Between Lovers escrita por SaaChan


Capítulo 10
Capítulo IX




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Ga In colocou uma caixa larga sobre a mesinha de centro. A caixa cobria todo o espaço do móvel e tinha uma paisagem com bastante folhagem verde e animais exóticos na tampa. Assim que a abriu, virou a mesma sobre a mesinha derrubando todo o conteúdo sobre a mesma. Tratava-se de um quebra-cabeça de mil peças, algo que Ga In montava em raras ocasiões, o que chamou a atenção de sua tia Kim So Ah. Mal haviam acabado de jantar, ao invés de ir estudar, como normalmente fazia, a sobrinha se aprontou para montar o quebra-cabeça, quebrando sua rotina rígida. Além daquele fato, era comum que a sobrinha se colocasse a montar o quebra-cabeça quando não sabia lidar com alguma situação.

Lembrava-se de quando Ga In era mais nova, na casa dos seus nove ou dez anos. Algumas crianças a atormentavam por ser diferente da maioria e frequentemente era isolada da maioria, até mesmo por seus professores. Quando haviam momentos em que era agredida, Ga In entrava em surto e gritava, não deixava que ninguém a tocasse e era difícil acalmá-la. Uma das formas que haviam encontrado para ajudá-la a controlar seus surtos havia sido comprar quebra-cabeças. À medida que Ga In crescia e aprendia a mascarar e entender alguns comportamentos sociais, o passatempo passou a ser usado como uma forma de “exercitar” sua mente quando se via em um problema aparentemente sem solução. So Ah se perguntou o que poderia estar deixando sua sobrinha naquela situação.

— Aconteceu alguma coisa na escola hoje, querida? – So Ah se sentou no lado oposto à mesinha, secando as mãos no avental que usava. Estava lavando a louça há segundos atrás, mas achou por melhor interromper o que fazia para se certificar de que tudo estava bem com Ga In.

— Depende de que tipo de coisa a senhora se refere. – Ga In respondeu, entretida em achar as peças que montavam as bordas da imagem. – Se for em questão de atividades, não teve nada fora do comum. Os professores passaram atividades para casa e corrigiram alguns exercícios da aula anterior.

— E sobre seus colegas? Você está se dando bem com eles? – So Ah perguntou. Apesar de achar uma das peças que complementava a borda, não a apontou para a sobrinha. Ga In gostava de fazer aquela atividade sozinha, sem ter ajuda de outras pessoas.

— Bom, eu não converso muito com meus colegas além do necessário, apenas com a Ji Nah. Sinto-me bem com a companhia dela, não preciso de outros amigos.

— Então, se não aconteceu nada fora do comum na escola e com seus colegas, porque está montando o quebra-cabeça?

Ga In interrompeu sua ação por um momento, pensativa. Nem ela mesma sabia qual era a sua dúvida, mas ela se encontrava uma situação inusitada para si. Havia assistido muitas novelas durante a sua vida e via nas telas muito conteúdo sobre relacionamentos amorosos. Além das telas, sabia que seus vizinhos também tinham seus parceiros amorosos, mas no fundo ela mesma não sabia muito sobre isso. Era a primeira vez que recebia uma declaração de amor – não tinha certeza se realmente era a primeira vez, agora que pensava. O comportamento estranho de outros rapazes era bem parecido com o do rapaz que havia se inscrito nas aulas de matemática. Talvez ela que não houvesse entendido as entrelinhas antes, mas ainda assim ficava confusa sobre como deveria reagir a este tipo de aproximação.

— Tia, um garoto se declarou para mim hoje. Ele disse que gostava de mim. – A confissão da menina fez Kim So Ah ficar surpresa. – Mas eu não entendo. Nunca nos falamos antes de ontem, não temos intimidade, então porque ele gostaria de mim?

— Ele pode ter reparado em você e se interessado por conta das coisas que você faz. – Sugeriu So Ah.

— Não vejo como, nem somos da mesma sala e se nos esbarramos em algum lugar pela escola, nunca nos falamos apropriadamente. Eu tenho uma boa memória, acho que me lembraria disso. – Ga In afirmou com convicção.

— Ele pode ter te achado bonita. Você é muito bonita, é muito parecida com a sua mãe. Pode ser por isso que ele disse que gostava de você. – A mais velha buscou algumas outras opções. – Enfim, nem sempre existem motivos lógicos quando se trata de sentimentos, querida. Se estiver desconfortável quanto a esse rapaz, dê um tempo para si mesma para pensar no assunto, mas... Talvez se abrir a novas experiências não seja ruim.

