Between Lovers escrita por SaaChan


Capítulo 4
Capítulo III




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“Irmãzona,

Primeiramente, gostaria de avisar que estou chateada por não ter passado o final de ano conosco esse ano. Eu entendo que você esteja ocupada com a faculdade e o seu trabalho novo aí em Seul, mas faz parte da tradição familiar estar presente nesses eventos aqui em casa, então peço para que não falte novamente no ano que vem.

Estou ansiosa para começar o Ensino Médio. Muitos colegas da minha antiga escola estão agora no mesmo colégio que eu, mas soube que tem bastante gente da cidade vizinha vindo estudar na aqui também. Como você não veio passar o natal e o ano novo com a gente, eu não pude te mostrar o meu uniforme. A tia So Ah comprou de segunda mão, mas é bem novinho, nem parece que foi usado. O seu presente eu enviei pelos correios. Não sei se você já recebeu, então não vou dizer o que é pra não estragar a surpresa... Só que não é de comer, é de vestir.

Enfim, sinto saudades suas. Mande notícias com mais frequências e arranje um tempo pra falar com a gente.

Beijos,

Sua irmãzinha, Park Ga In.”

 

Ga Yeong leu a carta com um misto de saudade e divertimento. De fato, fazia um bom tempo que não entrava em contato com sua família. Parte do motivo era porque já não possuía o mesmo rosto de antes e explicar isso para sua irmã e sua tia lhe traria mais dor de cabeça do que desejava no momento, outra era porque, de fato, estava mais atarefada do que esperava. Desde que conseguira passar pelo processo seletivo da CS Publicity e se tornar uma estagiária, toda a parte de organização havia ficado por sua conta. Se alguém precisava de papéis, chamavam por Cha Se Young (o nome que tinha adotado em sua nova identidade), se precisavam de Xerox, era com Cha Se Young, um café? Por que não? Pede para Cha Se Young comprar. Basicamente, estava fazendo o papel de auxiliar e não de uma publicitária, de fato. Seus superiores, no entanto, não pareciam nem um pouco entusiasmados para ensinar alguma coisa prática que realmente fosse integrar positivamente em sua formação e para complementar, o mais próximo que havia conseguido chegar perto de Kyung Soo era quando o mesmo havia passado pelos corredores e todos abriam alas para que o mesmo passasse, como um rei passando entre os súditos.

Ainda assim, lendo novamente a carta, Ga Yeong pensou que seria mais prático se sua irmã apenas lhe escrevesse uma mensagem de texto. Devia estar chateada por não ter comparecido à festa de natal que era praticamente algo sagrado em sua família. A carta datava meados de fevereiro e só havia chegado até a mesma quase dois meses depois porque havia sido extraditada. Como seu endereço e seu nome não eram mais os mesmos, teve que provar novamente que era a destinatária da carta para que pudesse finalmente ler seu conteúdo. A essa altura do campeonato, sua irmã já devia ter começado o ensino médio há pelo menos um mês e meio. Perguntava-se como estava indo com os estudos e com o relacionamento com sua turma. Ga In sempre teve um talento natural para as ciências exatas, sempre foi amante de matemática e se mostrava excepcional nesse campo. Não duvidava que não teria problemas quanto a isso, mas se preocupava se estava sendo bem tratada por seus colegas. Ga Yeong sofrera bastante durante o Ensino Médio e sempre fora bastante isolada por seus colegas. Sabia que Ga In tinha suas amizades, mas se preocupava que a realidade da irmã pudesse ser tão parecida com a dela quando tinha sua idade.

Um bloco de papéis exaustivamente grande pousou sobre sua mesa, pegando-a de surpresa. Kang Min Ji, uma das funcionárias, que desde que havia sido contratada pela agência não havia ido com a sua cara, “pediu gentilmente” que entregasse a papelada para seus respectivos departamentos. Suspirou, cansada e acenou positivamente antes de se levantar e carregar a papelada para o elevador. Definitivamente, não reclamaria mais sobre ser a menina do café, era bem melhor do que ser o burro de carga da equipe.

