruas de Seul à noite pelas enormes janelas do escritório.  Uma música suave tocava de uma vitrola antiga que sempre julgou ser parte da decoração, o disco de vinil tinha um brilho leve sobre a luz. Reconheceu a voz de Lena Park, mas não soube dizer qual era música que tocava. Entretanto, a música não era o elemento que mais atraiu sua atenção na sala. A mulher de quarenta anos parecia absorta em seus pensamentos. Os olhos escuros estavam fechados e repousava no sofá preto de linho. Enquanto apoiava-se lateralmente no encosto do sofá, suas longas pernas tomavam o acento restante. Os pés estavam descalços e livres da meia calça que usava regularmente, como um uniforme, assim como do blazer. Ji Soo se perguntou internamente se alguma vez havia visto a chefe com os cabelos soltos como no momento. Os cabelos levemente ondulados caíam sobre os ombros da mulher, tornando a visão ainda mais bela. Sacudiu a cabeça, percebendo que analisava demais o ambiente à sua volta. Pigarreou, chamando a atenção da mulher que abriu os olhos, parecendo levemente sonolenta, e o encarou.

Apenas quando a diretora fez um gesto para que entrasse, percebeu que a mesma estava bebendo um copo do que parecia ser uísque. O rapaz deixou a planilha sobre a mesa de centro, ao lado da garrafa de uísque que parecia consideravelmente vazia.

— Eu não esperava que tivesse alguém no escritório... – A mesma confessou. Apesar normalmente ser tão rígida em sua postura, parecia cansada demais para colocar a fachada severa na frente de seu empregado.

— Eu estava fazendo hora extra... Para compensar o atraso. – Perguntou-se porque havia explicado sobre isso como uma criança que foi pega fazendo besteira. Não era como se a chefe houvesse o questionado sobre seus motivos de estar ali. A mulher deu um leve sorriso e bebericou o conteúdo de seu copo.

— Você é um bom funcionário. – Ji Soo estranhou sua fala. Mesmo que a chefe não fosse exatamente o tipo pessoa expressiva, ainda assim parecia que confirmava isso como se o tivesse avaliado. – Deveria apenas saído no seu próprio horário... Aposto que ninguém teria reclamado.

Ji Soo bem acreditava que fosse verdade. Talvez nem mesmo o gerente do departamento fosse se lembrar no dia seguinte de seu deslize, mas era uma mania sua fazer tudo da maneira correta. Preferia pagar as horas que devia, mesmo que tivesse que sacrificar suas horas de descanso.

— Algumas coisas são perca de tempo para gastar energia. – O rapaz desconfiava que naquele momento a mulher não falava mais sobre o trabalho ou sobre as horas extras.

— A senhora tem certeza de que está bem? – Ela assentiu vagarosamente com a cabeça.

— Eu apenas precisava de um momento de descanso. – Um sorriso sem humor surgiu nos lábios avermelhados. – Eu ia pedir para não dizer à ninguém que estou bebendo no trabalho, mas... – Deu de ombros – Você nunca conta mesmo...

Pensou nas palavras de sua chefe, era como se ela confiasse plenamente que qualquer intimidade sua não fosse ser exposta pelo mesmo. A diretora esticou o braço, alcançando a garrafa de uísque sobre a mesa. As mãos femininas pareciam um pouco instáveis, era bem visível que a sua ânsia pela bebida era apenas para lidar com seus próprios problemas. Seung Ja vendia uma imagem de mulher forte e autossuficiente, mesmo sob tantas críticas e julgamentos, era o braço direito de seu irmão, o CEO da IT Tecnology, mas em seus quase cinco anos trabalhando com a mulher, nunca havia visto sua chefe tão... Vulnerável. Ji Soo pensou consigo mesmo que ver a chefe sem a fachada que tanto carregava pelos corredores da empresa a faziam parecer uma pessoa normal, com emoções humanas e a necessidade de sentir um pouco de afeto. Seu pensamento foi cortado pelo som da garrafa indo ao chão.

— Céus... Eu sou mesmo um desastre... – Suspirou a mulher ao ver a garrafa estilhaçada no chão.

Ji Soo se aprontou para recolher os cacos de vidro ao mesmo tempo em que a mulher se apoiava na mesinha de centro para fazer o mesmo. A proximidade repentina entre ambos fez com que o corpo do rapaz tencionasse. Lembrou-se do que seu amigo havia comentado, sobre a beleza escondida sobre as roupas sem graças que a chefe usava. Naquele momento, podia ver bem isso. Os olhos negros estavam fixos nos seus, havia um mar de incógnita dentro deles, algo que Ji Soo se viu tentado a explorar.

— Você cheira a pimenta.

— O que? – Ji Soo se sentiu confuso por um segundo com aquele comentário repentino.

— Pimenta. – Repetiu, se aproximando lentamente. – Você tem cheiro de pimenta... Eu gosto do seu perfume.

A respiração quente da mulher bateu contra seu rosto, fazendo Ji Soo se perguntar como o cheiro de uísque poderia ser tão atrativo. Estava se aproximando demais do limite, mas porque não conseguia simplesmente se afastar? Aquela ali era Lee Seung Ja, sua chefe, diretora executiva de sua empresa, uma mulher recém-divorciada, pelo menos quinze anos mais velha e não parecia estar tão consciente de seu comportamento. Apenas isso seria motivo o suficiente para evitar que sua superiora se aproximasse daquela maneira tão perigosa. Ainda assim, Ji Soo não soube dizer o que o arremeteu. Talvez fosse o magnetismo que vinha da mulher, atraindo-o como um ímã. Fechou os olhos e sentiu os lábios da mulher sobre os seus, o gosto do macchiato que havia bebido momentos atrás se misturando com o amargo do uísque em uma combinação inesperadamente surpreendente. Envolveu sua nuca, aprofundando o beijo, os dedos se entrelaçando entre as madeixas escuras. Seus pelos se arrepiaram com o toque das mãos da mulher que agora o puxava pela gola de sua camisa social, como numa suplica que lhe entregasse tudo o que desejava. Deixou que o blazer lhe escorregasse pelos ombros, caindo com um baque surdo no chão. Apenas quando interrompeu o beijo, percebeu a proximidade entre os corpos.

Deveria parar ali, pensou consigo mesmo. Deveria parar antes de cruzar totalmente a linha, mas a mulher abaixo de si o fazia questionar se seria realmente tão ruim fazê-lo. “O que irá fazer?”, ela o olhava como se perguntasse qual seria seu próximo passo, um brilho de ansiedade no fundo de seus olhos. Antes que pudesse tomar uma decisão racional, entretanto, em um súbito impulso, envolvido por um misto de desejo e carência, voltou a reduzir a distância entre os dois, tomando-a em um beijo sedento, um prenuncio do que aconteceria naquela noite.


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