— Eu não gosto de mudanças... – Ga In murmurou contrariada com a ideia de sair de sua zona de conforto.

— Eu não disse que precisava namorar esse rapaz... – So Ah logo se explicou para que não houvesse maus entendidos. – Mas conhece-lo não lhe fará mal. Vocês podem ser amigos e, através disso, você pode entender os sentimentos dele. É isso que está te causando confusão, não é?

Ga In refletiu por um minuto, os olhos vagando das peças embaralhadas do quebra-cabeça para sua tia que a observava com um sorriso aconchegante. So Ah tinha razão naquele ponto. Os sentimentos que Son Oh Joon dizia ter por ela era o que a deixava confusa. Não entendia a motivação por detrás de tais sentimentos, uma vez que nunca haviam conversado apropriadamente. Para ela, a construção de um sentimento tinha como pré-requisito uma boa relação entre os pares. Foi assim que se aproximou de Ji Nah. A menina tanto insistiu em ter sua amizade que os pontos em comum acabaram as aproximando, mas apenas quando se tornaram realmente próximas, Ga In se deu conta de que gostava de ter a companhia de Ji Nah, mesmo que preferisse passar boa parte do seu tempo sozinha.

Mas com Oh Joon era como se a ordem dos fatores tivesse sido alterada. Ao invés da aproximação, o sentimento havia surgido primeiro, pela parte do rapaz. Como poderia lidar com esse tipo de situação? Será que a ideia de deixá-lo conhece-la era algo considerável? No fundo, Ga In temia as consequências que poderiam vir por conta disso, mas em algum lugar dentro de si crescia uma sensação estranha de que deveria tentar pelo menos uma aproximação. Somente a ideia de algo novo acontecendo em sua vida a deixava ansiosa. Voltou sua atenção para o jogo à sua frente, procurando as peças que precisava. So Ah apenas suspirou, não seria pressionando a sobrinha que a ajudaria a resolver suas questões emocionais. Apenas se levantou e fez um carinho rápido em sua cabeça.

— Apenas considere o que falei. Coisas boas podem vir através de mudanças. – Aconselhou a menor antes de deixar a sala.

— Coisas ruins também podem...

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So Ra tinha um bico nos lábios enquanto observava sua amiga pesquisar alguns móveis de segunda mão em uma rede social. A mesma estava deitada em sua cama de bruços com as pernas cruzadas no ar e o queixo apoiado na palma da mão. A mulher não estava exatamente contente pela amiga ter arranjado um espaço próprio para si. Apesar de admitir que haviam acontecido certos inconvenientes por ter se esquecido da presença de Ga Yeong algumas vezes, ainda assim gostava de ter a amiga por perto e tinha um cuidado especial pela mesma, ainda mais depois de sua aparência ter mudado da água para o vinho e da ideia maluca de se vingar de seu ex. Se preocupava em como a amiga viveria sozinha. Para o bem ou para o mal, Ga Yeong nunca havia morado sozinha antes. Durante toda a sua vida viveu sob o teto de seus patrões, e mesmo que ela trabalhasse para eles, ainda assim, não era a mesma coisa que viver por conta própria. So Ra se perguntou se sua amiga ficaria bem no novo espaço.

— Parece que você está doida para se livrar de mim, logo. – So Ra falou com um fundo de drama. – Já assinou o contrato e tudo, nem me levou para ver se o lugar era realmente habitável.

— O lugar é bom, So Ra. É um espaço pequeno, mas é bom o suficiente para mim. Vou viver sozinha ali temporariamente, de qualquer maneira, então não preciso de uma mansão.

— Só estou comentando... – So Ra avaliou suas unhas. O esmalte em tom vinho estava intacto e perfeitamente pintado sobre cada unha. – De qualquer maneira, você arranjou um lugar bem rápido para ficar.

— Eu sei, foi surpreendente até mesmo pra mim. – Ga Yeong confessou. – Mas estou insegura se fiz um bom negócio. A localização é ótima, o preço também, mas o senhorio da casa é o cliente do projeto que eu estou produzindo. Eu estou preocupada que possamos nos desentender de alguma maneira e isso afetar o meu trabalho.