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— Você vai realmente abrir mão do seu horário livre pra ficar ensinando matemática pros outros? – Kim Ji Nah parecia incrédula e decepcionada. Era raro estudantes do ensino médio terem algum tempo livre nos dias de aula e a turma de sua amiga havia sido presenteada com aquele presente dos deuses. Ainda assim, sua amiga Ga In parecia louca o suficiente para desperdiçar esse presente para se afundar em mais trabalho.

— Sim, eu vou... – Ga In sorriu divertidamente enquanto pregava o folheto sobre as aulas de matemática no quadro de avisos.

Sendo da turma avançada, mesmo tendo entrado há pouco tempo no colégio, já estava por dentro de boa parte da matéria do primeiro e segundo ano. Ensinar alguém de seu próprio ano ou do ano seguinte não seria um grande desafio. Ga In era a irmã mais nova de Ga Yeong e vivia na ilha de Jeju com sua tia, Kim So Ah. Sua tia a criava como uma filha. Tendo se tornado viúva cedo, nunca teve filhos e nunca se casou novamente. Tinha uma vendinha de frutos do mar e era bastante conhecida por ser bastante simpática e sociável entre os habitantes da pequena ilha.

— Vai ser bom pro meu currículo, eu posso ter mais chances de ganhar uma bolsa de estudos se fizer trabalhos voluntários.

— Mas precisa mesmo gastar sua folguinha por isso? – Ji Nah fez uma careta, puxando o braço de sua amiga para ganhar sua atenção.

— Não é como se eu fosse fazer outra coisa além de estudar no meu tempo livre, de qualquer forma. – Ga In respondeu. Sua amiga balançou a cabeça como se estivesse decepcionada.

— A vida não é feita apenas de estudos, Ga In... Você deveria pôr uma minissaia e ir pra alguma festa comigo. É assim que adolescente vive... – Tentou convencê-la. Percebendo-a tão intransigente, acabou desistindo. – Um dia eu juro que a sua cabeça vai inflar igual um balão de tanto conhecimento.

Ga In não pôde deixar de rir e respondeu divertidamente a amiga.

— Isso seria biologicamente impossível por determinadas questões...

— É uma expressão, amiga. Apenas uma expressão. – Ji Nah deu dois tapinhas leves em seu ombro, tendo em vista que a amiga não havia entendido a piada.

Uma movimentação repentina nos corredores chamou a atenção das duas. Os burburinhos se tornaram mais alto e como em uma cena de filme, as pessoas abriam passagem para que os rapazes passassem. Boa parte dos gritinhos empolgados e do agitação vinha por parte das meninas, empolgadas com os rapazes do time de futebol da escola. Na realidade, provavelmente estavam mais empolgadas com a aparição do capitão do time. Son Oh Joon era como o sonho inalcançável de toda garota do Ensino Médio. Era o seu segundo ano no time e já havia se mostrado um calouro com potencial desde seu primeiro ano, se tornando o capitão mais jovem da história do time, além de ter se tornado titular tão rapidamente que havia ajudado seu time a ganhar a taça das intermunicipais em seu primeiro jogo. Obviamente esses detalhes somente complementavam o quão maravilhoso poderia ser Son Oh Joon. Sua aparência era, no entanto, o que fazia qualquer menina cair de amores por si.

Alto, forte, levemente bronzeado e com um sorriso cativante, Son Oh Joon poderia ser de longe considerado o rapaz mais bonito de sua escola. Essa combinação o tornavam a pessoa mais popular daquela instituição, era impossível que até mesmo os cães de rua não soubessem quem ele era. Seguindo o comportamento do restante, Ji Nah e Ga In se afastaram para que os mesmos passassem. Assim que o time sumiu dos corredores, Ji Nah agarrou os ombros de Ga In em uma súbita empolgação, como se a passagem dos rapazes houvessem feito com que tomasse um choque de adrenalina.

— Ai, Son Oh Joon é tão perfeito... – Ji Nah suspirou. – Não entendo como a Lee U Jin pôde desfazer de um homem tão... – E suspirou novamente. Ga In lhe lançou um olhar interrogativo, tão confusa quanto um cão perdido.