So Ra pareceu ter ganhado vida frente à novidade. Sentou na cama, se aproximando mais de Ga Yeong para se inteirar melhor da fofoca.

— Espera, o cliente que você está falando é o aquele cara, o CEO da IT Tecnology? O que pediu pra você entrar na equipe do projeto? – A boca de So Ra quase foi ao chão ao ver a amiga confirmar.

— Ele é um homem bem gentil, na realidade. Foi bastante cordial quanto a casa, se ofereceu pra pagar um pedreiro para fechar a passagem entre a oficina e o quartinho que eu vou ficar e ainda me deu uma carona para a agência. – Ga Yeong falou se lembrando da maneira simpática que o rapaz havia a tratado. Não duvidava que fosse de sua natureza agir de forma tão humilde. – Mas ainda assim, não sei se eu deveria ter aceitado e assinado o contrato. Talvez eu tenha me precipitado.

— Opa, espera, vamos rebobinar um pouco. – So Ra fez um gesto como se estivesse retrocedendo o tempo com as mãos. – Como assim, ele te deu carona? Sobre fechar a passagem até entendo, afinal isso é o dever do senhorio, mas uma carona é bem inusitado, ainda mais um cara rico.

— Eu sei, né? Eu também estranhei. – Ga Yeong concordou com a amiga – Eu fiquei constrangida, mas aceitei a carona. Acabou que a viagem foi até agradável, sabia? A gente acabou conversando sobre a empresa dele e os planos para o comercial do produto novo.

— Então não vejo motivos pra você ficar tão receosa quanto a esse cara. Ele é legal, você mesma está falando. – So Ra pontuou. – E de qualquer maneira, mesmo se acontecer algum desentendimento na agência com o seu cliente, quem vai levar os danos é o Kyung Soo. Só vejo vantagens pro seu plano de vingança.

Ga Yeong empurrou o ombro da amiga como se estivesse alertando-a para ter cuidado com sua fala.

— Não é bem assim. Se as coisas derem errado nesse projeto, toda a equipe vai sofrer o dano junto. Não quero prejudicar outras pessoas que não tem nada haver com os meus problemas pessoais. – Por um minuto So Ra desconfiava que a amiga não estava falando exatamente de seus colegas de trabalho. – E, além disso, eu quero que esse projeto dê certo. É a primeira vez em meses que algo é confiado a mim. Eu que dei a ideia pra esse projeto e queria ver a reação das pessoas ao verem esse comercial pronto.

So Ra podia entender o sentimento da amiga. Era como a chance de alcançar a realização pessoal através desse projeto. Ainda assim, não acreditava que seus colegas a aplaudiriam de pé pelo esforço desprendido para a produção daquele comercial.

— Mas Ga Yeong... Você disse que ninguém na sua equipe acredita no seu potencial, então onde você vai encontrar alguém que te apoie nesse projeto?

Ao contrário do que So Ra esperava, Ga Yeong sorriu. A menina não pôde controlar seus pensamentos. Seu cliente, e agora senhorio, apareceu em sua mente quase que automaticamente. Apenas a confiança de Lee Seung Ri em si já era mais que o suficiente para que acreditasse em si mesma.

— Não se preocupe quanto a isso, So Ra. Eu já tenho o apoio que eu preciso.

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Eram quase onze horas da noite quando Kyung Soo finalmente voltou para casa. Depois de um dia movimentado se reunindo com o conselho da empresa de seus pais e com seus advogados, a única coisa que Kyung Soo pensava era em um bom banho e um pouco de prazer a dois. Se a situação em que se encontrava não fosse tão irritante, Kyung Soo poderia até mesmo rir da ousadia dos acionistas de sua futura empresa. Sim, SUA empresa. Era sua por direito, era o herdeiro da família Hwa, mas por conta da maldita clausura no testamento de seus pais não podia ter acesso imediato a toda a fortuna e as ações do conglomerado de lojas de sua família. Havia sido alertado pelos sanguessugas que seu prazo para cumprir a condição que seu pai impôs no testamento iria se findar em poucos meses, como se já não soubesse.