— Quem? – Ji Nah olhou-a com incredulidade.

— Amiga, Son Oh Joon! Capitão do time de futebol! Todo mundo conhece ele! – Percebendo a indiferença nos olhos de sua amiga, Ji Nah suspirou em desistência. Concluiu, enfim, que a solução para a falta de atualização das fofocas de sua amiga fosse apenas uma: – Céus, você precisa esquecer um pouco os seus estudos!

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Os braços de Ga Yeong, àquela altura do campeonato, já estavam bastante doloridos. O pior, no entanto, é que ainda faltavam muitas horas para o final do expediente. As quartas eram especialmente mais longas, já que eram o único dia que precisava trabalhar integralmente para compensar a folga que tinha às sextas. Desde que havia entrado na agência, já havia despachado uma boa quantidade de documentos, movido alguns outros para o armazenamento, enviado alguns por correio e agora estava encarregada de comprar o café de todos os funcionários, o que significava que não teria muito tempo para almoçar pelo tempo perdido se deslocando da agência para a cafeteria preferida dos seus superiores e ter que fazer o caminho inverso novamente. Decidiu parar em uma lanchonete para pedir um sanduíche simples antes de ir comprar o café de seus colegas e assim que teve seu pedidos em mãos, rumou para a cafeteria, comendo seu sanduíche enquanto esperava aprontarem o café de seus colegas. Tão logo terminou seu almoço, o pedido ficou pronto. Ga Yeong tomou o pedido em mãos e rumou de volta para a agência.

O prédio onde ficava situada a CS Publicity ficava no centro da cidade, mas não era inteira da agência. Mesmo com o grande crescimento da corporação, ainda não tinham um prédio independente, mas em si já era um grande feito terem recursos o suficiente para se alocarem no prédio mais caro da cidade, com a melhor localização entre tanto outros. Ga Yeong cumprimentou com um aceno o porteiro antes de passar pelas portas giratórias. Apalpou o bolso à procura de seu celular quando percebeu que o mesmo não estava ali. Teria esquecido o mesmo na lanchonete? Na cafeteria? Todos os seus contatos e cópias de documentos importantes estavam armazenados nele. Deu a volta em seus calcanhares, pretendendo voltar pelo mesmo caminho que havia passado sem se dar conta que alguém estava no espaço anterior a ela nas portas giratórias. O vidro foi de encontro ao rosto do rapaz que instantaneamente pousou uma de suas mãos na testa dolorida.

— Oh, céus! Desculpe-me! – Ga Yeong se afastou da porta, abrindo passagem para que o rapaz pudesse finalmente entrar. Atrás dele, uma algumas pessoas entraram logo em seguida.

— Senhor Lee, você está bem? – Uma mulher que parecia ser sua assistente logo se adiantou. O homem acenou positivamente e respondeu de maneira suave.

— Sim, foi apenas um acidente, não foi nada demais. – Ele tranquilizou sua equipe.

— Mil desculpas novamente, eu estava com pressa. Deveria ter prestado atenção para onde ia. – Ga Yeong fez uma pequena mesura. Como se suas desculpas formais não fossem suficientes, decidiu caçar o café que havia escolhido para si e dar ao homem. – É para compensar meu erro. Desculpe novamente e tenha um bom dia.

Antes que o rapaz pudesse aceitar ou recusar a bebida, a garota fez uma mesura novamente e rumou para as portas giratórias, alcançando a fachada em segundos. Esperava que alguma alma caridosa houvesse encontrado seu celular e o guardado ou então poderia dar adeus à todos os arquivos salvos em seu celular. Apenas a ideia de ter que arranjar um modo de recuperar tudo a deixavam cansada. No entanto, antes mesmo de voltar seu caminho para a cafeteria, o porteiro a cortou, se aproximando com o objeto que já lhe causava ansiedade.

— Senhorita! – O porteiro lhe estendeu o celular com um sorriso simpático. – Um rapaz deixou isso aqui agora pouco, disse que viu cair de seu bolso quando estava atravessando a rua.

— Muito obrigada, eu estava procurando exatamente por isso. Achei que pudesse ter perdido de vez. – O peso do desespero de segundos atrás haviam desaparecido como num toque de mágica. Jurou para si mesma que faria sincronização de tudo para a nuvem assim que tivesse tempo. – Minha vida está toda aqui dentro.

A mulher agradeceu mais um vez antes de pegar o elevador. A agência parecia estar em caos quando Ga Yeong chegou ao andar de seu departamento. Seus colegas pareciam estar mais aflitos que o normal, organizando alguns documentos para o que parecia uma reunião de emergência. Assim que Kang Min Ji a avisou, logo tratou de empurrar mais algum serviço para a mesma – como se fosse realmente deixar de torturá-la um minuto por seu bel prazer.

— Yah, estagiária! Porque demorou tanto? – Min Ji estalou a língua ao olhar para Ga Yeong. – Esqueça, apenas traga água para a sala de reuniões e faça dez cópias dessa apresentação, rápido!

Min Ji apenas entregou o documento para a garota e sumiu entre as portas de madeira que levavam à sala de reuniões da empresa. Percebendo que ninguém mais tinha interesse nas bebidas, se adiantou, deixando o café de lado e levou os papéis, uma pilha simples com menos de dez folhas para a sala de cópias. Enquanto esperava que a máquina terminasse seu serviço, deixou-se vencer pela curiosidade e folheou o documento que lhe foi confiado. Tratava-se de um planejamento simples, porém bem elaborado de um comercial sobre um notebook dois em um. Estava bem explícito o que seria feito, quem seria cotado para determinados papéis, o orçamento e tudo o que se tinha direito. Enquanto analisava o material, Ga Yeong podia visualizar em sua mente a execução da propaganda, entretanto, parecia que faltava algo que pudesse complementar e atrair de fato a atenção das pessoas.

— Sabia que a curiosidade matou o gato? – Ga Yeong quase soltou um grito pela surpresa de ter sigo pega fuxicando o que não era de sua conta. Virou-se dando de cara com Yoo Na.

— Oh, céus... Por um minuto eu achei que fosse a senhorita Kang. – Sentiu seu coração acelerado ao tempo em que sua colega dava uma risada discreta.

Shin Yoo Na fazia parte do departamento de imagens. Normalmente fazia edições e criava personagens animados para comerciais de jogos. Assim que Ga Yeong havia sido contratada como estagiária, Yoo Na havia sido efetivada como funcionária em tempo integral. Conheceram-se quando Ga Yeong levava alguns documentos para seu departamento. O amor de Ga Yeong por animes e HQ’s logo fizeram com que as duas se aproximassem, o que acabou sendo algo realmente vantajoso para ambas. Yoo Na costumava ser muito fechada e dificilmente conseguia desenvolver um bom relacionamento com seus colegas por sua timidez, enquanto Ga Yeong, que quase era invisível aos olhos de seus superiores, precisava de uma aliada com quem contar dentro da empresa.

— Eu não entendo o que fiz para merecer tamanha ofensa. – As duas riram. Assim que a máquina apitou, Ga Yeong recolheu as cópias e as duas abandonaram a sala. – Soube que o Lee Seung Ri veio de surpresa para saber sobre o comercial.

— Quem? – Ga Yeong pareceu confusa por um minuto. O nome em si não lhe era estranho, mas não se recordava de onde pudesse tê-lo ouvido.

— Lee Seung Ri... – Yoo Na fez um maneio com a cabeça, apontando para os papéis que segurava. – CEO da IT Tecnology, uma das maiores empresas de tecnologia do país. – Ga Yeong encarou os papéis, pensando que talvez houvesse lido o nome em algum documento por aí. – Ele está levando o departamento de publicidade à loucura. Já é a terceira vez em dois meses que ele rejeita uma proposta de comercial. – Disse Yoo Na, isso explicava o alvoroço de mais cedo. – E ele é quem está participando pessoalmente desse projeto, então está sendo especificamente exigente sobre isso.