A intenção era, na realidade, intimidá-lo e Kyung Soo sabia bem disso. A verdade era que todos esperavam que ele não conseguisse cumprir o acordo para que pudessem pôr as mãos em suas ações e na fortuna que o pertencia. A questão era que o rapaz estava mais preparado do que eles pensavam e tinha boa parte de seu plano traçado. Apesar de ter conseguido achar uma pequena brecha na cláusula que o permitia ter mais liberdade de escolha, ainda assim precisava cumpri-la para ter acesso à herança. Por conta disso, estava desde então se preparando, limpando sua imagem perante a mídia para poder assumir o conglomerado de seus pais sem causar grandes danos à mesma. O seu relacionamento com Ahn Han Na era a peça chave no meio de todo esse esquema.

Assim que atravessou a porta de seu apartamento luxuoso, o rapaz tirou os sapatos de qualquer maneira na soleira. A silhueta feminina sentada no sofá o observava se aproximar enquanto se livrava da gravata frouxa e do blazer, jogando-os desleixadamente em uma poltrona próxima. Sequer havia reparado na expressão de poucos amigos e na falta de uma saudação mais acolhedora como era de costume a mulher fazer. Assim que se aproximou com a intenção de lhe beijar o pescoço, a mesma se afastou atraindo um olhar confuso do rapaz.

— O que foi agora? – Kyung Soo suspirou com ar entediado.

— Você se encontrou com outra mulher. – As palavras de Han Na fizeram o cenho do rapaz ficar franzido. – Soube que você beijou a garota nova da agência.

Kyung Soo ficou pensativos por alguns minutos até entender do que a mesma estava falando. Sua expressão se suavizou, como se tivesse se lembrado de alguma recordação antiga. Não havia acontecido um beijo, mas não foi por falta de vontade. Apesar de estar um pouco bêbado, ainda assim estava bastante lúcido quando tentou seduzir a estagiária nova e se não fosse pelo restante da equipe ter se aproximado, ele teria ido em frente e beijado de fato a garota. Cha Se Young tinha um charme inocente e meigo genuínos, diferente de outras mulheres que forçavam essa imagem. Mesmo que sua aparência pudesse ser igualada a de Han Na em muitos aspectos que a deixavam sexy, aquela essência pura a diferenciava das demais. Kyung Soo poderia dizer que sua vontade era manchar aquela pureza com toda a experiência que tinha e Han Na estava bem ciente disso.

— Não é do seu feitio bancar a namorada ciumenta. – Kyung Soo falou com certo desdém.

— Você fala como se eu tivesse que ter orgulho por você colocar um par de chifres na minha cabeça. – O rapaz revirou os olhos diante da resposta de sua noiva.

— E você afirma com certeza demais algo que nunca aconteceu. – A resposta firme de Kyung Soo fez com que Han Na titubeasse em suas certezas. Com o tempo de convivência havia aprendido a ler o rapaz, ou pelo menos ler o suficiente para saber quando mentia sobre algo do tipo. – O máximo que a sua amiguinha deve ter visto foi eu impedir a nova estagiária de dar com a cara no chão.

Han Na não se surpreendeu que Kyung Soo soubesse quem havia dito a ela sobre o que havia acontecido no jantar da equipe. A única pessoa que repassava tudo o que acontecia na empresa em sua ausência era Min Ji.

— Ser uma pessoa que se importa com os outros não faz seu estilo, meu amor.

Kyung Soo não respondeu ao seu comentário, o que deixou Han Na com as antenas em alerta. Ao invés de palavras, o rapaz apenas puxou sua noiva para si, afundando seus lábios na pele de seu pescoço. A mulher cedeu à carícia, apoiando suas mãos sobre os ombros largos do homem, sentindo as mãos do rapaz se infiltrar por baixo de seu vestido. Antes que se desse conta, estava sentada em seu colo, as pernas em cada lado de sua cintura.

— Não há necessidade se sentir ameaçada, querida. – O voz grave do rapaz em seu ouvido fez com que os pêlos de seu corpo se eriçassem – Você é a única que eu preciso.

A sua frase era aberta a interpretações. Necessária, sim, mas não era única que ele queria. Mesmo que não entendesse exatamente suas motivações para tê-la ao seu lado, Han Na sabia que era uma carta valiosa demais para simplesmente ser descartada do baralho pelo rapaz, mas para o quê era importante nos planos de Kyung Soo? E o quanto era importante para que o mesmo não pensasse em substituí-la num futuro próximo? Os pensamentos de Han Na se perderam quando a boca faminta do rapaz tomou a sua num beijo voraz e no que se seguiram os momentos intensos pelo resto da noite.


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