Ga Yeong pensou se poderia haver algum motivo especial por detrás disso. Era muito raro que um presidente de alguma corporação participasse de algum projeto pessoalmente quando tem tantas pessoas abaixo de si que pudessem fazer a mesma função. Ao chegar à cozinha da empresa, pegou algumas garrafas de água e as colocou em um carrinho de bar, junto com alguns copos. Uma música suave soou do celular de Yoo Na que logo o atendeu. Ela trocou algumas rápidas palavras com alguém e então se despediu, roubando um biscoito do pote de doces no caminho. Ga Yeong conduziu o carrinho para a sala de reuniões, onde a equipe de publicidade ajeitava o projetor para começar a reunião. A sala era simples e continha apenas uma grande mesa retangular com espaço suficiente para dez pessoas.

Enquanto seus superiores ocupavam as quatro cadeiras nas extremidades mais próximas à tela do lado direito, a figura de um homem charmoso, com um ar de leve indecência logo capturou a atenção de Ga Yeong. Estava ali Kyung Soo, em carne, osso e canalhice. Ocupava a segunda cadeira do lado direito enquanto na ponta da mesa, no ponto mais privilegiado estava o cliente exigente que deixava seu departamento com os pêlos eriçados. Qual foi a surpresa de Ga Yeong ao constatar que aquele homem era ninguém além do estranho que havia acidentalmente acertado com a porta giratória minutos mais cedo? Com o tanto de gente ao seu redor, deveria ao menos ter imaginado que aquele homem era alguém importante. Parecia que seus dois neurônios não tinham forças nem pra fazer um raciocínio simples.

“De tanta gente para esbarrar, tinha que ser logo com o cliente exigente?”, Ga Yeong se martirizou enquanto distribuía as apostilas entre as pessoas sentadas na mesa. Enquanto Min Ji começava a sua apresentação sobre o conceito do comercial, Ga Yeong distribuía os copos e as garrafas de água. Postou-se por um segundo ao lado do cliente, abrindo a garrafa para despejar seu conteúdo no copo, como demandava as boas maneiras, mas foi interrompida quando o rapaz colocou uma mão sobre o recipiente. O mesmo levantou um copo descartável de café onde reconheceu seu nome, o novo nome, escrito do lado de fora.

— Alguém me já deu algo para beber mais cedo. – A voz do rapaz soou gentil e simples, o que fez com que Ga Yeong corasse. Havia sido ela a pessoa a dar seu café para o mesmo, para compensar sua conduta desastrada.

Apenas assentiu timidamente com a cabeça, se direcionando para Kyung Soo. Os olhares dos dois se encontraram enquanto a mesma abria uma garrafa para encher seu copo e acabou se sustentando por mais tempo do que podia aguentar. Mesmo desviando os olhos, sentia o olhar de Kyung Soo queimar sobre si. “Será que ele me reconheceu? Impossível, eu não me pareço mais com a Ga Yeong que ele conhecia...”, mas ainda assim, não conseguia encontrar um motivo lógico pelo qual subitamente o rapaz parecesse ter um interesse incomum em si. Os pensamentos continuaram a permear sua cabeça enquanto terminava de servir toda a equipe. Recostou-se em uma parede mais distante, caso eventualmente a solicitassem, enquanto acompanhava a apresentação da proposta. Mais uma vez, o cliente não pareceu nem um pouco satisfeito com a proposta. A ruga que se formava entre suas sobrancelhas evidenciavam bem isso.

— Ainda não é o que eu pensei... A ideia em si não é ruim, mas falta alguma... Essência... – Ga Yeong podia apostar pela expressão de Min Ji que ela queria mostrar para ele onde iria enfiar a essência que ele queria.

No entanto, o pensamento de Ga Yeong era similar ao do cliente. Faltava algo, algo que apelasse para o sentimental, que destacasse o produto entre a concorrência. Era comum que comerciais de computadores sempre focassem no público jovem, que apostassem em conceitos clean e minimalistas. A receita era simples e funcionava bem na maior parte do tempo, mas não era o que o cliente esperava. Não era algo que atraída o público de maior idade.

— Um conceito focado na família seria melhor... – Ga Yeong pensou consigo mesma, ou pelo achou que tinha pensado. A atenção de todos se voltou para a mesma que pareceu despertar de seus pensamentos. Como sempre, estragando tudo.

O cliente pareceu pensativo, mas sorriu de leve e assentiu com a cabeça.

— Família... A ideia me agrada. – Revelou. A equipe pareceu surpresa por ter algo finalmente ter agradado o CEO da IT Tecnology. – Gostaria de ver um plano com esse conceito. – A equipe ainda parecia um pouco estupefata, mas acatou os pedidos do cliente. – Ah, mais uma coisa... Você faz parte da equipe? Queria que participasse do projeto, você foi a única que sugeriu algo mais próximo do que eu estava pensando.

Ga Yeong demorou a entender que o rapaz falava com ela. Piscou algumas vezes antes de responder.

— Eu... Sou apenas uma estagiária... – Brincou com os dedos, sentindo-se levemente ansiosa. Não sabia o que passava pela mente do rapaz, que havia desviado o olhar para o copo de café, agora vazio, que pairava sobre a mesa.

— Acho que serve. – Respondeu com simplicidade e se voltou para Kyung Soo. – Então, acredito que até a próxima semana podemos ter uma nova reunião?

— É claro. – Kyung Soo respondeu com uma confiança exacerbada.

Depois que o cliente e sua equipe se foram, a equipe de publicidade continuou na sala discutindo os detalhes da reunião. Havia aqueles que se sentiram minimamente ofendidos por uma novata ser colocada como uma profissional mais capaz do que eles, e havia outros  que se sentiram um pouco mais aliviados por finalmente avançarem um passo com um cliente tão exigente. Min Ji era aquela que estava no primeiro grupo, detestava a ideia de trabalhar como igual com a estagiária. Desde o momento em que Ga Yeong havia sido contratada, havia criado uma antipatia fora do comum com a mesma. Talvez por se sentir ameaçada, não sabia exatamente. O problema era que se Ga Yeong se mostrasse alguém realmente habilidosa, não duvidaria que alguém poderia ser descartado para que pudesse dar lugar à ela. Na pior das hipóteses, poderia ser seu pescoço que estaria na reta. Ainda assim, Min Ji tentava argumentar sobre a aquisição de Ga Yeong na execução do projeto.

— Senhor Hwa, ela não tem experiência, é um trabalho grande demais para uma novata participar. Ela pode colocar tudo a perder... – Kyung Soo o queixo, um ar levemente entediado enquanto encarava uma Min Ji prestes a dar um surto histérico.

— É a escolha do cliente. – Deu de ombros. – Apenas façam da maneira que ele deseja e façam um trabalho bem feito. Não queremos frustrar um cliente desse porte por uma quarta vez.

Kyung Soo se levantou de forma preguiçosa. Seu olhar se cruzou com o de Ga Yeong por uma última vez antes de abandonar a sala. A equipe saiu logo em seguida, alguns murmurando sobre o quão cansados estavam e sobre querer desistir do trabalho. Min Ji não pode deixar de fuzilar Ga Yeong com os olhos ao passar por último. Como se tivesse esquecido de respirar por alguns segundos, Ga Yeong soltou o ar de seus pulmões e se deixou amolecer. Todos os acontecimentos foram rápidos demais para que sua mente pudesse processar. Em poucos momentos havia virado parte de um projeto de grande magnitude, finalmente tinha tido um contato mais direto com seu ex – cujo qual desejava se vingar – e sentia que havia virado oficialmente o objeto de ódio de sua supervisora, Park Min Ji, sem contar a maneira como o cliente havia se referido a ela, com tanta simpatia.

Balançando a cabeça para dispersar aqueles pensamentos, logo se agilizou para arrumar a mesa. Recolheu as garrafas e os copos que haviam sido deixados no local, se atentando ao copo descartável de café que deveria ter uma capinha de papel protetora ao seu redor com o seu nome escrito. Perguntou-se onde poderia ter parado a capinha que o envolvia, mas voltou aos afazeres, logo depois fechando a sala.


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